A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Poema Ocasional



Vezenquando ela é doce,
com as mãos entre meus cabelos.
Sorri e flutua pelo quarto
e pede uma frase bonita
e chora e tira sua roupa
e esquece a hora de voltar pra casa.

Vezenquando ela deita ao meu lado
e fica ao meu lado e dorme ao meu lado
e inventa um novo nome para o amor
ao meu lado.

Vezenquando ela existe
de um jeito estranho e comovente.
Vezenquando ela canta
como um anjo silencioso.
Vezenquando ela mata;
vezenquando ela é triste;
vezenquando ela vem e me abraça
feito criança assustada.

Vezenquando ela vem e me esquece;
vezenquando ela vai e não volta;
vezenquando ela muda de vida;
vezenquando ela deixa tudo pra amanhã.

(Mas amanhã eu nunca mais a encontrei).



Fabrício Fortes (fabricio.fortes@hotmail.com)

OS SALDOS DA COMÉDIA TRÁGICA

Foto retirada do blogue Nova Águia

Dançamos uma dança mendiga para satisfazer aquilo que é um recalcamento de sonhos primordiais de conquistas, sedentos de Amor, no conforto trágico da comédia.

Queremos preencher-nos sem o trabalho de procurar o umbigo, usando e abusando da estratégica ilusão da inteligência instantânea, controlo remoto, cabeça monitor.
O século XXI, empenhou-se na aparente corrida ao prolongamento de uma qualquer apoteose, a vida por um euro em saldos perenes, escrita a batôn vermelho em slogans contagiantes de vida vida vida inebriantemente incontinente, inconsciente de se dispor pendurada nas raízes de uma qualquer árvore antiga, a secar com os olhos cegos de terra.
Por analogia à Persistência da Memória de Dalí, nos bastidores da mente, há o medo de cair para debaixo do Inferno, do castigo de escutar o sussurro das folhas de Outono lá de cima, da língua traiçoeira do gelo lá de cima, do fogo que coze a carne, num desequilíbrio que se tornou comum à alma que não se observa sentada no coração; o mesmo arrepio com que tenta desesperadamente evadir-se do silêncio absoluto e finalmente esquecer o sabor agridoce de crepúsculos estelares esbatidos ainda e sempre nas telas, corpos dos malditos.

A respeito do "passaporte lusófono", preconizado por Agostinho da Silva (in Público, 16.07.06)


TRIVIA


Informação útil AQUI.

Fado


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quero dizer-te, amor, como verde amanhece
o meu olhar
na solitária areia desta praia.

é de profundas mágoas
que a tua ausência tece
o silêncio das rochas e a minha negra saia.
cantam, porém, secretas águas
nas sombras que guardam a quimera
da claridade.
e os brancos, brancos dedos da saudade
escrevem rotas no mar da minha espera.

quero dizer-te, amor, como verde amanhece
o meu olhar
na solitária areia desta praia.

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pormenor de fotografia de Teresa Brarens.

domingo, 29 de junho de 2008

Mais um destaque na net...

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http://paradoxosfilho.blogs.sapo.pt/34721.html
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Da Ilha dos Amores como alternativa às câmaras de gás da alma

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Nunca se escutou Camões, o que cantou não a Fé nem o Império, não o encontro de culturas, mas a “expedição” de Eros “Contra o mundo rebelde, por que emende / Erros grandes que há dias nele estão, / Amando cousas que nos foram dadas, / Não para ser amadas, mas usadas” (Os Lusíadas, IX, 25). O que cantou a redenção do mundo pela conformidade do masculino e do feminino na Ilha dos Amores, a plenitude do amor sensual e sexual pela qual se abre a divina visão, o messianismo erótico de uma nova raça andrógina de deuses humanos e homens divinos. Ninguém o escuta. Crucifica-se Eros na pornografia e nessas outras obscenidades que são o intelecto, o poder e as honras, o sucesso, a fama e a riqueza. O que faz avançar a civilização, a ciência e a miséria. As câmaras de gás da alma. Mas Eros ri e voa. E quem na cruz fica, exangue e triste, és tu !

in A Cada Instante Estamos A Tempo de Nunca Haver Nascido, Corroios, Zéfiro, 2008, p.9.

Portugal será campeão em futebol sénior quando:

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- Não tiver de jogar com (lista provisória e em constante actualização) Alemanha, Coreia do Sul, Dinamarca, Estados Unidos da América, França, Grécia, Itália, Marrocos, Polónia, Suíça…
- Tiver como treinador alguém que não use nem nunca tenha usado bigode.
- O seu patrocinador principal não for a GALP (porque a energia da «vontade de vencer» só deu mesmo para mover o autocarro e render mais uns milhões em lucros para aquela empresa).
- Os jogadores finalmente se convencerem (de preferência com um abaixo-assinado de âmbito nacional) de que, após termos experimentado, várias vezes, todos os tipos de derrota (não apuramento na qualificação, eliminação na fase de grupos, perder nos quartos de final, nas meias-finais e na final), estamos finalmente prontos, preparados, para vencer ao menos uma vez, para ganhar um troféuzinho, se isso não for um grande incómodo para «Suas Excelências».
- A selecção no seu todo for constituída por «soldados», e não por «mercenários» que não se mobilizam completamente pelo país por estarem a pensar mais nos milhões em salários que podem ganhar em clubes estrangeiros.
- Os adeptos - e (algum)a comunicação social - deixarem de fazer figuras ridículas, comportando-se como idiotas, e só festejarem quando houver um verdadeiro motivo para isso. Há coisas muito mais importantes do que onze gajos semi-analfabetos a correrem atrás de uma bola.
Hoje a Espanha tornou-se, mais uma vez (a segunda), campeã europeia de futebol, fazendo jus à sua reconhecida entrega ao jogo. Bem que os portugueses poderiam tomá-la como exemplo e retirar uma lição do Áustria-Suíça 08. Porém, isso é pouco provável. Quanto mais não seja porque nada aprenderam com os disparates de
2004...

ANGOLA PREPARA RATIFICAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO

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Denominado "Oficina de Trabalho", a iniciativa vai reunir linguistas, sociolinguísticos, metodólogos do ensino da língua portuguesa, sociólogos, editores, juristas, informáticos e economistas, com vista a analisarem questões técnicas ligadas à ratificação do Acordo.

A coordenadora da Comissão Nacional do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Paula Henrique, disse à Agência Lusa que os resultados da reunião serão submetidos ao Ministério da Educação, que por sua vez os entregará ao Conselho de Ministros, para análise e aprovação.

A ser aprovada a proposta de lei pelo Conselho de Ministros, cabe a Assembleia Nacional a ratificação do acordo. "Está previsto que a reunião tenha lugar na penúltima semana de Julho e pretendemos neste encontro obter a previsão técnica e financeira para a ratificação do acordo", disse Paula Henriques, acrescentando que o resultado pode contribuir para a definição da "urgência ou não" da ratificação do documento.

Segundo Paula Henriques, o Acordo Ortográfico entrará logo em vigor após a sua ratificação, e por isso, a necessidade deste encontro para a recolha de opiniões de especialistas. "Assim que for ratificado pretendemos pôr em prática a lei. Não queremos que haja um espaço grande entre a ratificação e a sua implementação".

Para a coordenadora, a ratificação do documento é sinónimo de um trabalho longo e árduo, o que obriga a tomada de cautela para o seu êxito. "Para Angola ratificar o acordo é necessário que pessoas entendidas possam pronunciar-se para se tomar uma posição em função da informação técnica, científica e metodológica sobre o assunto".

O Acordo Ortográfico foi assinado a 16 de Dezembro de 1990 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe mas não podia entrar em vigor por não ter sido ratificado por todos os países. A partir desta data, o assunto "caiu no esquecimento", voltando agora à actualidade e com necessidade de nova análise por parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Em 2002, na cimeira da CPLP de Brasília, foi aprovada uma alteração aos estatutos que permite a entrada em vigor de qualquer acordo desde que seja ratificado por pelo menos três países, passando a vigorar nesses Estados-membros. Até agora, somente Brasil, Cabo Verde e Santo Tomé aprovaram o acordo e o Protocolo Modificativo ao Acordo.

