
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...

Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
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quinta-feira, 24 de março de 2011
domingo, 29 de agosto de 2010
Próximo Sábado

quarta-feira, 9 de junho de 2010
"As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar", de Isabel Mendes Ferreira
É minha firme opinião, que a Isabel Mendes Ferreira, membro do MIL e colaboradora da Nova Águia desde o primeiro número, para além de uma excelente artista plástica - representada em várias colecções particulares, na Europa e nas américas, é a nossa melhor Poeta contemporânea. Já o disse, redisse, escrevi e rescrevi, que “ler Isabel Mendes Ferreira é como assistir ao descerrar de auroras, cantando e reinventado palavras de diferentes paladares por detrás dos fiapos da memória e da respiração das manhãs”, e continuarei a dizer e a escrever o mesmo, enquanto não aparecer no actual panorama literário português, alguém que altere esta convicção, formada desde o dia em que a descobri e de que não esqueço a forte impressão que senti ao lê-la: uma pedrada na “modorra” instalada.
Ninguém actualmente escreve como a Isabel Mendes Ferreira: nem com a profundidade nem com o estilo, nem com a qualidade que lhe advém do domínio absoluto da escrita e de um jogo de palavras soberbo.
Como se pode ler no posfácio, “O sentido ambíguo da sua escrita, converte-se no que o excede e onde ser o mesmo é ser outro de si (é outrar-se, como diz Fernando Pessoa), o que apela à desconstrução do discurso tradicional”.
Para mim, é pois, extremamente gratificante falar do novo livro de uma escritora e poeta, despojada de falsas crenças da unidade da consciência identitativa, de uma escritora que transporta os verbos que ainda não estão corroídos, pervertidos, subvertidos, gastos, e que com ela voltam fantásticos, imortais, castos e vestidos de denso sentir.
Este, o seu décimo terceiro, é um livro que me fascina, aprecio-lhe o cheiro das areias do deserto e a cor do cair da noite quantas vezes ruborizada de pudor e aureolada de luminosidade divina, um livro para ler e reler, uma instância de retemperação. Um livro com chancela da Arcádia, onde voltaremos amiúde e que está a partir de hoje à venda em todas as livrarias Babel.
"As Lágrimas Estão Todas na Garganta do Mar", integra uma novíssima colecção de poesia, iniciada por David Mourão Ferreira e onde é o terceiro título.
Por: José Pires F
Publicado no MILhafre:
http://mil-hafre.blogspot.com/2010/06/isabel-mendes-ferreira-as-lagrimas.html
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Pequeno manifesto lusófono
.
Volta afetiva ao idioma
geo grafia lusófona
o olhar sobre a pele do mar
o papiro de Camões
Camões no twitter
as caravelas fizeram inscrições na pele do mar
nostalgia implícita no idioma
nas encostas
o barroquismo da língua/ferramenta
mapa-múndi da lusofonia
o pensar em português
nos fados a reflexão da língua
idioma esparramado
Padre Antônio Vieira
ilustração jesuítica do idioma
a cronologia do idioma
o deslocamento geográfico do pensar em português
idioma nômade
a revisão da culpa
os jesuítas a bordo de suas escolas
o aparelho jesuíta
a beleza da santificação da língua
idioma santo
a benção da igreja sobre a fronte da língua portuguesa
idioma que demarca terras
cultura transplantada que volta com o afeto
meu respirar é português
a pena em português
o idioma determina o poeta
Escola de Sagres
o tom de Portugal:Amália
a coloração da língua
a nação em português!
Cristina Ohana
Volta afetiva ao idioma
geo grafia lusófona
o olhar sobre a pele do mar
o papiro de Camões
Camões no twitter
as caravelas fizeram inscrições na pele do mar
nostalgia implícita no idioma
nas encostas
o barroquismo da língua/ferramenta
mapa-múndi da lusofonia
o pensar em português
nos fados a reflexão da língua
idioma esparramado
Padre Antônio Vieira
ilustração jesuítica do idioma
a cronologia do idioma
o deslocamento geográfico do pensar em português
idioma nômade
a revisão da culpa
os jesuítas a bordo de suas escolas
o aparelho jesuíta
a beleza da santificação da língua
idioma santo
a benção da igreja sobre a fronte da língua portuguesa
idioma que demarca terras
cultura transplantada que volta com o afeto
meu respirar é português
a pena em português
o idioma determina o poeta
Escola de Sagres
o tom de Portugal:Amália
a coloração da língua
a nação em português!
