A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.

segunda-feira, 18 de março de 2024

25 de Março: Apresentação da NOVA ÁGUIA nº 33...



NOVA ÁGUIA nº 33: Capa, Editorial e Índice...

 


Nesta terra de extremos sectarismos ideológicos que continua a ser Portugal, a obra poética de António Manuel Couto Viana não tem tido o reconhecimento público que merece. Como não fazia parte do hemisfério “politicamente correcto”, a sua obra tem sido esquecida pelo poder político-mediático vigente. Felizmente, há sempre alguém que diz não à “censura estatal” (que, regime após regime, continua a existir). Em Outubro de 2023, por ocasião do centenário do seu nascimento, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal promoveu uma sessão pública em sua Homenagem, com uma série de intervenções que a NOVA ÁGUIA, porque não refém de qualquer sectarismo ideológico, aqui publica.

Em 2023, assinalaram-se igualmente os 100 anos de outros dois vultos maiores da cultura portuguesa: António Quadros e Natália Correia. Sobre o primeiro, publicamos neste número a transcrição de mais uma mesa redonda promovida, no mês de Julho, pela Fundação António Quadros – na esteira das outras duas já publicadas nos dois números anteriores. Sobre Natália Correia – ou, mais exactamente, de Natália Correia –, publicamos uma série de cartas inéditas de juventude, que nos chegaram pela mão de Manuel Abranches de Soveral, a quem aqui agradecemos.

No trigésimo terceiro número da NOVA ÁGUIA, evocamos ainda José Régio, por ocasião dos cinquenta e cinco anos do seu falecimento, bem como uma dezena de “Outros Vultos” da cultura lusófona – desde Adriano Moreira, em destaque no número anterior, e Adolfo Casais Monteiro a Sebastião da Gama, que completaria 100 anos em 2024, passando, destacamos, por outros quatro poetas: Eugénio Tavares, Fernando Pessoa, Guerra Junqueiro e Manuel Gusmão, falecido em Novembro de 2023. Em “Outros Voos”, publicamos mais de uma dúzia de textos, começando pelos contributos, sempre valiosos, de António Braz Teixeira e António Gentil Martins: respectivamente, sobre a “Presença do Auto no espaço cultural lusófono” e “A importância da PASC para a sociedade civil”.

Em “Extravoo”, publicamos um dossiê sobre Miguel Real, por ocasião de um prémio que lhe foi recentemente atribuído. Em “Periódicos Eternos”, recordamos mais dois títulos hoje por inteiro esquecidos: O Lagarde Português e O Telégrafo Português. No “Bibliáguio”, publicamos uma dezena de recensões de obras publicadas há pouco tempo, começando pelas duas obras lançadas no VII Colóquio do Atlântico, em Dezembro de 2023: falamos de Antero e os seus intérpretes, com mais de duas dezenas e meia de textos, e de Determinação e Desenvolvimento da Ideia do Direito e outros escritos, da autoria de Francisco Machado de Faria e Maia. Por fim, temos mais uma edição do nosso caderno poético e visual “Moradas”, desta vez com poemas de António José Borges, um dos poetas mais assíduos na NOVA ÁGUIA.

A Direcção da NOVA ÁGUIA

Post Scriptum – dedicamos este número a quatro amigos da NOVA ÁGUIA que nos deixaram nestes últimos meses: Teresa Dugos, que colaborou em vários números da revista, inclusivamente numa muito recente edição do nosso caderno poético e visual “Moradas” (nº 31); Luís Furtado, figura histórica da Filosofia Portuguesa, que publicou, mais recentemente, em 2020, com a chancela do MIL: Movimento Internacional Lusófono, a obra Teoria da Luz e da Palavra; Francisco Ribeiro Soares, que, igualmente com a chancela do MIL, publicou três obras: Ai dos Vencedores! (2017), O Amor e Outras Coisas (2019) e Ditos e Feitos (2020); e Henrique Gabriel, autor de várias capas da NOVA ÁGUIA, bem como do logotipo do MIL.