Em Portugal, a Assembleia da República aprovou o Protocolo Modificativo ao Acordo Ortográfico a 16 de Maio deste ano.

in,
dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br

:press - what else ?


há ; mas : está : sob...

os líderes :
estão dispostos : a aumentar
: a expectativa ;
o caminho :
é uma espécie :
de resultado ;

(a possibilidade : temperada : de um país).

circulam :
internamente :
antecedentes :
sensíveis ;

(dominou : um apelo : que : não : 'vive' : do ano);

uma nova forma de :
altura : para :
a ideia ;

um novo :
jogo :
( de ) ser :
provável ...



(z)



In Expresso : 21 de Junho de 2008 : primeiro caderno - pag. 5

A Saudade

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18. Repitamo-lo, para que o re-cordes e te re-cordes, ou seja, para que o tragas de novo e sempre ao teu coração e te tragas de novo e sempre ao coração da universal natureza-experiência primeira, descobrindo que ambos são um só. A saudade é disso que por natureza tudo é e para além do qual nada mais há, do jubiloso saber-experiência - infinitamente sensível, amoroso, compassivo e criativo - dessa ausência de dualidade, características e limites que em tudo se desvela e frui quando cessam todos os juízos, hábitos e pulsões conceptuais-emocionais que distorcem e condicionam a percepção imediata. A saudade é vínculo da memória-desejo ao não sei quê que em tudo insta como o seu imo glorioso e insuperável, velado e desertado pelas inconscientes e irreflectidas reificações do estado mundano das consciências, reproduzido ao longo de milénios por tradições e culturas da não libertação, populares, míticas, religiosas, filosóficas, artísticas e científicas. A saudade é o sentimento de coincidente incoincidência com o que “é” e com o que “és”, a dorida e insatisfeita experiência da ilusória particularização do espaço livre e infinito, da fictícia individualização do fundo sem fundo de tudo, do aparente mas falso condicionamento do incondicionado. A saudade é saudade de si, livre de si e de outro, de mesmidade e alteridade, de identidade e diferença. A saudade é saudade do instante, livre de tempo e eternidade, livre de passado, presente e futuro. A saudade é testemunho de pertencermos, mais do que ao que julgamos em nós e no mundo conhecer e ser-nos próprio, à bem-aventurada e inquietante estranheza que no fundo sem fundo de nós e de tudo é incêndio que lavra a consumir a impossível máscara da id-entidade. A saudade é o tudo a aspirar à plenitude do nada que é e esse nada a reabsorver o tudo que se manifesta, mostrando a universal reversibilidade do tempo, do mundo, do ser e dos seres, da consciência e da realidade. A saudade é de não caber em si de contente, a saudade é não caber em si de contente, por contraste com a melancólica tristeza ou a impotente nostalgia do ensimesmamento egocêntrico, que sustenta e solidifica a aparência do irreversível. A saudade é, simultaneamente, êx-tase e ên-stase: estar fora de si em si, estar em si fora de si. A saudade é já regresso à jubilosa intensidade, maravilha e eterna novidade da experiência primordial, por contraste com a despotenciação, o tédio, o aborrecimento, a rotina e o falso e efémero prazer da vida mundana e quotidiana. A saudade é a saúde a libertar-se da doença e da cura. A saudade é a saúde a libertar-se da saudade. A saudade é de não a haver e de jamais a ter havido. A saudade, em sua ponta extrema, é não ser e jamais ter sido.

19. A saudade assumida e consciente é a mais poderosa força libertadora que há no universo. Por ela revertemos e dissolvemos a ilusão da percepção condicionada, a ilusão de haver sujeito e objecto, no júbilo da sempre instante experiência primordial. Por ela cumprimos a suprema possibilidade do ex-istir na desconstrução do ser e do ser-aí solitários, mundanos e aparentes. Por ela nos evadimos da fuga e da pro-jecção auto-encarceradora na ficção do nascer, existir e morrer. Por ela despertamos da ilusão da felicidade poder ser algo possuído por alguém. Assim a cumprimos e à ilusão que a origina e nutre. Assim a matamos. Pois a saudade é de não haver e jamais ter havido saudade: o anseio da ilusão por se extinguir, o que mais célere cumpre quando se reconhece, recorda e dissipa como mera miragem e engano. A serpente a devorar-se pela cauda, não para eternamente renascer, mas para se consumir e libertar na plenitude da vacuidade que intimamente é.

20. A saudade inconsciente do que é e dessa inconsciência é a mais poderosa força escravizadora que há no universo. Por ela demandamos no ser, no mundo e nos mundos, na pro-jecção existencial e na espácio-temporal vida subjectiva, solitária e finita, nos seres, nas coisas e nos fenómenos aparentes, ou ainda numa eternidade e divindade deles separada, mas pensada em função dos desejos e temores do sujeito, ou seja, nas características e determinações conceptuais que encobrem a natureza autêntica de tudo, o júbilo e o bem que só esta comum natureza primeira e última pode oferecer. Assim centramos e prendemos a memória e o desejo não naquilo a que verdadeiramente inerem e os cumpre e anula, deles libertando, mas no sujeito e nesse presente sempre envenenado, mal vivido e alienado pela distensão da mente para o passado e o futuro, ou ainda para uma fictícia eternidade separada da iluminativa fruição do instante, reproduzindo a solidão, a saudade e a ilusão de que procedem. Assim mantemos a saudade refém da soledade. Assim mantemos a serpente a alimentar-se e renascer do próprio devorar-se no desejo de se pôr fim. O que mais pode libertar é também o que mais escraviza.

Pré-publicação de um excerto de Da Saudade como Via de Libertação, Lisboa, Quidnovi, 2008 (a sair no início de Setembro) [extraído de "Da Natureza primordial, da Mundaneidade e da Saudade", I].

Postal

Este postal retrata uma cena tradicional, na qual as várias gerações femininas de uma família trabalhavam arduamente, de agulha na mão, para dar corpo a trabalhos de Bordado Madeira, famosos e únicos. 1


A teus pés, as teias de emaranhados desenhos. Recortes imprecisos impressos. A sangue, sim a sangue que fura o linho que tanto coses. Mulher que penduras na linha, o pão dos famintos. Um ponto uma flor vazia refeita. Um ponto numa mulher já feita. Na alvura do tecido tocada, as mãos lesadas pelo útero. Gasto que de sóis levantes se acabam. Viúvas que se cosem entre ambas no gemido carpido ao vazio. Viúvas de rosetas que se formam na vista turva. Viúvas da fome passada. Melodias bradadas na doença. Amarela. Virulenta. Amarela. Purulenta. E vieram eles, com a sua alvura. Eles, corsários de grinaldas enlameadas. E no engano do conto do ponto, levaram-nas. A vós, mulheres de mãos precisas. Escravas, escravas, da arte caseada pela pobreza.



Nota: No texto são mencionados alguns pontos de bordado Madeira, para além dos referidos: caseados, viúvas, e rosetas, existem também: as bordaduras em grinalda, filas de ilhós, garanitos, estrelas e cavacas. São estes pontos os que mais caracterizam este árduo trabalho.

1 in "Memórias do Funchal - O Bilhete-Postal Ilustrado até à Primeira Metade do Século XX" de José Manuel Merlim Mendes.

sábado, 28 de junho de 2008

SAGA, ÓPERA EXTRAVAGANTE - Teatro O BANDO em co-produção com a MARINHA (Banda da Armada)

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Entrada pelo Museu da Marinha, alas Poente e Norte do Mosteiro dos Jerónimos.

De 19 de Junho a 13 de Julho, de Quinta a Domingo, às 21:30h.

Bilheteira: Centro Cultural de Belém.
Tabela de preços: 15€ e 12€, 9€ para grupos e 6€ para profissionais do espectáculo.





Tudo depende...