Cristina Ohana
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Faria hoje 104 anos...

Jesus Carlos
AGOSTINHO DA SILVA
Eu, Agostinho, a quem dizem sábio,
Devagar ao fim da minha vida chegado,
De conluio entre o cadáver e o menino,
Por herança vos deixo a pomba e a espada.
Cada um somos o monge e o cavaleiro –
Os mansos fazem a guerra; o fogo, a paz.
O erro acerta, a verdade é ilusão.
Com pátios e palmares, ilhas e terraços
Abram o meu sudário toalha em mesa posta.
Esperem-me na última alba, por vir,
Toda luz estendida de filigrana de asas,
Azul pura como no mundo dos azulejos.
Vosso, servidor, nunca servo, livre.
AGOSTINHO DA SILVA
Eu, Agostinho, a quem dizem sábio,
Devagar ao fim da minha vida chegado,
De conluio entre o cadáver e o menino,
Por herança vos deixo a pomba e a espada.
Cada um somos o monge e o cavaleiro –
Os mansos fazem a guerra; o fogo, a paz.
O erro acerta, a verdade é ilusão.
Com pátios e palmares, ilhas e terraços
Abram o meu sudário toalha em mesa posta.
Esperem-me na última alba, por vir,
Toda luz estendida de filigrana de asas,
Azul pura como no mundo dos azulejos.
Vosso, servidor, nunca servo, livre.
In NOVA ÁGUIA, nº 3, 1º Semestre de 2009, p. 100.
sábado, 7 de novembro de 2009
Lamento do Pajé Urubu-Kaapor
antes
de desaparecer
no
túnel
das nuvens
chega o vento
a caixa do céu
se abre
a estrela
no olho às
vezes
é o
coração que bate
estou sozinho
no topo
dos hemisférios
Ilha Comprida, 91
Ciclones (1997)
Roberto Piva
de desaparecer
no
túnel
das nuvens
chega o vento
a caixa do céu
se abre
a estrela
no olho às
vezes
é o
coração que bate
estou sozinho
no topo
dos hemisférios
Ilha Comprida, 91
Ciclones (1997)
Roberto Piva
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
SOU KIKONGO
Sou kikongo, falo kikongo mas também francês, inglês e lingala
Sou kikongo massacrado à catanada nas ruas dos outros
Já que como mikatis, uso panos e sou canibal
Matem-me na cidade mas enterram-me nos restos de Ntotila
Sou o ódio de outros
Porque tenho visão e sonho
Sou o cão da fazenda, inimigo do garfo
Como ossos nas chicotadas dos mêstres
Nasci kikongo, morro nas esperanças da mulambeira
Ontém patrão, hoje cachorro
Sou cego condicionado a matar bakongo
Sou kikongo, refugiado domiciliar
Sou orfão excluido à prosperidade
Já que tenho terras, não tenho nacionalidade
Cheiro podre, cago sabedoria e petróleo
Sou a escada que crie e levante outros
Sou o receptivo trapo nadegueiro de uso único
Sou o limão que chuguem, chupem e deitem
Porque no norte fui germinado
Sou kikongo, filho de Ntotila
Que morre nas sextas embelezadas.
NSIMBA J. Dias
Sou kikongo massacrado à catanada nas ruas dos outros
Já que como mikatis, uso panos e sou canibal
Matem-me na cidade mas enterram-me nos restos de Ntotila
Sou o ódio de outros
Porque tenho visão e sonho
Sou o cão da fazenda, inimigo do garfo
Como ossos nas chicotadas dos mêstres
Nasci kikongo, morro nas esperanças da mulambeira
Ontém patrão, hoje cachorro
Sou cego condicionado a matar bakongo
Sou kikongo, refugiado domiciliar
Sou orfão excluido à prosperidade
Já que tenho terras, não tenho nacionalidade
Cheiro podre, cago sabedoria e petróleo
Sou a escada que crie e levante outros
Sou o receptivo trapo nadegueiro de uso único
Sou o limão que chuguem, chupem e deitem
Porque no norte fui germinado
Sou kikongo, filho de Ntotila
Que morre nas sextas embelezadas.
NSIMBA J. Dias
KIUÁ MAMA IXI KUZULA

Leva a mamã
O cestinho de pregos
Da comunidade
E a barriga furada
Com divindade.