NOVA ÁGUIA Nº 33: ÍNDICE

Editorial…5

NOS 100 ANOS DE COUTO VIANA

NO CENTENÁRIO DE ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA | António Leite da Costa…8

ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA: CRER E SER TÁVOLA REDONDA | Isabel Ponce de Leão…11

QUANDO ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA NOS ESCREVEU | José Valle de Figueiredo…16  

HOMENAGEM A ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA | Manuel Amaro Bernardo…18

COUTO VIANA, POR ANTÓNIO QUADROS | Renato Epifânio…19

ANTÓNIO QUADROS, A JUVENTUDE E A PÁTRIA

Intervenções de Mafalda Ferro, Manuel Dugos Pimentel, Tomás Cantinho Cunha, Miguel Montezuma de Carvalho, Jorge Silva, Tomás Vicente Ferreira, Renato Epifânio e Manuel Cândido Pimentel…22-58

NOS 100 ANOS DE NATÁLIA CORREIA

CARTAS DE AMOR INÉDITAS DE NATÁLIA CORREIA | Manuel Abranches de Soveral…60-68

JOSÉ RÉGIO, 55 ANOS DEPOIS

A ESTÉTICA DA EXPRESSÃO DE JOSÉ RÉGIO | António Braz Teixeira…70

POESIA E FILOSOFIA DO MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO NO TENSO DIÁLOGO ENTRE JOSÉ RÉGIO E ÁLVARO RIBEIRO | Joaquim Domingues…75

NOTA DE TEORIA ESTÉTICA: PRESENCISTAS E NEO-REALISTAS A PARTIR DA POLÉMICA ENTRE JOSÉ RÉGIO E ÁLVARO CUNHAL | José Carlos Pereira…81

OUTROS VULTOS

ADRIANO MOREIRA | Nuno Sotto Mayor Ferrão…86

CASAIS MONTEIRO | Carlos Leone…88

COSTA MACEDO | Maria Leonor Xavier…89

EUGÉNIO TAVARES | Elter Manuel Carlos…106

FERNANDO PESSOA | Luís de Barreiros Tavares…113

GUERRA JUNQUEIRO | Miguel Parada…116

GUSTAVO DE FRAGA | Emanuel Oliveira Medeiros…118

LUÍS PAIXÃO | Carlos Aurélio…132

MANUEL GUSMÃO | António José Borges…140

SEBASTIÃO DA GAMA | José Lança-Coelho…141

OUTROS VOOS

PRESENÇA DO AUTO NO ESPAÇO CULTURAL LUSÓFONO | António Braz Teixeira…146                                       

A IMPORTÂNCIA DA PASC PARA A SOCIEDADE CIVIL | António Gentil Martins…149

EXORTAÇÃO AO NOVO HOMEM | António de Carvalho Pais…151

O EQUÍVOCO HISTÓRICO DE ANGOLA HAVER SIDO FUNDADA PELO NAVEGADOR PORTUGUÊS DIOGO CÃO | Carlos Mariano Manuel…157

FIGURAS DA EDUCAÇÃO, FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E SER PROFESSOR: ITINERÁRIOS, TRAÇOS BIOBIBLIOGRÁFICOS E CURRICULUM VITAE | Emanuel Oliveira Medeiros…160

MOCIDADE PORTUGUESA | J. A. Alves Ambrósio…174

A TEMÁTICA DO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO DO LIBERALISMO | João Maurício Brás…182

A PESQUISA COM POPULAÇÕES INDÍGENAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DO HISTORICISMO AXIOLÓGICO DE MIGUEL REALE | José Maurício de Carvalho e Vanessa Eugênia dos Santos…190

DIÁLOGOS ONTOLÓGICOS ENTRE IMAGINÁRIOS: A CAVALARIA DE DEMANDA E A TRAVESSIA MARÍTIMA NO PATRIMÓNIO SIMBÓLICO PORTUGUÊS | Nuno Ferreira Gonçalves…200

