A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
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sábado, 3 de outubro de 2009

Uma história obscena...



A história já era conhecida mesmo antes de ter acontecido, mas nem por isso deixa de ser obscena.

Um pouco mais de um ano após ter chumbado o Tratado de Lisboa em referendo, o povo irlandês foi sujeito a um segundo referendo para emendar a mão.

Face à chantagem a que foi sujeito, nem é caso para dizer que o povo irlandês se vergou. Aconteceu, simplesmente, o inevitável.

De resto, este é um caso que irá servir de lição. Para manter as aparências de “democracia”, vão-se acabar de vez com os referendos. Acho bem. Pelo menos, o espectáculo torna-se menos obsceno…

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Eis como a democracia pode ser sabiamente adulterada...

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Resultados do referendo foram negociados

O líder da Fretilin e ex-primeiro-ministro de Timor-Leste, Mari Alkatiri, disse em Díli à Agência Lusa que o resultado da consulta popular, que conduziu há dez anos o país à independência, foi negociado para não humilhar a Indonésia.

Fonte: http://noticias.sapo.pt/noticias/videos/#6HU9FztaH6cDQLrrkRu5

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Educação para o ódio

Quando o grande poeta Paul Celan saiu de Auschwitz, onde sofrera impiedosos tormentos, foi visitar Heidegger, acaso o maior filósofo do século XX e nazi nunca arrependido. Sabe-se que conversaram de tudo, sem omissões ou rasuras, e Celan não ocultou o prazer experimentado durante aquelas duas horas de convívio. Mas esta era outra gente, independentemente dos gostos e convicções. Em tempos, fui criticado por estimar e defender João Coito (que chefiou a redacção do Diário de Notícias), meu saudoso amigo e salazarista indefectível. E João Coito era reprovado, pelos seus correligionários, devido à afeição que por mim publicamente manifestava, sobretudo em artigos n'O Diabo. Esta relação situava-se no campo da honra e da integridade, se me permitem fazer uma paráfrase da explicação dada por Celan, e tomando as distâncias devidas entre nós e eles.

Dá-se o caso de, na década de 60, depois de despedido de O Século, por envolvimento na Revolta da Sé, e vivendo numa semiclandestinidade, o João Coito moveu céu e terra para eu entrar como redactor no Diário de Notícias. O meu amigo era um homem influente, mas não tanto que conseguisse opor-se a César Moreira Baptista, corifeu do regime e meu raivoso inimigo. Preparava-me para viajar até Paris e, depois, seguir para a Checoslováquia. O Urbano Tavares Rodrigues obtivera uns papéis falsos, encontrámo-nos na Pastelaria Smarta, de súbito deu-me a saudade futura de Lisboa, decidi ficar. Dormi em casa do Fernando Lopes e comi na mesma mesa fraterna. Um dia, diz-me que Manuel Figueira, chefe de Redacção do Telejornal, quer falar-me. Almoço na Varina, Parque Mayer, centro do nosso mundo, e, no final, Figueira convida-me a redigir notícias para a televisão, com, apenas, uma reserva: os recibos seriam assinados sob pseudónimo. Assim nasceu Manuel Trindade, nome de ressonâncias eclesiásticas, até que, denunciado, fui afastado, num despacho de Moreira Baptista, pobre homem.

A vida é o que é. Não me queixo, envelheço sem espanto e com ironia e vou-me divertindo, chateando uns tunantes que por aí andam. Lembrei-me, agora, destas historietas afáveis, ao ler alguns preopinantes de uma direita odienta, que confundem o desdém por delatores com fanatismo partidário. Os que nasceram sob Salazar foram educados para o ódio. De um e de outro lado. Porém, sempre julguei, ingenuamente, que a democracia boleasse as arestas desses ódios. Nada disso. Renasceu um movimento retardado de rancorosos, sem talento, sem grandeza e sem generosidade, mas com aleijões morais e prosa de mau hálito. Os netos de Salazar são incapazes de seguir os exemplos de Celan e de Heidegger. Porque continuadores do mais desprezível dos modelos.