Os Nkita cumprimentam a mamã
Vermelhinhos de terra
Os Simbi a molham, e almejam a serra.
E do molhado eu amo a pedra
Com vinho argila e pemba.
Eu sobrevivo no túmulo
Dos antepassados,
E não nos netos, também eles
Pela morte amados,
Mas nada interessa que não seja
Vida, princípio activo
E sem teoria.
Realizo-me ao ar livre
E em espaços abertos
O Mundo é a casa
E as estrelas são tectos.
Pambu Njila, Meximaville
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Flores

Criança de Timor Leste, Autor (?)
No céu eu vejo morar
As entidades dos deuses sem lar
Na terra eu vejo ficar
As vozes de Timor a clamar.
Lá em baixo passam os mortos
Que eu tanto queria Marômac ver
Serpente sem noite e dia
Nem sol ou lua, no lulik
Enrolada na catana sagrada
Na pedra encantada
E de ouro sonhada.
Uma bandeira, com o desenho
Dos antepassados que o céu
Pintou com compasso
E eixo do mundo a esmagar
Os sacrifícios das aves de madeira
Dos crocodilos e dos répteis
Que guardam as portas.
O matan doc levou-me hoje à montanha dos anciãos e disse: estás bonita como a velha ferik, que no rosto gravou a floresta e a ribeira, a pedrinha pequenina e a árvore grande. Estás bonita como as coisas, minha menina, porque as pessoas são as coisas e as coisas são pessoas.
domingo, 25 de outubro de 2009
já não se amanhece à sombra dos frutos
já não se amanhece à sombra dos frutos ________tudo é refúgio e mutilante. como as antíteses
e os amargos as explosões e os trevos falsos.
cartilagem polar dos ombros que um dia foram polpa e no outro sangria.___________ amanhecemos como alcateias à sombra mamífera de um pulmão andrógino.
intriga-me esta ceia de leite e de sangue onde o extravagante é júbilo e o coração apenas pele.
seca. áspera. já só osso e espinho._____________ holograma perfurante.
inconfidente sinónimo de arquejos flamejantes que se fosse ária seria precioso
excesso de mortalhas. os frutos. os frutos refulgentes que nos furtam qualquer
amanhecer.
Isabel Mendes Ferreira
e os amargos as explosões e os trevos falsos.
cartilagem polar dos ombros que um dia foram polpa e no outro sangria.___________ amanhecemos como alcateias à sombra mamífera de um pulmão andrógino.
intriga-me esta ceia de leite e de sangue onde o extravagante é júbilo e o coração apenas pele.
seca. áspera. já só osso e espinho._____________ holograma perfurante.
inconfidente sinónimo de arquejos flamejantes que se fosse ária seria precioso
excesso de mortalhas. os frutos. os frutos refulgentes que nos furtam qualquer
amanhecer.
Isabel Mendes Ferreira
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Oferta em hora de boa vontade
.
todo o afluente é um insepulto rumor. como se por dentro da música habitassem enigmáticos espelhos. eles próprios autores e actores da utopia. a vida inteira na provocante metáfora de um mar inseguro._________literal insolência de navegar acima das margens. dentro da voz. perto das sombras. ao lado do indecifrável. como carne de um poema de contrastes. retrato da mudez do abandono. o poço e o eco. ____________rasura de um paraíso. todo o afluente é um pássaro virtual a caminho da morte.
Isabel Mendes Ferreira
.
todo o afluente é um insepulto rumor. como se por dentro da música habitassem enigmáticos espelhos. eles próprios autores e actores da utopia. a vida inteira na provocante metáfora de um mar inseguro._________literal insolência de navegar acima das margens. dentro da voz. perto das sombras. ao lado do indecifrável. como carne de um poema de contrastes. retrato da mudez do abandono. o poço e o eco. ____________rasura de um paraíso. todo o afluente é um pássaro virtual a caminho da morte.
Isabel Mendes Ferreira
.
"O Cisne Intacto"
Rodopio os Sinos à volta das chamas e espanto os demónios do medo
E da frustração, destruo Quadros, televisão, livros, copos e outros instrumentos diabólicos,
Como um furacão que arranca do chão Pedras e as lança pelo ar…
A Criação, a criação de um mundo sem
Papel, sem
Canetas, onde os
Símbolos não existem, neste mundo as
Sibilas morrem atrofiadas, e delas nada resta
Senão Conchas.