BRASIL E A LÍNGUA PORTUGUESA | Olavo de Carvalho…207

DOS INTELECTUAIS, POETAS NA CIDADE | Paulo Ferreira da Cunha…210

DEAMBULAÇÕES PRÓ-LUSÓFONAS | Renato Epifânio…215

AUTOBIOGRAFIA 13 | Samuel Dimas…216

MEMÓRIA E PROJEÇÃO DAS NOVAS CONFERÊNCIAS DO CASINO (2014-2015) | Annabela Rita, António José Borges, José Eduardo Franco e Miguel Real…233

EXTRAVOO

MIGUEL REAL (1ª EDIÇÃO DO PRÉMIO MATRIZ PORTUGUESA – 2023) | Annabela Rita…238

OS PORTUGUESES (DISCURSO DE AGRADECIMENTO PELO PRÉMIO) | Miguel Real…239

MIGUEL REAL – 40 ANOS DE ESCRITA: LITERATURA, FILOSOFIA E CULTURA | Renato Epifânio…241

O ÚLTIMO MINUTO NA VIDA DE SARAMAGO: A NARRAÇÃO DE UM HOMEM REVOLTO E PLÁCIDO (UM SONHO SUBLIME DE MIGUEL REAL) | António José Borges…242

PERIÓDICOS ETERNOS

O LAGARDE PORTUGUÊS & O TELÉGRAFO PORTUGUÊS | Pedro Vistas…246

BIBLIÁGUIO

ANTERO E OS SEUS INTÉRPRETES | Manuel Cândido Pimentel…254

DETERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA IDEIA DO DIREITO E OUTROS ESCRITOS | António Braz Teixeira…257

RAUL LEAL: LEITOR DE FERNANDO PESSOA, LEITOR DE SI MESMO OU A CRIAÇÃO DO FUTURO | Renato Epifânio…263

FILOSOFIA COM CORAÇÃO | Samuel Dimas...265

IL RITORNO DELL’ANIMA | Pedro Vistas...266

I SIMPÓSIO INTERNACIONAL MULTIDISCIPLINAR PORTUGAL-BRASIL | Renato Epifânio…267

TEXTOS SEM AÇAIME. CRÍTICA DO FALSO MUNDO LIBERAL PROGRESSISTA E WOKE | Francisco Henrique da Silva…268

O RESTO DO MEU NOME | Nuno Sotto Mayor Ferrão…269

MITOLOGIA POPULAR PORTUGUESA | José Almeida…270

SINTRA VISTA POR POETAS PORTUGUESES | Miguel Real e Filomena Oliveira…271

POEMÁGUIO

HOJE | Manuel Cândido Pimentel…7

ADEUS | Samuel Dimas…59

ARDER, RESPLANDECER | Alexandre Teixeira Mendes…68

O FARFALHAR DAS FLORES; ANJOS CAÍDOS | João Franco…69

ÍBIS MÁGICO | Alexandra Barreiros…84

O DESTORNADO | Jaime Otelo…84

A EPOPEIA DO GÉNERO | Maria Luísa Francisco…85

MARESIA | Sara Meireles…85

TERRA DO SOL POENTE | Manuel Dugos Pimentel…236

CADÊNCIA | Joel Henriques…236

FOTOGRAFIA; O QUARTO INACABADO | Jesus Carlos…237

MORADAS: CADERNO POÉTICO E VISUAL

Poemas de António José Borges; Ilustrações de Ricardo Josué e António Nahak Borges…274-279

MEMORIÁGUIO…280

MAPIÁGUIO…281

ASSINATURAS…281

COLECÇÃO NOVA ÁGUIA…284

De António Braz Teixeira: "A reflexão ética luso-brasileira"