Baptista Bastos
Diário de Notícias

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Livres na nossa vida pública [...] nós sabemos respeitar o que interessa à ordem pública


Barbara Kruger: “Your moments of joy have the precision of military strategy” (1980)



“A Constituição que nos rege não tem nada que invejar às dos outros povos; serve-lhes de modelo; não as imita. Ela tomou o nome de Democracia, porque o seu objectivo é a utilidade do maior número e não a duma minoria.
Nos assuntos particulares, todos são iguais perante a lei, mas só àqueles que se distinguem por algum merecimento se tributa consideração.
Bem mais que as distinções sociais é o mérito pessoal que abre o caminho das honras.
Nenhum cidadão capaz de servir a pátria é impedido de o fazer, pela indigência ou pela obscuridade da sua condição.
Livres na nossa vida pública, nós não espiamos com desconfiada curiosidade a vida particular dos nossos concidadãos; não os criticamos por buscarem alguns prazeres, nem lhes dirigimos aqueles olhares reprovadores que ferem, quando não matam.
Apesar desta tolerância no comércio da vida, nós sabemos respeitar o que interessa à ordem pública e somos cheios de acatamento para com as autoridades, assim como para com as leis estabelecidas, principalmente aquelas que têm por objecto a protecção dos mais fracos e as que, por não serem escritas, nem por isso deixam de atrair sobre os que as transgridem uma universal reprovação.”


Péricles, "Um Discurso: Oração Fúnebre aos Mortos do Primeiro Ano da Guerra do Peloponeso" tradução de Eduardo Cruz, Porto: Livr. Educação Nacional, 1941, pp.11/12.

Vamos lá ver se é desta que os irlandeses votam com juizinho. Se não for ainda desta, faz-se um terceiro referendo...

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Dublin, 08 Jul (Lusa) - O segundo referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa vai realizar-se a 02 de Outubro próximo, anunciou hoje o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, no parlamento.

EJ.
Lusa/Fim

sexta-feira, 22 de maio de 2009

E-mail que nos chegou...

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Sabiam que o voto em BRANCO é o mais eficiente?????

SE VOTAREM EM BRANCO, ou seja, se não escreverem absolutamente nada no boletim de voto, é muito mais eficiente do que riscá-lo.

Nenhum político fala nisto... porquê?????????

Porque se a maioria da votação for de votos em branco eles são obrigados a anular as eleições e fazer novas, mas com outras pessoas diferentes nas listas.

Imaginem só a bronca.......:::::)))))))))

A legislação eleitoral tem esta opção para correr com quem não nos agrada, mas ninguém fala disso.

Não risquem os votos, porque serão anulados e não contam para nada.

VOTEM EM BRANCO......!!!!!!!!!!!!!!

A maioria de votos em BRANCO anula as eleições..... e demonstra que não queremos ESTES políticos!!!

Espalhem para se obter a maioria.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Como falamos a democracia?