A situação de Portugal se afigura pior num sentido e noutro sentido melhor que a dos povos de além-Pirinéus. Pior, porque nos faltou e falta o processo de desenvolvimento científico com tudo quanto o acompanhou, com a experiência e gradual reflexão que lhes foi própria, dos povos nossos irmãos mais próximos dos quais nos distanciámos. Melhor porque, justamente por nos ter mantido na obstinada fidelidade ao que foi, se torna possível, com a cisão extrema para todo o passado, na floresta de maravilhas e terrores a que a Europa veio e para a qual arrasta o mundo, uma perspectiva diversa e complementar, e talvez não menos funda, ou não menos lúcida que a deles. Tudo depende evidentemente de filosofarmos e das condições de filosofarmos.


José Marinho

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Anjo d'aguarda



A pedra intacta e a nascente: coubera-lhes o mistério da fundação do mundo, no primeiro dia os anjos. E ao seu gesto se ordenaram os ventos, pelo fogo invisível e o bastão rasgaram os caminhos dos condutores de povos e dos reis, preparação amorosa das sombras. No poder da pedra e da nascente os círculos sagrados e as árvores e os lugares terríveis das batalhas. A Terra aguardava, Inverno e solidão do Sol.

- Sou o anjo Apache, murmurou um, e disse: seremos os caminhos vermelhos. E estendeu a vara para a terra virgem: esta será a planície do fim, um homem chamado Jerónimo.

- Sou o anjo da Borgonha, gritou outro, e disse: seremos o voo breve do falcão. E estendeu a vara para a terra fértil: aqui a catedral, o rosto; aqui a neve, que apaga o sonho do Temerário.

- Sou o anjo Cigano, proclamou um terceiro, e disse: seremos a puríssima maldição do fogo. E a vara traçou o sinal da encruzilhada: por aqui a linguagem dos pássaros, secreta coroação do rei.

- Sou o anjo Maori, avançou um quarto, e logo um outro: sou o anjo de Jerusalém.


Ela, porém, pairava sobre o mar, elevação do mundo: na primeira noite o anjo, e devolvia aos ventos o mistério maior.

- Sou o anjo de Luz, disse, e apenas hesitou: seremos o porto do Graal. E o seu gesto redimiu as águas: aqui a impossível viagem, na pedra dos corvos a sagração das naus. Pairava sobre o mar, e disse: águas de navegar, antepalavra do Espírito.

A pedra intacta e a nascente: a terra aguardava, Inverno e ocultação do Sol. E estendeu a vara para os seus irmãos: por fim libertar-vos-ei.


"E vi muitas vezes Melchisedech, quando, muito antes dos tempos de Semiramis e de Abraão, apareceu na Palestina, que era ainda deserta; como se organizasse o território, como se escolhesse e endireitasse determinados e precisos lugares. Vi-o sempre sozinho, e pensei: que quer este homem daqui, onde ainda não há ninguém? Foi assim que o vi abrir uma nascente na montanha, e foi a nascente do Jordão. (...) Foi assim que o vi abrir a terra em muitos lugares (...) e cada lugar onde trabalhava e construía parecia ser o lugar de uma graça futura, como se atraísse a atenção para esse lugar, como se empreendesse alguma coisa que haveria depois de se realizar.

Melchisedech pertencia àquele coro dos anjos que guardam os países e os povos, que (...) estão logo depois dos arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael".

[do relato das visões de Anna Catherina Emmerich (1774-1824)]

ECOS



Os onze mil Atenienses em Maratona não acreditavam que fosse possível derrotar um exército de trinta mil Persas, Miltiades eleva a voz e ordena que se reforcem as alas e se enfraqueça o centro e grita a carga a passo rápido. Miltiades não é um príncipe de Esparta, é apenas um general Ateniense que ama Atenas, gosta de passear pelas ruas limpas e luminosas, de ouvir as discussões dos filósofos, de ver os canteiros a trabalhar nas oficinas, gosta da beleza e da liberdade das mulheres de Atenas e quer lá voltar.
O exército persa irrompe pelo centro fraco, mas os lados são rapidamente devorados pelas falanges de hoplitas, que se reúnem atrás do corpo principal dos Persas e o vão esmagando numa tenaz veloz. Aqui não é a bravura sem freio que comanda, é a razão de Atenas, é o poder do conceito, a luz de uma ideia de civilização imorredoura.
Os Persas são perseguidos até aos navios, combatem desesperadamente na praia, estão já vencidos, porque os Persas são apenas escravos que obedecem cegamente à tirania. Morrem pela lança e pela espada dos homens mais livres do mundo.



Hitler no bunker, bisonho como um rabi de aldeia. A Alemanha, que não realizou os seus patéticos delírios de glória, deve agora ser sacrificada. Hitler no bunker e Berlim em chamas; a resistência rua a rua, os fuzilamentos sumários, as violações e a fome, os rapazes que pedalam e cantam e se imolam contra os tanques. Hitler no bunker encena a pira dos heróis, mas é queimado com gasóleo como um trapo.
Hitler no bunker, um meia-leca cretino e psicótico, que sonhava com rapazitos louros de elmos com cornos.




Dizem que as crianças de Atenas quando viam Diógenes o Cínico agarravam-se-lhe à cintura, formavam uma fila atrás dele e corriam todos pelos campos, a rir e aos gritos. O fogo vermelho das papoilas rebentava-lhes de chapa em pleno rosto, como se passassem um fogo divino. Admiravam as cambalhotas de Diógenes sobre os montes de feno e pediam-lhe que repetisse, o filósofo, sempre mudo, fazia caretas e apontava o azul de um pássaro em voo, a prata de um peixe na margem, os lírios ao longe, depois punham-se todos a ladrar alto e riam.
Então, exaustos, deitavam-se entre os fenos, à beira do rio, a roer os trigos, a olhar o céu de Verão e a ouvir o coaxar das rãs.
A felicidade pode ser tão simples, quando se seguem os mestres certos.


Klatuu Niktos




TANTRA, «TROPICÁLIA»


Dedicado ao Paulo Borges


Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP

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Encontro dará continuidade ao trabalho iniciado na capital portuguesa em 1996 e prosseguido na Cidade da Praia (1998), Maputo (2000), Brasília (2002), São Tomé (2004) e Bissau (2006). Lisboa foi a cidade escolhida para a realização da VII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e das reuniões preparatórias que a precedem, sob os auspícios de Portugal: XVII Reunião dos Pontos Focais de Cooperação, 116ª Reunião do Comité de Concertação Permanente, XIII Reunião do Conselho de Ministros.

Uma exposição…

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… Que eu visitei recentemente e que aconselho vivamente: «A América Portuguesa/Tesouros Brasileiros nas Colecções da Biblioteca Nacional de Portugal e da Biblioteca da Ajuda». Cujo contexto é o mesmo do da vida e obra de José Basílio da Gama, autor de «O Uruguai».

Mail vindo do Brasil...

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Recife, 26-06-08
À Comissão Coordenadora



Acompanho emocionado cada movimentos dos Senhores e sinto redobrada alegria, pelos lançamentos, pelo sucesso alcançado. Desta vez, porém, não posso calar, nem aplaudir em silêncio, revelo a elevada satisfação de parabenizar ao Renato, pelo seu pronunciamento a respeito da obra de Agostinho da Silva; e ao Paulo Borges, pelo enigmático título "A Cada Instante Estamos a Tempo de Nunca Haver Nascido". Belíssimo.

Abraços, Cyl Gallindo

10ª FEIRA LAICA, dia 28 de Junho, Sábado, Bedeteca de Lisboa , horário: 11h - 20h


Uma malta «duvidosa» – (-_-) – que conheço pediu-me para fazer este anúncio – e aqui está. Saiba-se que no MIL não há preconceitos contra ninguém, não temos é tolerância para a estupidez e para quem nos quer negar o direito a existir e a amar Portugal e a lusofonia.