Nascido em 1936, António Braz Teixeira é, actualmente, como nós próprios já tivemos a oportunidade de sinalizar, “o maior hermeneuta vivo do nosso universo filosófico e cultural, não só português mas, mais amplamente, lusófono” (in  Jornal de Letras, Artes e Ideias, 1-15 de Dezembro de 2021, p. 29). Tendo cunhado o conceito de “razão atlântica” – para, precisamente, sinalizar o chão comum do pensamento filosófico luso-brasileiro –, ele próprio, como também já tivemos a oportunidade de escrever, esclareceu entretanto “que esse era um conceito, em grande medida, ‘ultrapassado’; e que, hoje, mais do que de uma ‘razão atlântica’ (circunscrita ao espaço luso-brasileiro ou, quanto muito, luso-galaico-brasileiro), se deve falar, cada vez mais, de uma ‘razão lusófona’, senão mesmo de uma ‘filosofia lusófona’, porque aberta a todo o pensamento expresso em língua portuguesa, por muito que esse pensamento mais filosófico ainda não tenha realmente desabrochado em todo o espaço lusófono” (in António Braz Teixeira: Obra e Pensamento, coordenação de Celeste Natário, Jorge Cunha e Renato Epifânio, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto/ Bairro dos Livros, 2018, p. 547). Tese que, paradigmaticamente, subjaz a uma das mais recentes obras – A saudade na poesia lusófona africana e outros estudos sobre a saudade (2021) –, onde, a propósito da expressão poética da saudade na poesia lusófona africana, mostra bem o quanto está nela ínsita uma filosofia, como já acontece, de forma clara, no pensamento português, galego e brasileiro.

Já neste ano de 2023, António Braz Teixeira confirma essa tese – e esse estatuto –, com mais uma obra: A Reflexão Ética Luso-Brasileira (igualmente editada com a chancela do MIL: Movimento Internacional Lusófono). Trata-se de uma obra monumental, verdadeiramente enciclopédica, onde António Braz Teixeira reconstitui, com singular erudição e finura, as principais correntes e figuras da reflexão ética luso-brasileira desde o século XVIII – a saber: Ética Ecléctica: Nuno Marques Pereira, Martinho de Mendonça, Manuel de Azevedo Fortes, Luís António Verney, Matias Aires, Feliciano de Sousa Nunes, António Soares Barbosa, Tomás António Gonzaga, Teodoro de Almeida, Inácio Monteiro, José Agostinho de Macedo, Frei Francisco de Mont’Alverne, Diogo António Feijó e José da Silva Lisboa; Ética Utilitarista: Joaquim José Rodrigues de Brito, Silvestre Pinheiro Ferreira e António Henriques da Silva; Ética Espiritualista: Eduardo Ferreira França, Domingos Gonçalves de Magalhães, Joaquim Maria da Silva, Amorim Viana, Cunha Seixas, Antero de Quental e Ferreira Deusdado; Ética Tomista: José Soriano de Sousa e Tiago Sinibaldi; Moral Sociológica: Teófilo Braga e Sílvio Romero; Ética Cósmica: Guerra Junqueiro, Farias Brito e Sampaio Bruno; Ética Ontológica: Leonardo Coimbra, Manuel Barbosa da Costa Freitas e Joaquim Cerqueira Gonçalves; Ética Racionalista: Raul Proença, António Sérgio, Newton de Macedo e Roque Spencer Maciel de Barros; Ética da Força; Ética Neo-utilitarista: Sílvio Lima, Edmundo Curvelo e Mário Sottomayor Cardia; Ética Neo-tomista; Lúcio Craveiro da Silva, Roque Cabral e Henrique Lima Vaz; Ética Neo-idealista; Teoria da Experiência Ética: Renato Cirell Czerna, Miguel Reale e António Paim; Ética Fenomenológica; e Ética Existencial: Vicente Ferreira da Silva, Gerd Bornheim e Luís de Araújo.

Num tempo em que tanto se questiona o chão comum (no plano cultural, filosófico e até linguístico…) entre Portugal e o Brasil, eis, em suma, uma obra maximamente pertinente.

Renato Epifânio

"A reflexão ética luso-brasileira", Lisboa, MIL/ DG Edições, 2023, 386 pp.