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Na bela cidade de Durban, falávamos eu e outros escritores africanos da surpresa do modo como, no Zimbabwe, tantos ainda apoiam Robert Mugabe. Havia, no grupo, escritores de vários países de África. Aproveitámos o que melhor há nas conferências literárias: os intervalos. A nossa perplexidade não se limitava ao caso zimbabweano. Como é que povos inteiros, em outras nações, se acomodaram perante dirigentes corruptos e venais. De onde nasce tanta resignação?
Uma das razões dessa aceitação reside na forma como as línguas se relacionam com conceitos políticos da modernidade. Por exemplo, um zimbabweano rural designa os seus líderes nacionais como entidades divinizadas, fora das contingências da História e longe da vontade dos súbditos. O mesmo se passa em quase todas as línguas bantus.
A questão pode ser assim formulada: como pensar a democracia numa língua em que não existe a palavra «democracia»? Num idioma em que «Presidente» se diz «Deus»? Nas línguas do Sul de Moçambique, o termo para designar o chefe de Estado é «hossi». Essa mesma palavra designa também as entidades divinas na forma dos espíritos dos antepassados, traduzindo uma sociedade em que não há separação da esfera religiosa.
Parece uma questão de ordem linguística. Não é. Trata-se do modo como se organizam as percepções e as representações que uma sociedade constrói sobre si mesma. A sacralização do poder não pode casar com regimes em que se supõe que os líderes são escolhidos por livre votação. Numa sociedade em que os súbditos se convertem em cidadãos.
Esse assunto escapa muitas vezes a quem se especializou em organizar seminários sobre cidadania e modernidade em África. A problemática política é vista, quase sempre, na sua dimensão institucional, exterior à intimidade dos cidadãos. Quando o participante do seminário explicar à sua comunidade o conteúdo dos debates usará a sua língua materna. E sempre que se referir ao Presidente ele fará uso do termo «deus». Como pedir uma atitude de mudança nestas circunstâncias?
O que se pode fazer? Será que os falantes destas línguas estão condenados à imobilidade por causa desta inércia linguística? Na realidade, existem tensões entre a lógica interna de algumas destas línguas e a dinâmica social. Estas tensões não são novas e sempre foram resolvidas a favor da adaptação criativa e da criação de futuro.
Já no passado, as culturas africanas (e todas as outras em todos os continentes) tiveram que se moldar e se reajustar perante aquilo que surgia como novidade. Eu mesmo testemunhei o modo veloz como as línguas moçambicanas se municiaram de instrumentos novos, roubando e apropriando-se de termos não próprios.
Com o uso generalizado esses termos acabaram indigenizando-se. Sem drama linguístico, sem apoio de academias nem de acordos ortográficos os falantes dessas línguas «pediram» de empréstimo palavras de outros idiomas. Moçambique é, nesse domínio, um caldeirão dessas mestiçagens.
Os nacionalistas africanos não ficaram à espera que um vocabulário apropriado nascesse nas línguas maternas dos seus países. Eles começaram a luta e essa mesma dinâmica contaminou (mesmo com uso de termos e discursos inteiros em português) as restantes línguas locais.
Tudo isto nos traz a convicção do seguinte: a capacidade de questionar o presente necessita de língua portadora de futuro. A necessidade de sermos do nosso tempo e do nosso mundo exige línguas abertas ao cosmopolitismo. África – tantas vezes pensada como morando no passado – já está vivendo no futuro no que respeita à condição linguística: quase todos africanos são multilingues.
Essa disponibilidade é uma marca de modernidade vital. O destino da nossa espécie é que cada pessoa seja a humanidade toda inteira.

Crónica de Mia Couto, escritor moçambicano, publicada na edição de Abril da revista África 21

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A Tolerância Zero e as democracias veladas do Ocidente


Uma das características da Lógica Clássica é o axioma do Terceiro Excluído, isto é, não existe alternativa para um valor verdade além do par {Verdadeiro, Falso}. É a tradição greco-romana ocidental herdada de Aristóteles. Ao lidar com problemas do mundo real, no entanto, é como que o conhecimento disponível não seja nem absolutamente verdadeiro nem absolutamente falso, podendo ser, por exemplo paradoxais, incertos, desconhecidos, indeterminados, verdadeiros em geral, verdadeiros com uma certa probabilidade, etc. Para estender a Lógica Clássica de maneira a permitir o tratamento deste tipo de conhecimento, é necessário alterar o conjunto de valores {Verdadeiro, Falso}. Dentre dos formalismos propostos para alterar este conjunto de valores encontra-se a Lógica Fuzzy. A teoria da relatividade de Einstein veio dar sentido ao funcionamento desta lógica. O Japão foi o primeiro país que fez uma aplicação prática desta lógica em termos industriais e com grande sucesso na sua indústria electrónica. A lógica nebulosa é da tradição budista da Índia, que se misturou com a tradição taoista em China, e deu origem ao Zen no Japão. O grande ideal do budismo foi o de ultraprassar o universo de opostos, de distinções mentais e discriminações emocionais. Budha não queria saber se o mundo é eterno ou não-eterno, se era finito ou infinito. O segredo de conseguir aceitar A e não-A ao mesmo tempo, ou aproximações entre 0 e 1 (em vez de 0 ou 1) é a capacidade de tolerância. Não há lugar para tolerância 0 (zero), tanto em voga no Ocidente, onde ainda as democracias são formas veladas de intolerância sob capas de discursos parlamentares e montes de legislação! Houve quem designasse esta tendência como Ocidentose.