Amanhã, 28 de Junho, a Feira Laica está de volta à Bedeteca de Lisboa.
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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Colmeal - A História de uma Injustiça, parte I

Igreja em ruínas

Ruínas de casas

Casa dos Cabrais




Aires Cruz trava o passo na casa dos Cabrais.
Uma ruína apenas reconhecível pelo brasão: um chibo e uma cabra.
Aqui, neste mesmo sítio, há 12 anos, depois de me ter contado a sua história e da sua gente, avisou-me que tinha um segredo.
Um dia, talvez, o partilhá-se comigo.
Tentei esgravatar cada vez mais a memória do homem, apanhá-lo numa curva acidentada do tempo e apoderar-me do segredo.
Nada feito, essa seria a sua última arma de arremesso ao futuro, caso o nosso trabalho de investigação não conseguisse dialogar com o poder local e com a justiça.
Esperei assim muito tempo até fazer parte dos mistérios do Colmeal.
Chegara a hora.
Aires não mudou.
Tem o mesmo olhar assombrado.
Chama o silêncio, fica muito tempo a ver desfilar, na câmara escura das recordações, as sombras da sua aldeia que o antigo regime quis tirar do mapa da história Portuguesa, e Abril ignorou.
A boca amárra-se vê-se o ódio pela força que os músculos dos maxilares exercem.
Raios vermelhos abrasam-lhe o olhar como se tivesse visto o sangue dos seus mortos, como nuvens espessas a submergir o Colmeal.
Lembra-se da sentença do tribunal que transformou uma aldeia que vinha nos cronicões numa quinta privada.
Evoca o poeta Amadeu que nunca se conformou por não ter dado cabo do canastro ao juiz, e trauteou-a.
Acompanho-o. "Adeus lugar de Figueira/ onde canta a Perdiz/ a maior pena que eu tenho / foi de não matar o juiz."
Colmeal ficava no cabo do mundo, ferrada nos baixos da serra da Marofa.
Pertencera ao reino de Leão, mas com as convulsões da História passou para a coroa Portuguesa.
D Afonso Henriques deu-lhe carta de couto em 1540, era senhorio desse povo João Gouveia.
Com a morte do fidalgo, andou aquela terra de mão para mão até acabar nas unhas de Pedro Álvares Cabral.
Aires era menino e pelava-se para ouvir as histórias de Amadeu.
Junto à fogueira, com a garrafa de vinho à perna viajava mais rápido no tempo e contava o que ouvira aos seus antepassados.
O seu pai sabia muito até porque também era poeta.
De tempos a tempos, atravessava soutos e moitas, a entregar aos Cabrais um braço de cebolas e umas tantas galinhas pelo foro do povo.
O tempo passa e arrasta a mudança.
Com a República entrou o enguiço naquelas paragens.
A burguesia endinheirada apodera-se dos domínios da nobreza.
Os condes de Belmonte, com medo das vindictas dos republicanos, vendem o foro do Colmeal.
A Igreja também abana.
Os seus bens são arrolados pelo estado.
A Igreja paroquial do Colmeal também.
Na Beira, os novos proprietários mantinham direitos que remontavam ao tempo das sesmarias.
Lavraram-se á pressa as escrituras, delimitaram-se terrenos nos olhos da gente do Colmeal que habituada à velha servidão, continuava a pagar agora aos feitores dos novos senhorios.
Aires atira o olhar para a Igreja, um escombro; já não se vê o cemitério, nem sobre os ossos do pai pode lamentar-se.
Ainda há 12 anos, as sepulturas dos seus antepassados se viam.
Estavam abertas, um silvedo encorpado dificultava a entrada, crânios e partes de esqueletos como se cumprissem um castigo eram assento para as cabras que ali iam despejar a tripa.
Um incêndio recente acabou por atear até os antepassados de Aires.
O homem faz um "flash-back" e encalha nas memórias da mãe.
Nos anos quarenta do século XX, um novo feitor anunciava a desgraça.
Parecia um gato a brincar com as suas presas.
Um dia tomou a sua mãe de surpresa, disse-lhe que afinal não era foro que pagavam mas renda.
Graciosa da Cruz passou a andar endividada.
A colheita mal dava para pagar ao arrendatário: eram impostos da burra, dos cães e da carroça dos machos, mais a côngrua ao padre, um alqueire de trigo.
Começa a construção de uma tramóia macabra.
Rosa Cunha e Silva queria-se dona de todo o Colmeal, e foi ao seu advogado, um opositor do regime com passado, um socialista que meditava em "part-time" nos dramas dos pobres, Manuel Vilhena, que de um sopro baralhou as leis e transformou a povoação anterior à nacionalidade numa quinta privada.
O pleito correu durante 3 anos no Tribunal de Figueira de Castelo Rodrigo, sede do concelho.
Aires tinha 9 anos quando a sentença foi lavrada.
Os homens e os rapazes subiram aos montes para evitar desgraças, enquanto uma força da 25, soldados da Guarda Nacional Republicana, armada até aos dentes, vinha executar o mandado de despejo.
Escondido num penedo, Aires via a Guarda às corunhadas a escavacar a porta de sua casa para retirar os bens e encher as carroças.
Nessa noite, perdido na serra, o menino fez uma jura.
Faz agora 50 anos e é certo que está à beira de cumpri-la....

(continua)


Trecho de um registo feito por Felícia Cabrita, publicado no jornal Ecos da Marofa, ao qual foi cedido pela própria.

Desinstante


.
.
.
Tic.

Passaram-se vidas inteiras
dentro daquele segundo.
Negros ponteiros acima
da velocidade da luz.

Cresceram todos os pêlos
(findaram esbranquiçados).
Correram todos os líquidos
e evaporaram.

Velaram-se os mortos;
secaram as flores;
nasceram os filhos
e, de repente:

Tac
(havíamos perdido a hora).


Fabrício Fortes (
fabricio.fortes@hotmail.com)

Pedido...

Telefonaram-me hoje da pastelaria "Mexicana" (Praça de Londres, Lisboa). A protestar por terem colado prospectos do MIL na casa de banho das senhoras, em "mármore preto". Agradeço a MILitância, mas convém ter um certo cuidado. Já tenho suficientes assuntos para tratar.


Obrigado.

Pátria




no sonho de ouro das mais altas nuvens se recorta o teu destino.
ajoelho-me e beijo o teu corpo adormecido, solo onde se escoam os últimos raios de luz. em ti sorvo o rubro do sangue, o som de antigas vozes caminhando até mim, o silvo da flecha a sulcar as profundezas do verde. em ti colho a memória da beleza eterna, a cor e o perfume da rosa, o sal de todos os mares, a tradução de todas as paisagens.
ave, mãe, navio: assim sei eu dizer-te.

ARIANO SUASSUNA





Escreve com pena de pato, Mestre,
Toma o teu tempo, à luz da vela,
Solitário para deus, besta e fêmea,
Porque o que é sagrado demanda
A sombra e pequena é a luz
Que lhe basta. Rasguem-se as paredes
Caiadas, sudário de pedra de um dia
Ter estado em alma lusitana, lânguida
E muda, no teu Nordeste de fome e lume –
Rasguem-se e afundemo-nos na planície
Árida, no espelho do longe contínuo.

Toda a minha juventude, Mestre,
Ao teu serviço darei, sangue e carne,
Alma e olhos – porque eu também demando
A sombra, a luz exígua, última, única
E nem deus, nem besta, nem fêmea
Matam a minha fome – porque faminto
Eu sou também, da Pedra do Reino
E do rubro puro e alto do Sangral!


Lord of Erewhon,
9 de Setembro de 2007



quarta-feira, 25 de junho de 2008

A ARANHA


A pequena aranha tardou a eclodir, não tinha pressa em ver o mundo, só quando o espaço lhe faltou se decidiu a romper barreiras e espreitar o ninho. Achou tudo muito enfadonho, feio e escuro.
– Isto é horrível, como é que vocês conseguem viver aqui?!
Nunca nada estava do seu agrado e ninguém se lhe igualava.
– Reparem como eu sou bonita, já viram estas manchas vermelhas, vocês são pretas, peludas…
À custa de tanto a ouvirem, as irmãs começaram a olhar de soslaio para as gotas de orvalho e, cabisbaixas, pensavam:
– Realmente ela tem razão, somos mesmo feias!
A pequena aranha lançava-lhes sorrisos de desprezo enquanto se bamboleava para cá e para lá no exíguo espaço do ninho.
O tempo passou e a vontade de conquistar mundo cresceu à medida do seu ego. Recusou qualquer trouxa e anunciou a todos a sua partida. Caminhou, segura, até ao pequeno buraco iluminado, espreitou lá para fora e exclamou:
– É tão grande o mundo!
Deu dois passos… e foi comida por um pássaro.