ISBN: 978-989-35021-2-9

Para encomendar: info@movimentolusofono.org

De Carlos Aurélio: "O bom combate: textos católicos de hoje fora de moda"

 

Quando se entra numa casa convém passar pela porta, de assalto é violação. No caso presente este prólogo “o que se diz ou escreve antes” – é portada aberta à diversidade do que se escreveu, mostrando a arquitectura coerente na estrutura da casa. A coerência é simples: o quem antecipa o como, ou seja, quem aqui escreve, escreve como católico numa pátria que está a deixar de o ser. De o ser, como país e mais ainda como pátria católica, numa travessia em terra de ninguém entre trincheiras de agressão e miragens de gente febril. Isto que parece mau pode ser bom e só será péssimo se se fugir da luta, se por medo dos homens não se guardar o temor a Deus, dom do Espírito Santo e berço da Sabedoria. Diz São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.» Não se admire o leitor se estes textos pelo «bom combate» e editados nos últimos dez anos lhe parecerem fora de moda. São-no de facto, a moda engana.    

Quem escreve para quem escreve? Fiz-me esta pergunta ao recolher os textos para este livro, agora coligidos depois de editados em alguns semanários e revistas da imprensa portuguesa. Dir-se-á, resposta óbvia, que se escreve para quem for ler. Todavia não basta o evidente, interessa saber se quem escreve, quando escreve, tem um leitor prefigurado, se há um rosto do outro lado do papel, se o monólogo exige diálogo imaginado. Devo dizer que sim, estes textos olham leitores amigos e outros que ainda o não são, sendo que poderão vir a sê-lo, ou seja, almas disponíveis para se conversar imediatamente acima da poeira dos dias. Mais: também escrevi frente à sinceridade no cara-a-cara possível e especular da verdade, assim como entravam as coisas na minha infância, de rompante e sem licença. Não por acaso Jesus chama a si os infantes os que ainda não falam quando as palavras aparecem depois da realidade. A linguagem e as palavras vivem num paradoxo: moldam o que somos, mas sem elas nem perceberíamos que éramos moldados.

Na ampla profundidade do mistério de cada pessoa convivem três ângulos que se conjugam em graus diferentes: somos um pouco do que queremos ou imaginamos ser, somos muito o que os verdadeiros amigos vêem em nossos defeitos e virtudes e, acima de tudo, somos absolutamente como Deus nos conhece, mistério que por sê-lo só a eternidade desvendará. Já se vê que me é decisiva a perspectiva de Jesus Cristo na resposta à inquirição farisaica sobre o sentido da Lei religiosa, ou seja, o amor que liga terra e céus, homens e Deus: «Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.» (Lc 10,27).

Escrevi religiosamente, ou seja, propondo explicitamente o ponto de vista religioso, ora buscando, como diz Aristóteles, os que escolhem e partilham as mesmas coisas que nós, e esses são os verdadeiros amigos, ora levando-as a outros para fazer amigos em sinal de digna amizade, outra nobre expressão do amor. Resumindo, o intento, conseguido ou frustrado, de saber para quem escrevi implicando nisso o quê é amor a Deus para melhor amar os amigos. Escrevi, pois, para amigos feitos e outros a fazer, nisso expressando a causa e a meta dessa amizade. Falta responder ao modo como fiz.

O modo adveio da perspectiva da qual escrevi ao longo de uma década, portada de acesso às salas ou textos de aparência diversa. Todos são de substância religiosa, sendo que alteram pelas categorias acidentais adaptadas naturalmente às circunstâncias. Tanto podem visar alterações climáticas ou a pandemia covid, o estado em que decai o espírito pátrio ou se alcança uma geografia metafísica da Europa cristã; outras vezes, sondam as súplicas do Pai-Nosso, buscando nunca deixar Deus ausente da vida porque, nisto creio, sem Ele nem humanos somos: quando o sofrimento nos toca e, um por um a todos toca, fiquemos atentos à escuta, Ele dará sinal porque é na cruz que se nos revela, assim resplandeceu no Calvário antes da Ressurreição. Depois, há que ser gratos, eis a nossa maior humanidade. Daí, só pode advir alegria pelo “bom combate” capaz de guardar a fé, não em polémicas entrincheiradas em causas de impossível e néscia imposição, mas apenas caminhantes, fazendo vida no caminho: Deus é a Vida, nele vivemos. A fé é firme espera nesse amor de onde viemos e ao qual voltaremos, anel inalienável de um Deus que nunca abandona. 