http://gloriainacselsis.wordpress.com/2008/08/08/logica-fuzzy-difusa-nebulosa/

terça-feira, 24 de junho de 2008

EUROPA

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O despojo, um crânio sobre pneus,
Confunde a esfinge e o seu escriba
Sentado. (O búzio
Perdeu a ressonância,
Não canta por si,
É preciso soprá-lo.)
O deserto derrete as páginas.


Ecos, cópias, luzes falsas.

Lucrécio atormenta-se em casa,
Trancado com o Universo… enigmas
Prenhes de enigmas prenhes
De enigmas... Lucrécio não tem fundo.
E, de noite, o deus
Fá-lo cantar.

Imundície, pestes, mentiras.

(Quem comanda os meus passos?
As vielas, o tear de túneis,
Mergulham no Hades.)

Telémaco no bordel.
Penélope no secador.

As parcas douradas que tecem as ruas
Tecem o labirinto. Os sinais. Os corvos
De Zeus devoraram-se
No ar. Ulisses,
Não encontra o caminho de volta.
As vagas e os campos
São martelados pela tempestade.

As tochas dançam sem faunos,
Nem música. A nudez,
A beleza, etc, são agora crime.
Os lagos foram abandonados.
A populaça em fúria
Persegue o Minotauro,
Os cegos, o rapaz
De braços de gafanhoto que nasceu
Com seios, o chiador,
Os disformes; mongolóides, anões.
Os centauros são abatidos nas praças.

Teseu de ariana espada vem para nós
A 120 km/h da hidra subterrânea.

(Livros, rosas, seios, não sei,
Faltam-me as palavras.
A guerra – em breve
Os poetas serão um luxo.)

Chegou o mensageiro, falou:
«Prodígios no mar.
____A ira da noite nos ares.
A muralha Este ameaça derrocar.
____A pítia pariu um monstro,
Dizem que fala
____Com a voz de Péricles.
Uma praga de ratos no centro da cidade.
____César está doente.»

Segunda-feira de manhã, aguaceiros.
O espelho recusou-se a reflectir o rosto
Da mulher do cozinheiro.
Não sei onde meti as chaves,
Procurei, procurei,
Nada.



Klatuu Niktos

domingo, 22 de junho de 2008

PÁTRIA




«Quando os Escoceses se reúnem para celebrar a sua identidade nacional, fazem-no de formas ancoradas na tradição. Os homens vestem o kilt, cada clã usa o tartan com as suas cores próprias e as cerimónias são acompanhadas pela música das gaitas-de-foles. Através destes símbolos, demonstram que se mantêm fiéis aos rituais de antanho, cujas origens são antiquíssimas.
Só que isso não é verdade. Como é o caso com muitos símbolos da identidade escocesa, todas estas coisas são de criação recente. O kilt curto parece ter sido inventado por um industrial inglês do Lancashire, Thomas Rawlinson, no início do século XVIII. Decidiu alterar o vestuário que as gentes das terras altas então usavam para lhes facilitar a vida como trabalhadores.
Os kilts foram um produto da Revolução Industrial. Com eles, não se pretendia honrar uma tradição; a ideia era absolutamente contrária: permitir que as gentes das terras altas abandonassem o vestuário de couro para poderem trabalhar nas fábricas. O kilt não começou por ser o traje nacional da Escócia. Os habitantes das terras baixas, que constituem a maioria dos Escoceses, consideravam que os das montanhas se vestiam de uma forma bárbara, que muitos olhavam com desprezo. E quanto aos tartans agora usados, muitos deles foram elaborados, em pleno período vitoriano, por alfaiates empreendedores, que correctamente viram neles uma boa fonte de negócios.
Muitas das coisas que consideramos tradicionais, alicerçadas na neblina dos tempos, não passam, na verdade, de produtos do último par de séculos, e por vezes são ainda mais recentes. O caso do kilt dos Escoceses consta de uma obra célebre dos historiadores Eric Hobsbawm e Terence Ranger, The Invention of Tradition