Moral da história: Os pássaros têm mau gosto para a comida.


Excerto de «Fábulas», o livro de auto-ajuda que vai destronar O Segredo dos tops de vendas mundiais.

"Something in me was born before the stars / And saw the sun begin from far away"

Decorre hoje, no Auditório da Biblioteca Nacional, um Colóquio comemorativo dos 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa, onde falarei sobre "Pré-existência e saudade na poesia inglesa de Fernando Pessoa", a partir das 16 h (não consegui ter o programa completo para o publicar aqui).
No Sábado, dia 28, pelas 21. 30, falarei na Galeria Matos Ferreira (Rua Luz Soriano, 18, no Bairro Alto) sobre "O Quinto Império em Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva".

Que relação haverá entre Saudade e Quinto Império ?

Sugiro entretanto que vejam no meu blogue – www.serpenteemplumada.blogspot.com – os belos textos e imagens publicados pela Isabel Santiago, fruto de uma viagem relâmpago a Amarante e à casa de Teixeira de Pascoaes, com acontecimentos estranhos, como a queda de um livro, no quarto do poeta, que pareceu abalar o mundo... Pareceu !?... Quem sabe o que disso resultou, resulta ou resultará ?

REMARKS AT AIPAC POLICY CONFERENCE Senator Barack Obama



June 4, 2008
As Prepared for Delivery

It's great to see so many friends from across the country. I want to congratulate Howard Friedman, David Victor and Howard Kohr on a successful conference, and on the completion of a new headquarters just a few blocks away.

Before I begin, I want to say that I know some provocative emails have been circulating throughout Jewish communities across the country. A few of you may have gotten them. They're filled with tall tales and dire warnings about a certain candidate for President. And all I want to say is – let me know if you see this guy named Barack Obama, because he sounds pretty frightening.

But if anyone has been confused by these emails, I want you to know that today I'll be speaking from my heart, and as a true friend of Israel. And I know that when I visit with AIPAC, I am among friends. Good friends. Friends who share my strong commitment to make sure that the bond between the United States and Israel is unbreakable today, tomorrow, and forever.

One of the many things that I admire about AIPAC is that you fight for this common cause from the bottom up. The lifeblood of AIPAC is here in this room – grassroots activists of all ages, from all parts of the country, who come to Washington year after year to make your voices heard. Nothing reflects the face of AIPAC more than the 1,200 students who have travelled here to make it clear to the world that the bond between Israel and the United States is rooted in more than our shared national interests – it's rooted in the shared values and shared stories of our people. And as President, I will work with you to ensure that it this bond strengthened.

I first became familiar with the story of Israel when I was eleven years old. I learned of the long journey and steady determination of the Jewish people to preserve their identity through faith, family and culture. Year after year, century after century, Jews carried on their traditions, and their dream of a homeland, in the face of impossible odds.

The story made a powerful impression on me. I had grown up without a sense of roots. My father was black, he was from Kenya, and he left us when I was two. My mother was white, she was from Kansas, and I'd moved with her to Indonesia and then back to Hawaii. In many ways, I didn't know where I came from. So I was drawn to the belief that you could sustain a spiritual, emotional and cultural identity. And I deeply understood the Zionist idea – that there is always a homeland at the center of our story.

I also learned about the horror of the Holocaust, and the terrible urgency it brought to the journey home to Israel. For much of my childhood, I lived with my grandparents. My grandfather had served in World War II, and so had my great uncle. He was a Kansas boy, who probably never expected to see Europe – let alone the horrors that awaited him there. And for months after he came home from Germany, he remained in a state of shock, alone with the painful memories that wouldn't leave his head.

You see, my great uncle had been a part of the 89th Infantry Division – the first Americans to reach a Nazi concentration camp. They liberated Ohrdruf, part of Buchenwald, on an April day in 1945. The horrors of that camp go beyond our capacity to imagine. Tens of thousands died of hunger, torture, disease, or plain murder – part of the Nazi killing machine that killed 6 million people.

When the Americans marched in, they discovered huge piles of dead bodies and starving survivors. General Eisenhower ordered Germans from the nearby town to tour the camp, so they could see what was being done in their name. He ordered American troops to tour the camp, so they could see the evil they were fighting against. He invited Congressmen and journalists to bear witness. And he ordered that photographs and films be made. Explaining his actions, Eisenhower said that he wanted to produce, "first-hand evidence of these things, if ever, in the future, there develops a tendency to charge these allegations merely to propaganda."

I saw some of those very images at Yad Vashem, and they never leave you. And those images just hint at the stories that survivors of the Shoah carried with them. Like Eisenhower, each of us bears witness to anyone and everyone who would deny these unspeakable crimes, or ever speak of repeating them. We must mean what we say when we speak the words: "never again."

It was just a few years after the liberation of the camps that David Ben-Gurion declared the founding of the Jewish State of Israel. We know that the establishment of Israel was just and necessary, rooted in centuries of struggle, and decades of patient work. But 60 years later, we know that we cannot relent, we cannot yield, and as President I will never compromise when it comes to Israel's security.

Not when there are still voices that deny the Holocaust. Not when there are terrorist groups and political leaders committed to Israel's destruction. Not when there are maps across the Middle East that don't even acknowledge Israel's existence, and government-funded textbooks filled with hatred toward Jews. Not when there are rockets raining down on Sderot, and Israeli children have to take a deep breath and summon uncommon courage every time they board a bus or walk to school.

I have long understood Israel's quest for peace and need for security. But never more so than during my travels there two years ago. Flying in an IDF helicopter, I saw a narrow and beautiful strip of land nestled against the Mediterranean. On the ground, I met a family who saw their house destroyed by a Katyusha Rocket. I spoke to Israeli troops who faced daily threats as they maintained security near the blue line. I talked to people who wanted nothing more simple, or elusive, than a secure future for their children.



KEEP READING…

POST-IT


Apenas um papelinho deste vosso irmão servidor para agradecer a todos os Confrades, Amigos e Amigas, que vieram até nós e estão a semear este blogue de parcelas do nosso chão; que é uma Pátria de Pátrias sem muralhas, um país que não vem assinalado nos mapas do mundo, mas que o coração dos Navegadores sempre adivinhou.
Com um carinho e um agradecimento vincados para com os mais novos – é de vós e por vós que tudo se tornará imorredouro.

Bem hajam!

INTANGÍVEL

"B. Os velhos são hoje considerados pelos outros como problemas para a medicina, são transferidos para qualquer casa de saúde ou para qualquer hospital geriátrico...

A. Porque necessitam de cuidados, não podem tratar-se a si próprios.

B. Não, porque não podem fazer nada. Hoje, nos Estados Unidos, os velhos são refugos humanos e, naturalmente, comportam-se como tal. Existem outras sociedades em que as responsabilidades aumentam com a idade, onde aquilo a que hoje chamam gaguez senil é considerado digno de atenção, onde os jovens aprendem com a experiência dos seus antepassados...

A. ...temos os historiadores para isso.

B. E que fazem os historiadores? Obtêm subsídios para urdirem histórias orais, ou seja, histórias relatadas por aqueles que sobreviveram aos acontecimentos decorridos ao longo do tempo. Seria melhor ouvir estas narrações directamente, sem o filtro de um intelectual interposto entre as fontes e os que aprendem."