Babalith
E da frustração, destruo Quadros, televisão, livros, copos e outros instrumentos diabólicos,
Como um furacão que arranca do chão Pedras e as lança pelo ar…
A Criação, a criação de um mundo sem
Papel, sem
Canetas, onde os
Símbolos não existem, neste mundo as
Sibilas morrem atrofiadas, e delas nada resta
Senão Conchas.
Babalith
“um caixão, um piano de meia cauda, instrumentos de percussão vários, balões, metrónomos, uma harpa, um piano de criança, palavras soltas, chocalhos de várias espécies, com e sem badalo, uma flauta de bisel, uma couve, um bidé, risos, pandeiretas, música de Chopin, um ré-ré, um despertador, um rolo de papel higiénico, um jarro de água, um brinquedo de corda, 2 violinos de criança (brinquedos), uma máquina de barbear eléctrica, um cravo (flor), uma casa de cão que ladra (brinquedo), pratos, guizos, um apito, espaço tempo, ritmo, luz, silêncio, uma pistola (brinquedo)” (HATHERLY, 1981: 46).
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
O Mar de Atlas e o Céu de Tártaro

Barro cinzento esculpido
A imagem da mãe e do menino
Em máscaras de gás
Nuvens de poeira.
Sozinha em frente ao mar
Devagar assobio ao vento
Quente do Verão que passa…
A Nostalgia fere-me os sentidos docemente
E apaga-me aos poucos, deixando apenas
No horizonte uma antiga fotografia do pôr-do-sol
E uma melodia sem graça, mas triste.
A saudade caminha comigo ao longo das dunas cinzentas.
Vale deserto onde a luz vai e vem
Nas mãos das nuvens de fumo.
E as gotas da chuva de Verão batem vermelhas contra a janela
Incendeiam-me por dentro como se fossem fogo,
Choro com elas e caio por terra
Todo o meu coração é uma brasa acesa na chuva de Verão
Um lago imenso, com ilhas-rochedo, no fogo-aceso do pôr-do-sol
Espelho de mil cores, azuis violetas vermelhos, fénix
Contra a cinza-memória da rocha e seus esconderijos
De caranguejo. E os cavaleiros de fogo que ainda acreditam num Novo Mundo…
No amor…
Eu já não… e eu sou tudo isto.
Uma memória que fecha os olhos lentamente
E que se prepara com amor para um longo Inverno.
Oh que paixão delicada, por gelo, azul e branco
Estalagmites, montanhas geladas! Vales cobertos de neve…
Vem Outono, vem Inverno,
Leva-me.
Babalith
Atlantic, Moonspell, 2006
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Vinícius de Moraes - Pátria Minha
Vinícius de Moraes, 1960, Foto: Folha Online
Pátria Minha
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, porque e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre ação e o pensamento
Eu fico invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!
Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.
Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parados num campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...
Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!
Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen¹
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinícius de Moraes."
Nota: ¹ Liberdade, ainda que tardia.
Pátria minha
Barcelona . O Livro Inconsútil .1949
Barcelona . O Livro Inconsútil .1949
O poema saiu como um pequeno livro em 1949, numa edição de 50 exemplares, feita por João Cabral de Melo Neto em sua prensa manual quando morava em Barcelona, sob o selo “O livro inconsútil”. Fonte: www.viniciusdemoraes.com.br
Leia aqui trecho do livro "A origem dos meus sonhos" de Barack Obama em que ele faz referência ao filme "Orfeu negro" de Vinícius de Moraes.
domingo, 11 de outubro de 2009
Leite

Hércules e a Hidra, Pollaiuolo
O desespero é apenas uma vibração exótica do tédio,
Tu segues o teu caminho com sonhos tão altos que ninguém vê,
Tu caminhas de pés descalços onde a estrela prateada te guia,
À boca do dragão do desconhecido.
Salvé, Ó Campeão do Labirinto de Minos,
Salvé, Ó Destruidor dos Sete Templos de Hera,
Salvé, Ó Herói mergulhado no Lago da Imortalidade.
Salvé, Ó Diónisos, e
Salvé a Hora abençoada da Vossa Morte.
Babalith
O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.
Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse «Conhece-te» propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da Esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho. E desconhecer-se conscienciosamente é o emprego activo da ironia. Nem conheço coisa maior, nem mais própria do homem que é deveras grande, que a análise paciente e expressiva dos modos de nos desconhecermos, o registo consciente da inconsciência das nossas consciências, a metafísica das sombras autónomas, a poesia do crepúsculo da desilusão.