Anthony Giddens, O Mundo na Era da Globalização



Ao longo da história da Civilização Ocidental quase nunca os políticos foram o ápice da cultura dos povos. Nem em nenhuma outra civilização, diga-se, mas tem-lhes sido confiada a condução concreta dos destinos da Humanidade. Os seus conluios raramente foram com o saber, mas profusamente com a religião e todas as formas de manipulação das consciências.
O maior apelo que se pode fazer à identidade de um povo é invocar a sua Tradição – ter o domínio dos mecanismos que permitem a sua difusão e permanência nas memórias colectivas sempre foi uma das maiores tentações, quer da Esquerda quer da Direita.
O desmoronamento dos impérios do Antigo Regime foi substituindo a hipostasiação expansionista de identidades nacionais (todas assentes na crença em mitosofias predestinativas) por ideologias internacionalistas, radicadas numa igualdade de todos os homens escorada no velho conceito universal, helénico, de Homem. Este conceito sempre foi uma ideologia mutável e, com o fim do modelo genérico da sociedade oitocentista, o Homem deixou de estar enraizado no conceito de Nação – como o estava para Aristóteles – e passou a ser a mais abstracta das ideias… neste Homem cabem: o Indonésio e o Guineense, o Espanhol e o Americano, mas não há Indonésios nem Guineenses nem Espanhóis, há Austronésios e Papuas, Manjacos, Papéis, Fulas, Flupes, Galegos, Andaluzes, Catalães, Bascos, Castelhanos, etc, e Americanos não existem, nem sequer para os próprios Ameríndios do continente americano, existem é Sioux, Borórós e muitos outros (só a percepção da eficácia política de um termo, os faz afirmarem-se Americanos).
Esta ideia-armazém universal de Homem rapidamente se tornou na grande disputa das ideologias que emergiram em luta nos princípios do séc. XX, na batalha acérrima de determinar o futuro da Humanidade num século que se adivinhava fértil de mudanças, políticas, tecnológicas, culturais e sociais. Mais do que o Alemão ou o Russo, o Novo Homem seria um Nacional-Socialista ou um Comunista – mas, mesmo as ideologias futuristas, não podiam ignorar de todo a Tradição que pretendiam reconstruir e, por isso, se reivindicaram de um património mítico, sempre mais ou menos religioso: o Ariano, o Proletário – remetendo para identidades imaginárias, há muito construtoras de narrativas imemoriais, em que inúmeros povos se têm revisto, numa cumplicidade com guerreiros vitoriosos de fábula e pobres de espírito ávidos do Paraíso.
A utopia comunitária europeia não deixa, ainda assim, de renovadamente se alimentar do mesmo sustento litúrgico: a Cristandade, a Herança Helénica ou o Espaço do Império Romano – não é por acaso que, depois da Turquia, já há quem fale em Marrocos como futuro membro da Comunidade Europeia e, quem sabe, daqui a 100 anos todas as nações mediterrânicas estarão integradas nessa coligação económica e política.
Tal como nas convulsões da primeira metade do séc. XX, neste novo século, muito mais rápido, assistimos quer ao anúncio da morte do Estado-Nação – de que a Comunidade Europeia e a Globalização são os grandes obreiros – quer ao recuperar de velhos mitos nacionais, ou internacionais; só a noção identitária é mutante, consoante se reivindica o espaço rácico de um Povo-Nação ou espaços transnacionais, sejam rácicos, igualmente, religiosos, culturais, económicos ou políticos, sendo o Capitalismo e a Democracia os estandartes do Ocidente e os seus exércitos a supremacia tecnológica e o monopólio dos media e de todas as formas de comunicação, a que se acresce o imenso poderio da sua propaganda cultural e a eficácia dos seus intelectuais, incansáveis na escritura de inventadas narrativas sapienciais, com ambição hegemónica a primados.
A diferença das diversas propostas não têm como chão outro solo senão o património cultural específico de cada povo. Há motivo histórico para que na Alemanha ressurjam velhas ideologias fundamentadas na Raça, alguns Alemães ainda se podem gabar de ser um grupo rácico; foram de todos os Europeus um dos povos que menos se misturou e dispersou fora do seu espaço territorial, ao contrário dos seus primos nórdicos, que fundaram cidades na Rússia, na Península Ibérica e foram os primeiros Europeus a desembarcar nas costas americanas. Se compararmos a história dos Alemães – que formam um dos mais jovens estados modernos – com a dos Portugueses, percebemos perfeitamente porque em Portugal regulamos a nacionalidade pelo jus solis e na Alemanha a filtram pelo jus sanguis. Embora Portugal tenha encolhido muito, principalmente de espírito, é Português quem nasça em território nacional e, no meu entender, esse território deveria ser, não apenas um avião, um navio ou uma Embaixada, mas todos os territórios que já estiveram sob administração dos Portugueses – se um natural de Goa chegar a este país invocando um direito de nacionalidade portuguesa… eu dar-lha-ia de imediato.