Paul Feyerabend, Diálogo sobre o método, Lisboa, Editorial Presença, 1991, p.15



O Avô era um assíduo contador de histórias. Recordo os serões em volta das brasas, no rude inverno transmontano. Derretia-nos na boca o açúcar dos “Rebuçados da Régua”. Havia sempre “Rebuçados da Régua” nos seus bolsos… Não nos cansávamos de ouvir (pela enésima vez) aqueles relatos cheios de personagens fantásticas, de feitos ora engraçados, ora grandiosos. Vô, conte a do Pires… A do Pires não, Vô, conte antes a da Espingarda dos Sete Tiros!... A figura central daqueles serões era o Avô. Não as crianças, não os adultos, mas o Velho. As suas histórias, sabiamo-las de cor, mas nunca perdíamos a oportunidade de o ouvir contá-las. Faziam e fazem parte do património familiar. Património intangível mas precioso.


Africa loses a library when an old man dies.

Amadou Hampaté-Bâ

LOBA


"Loba" - Janeiro de 2008, colagem de aestranha.

Em tempos há muito idos, ela tinha sido uma menina bonita como muitas. Quis a má sorte e a falta de saber que um porco lhe tivesse comido a mão com que estendia algo para o bicho comer...

Cresceu sem ter o privilégio de casar, ajudou a criar os filhos dos outros, ouviu os amores e desamores das outras, cresceu amarga e depressa a sua cara de menina sorridente se transformou na face engelhada com que havia de morrer...

Nunca ninguém se perguntou se ela desejava algo, para todos era evidente que ela trazia o sinal do mal e que quanto a isso só o sinal da cruz faz algum efeito. Chamaram-lhe preguiçosa e ladra, uma mulher daquelas não podia ser nada de bom...

Com o tempo e com a maldade ganhou o nome de Ti Loba, tão predadora as pessoas a achavam... Deve de ter sido num dia cinzento em que apenas o peso do céu se reflectia na água. Atirou-se para a ribeira quando esta estava cheia das chuvas no sítio do Pé de Negro e foi lá que a encontraram a boiar já sem vida.

O Padre foi piedoso, disse que fora um acidente, foi enterrada em terreno abençoado mas o medo que sentiam dela em vida só veio a intensificar-se com a sua morte...

Contam-se histórias da possessão de uma bela jovem, contam-se histórias de exorcismos e de Padres e familiares em pânico, dizem que ela voltou em forma de cão, espera-se que ainda volte para se vingar das boas pessoas suas vítimas e seus descendentes...

A última vez que estive no Poço do Pé de Negro, no meio das silvas que mal deixam vislumbrar o grande espelho de água não consegui sentir o mal. Senti a tristeza do abandono e a culpa dos que fazem o sinal da cruz quando por ali passam...

Acho que a Ti Loba nunca vai voltar, por mais que isso fosse confortável para os vivos. É que há oportunidades que só se têm uma vez...




aestranha

terça-feira, 24 de junho de 2008

E a cada momento a pedra


Tão simples contar uma história, tão fácil ver. Espera, disse a irmã mais velha, porque agora vou virar a página e contar como o cavaleiro foi salvo pela bruxa do mar. Mas olha outra vez, repara nas cores pesadas do céu: o pai escrevia estes versos três dias antes de os soldados o levarem, tenta não te esquecer. Ou então, se quiseres, subiam ao terraço porque ali podiam fingir que a cidade ainda estava viva, tão longe; subiam ao terraço intacto para não pensar nos dias da devastação. E Miriam sentia confusamente que queria adormecer nos braços da rapariga do tigre.

Tão simples contar uma história, mas ver é ser levado por ela. Sou o que os meus olhos me dizem, digo só o que o meu olhar pode ser: aprendi a ler com os olhos do falcão e do órfão. E a cada momento a pedra, o gesto velado da rapariga do tigre.

Em tudo o que digo há cidades mortas.


[pintura a óleo sobre tela: Omens of Hafez, de Iman Maleki]

Ariano Suassuna (1927)


“A Sentença já foi proferida. Saia de casa e cruze o Tabuleiro pedregoso. Só lhe pertence o que por você for decifrado. Beba o Fogo na taça de pedra dos Lajedos. Registre as malhas e o pêlo fulvo do Jaguar, o pêlo vermelho da Suçuarana, o Cacto com seus frutos estrelados. Anote o Pássaro com sua flecha aurinegra e a Tocha incendiada das Macambiras cor-de-sangue. Salve o que vai perecer: O Efêmero sagrado, as energias desperdiçadas, a luta sem grandeza, o Heróico assassinado em segredo, O que foi marcado de estrelas – tudo aquilo que, depois de salvo e assinalado, será para sempre e exclusivamente seu. Celebre a raça de Reis escusos, com a Coroa pingando sangue; o Cavaleiro em sua Busca errante, a Dama com as mãos ocultas, os Anjos com sua espada, e o Sol malhado do Divino com seu Gavião de ouro. Entre o Sol e os cardos, entre a pedra e a Estrela, você caminha no Inconcebível. Por isso, mesmo sem decifrá-lo, tem que cantar o enigma da Fronteira, a estranha região onde o sangue se queima aos olhos de fogo da Onça-Malhada do Divino. Faça isso, sob pena de morte! Mas sabendo, desde já que é inútil. Quebre as cordas de prata da Viola: a Prisão já foi decretada! Colocaram grossas barras e correntes ferrujosas na Cadeia. Ergueram o Patíbulo com madeira nova e afiaram o gume do Machado. O Estigma permanece. O silêncio queima o veneno das Serpentes e, no Campo de sono ensangüentado, arde em brasa o Sonho perdido, tentando em vão reedificar seus Dias, para sempre destroçados”.
Ariano Suassuna, Romance d’A Pedra do Reino, Folheto XLIV