O conjunto dos textos está dividido em quatro capítulos: 1) Ser Cristão no Mundo; 2) Portugal e o Cristianismo; 3) Pai-Nosso; 4) Europa Cristã. A proposta de leitura é um itinerário possível de diálogo entre quem escreve e os amigos de hoje, outros vindouros, pois o tempo não é obstáculo de percurso. «Não é bom que o homem esteja só», seja em família ou em comunidade consagrada, preceito divino que cada vez mais deveria importar à pólis saudável, à civilidade que vemos afundar-se em similar queda do mundo antigo e clássico. A religião não pode ficar nos arredores da Cidade, Deus não pode ficar arredio na solidão do homem. Aí sim, reside a mais dramática periferia.   

Os primeiros dois capítulos deste livro 1) Ser Cristão no Mundo; 2) Portugal e o Cristianismo visam a inserção religiosa dos homens entre si, ou seja, aquilo que os pode religar sob a perspectiva cristã que, em Portugal, é ainda a católica, enquanto que os dois restantes, não por acaso, emergem do Pai-Nosso, oração que desde o amor a Deus permite e aprofunda amar o próximo. O capítulo final, Europa Cristã, é a revisitação de um livro anterior Mapa Metafísico da Europa, edição de 2003 – que aqui se acentua e se determina em perspectiva então não completamente evidente, ou seja, o propósito católico e, portanto, universalista de compreender o destino espiritual da Europa como geneticamente cristão. O texto final, mais longo, é o único não editado, versa sobre um tema que a Igreja Católica debate há mais de dois séculos e muitos, talvez por critério admissível desejam adiar, outros por astúcia querem ocultar, aqui tomado como necessário, quiçá urgente, até pelo que diz respeito a Portugal: Um caminho de devoção portuguesa: da Imaculada Conceição à Corredenção.

Eis a portada aberta para o que se escreveu, para quem e de que modo o fez. É apenas um livro: via de livre amizade e comunhão entre espíritos próximos ainda que longínquos no espaço e no tempo, um diálogo presente ou para futuro, na senda quem me dera! – do filósofo Álvaro Ribeiro o qual, porventura tão desapontado quanto esperançoso, dizia «escrever para longe». É um livro, agora perto, à espera da alma atenta de um amigo. Só falta entrar. Benvindo!


- "O bom combate: textos católicos de hoje fora de moda", Lisboa, MIL/ DG Edições, 2023, 276 pp.

ISBN: 978-989-35021-3-6



Para encomendar: info@movimentolusofono.org

MILhafre: um olhar lusófono sobre o mundo...



Já com mais de 892 MIL visitas:
www.mil-hafre.blogspot.com

domingo, 17 de março de 2024

De Pedro Vistas: “A Luz dos Lusos: Ensaios de Filosofia Filosofante a propósito de Luminares da Cultura Portuguesa”


Pedro Vistas é, claramente, um dos espíritos filosóficos mais potentes da mais jovem geração. Alguns dos seus textos que conhecíamos – como os publicados na Revista NOVA ÁGUIA – já o indiciavam suficientemente. Este livro – A Luz dos Lusos: Ensaios de Filosofia Filosofante a propósito de Luminares da Cultura Portuguesa – prova-o cabalmente.

O título e o subtítulo da obra são, a esse respeito, particularmente adequados. Trata-se, com efeito, de uma “filosofia filosofante”, ou seja, de uma “filosofia viva”. O autor dialoga aqui com outros autores “de igual para igual” – o que, se noutros casos seria apenas pretensioso, neste caso é tão-só a melhor forma – melhor dito, a única forma – de mais os iluminar.

José Marinho, o mais potente espírito filosófico de todo o século XX português, escreveu que “quando expomos um pensador devemos dar toda a força ao seu pensamento” – como defendeu ainda, citando Schopenhauer, “tal atitude é, em relação a eles, a mais adequada e é, para o nosso próprio pensamento, a mais proveitosa”. E, por isso, a respeito do seu Mestre, acrescentou enfim: “…certo que na obra de Leonardo Coimbra há sombras. Mas a tarefa da crítica não foi nunca a de diminuir o mais elevado até à altura do mais baixo.”.