Portugal foi devassado por todo o séc. XX por tentativas ideológicas de lhe inventar uma Tradição, ao sabor de desígnios políticos obscuros. Somos um dos mais antigos e estáveis Povos-Nação europeus, mas nunca fomos uma Raça, e sempre uma saudável mistura de gentes, vindas dos quatro cantos do mundo. Portugal é um Povo-Terra desde os temores mais remotos da Antiguidade acerca da Finis Terrae, o fim do mundo antigo a Ocidente. Portugal é uma Arca de Chão, para onde têm confluído sucessivas vagas de almas em busca de uma Pátria e inúmeros indivíduos que perderam a sua e, aqui, nesta Terra de Esperança, vieram erguer uma Pátria de Pátrias. Esta é a antiquíssima e primordial Tradição dos Portugueses e o sangue da Alma de Portugal.
Dom Afonso Henriques, um Borgonhês de ascendência, inaugurou esta utopia excelsa e o Infante Dom Henrique, um mestiço ibero-britânico, deu a esse sonho uma marca na História… chama-se Civilização Portuguesa.

Sou um Transnacionalista e, como tal, a minha Pátria não está prisioneira de linhas imaginárias num mapa, que partem as terras… e todos os Homens são Portugueses… basta-lhes, para isso, quererem sê-lo e virem até este Fim do Mundo para erguer a sua Casa.



Klatuu Niktos


HEROÍNAS NO ESQUECIMENTO

Migrant Mother, Dorothea Lange, 1936

A História dos povos é a história do quotidiano dos homens, repleta de feitos heróicos e de comezinhas rotinas que raramente acham lugar entre as páginas dos livros, persistem na memória de uns quantos até o tempo as engolir no esquecimento. Não encontro, nas páginas das enciclopédias, o nome dos meus avós, criaram seis filhas em tempo de guerra, passaram fome, viveram, morreram e só eu os recordo. Há um tributo por conceder: honrar o cidadão anónimo, as mulheres que se cruzam comigo e das quais, muitas vezes, só lhes conheço o rosto pelos olhares cabisbaixos dos filhos que escondem a fome. São elas que inventam sopas de batata e massa, até o fardo do orgulho vergar ao vazio da despensa. São elas que choram caladas, entre portas, e soltam o riso no meio da multidão, alheia à sua dor. São elas que fazem anéis de missangas e comida para fora e colares e se levantam todos os dias para o emprego onde trocam o seu silêncio por conversas de circunstância.
São essas mulheres que eu quero honrar.
São essas mulheres que eu não posso esquecer.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