Ariano Villar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves (actualmente João Pessoa - Brasil), no dia 16 de Junho de 1927. Fez, portanto, na semana passada, 81 anos. Filho do Deputado Federal João Suassuna (1886-1930), Ariano fica órfão logo aos 3 anos de idade já que o seu pai fora assassinado por motivos políticos relacionados à Revolução de 1930. Com a mãe e os seus irmãos, Ariano Suassuna passa a infância na fazenda Acauhan, no sertão da Paraíba, e depois no município de Taperoá (onde inicia os seus primeiros estudos). Só em 1942 é que a família se fixa na cidade do Recife. Depois de ter estudado nos colégios e ginásios mais renomados desta terra, Ariano frequenta a Faculdade de Direito do Recife e posteriormente a de Filosofia, nas quais se licencia, respectivamente em 1950 e 1964.
Começa a dedicar-se ao teatro logo na década de 40 e, no início dos anos 50, torna-se advogado. Contudo, a partir de 1956, Suassuna renuncia ao exercício da advocacia e inicia a sua carreira de professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano de 1969 é nomeado Director do Departamento de Extensão Cultural da mesma universidade e começa a engendrar o Movimento Armorial (que, em traços muito largos, consiste na criação de uma arte erudita a partir dos elementos que a arte popular do nordeste brasileiro disponibiliza). Em 1976, com a tese “A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira”, torna-se professor agregado na sua Universidade.
Desde 1990, Ariano Suassuna ocupa a cadeira número 32 da Academia Brasileira de Letras e, anos depois, tomará posse também nas Academias de Letras de Pernambuco (1993) e da Paraíba (2000). Em 1994 reforma-se da universidade e, no ano seguinte, é nomeado Secretário Estadual de Cultura do Estado de Pernambuco. Em 2000, recebe o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Desde há alguns anos a esta parte, Ariano Suassuna ocupa-se da escritura de um novo romance que visa culminar a trilogia encetada com o Romance d’ A Pedra do Reino (escrito durante doze longos anos) e com A História d’O Rei Degolado.
É muito comum ouvir-se dizer que Ariano Suassuna é um dos maiores escritores vivos de língua portuguesa. Para além de ser um cliché, discutível como todos os outros, quando lemos o Romance d’A Pedra do Reino, ficamos convencidos, sem quaisquer dúvidas, que é isso mesmo que Ariano é, talvez até mais: o maior escritor vivo de língua portuguesa.
A sua escrita irrepreensível, embora hermética na maioria dos casos, conduz-nos para a vivência de um Brasil que, para além de ser o Brasil da sua infância - dos sertões paraíbanos a perder de vista, que estão replectos de imagens ibéricas (de Camões (1524?-1580) a Cervantes (1547-1616); de sebastianismos a Vieira (1608-1697)), de sincretismos luso-afro-brasileiros, de Canudos de Euclides da Cunha (1866-1909) e de António Conselheiro (1830-1897) -, é também o Brasil que um Jaime Cortesão (1884-1960) ou que um Agostinho da Silva (1906-1994) encontraram e exaltaram, na década de 40 do século passado, quando aí aportaram e ainda aquele com o qual temos contacto quando assistimos a uma cavalhada entre Cristãos e Mouros, no Domingo de Pentecostes, ou quando ouvimos, em pleno São João, as ladainhas das cantadeiras do Maranhão invocando o desembarque, nas águas de São Luís, da corte real portuguesa, em especial de El Rei Dom Sebastião (1554-1578).
Se o universo literário de Suassuna não deixa de ser mítico em certa medida, por outro lado tudo aquilo existe no nordeste brasileiro. Não só no imaginário de um homem que teve a sorte de, enquanto menino, ler, na biblioteca do seu pai, os maiores escritores, inclusive os ibéricos, mas também na imaginação popular e na manifestação que esse mesmo povo, herdeiro da guerra de Canudos, foi reinventando e recriando. A história, o tempo e o espaço do Romance d’A Pedra do Reino residem, então, no imaginário colectivo daqueles sertões infindáveis, não são apenas exclusivos da mente ou da vida de Ariano Suassuna. Aliás, a literatura oral e popular é uma das maiores fontes de inspiração do nosso autor que tão exemplar e felizmente a recria e transmuta. Dom Pedro Dinis Quaderna, personagem principal do Romance, e todas as outras figuras que povoam tal obra são, no fundo, vidas reais dos sertões como Suassuna, no mesmo livro, assume: “É por isso que eu digo que os fidalgos normandos eram cangaceiros e que tanto vale um Cangaceiro quanto um Cavaleiro medieval. Aliás, os Cantadores e fazedores de romances sertanejos sabem disso muito bem, porque, como me fez notar o Professor Clemente, nos folhetos que Lino Pedra-Verde me traz para eu corrigir e imprimir na tipografia da Gazeta de Taperoá, as Fazendas Sertanejas são Reinos, os fazendeiros são Reis, Condes ou Barões, e as histórias são cheias de Princesas, Cavaleiros, filhos de fazendeiros e Cangaceiros, tudo misturado”.
O Romance d'A Pedra do Reino, em particular, e a obra de Ariano Suassuna, em geral, são mais do que a denúncia do hiato que existe entre o Brasil rural e regional e o Brasil urbano ou entre o “país real” e o “país oficial” (como lhe chamava Machado de Assis (1839-1908)), são relatos do universal, são expressões do arcaico que existe em todos os cantos do mundo e que se expressam, circunstancialmente, de maneiras diversas. Dom Pedro Dinis Quaderna não passa do Cavaleiro da Triste Figura ou do Cavaleiro do Elmo de Papelão (tal como António Cândido Franco (1956) caracteriza Dom Sebastião na sua Saga do Rei Menino); Dom Pedro Dinis Quaderna é o reflexo da luta eterna que, no interior do ser humano, se dá entre o hemisfério Rei e o hemisfério Palhaço.
De características tanto regionais quanto universais, o Romance d’A Pedra do Reino consagrou o poeta e o dramaturgo Suassuna enquanto romancista exímio e exemplar; fez com que o “país oficial” olhasse, mesmo que de relance, para o “país real”, com que o Brasil urbano se lembrasse que ainda existe um Brasil rural, pleno de vida, símbolos e mitologias.

Bibliografia
Teatro
Uma mulher vestida de Sol (1947)
Cantam as harpas de Sião (1948)
Os homens de barro (1949)
Auto de João da Cruz (1950)
Torturas de um coração ou Em boca fechada não entra mosquito (1951)
O arco desolado (1952)
Auto da Compadecida (1955)
O Santo e a Porca - O Casamento Suspeitoso (1957)
A Pena e a Lei (1959)
A Farsa da Boa Preguiça (1960)
A Caseira e a Catarina (1962)
As conchambranças de Quaderna (1987)
Ficção
A história de amor de Fernando e Isaura (1956)
Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) – Prémio Nacional do Livro, 1972
As infâncias de Quaderna (1976-1977)
História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: Ao Sol da Onça Caetana (1977)
Ensaio
O Movimento Armorial (1974)
Iniciação à Estética (1975)
A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira (1976)
Olavo Bilac e Fernando Pessoa: Uma presença brasileira em Mensagem? (1998)

Conferência sobre a Humanidade


Bill Clinton, ex-presidente norte americano virá brevemente a Portugal para falar da Humanidade à porta fechada.
A Conferência irá realizar-se no próximo dia 25 de Junho de 2008, entre as 11 e as 13 horas e terá lugar no Museu da Electricidade, em Lisboa.
O Evento será organizado pela Cunha Vaz & Associados.
A Conferência está vedada a jornalistas e não poderá ser transmitida ou reproduzida.


(excerto da notícia publicada no DN, de 8 de Junho de 2008, pg. 25)

Um português chamado António Vieira: A Revolta do Pernambuco do jugo holandês e a hesitação de Vieira

Quando os colonos portugueses se revoltam contra o ocupante holandês, coadjuvados por escravos negros e índios cristianizados, Vieira estava na Holanda, procurando negociar a paz desta com Portugal restaurado, quando recebe as notícias da revolta. A sua primeira reacção é escrever para o rei e queixar-se dos “valentões de Portugal”, que não satisfeitos de estarem já metidos com a maior potencia da época, Espanha, agora queriam também bater-se contra a Holanda, com quem ele procurava tão esforçadamente fazer a paz, de forma a garantir a vitória contra a primeira: “Em todo o passado Castela e Portugal não puderam prevalecer assim no mar como na terra contra a Holanda; e como poderá agora Portugal, só, permanecer e conservar-se contra a Holanda e contra Castela?” (Cartas). Posteriormente, haveria de ser menos crítico dos revoltosos, já que conhecera de perto e pessoalmente as agruras da “guerra holandesa” e haveria de ora defender revoltosos, ora aqueles que defendiam a paz com a Holanda. Alguns, em Portugal, e em particular na corte de Dom João IV, defendiam que a paz com a Holanda devia ser assegurada a todo o custo sacrificando inclusivamente os revoltosos que no Brasil no Pernambuco se batiam contra os holandeses e com eles, abandonando qualquer reclamação ao Pernambuco. Outros, menos influentes em Portugal, mas crescendo em número entre o Povo e a Burguesia, e sobretudo entre os colonos brasileiros acreditavam que era preciso enviar reforços para apoiar a revolta e promover a final expulsão dos holandeses do Brasil.

Menos hesitante estivera o rei, que logo que recebera novas da revolta mandara carta ordenando que a coluna que entrara no Pernambuco vinda dos territórios portugueses e que a pedido do governo local e enviada para ajudar a Holanda a suprimir a revolta e que se virara muito compreensivelmente a seu favor voltasse à Baía. A coluna militar violara as suas ordens absurdas e maquiavelicamente calculistas emanadas a partir de Lisboa e combatia agora com os revoltosos e contra a Holanda no interior do Pernambuco. Já então o Brasil, pela composição das suas forças e pelo espírito de autonomia e de liberdade das suas gentes, começava a agir de forma autónoma e independente, animado pela distância da metrópole e do relativo desinteresse a que esta vota a sua distante colónia… Na revolta contra os europeus do norte estavam todos aqueles que os portugueses tinham trazido e encontrado na terra brasílica: aos portugueses, colonos e militares vindos da metrópole, juntavam-se e batiam-se lado a lado os índios comandados por Filipe Camarão, um índio tupi e os negros do liberto Henrique Dias. A esta congregação de gentes e raças, unidas pelo espírito da liberdade brasílica contra o opressor estrangeiro se juntava o coração de Vieira, criado desde os sete anos na Baía, mas se separava a inteligência do Jesuíta, mais prudente e avisadamente receosa da divisão dos escassos meios entre duas guerras contra duas das maiores potencias militares da época: Espanha e Holanda.