Neste seu reluzente livro, Pedro Vistas prova de igual modo ser, nesse aspecto, plenamente marinhiano – pois que também ele “dá toda a força”, ou toda a luz possível, aos autores com quem aqui mais dialoga, nomeadamente: Sophia de Mello Breyner Andresen, Fernando Pessoa, Teixeira de Pascoaes, António Quadros, Agostinho da Silva, Domingos Sequeira e Raul Leal.

Dizemos “mais dialoga” porque, não obstante serem esses os autores de referência deste livro, e que justificam as suas oito partes, muitos outros autores (sobretudo, mas não apenas, da História da Filosofia, a começar pelos Gregos) são igualmente convocados, o que denota bem a sua sólida formação. Em suma: com este seu reluzente livro, Pedro Vistas faz o seu “baptismo de fogo” e prova (aos mais distraídos) que temos entre nós mais um Filósofo. Porque não há muitos – com F maiúsculo –, saudemos pois efusivamente este “nascimento”. A Filosofia Portuguesa – ou Lusófona, como preferimos dizer – bem (de ti) necessita.

Renato Epifânio

- "A Luz dos Lusos: Ensaios de Filosofia Filosofante a propósito de Luminares da Cultura Portuguesa", Lisboa, MIL/ DG Edições, 2023, 254 pp.

ISBN: 978-989-35021-6-7

Faça já a sua encomenda...

Para encomendar: info@movimentolusofono.org

Vídeo da sessão de Apresentação da Obra: https://www.youtube.com/watch?v=tscDKK1xKmU

Repertório da bibliografia filosófica portuguesa

Volume V d'A Via Lusófona...

Coligem-se aqui mais de meia centena de textos, todos eles, de forma mais ou menos directa, sobre a temática lusófona, textos que escrevemos nos últimos dois anos e que foram sendo publicados, de forma dispersa, em diversos jornais e revistas, bem como em outras plataformas digitais em que regularmente colaboramos. No seu conjunto, estes textos retratam bem – julgamos – os diversos planos em que a Lusofonia se deve cumprir: no plano cultural, desde logo, mas também nos planos social, económico e político. Só assim, cumprindo-se em todos estes planos, a Lusofonia – é nossa convicção – se cumprirá realmente e deixará de ser apenas um mote retórico e inconsequente, como ainda – importa reconhecê-lo – em grande medida é.


Para encomendar: info@movimentolusofono.org

Colecção Nova Águia: https://www.zefiro.pt/category/filosofia-nova-aguia

Outras obras promovidas pelo MIL: https://millivros.webnode.com/

Plataforma de Associações Lusófonas


No âmbito dos sete Congressos da Cidadania Lusófona já realizados, foi lançada a PALUS: Plataforma de Associações Lusófonas, visando agregar as Associações da Sociedade Civil (independentes nos planos governativo, partidário e religioso) de todo o Espaço da Lusofonia. Como já foi mil vezes reiterado, todos teremos a ganhar com a afirmação da Sociedade Civil. A nosso ver, essa afirmação será tanto mais forte quanto mais se realizar em rede, à escala de todo o Espaço da Lusofonia. Assim se afirmará, em última instância, a Sociedade Civil Lusófona, grande desígnio estratégico do Século XXI.  

Para mais informações:

21 Autores para a Filosofia Portuguesa do Século XXI



“21 Autores para a Filosofia Portuguesa do Século XXI”, in Letras ComVida: Literatura, Cultura e Arte, nº 4, 2º Semestre de 2011, pp. 18-66. 
https://2b434bd660.cbaul-cdnwnd.com/55972ade0135b6dbe03920fef94235b8/200000129-b9dcebad7f/Dossi%C3%AA%20Tem%C3%A1tico.pdf

COLECÇÃO NOVA ÁGUIA: JÁ COM MAIS DE 60 TÍTULOS