CPLP - Comunidade de... Povos

«Nem é tarde nem é cedo!» pensei, ao deparar com mais um post sobre a CPLP. E aqui estou a pôr em palavras uma ideia que ignoro se outros a tiveram ou até escreveram já - não seria a primeira vez que mais do que uma pessoa agarrava e tomava por sua uma dessas "ideias que pairam" e pertencem ao mundo, neste caso ao Quinto Império. E chega de falar da ideia - mais convém que ela fale de si.

Olá comunidade de pensadores de língua portuguesa
Olá movimento internacional lusófono
Olá a todos e, por todos, olá Nova Águia

Já nos temos cruzado e acenado nos altos céus que são os nossos, né? Eu sou a ideia de uma "comunidade de povos de língua portuguesa", sou a ideia de uma comunidade de povos, de uma comunidade de muitas e desvairadas gentes e, a meu modo, de um certo Império do Espírito Santo. Voo muito e muito alto. Por vezes tento poisar numa e outra terra. Tem sido mais difícil que pousar numa por outra alma... ou pena.

Ao contrário de ti, que do ninho onde nasceste levantaste o olhar e abriste asas para voar, eu do alto onde me criaram, vivo para pousar onde me recebam. Daí que uma das últimas formas que assumi para me verem os humanos foi esta de CPLP - Comunidade de Povos de Língua Portuguesa. A CPLP - Comunidade de Países que aí criaram já me vai abrindo pistas. Mas, para muitos corações lusos, coisas «de Países» são coisas de políticos. E os povos, ao contrário dos países, em vez de assentarem num princípio territorial de fronteiras divisórias, polarizam-se em torno de uma cultura e Valores identitários - que depois podem ser partilhados sem deixar de ser próprios.

É para aí que aponta meu voo. Aponta para o dia em que, na terra dos Homens, os PLPs (povos) - com ou sem os seus países e políticos - formem a sua comunidade com o cimento de uma consciência partilhada tão forte como a dos "brancosos" de certo «Ensaio sobre a Lucidez». E elejam anualmente o seu "Mais velho" cuja única atribuição será a de levar por toda a parte a minha Mensagem, o meu Espírito. Como fazer isso? Para começar pode-se fazer uma votação on-line. Logo nos centros do Movimento Internacional Lusófono espalhados pelo mundo, podem os cidadãos manifestar também por escrito a sua escolha. Qualquer grupo poderá propor personalidades dos cinco continentes. E quando fazer essa escolha? Porque não começar a votação no dia 10 de Junho, o dia da morte - ou talvez não - do grande Camões?!...

E porque não pensar-se que, de futuro, o presidente da CPLP possa vir a ser eleito directamente pelos cidadãos?... Quanta revolução nesse simples acto.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Poder Popular?!...

Quando há uns tempos aqui qualifiquei o MIL como "Movimento Idílico-Lunático", não pensei que viesse a ter tanta razão...
Agora, querem-nos apresentar como paradigma da organização social e política o "poder popular", ou seja, seguindo o exemplo latino-americano, propõe-nos como horizonte de futuro o terceiro-mundismo...
Eu até posso conceder que, na anarquia brasileira, onde há largas fatias do território onde o Estado é menos do que uma miragem, esse tipo de organização possa fazer algum sentido. Mas em Portugal?!...
Nós já por cá tivemos o PREC e ficámos vacinados. As massas, quando detêm directamente o poder, cometem inevitavelmente os maiores desmandos...
Daí a necessidade do Estado, das Elites, dos Partidos. Por mais que corrupta, qualquer ordem é preferível à anarquia...
Abençoado Directório Europeu, que nos livra destes delírios indígenas...