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O rebeijo incontinente, ou Portugal na alma de alguns

Silêncios quentes, quietude conspirativa do beijo
e sempre a própria aorta cúmplice como eco.

Cápsulas insonorizadas, secretas águas do toque
e nunca a exterior morte como congregação.

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
da pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele

silencia-se a cápsula no limbo da respiração
na pele

MARIA LAGARTA, A BRUXA DE GOUVIÃES

Nuno Gonçalo Paixão, Velha Oliveira Velha Casa, 2005

Conta o povo que, quando garota, a Maria, como então era conhecida, levantou o pelo da venta contra uma vizinha por esta falar da sua mãe como a «Maria das Peles». Ora não querem lá ver, quem muda de pele são as lagartas. O dito assentou-lhe que nem uma luva e da alcunha de Maria Lagarta nunca mais se livrou. Passou pela mocidade sem conhecer namoro, fez-se velha cedo, diz quem tem lembrança desses tempos, tornou-se amarga que nem fel. Vive lá para as bandas do riacho, num casebre negro como as roupas que a cobrem, aquilo não é boa rez, gente de bem não se atreve a cruzar caminho com ela depois de anoitecer. Há quem jure a pés juntos que, quando a noite chega, os gatos-bravos se acercam e ela dá abrigo a todos. Solta-os antes de amanhecer, disso não há que ter dúvida, pois mal desponta o sol é um corrupio de gente sentada à espera nas pedras do riacho. Vêm de todo o lado, tem nome a bruxa de Gouviães, dizem que para tirar o quebranto não há igual. São meninas esbranquiçadas desenganadas pelos doutores, crianças a quem caiu o bucho, gente mal parida, mulheres com maridos amigados, tudo lá vai parar. Guardam-lhe respeito temeroso, as gentes de Gouviães, não que não há quem esqueça o caso do finado Zé da Lebre. Diz-se que uma tarde, já bem emborcado, ao atravessar-se com a Maria Lagarta se benzeu de dedos cruzados. Foi o fim do mundo, levantou-se uma trovoada que o céu parecia rachar, o riacho tomou ganas de rio grande e nunca mais se soube do infeliz.


Excerto de «Senhoras de Braga e Morcelas Alentejanas», obra que o Google desconhece por ainda não ter sido escrita.

Parábola da mulher da lota...

- Disseram-me que gostava muito do Agostinho da Silva…
- Adorava-o! Concordava com tudo o que ele dizia e assisti a várias palestras dele… Mas, confesso-lhe, sempre que o ouvia tinha que fechar os olhos. As roupas que ele usava, meu Deus!, tão fora de moda… Um dia ainda lhe ofereci um cheque para ele comprar algo mais chique. Mas ele, sorrindo, sugeriu que eu comprasse um outro perfume… Ainda hoje o guardo, religiosamente! É a minha recordação do Agostinho…
- Sabe que há uma Associação Agostinho da Silva, não sabe?
- Sei sim. Tenho ouvido muitos ecos do vosso trabalho. É extraordinário o que têm feito. Vê-se bem que têm grandes apoios…
- E já ouviu falar da NOVA ÁGUIA e do MIL?
- Claro! Li até a vossa “Declaração de Princípios e Objectivos”, na qual me reconheço totalmente. Totalmente!
- E já aderiu?
- Era para aderir, mas depois vi o vosso “logotipo”, e não consegui! Aquele “logotipo”, meu Deus…
- E a revista, já a comprou?
- Via-a no outro dia numa livraria, até num lugar de destaque, mas não a comprei. Aquela capa… Não dá com todos os outros livros que tenho na minha estante, está a ver? Mas talvez ainda venha a fazer o sacrifício de a comprar, só para vos apoiar. Ouvi dizer que a revista se está a vender muito mal…
- Sim, sim, de tal modo que a edição está quase esgotada… Bom, a conversa está muito agradável, mas tenho que ir andando. Vou assistir a uma conferência na Faculdade de Letras…
- Na Faculdade de Letras?! Que horror! Nunca lá entrei. Que edifício tão feio. Todas aquelas colunas… Mas aceito boleia até ao Campo Grande…
- Nesse caso, venha daí…
- Nesse carro?! Por amor de Deus, Renato, prefiro ir a pé…
- Nesse caso, au revoir
Ainda bem, disse para mim próprio. Aquele “perfume” causa-me náuseas…

Saída do deserto

Imagem copiada daqui

Malika Mokeddem é uma força da natureza.

Nasceu na Argélia e cresceu por entre as convulsões da independência nos anos sessenta. Oriunda dos povos nómadas do deserto, seus olhos argutos na tez escura perscrutam o mundo em volta, olhando além da dunas. Desde a infância, histórias dos homens das areias – Les Hommes qui Marchent é um dos seus livros mais fascinantes – misturam-se no carinho e protecção da avó Zohra, esta tornada sedentária pelo casamento, eterna inadaptada às leis que coarctam a sua liberdade, alteram a sua percepção de espaço e de tempo.

Ouvido atento à contadora de histórias, foi a leitura depois que lhe preencheu as horas sem sono, lhe abriu os horizontes que haveria de conquistar com perseverança e denodo, com a força de alma necessária para ultrapassar a sua condição de mulher e muçulmana.

Paralelamente à sua formação na área da medicina, num percurso lento e doloroso, de esforço ciclópico, dedicou-se à escrita, denunciando a escravidão da mulher, a subserviência, a submissão ao outro sexo, a anulação como pessoa, a sua redução à função única de procriar, açaimada por uma religião falocrática.

A sua escrita é poderosa, objectiva, contundente. Mas eivada de uma sensibilidade latente, ternura, revolta, humildade. A sabedoria do deserto, as estrelas povoando a noite, o calor crescendo nas areias escaldantes, as nuvens de gafanhotos, a falta de chuva, também a neve, a luz do entardecer, as tribos de nómadas que passam, tudo aparece em pinceladas, sensações de uma vivência diferente e única.

Malika Mokeddem continua a escrever, denunciando a injustiça dos homens.

É actualmente médica urologista em Montpellier.

EUROPA

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O despojo, um crânio sobre pneus,
Confunde a esfinge e o seu escriba
Sentado. (O búzio
Perdeu a ressonância,
Não canta por si,
É preciso soprá-lo.)
O deserto derrete as páginas.


Ecos, cópias, luzes falsas.

Lucrécio atormenta-se em casa,
Trancado com o Universo… enigmas
Prenhes de enigmas prenhes
De enigmas... Lucrécio não tem fundo.
E, de noite, o deus
Fá-lo cantar.

Imundície, pestes, mentiras.

(Quem comanda os meus passos?
As vielas, o tear de túneis,
Mergulham no Hades.)

Telémaco no bordel.
Penélope no secador.

As parcas douradas que tecem as ruas
Tecem o labirinto. Os sinais. Os corvos
De Zeus devoraram-se
No ar. Ulisses,
Não encontra o caminho de volta.
As vagas e os campos
São martelados pela tempestade.

As tochas dançam sem faunos,
Nem música. A nudez,
A beleza, etc, são agora crime.
Os lagos foram abandonados.
A populaça em fúria
Persegue o Minotauro,
Os cegos, o rapaz
De braços de gafanhoto que nasceu
Com seios, o chiador,
Os disformes; mongolóides, anões.
Os centauros são abatidos nas praças.

Teseu de ariana espada vem para nós
A 120 km/h da hidra subterrânea.

(Livros, rosas, seios, não sei,
Faltam-me as palavras.
A guerra – em breve
Os poetas serão um luxo.)

Chegou o mensageiro, falou:
«Prodígios no mar.
____A ira da noite nos ares.
A muralha Este ameaça derrocar.
____A pítia pariu um monstro,
Dizem que fala
____Com a voz de Péricles.
Uma praga de ratos no centro da cidade.
____César está doente.»

Segunda-feira de manhã, aguaceiros.
O espelho recusou-se a reflectir o rosto
Da mulher do cozinheiro.
Não sei onde meti as chaves,
Procurei, procurei,
Nada.



Klatuu Niktos