Mas sempre qualquer coisa nos ilude, sempre qualquer análise se nos embota, sempre a verdade, ainda que falsa, está além da outra esquina. E é isto que cansa mais que a vida, quando ela cansa, e que o conhecimento e meditação dela, que nunca deixam de cansar.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
Tu segues o teu caminho com sonhos tão altos que ninguém vê,
Tu caminhas de pés descalços onde a estrela prateada te guia,
À boca do dragão do desconhecido.
Salvé, Ó Campeão do Labirinto de Minos,
Salvé, Ó Destruidor dos Sete Templos de Hera,
Salvé, Ó Herói mergulhado no Lago da Imortalidade.
Salvé, Ó Diónisos, e
Salvé a Hora abençoada da Vossa Morte.
Babalith
O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.
Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse «Conhece-te» propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da Esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho. E desconhecer-se conscienciosamente é o emprego activo da ironia. Nem conheço coisa maior, nem mais própria do homem que é deveras grande, que a análise paciente e expressiva dos modos de nos desconhecermos, o registo consciente da inconsciência das nossas consciências, a metafísica das sombras autónomas, a poesia do crepúsculo da desilusão.
Mas sempre qualquer coisa nos ilude, sempre qualquer análise se nos embota, sempre a verdade, ainda que falsa, está além da outra esquina. E é isto que cansa mais que a vida, quando ela cansa, e que o conhecimento e meditação dela, que nunca deixam de cansar.
Fernando Pessoa, in 'O Livro do Desassossego'
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
"Quando escrevo - quando encontro o ritmo inaugural do poema, não tenho idade. Nasço aí onde já morri"
- Casimiro de Brito, "Fragmentos de Babel".
sábado, 19 de setembro de 2009
Canção de Batalha
De "Anotações", anexo à obra "Pátria"
"Somos um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas. [...]";
“Um clero português, desmoralizado e materialista, liberal e ateu, cujo Vaticano é o ministério do reino, e cujos bispos e abades não são mais que a tradução em eclesiástico do fura-vidas que governa o distrito ou do fura-vidas que administra o concelho [...]";
“Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo [...]";
“Um exército que importa em 6.000 contos, não valendo 60 réis [...]";
“Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo [...]";
“A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara a ponto de fazer dela um saca-rolhas”;
“Dois partidos monárquicos, sem ideias, sem planos, sem convicções [...]";
“Um partido republicano, quase circunscrito a Lisboa, avolumando ou diminuindo segundo os erros da monarquia, hoje aparentemente forte e numeroso, amanhã exaurido e letárgico [...]";
“Instrução miserável, marinha mercante nula, indústria infantil, agricultura rudimentar”,
“Um regime económico baseado na inscrição e no Brasil, perda de gente e de capital, autofagia colectiva, organismo vivendo e morrendo do parasitismo de si próprio”;
“Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante, o direito garantido virtualmente na lei, posto, de facto, à mercê dum compadrio de batoteiros, sendo vedado, ainda aos mais orgulhosos e mais fortes, abrir caminho nesta porcaria, sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários”;
“Uma literatura iconoclasta, – meia dúzia de homens que, no verso e no romance, no panfleto e na história, haviam desmoronado a cambaleante cenografia azul e branca da burguesia de 52 [...]";
“E se a isto juntarmos um pessimismo canceroso e corrosivo, minando as almas, cristalizado já em fórmulas banais e populares [...] teremos em sintético esboço a fisionomia da nacionalidade portuguesa no tempo da morte de D. Luís, cujo reinado de paz podre vem dia a dia supurando em gangrenamentos terciários.”
GUERRA JUNQUEIRO 1886
Canção de Batalha
"Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,
Que andaram contemplando a Lua branca e fria...
Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!
Já canta pelo azul sereno a cotovia
"Somos um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de miséria, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas. [...]";
“Um clero português, desmoralizado e materialista, liberal e ateu, cujo Vaticano é o ministério do reino, e cujos bispos e abades não são mais que a tradução em eclesiástico do fura-vidas que governa o distrito ou do fura-vidas que administra o concelho [...]";
“Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo [...]";
“Um exército que importa em 6.000 contos, não valendo 60 réis [...]";
“Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo [...]";
“A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara a ponto de fazer dela um saca-rolhas”;
“Dois partidos monárquicos, sem ideias, sem planos, sem convicções [...]";
“Um partido republicano, quase circunscrito a Lisboa, avolumando ou diminuindo segundo os erros da monarquia, hoje aparentemente forte e numeroso, amanhã exaurido e letárgico [...]";
“Instrução miserável, marinha mercante nula, indústria infantil, agricultura rudimentar”,
“Um regime económico baseado na inscrição e no Brasil, perda de gente e de capital, autofagia colectiva, organismo vivendo e morrendo do parasitismo de si próprio”;
“Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante, o direito garantido virtualmente na lei, posto, de facto, à mercê dum compadrio de batoteiros, sendo vedado, ainda aos mais orgulhosos e mais fortes, abrir caminho nesta porcaria, sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários”;
“Uma literatura iconoclasta, – meia dúzia de homens que, no verso e no romance, no panfleto e na história, haviam desmoronado a cambaleante cenografia azul e branca da burguesia de 52 [...]";
“E se a isto juntarmos um pessimismo canceroso e corrosivo, minando as almas, cristalizado já em fórmulas banais e populares [...] teremos em sintético esboço a fisionomia da nacionalidade portuguesa no tempo da morte de D. Luís, cujo reinado de paz podre vem dia a dia supurando em gangrenamentos terciários.”
GUERRA JUNQUEIRO 1886
Canção de Batalha
"Que durmam, muito embora, os pálidos amantes,
Que andaram contemplando a Lua branca e fria...
Levantai-vos, heróis, e despertai, gigantes!
Já canta pelo azul sereno a cotovia
E já rasga o arado as terras fumegantes...
Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;
É bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais!
Acendei a fornalha enorme – a Inspiração.
Dai-lhe lenha, – a Verdade, a Justiça, o Direito
E harmonia e pureza, e febre e indignação;
E p'ra que a lavareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!
Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!
O poeta é como o sol: o fogo que ele encerra
É quem espalha a luz nessa amplidão sonora...
Queimemo-nos a nós, iluminando a terra!
Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!"
Guerra Junqueiro
Entra-nos pelo peito em borbotões joviais
Este sangue de luz que a madrugada entorna!
Poetas, que somos nós? Ferreiros d'arsenais;
É bater, é bater com alma na bigorna
As estrofes de bronze, as lanças e os punhais!
Acendei a fornalha enorme – a Inspiração.
Dai-lhe lenha, – a Verdade, a Justiça, o Direito
E harmonia e pureza, e febre e indignação;
E p'ra que a lavareda irrompa, abri o peito
E atirai ao braseiro, ardendo, o coração!
Há-de-nos devorar, talvez, o incêndio; embora!
O poeta é como o sol: o fogo que ele encerra
É quem espalha a luz nessa amplidão sonora...
Queimemo-nos a nós, iluminando a terra!
Somos lava, e a lava é quem produz a aurora!"
Guerra Junqueiro
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Minha Pátria é o Mundo Inteiro

“Minha Pátria é o Mundo Inteiro”, biografia sobre Neno Vasco
Esta é a obra de pesquisa histórica, «Minha Pátria é o Mundo Inteiro» de Alexandre Samis (Letra Livre, 2009) sobre o militante anarquista Neno Vasco, intelectual que actuou nos meios operários em Portugal e no Brasil com particular importância na imprensa sindicalista da época.
Neno Vasco ou Gregório Nazianzeno Moreira de Queirós e Vasconcelos (1878 - 1923) foi um poeta, advogado, jornalista e escritor, ardoroso militante anarcossindicalista nascido em Portugal. Emigrou para o Brasil onde estabeleceu uma série de projectos com os anarquistas daquele país. É de sua autoria a tradução para português do hino "A Internacional”.
A chama canta, salta e corre
O velho burgo tomba enfim...
Oh! Quanto abutre cai e morre!
Oh! Quanto abutre em seu festim!
De face a ardear, que a chama cresta!
Ó párias nus, vindes dançar,
Dançar em roda, correr, cantar,
Que esta fogueira é vossa festa!
A chama a crepitar!
Em círculo formai!
Dançai!
Dançai!
De archote aceso, o mundo iluminai!
Neno Vasco
domingo, 13 de setembro de 2009
Mar Português
Lágrimas
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos;
- "Tu pareces nascida de rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos;
"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lacrimosa por esses aqueductos...
"Quero um banho tomar de água salgada".
Cesário Verde
"A estrutura e o conteúdo do ensino e da educação num regime de exploração do homem pelo homem, seja de que tipo for, visam a fazer admitir: a) que as desigualdades sociais são inerentes à espécie humana; b) que existe uma natureza humana que pode ser corrigida, mas não transformada; c) que a história não sofre uma evolução, mas repetições cíclicas; d) que qualquer ambição de se mudar radicalmente e progredir indefinidamente é demente e viciosa.
Qualquer regime de exploração do homem pelo homem tende a parar o processo evolutivo da história e impõe ao seu sistema de ensino a tarefa de inculcar na população uma metalinguagem e/ou metafísica que justifique o imobilismo histórico e a desigualdade dos homens e suas condições como fora durante a dominação colonial portuguesa na Guiné Bissau entre 1471 a 1973 (CÀ, 2005).
Ao passo que, um regime de libertação do homem pelo homem, um regime democrático e popular constrói-se baseado num sistema de educação cujo objetivo é propagar a filosofia do contínuo devir do homem e sua primazia, uma filosofia que atesta que o homem é o criador do bem-estar de si, que ele deve-se tornar o sujeito da história e não contentar-se em ser seu objeto. A evolução histórica não conhece fim, as conquistas de hoje fecundam as conquistas de amanhã, segundo a lógica do progresso infinito. Vistos historicamente, os regimes políticos baseados na exploração do homem pelo homem, ficam-se na Idade Média que os viu eclodir. Entre o sistema de ensino escravagista e o sistema capitalista burguês há apenas diferença de graduação."
Ler mais:
A GUINÉ-BISSAU E A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO
SOBRE CONTATOS E MESTIÇAGEM ENTRE COLONOS E INDÍGENAS
COLONOS E JESUÍTAS EM LUTA PELO PODER SOBRE O GENTIO
Ela chorava muito e muito, aos cantos,
Frenética, com gestos desabridos;
Nos cabelos, em ânsias desprendidos,
Brilhavam como pérolas os prantos.
Ele, o amante, sereno como os santos,
Deitado no sofá, pés aquecidos,
Ao sentir-lhe os soluços consumidos,
Sorria-se cantando alegres cantos.
E dizia-lhe então, de olhos enxutos;
- "Tu pareces nascida de rajada,
"Tens despeitos raivosos, resolutos;
"Chora, chora, mulher arrenegada;
"Lacrimosa por esses aqueductos...
"Quero um banho tomar de água salgada".
Cesário Verde
"A estrutura e o conteúdo do ensino e da educação num regime de exploração do homem pelo homem, seja de que tipo for, visam a fazer admitir: a) que as desigualdades sociais são inerentes à espécie humana; b) que existe uma natureza humana que pode ser corrigida, mas não transformada; c) que a história não sofre uma evolução, mas repetições cíclicas; d) que qualquer ambição de se mudar radicalmente e progredir indefinidamente é demente e viciosa.
Qualquer regime de exploração do homem pelo homem tende a parar o processo evolutivo da história e impõe ao seu sistema de ensino a tarefa de inculcar na população uma metalinguagem e/ou metafísica que justifique o imobilismo histórico e a desigualdade dos homens e suas condições como fora durante a dominação colonial portuguesa na Guiné Bissau entre 1471 a 1973 (CÀ, 2005).
Ao passo que, um regime de libertação do homem pelo homem, um regime democrático e popular constrói-se baseado num sistema de educação cujo objetivo é propagar a filosofia do contínuo devir do homem e sua primazia, uma filosofia que atesta que o homem é o criador do bem-estar de si, que ele deve-se tornar o sujeito da história e não contentar-se em ser seu objeto. A evolução histórica não conhece fim, as conquistas de hoje fecundam as conquistas de amanhã, segundo a lógica do progresso infinito. Vistos historicamente, os regimes políticos baseados na exploração do homem pelo homem, ficam-se na Idade Média que os viu eclodir. Entre o sistema de ensino escravagista e o sistema capitalista burguês há apenas diferença de graduação."
Ler mais:
A GUINÉ-BISSAU E A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO
SOBRE CONTATOS E MESTIÇAGEM ENTRE COLONOS E INDÍGENAS
COLONOS E JESUÍTAS EM LUTA PELO PODER SOBRE O GENTIO
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