A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

LÍNGUA: RAIZ



1214 Junho 27
Testamento de D. Afonso II


Existem dois exemplares deste testamento, a cópia que foi enviada ao arcebispo de Braga e aquela que foi enviada ao arcebispo de Santiago.

linha 1
En'o nome de Deus. Eu rei don Afonso pela gracia de Deus rei de Portugal, seendo sano e saluo, temëte o dia de mia morte, a saude de mia alma e a proe de mia molier raina dona Orraca e de me(us) filios e de me(us) uassalos e de todo meu reino fiz mia mãda p(er) q(ue) de

linha 2
pos mia morte mia molier e me(us) filios e meu reino e me(us) uassalos e todas aq(ue)las cousas q(ue) De(us) mi deu en poder sten en paz e en folgãcia. P(ri)meiram(en)te mãdo q(ue) meu filio infante don Sancho q(ue) ei da raina dona Orraca agia meu reino enteg(ra)m(en)te e en paz.
E ssi este for


linha 3
morto sen semmel, o maior filio q(ue) ouuer da raina dona Orraca agia o reino entegram(en)te e en paz. E ssi filio barõ nõ ouuermos, a maior filia q(ue) ouuuermos agia'o ...


Fonte: Wikipedia.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Do Agostinho sobre o Eça (II)

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AS RESPONSABILIDADES DE EÇA DE QUEIROZ

Poderosamente auxiliado pela cativante elegância, pelo humorismo deliciosamente delicado dos seus escritos, foi Eça de Queiroz um dos mais perigosos demolidores da célebre e nefasta geração de 75.
Enquanto Oliveira Martins estilizava com verdadeiro e indiscutível talento de prosador as velhas crónicas portuguesas e as inter¬pretava a seu sabor e modo, através da sua psicologia de homem culto do século XIX, não se integrando na época que historiava, não criando dentro de si um estado de espírito idêntico ao dos guerreiros e navegadores — cujas façanhas eram para ele pouco menos de assaltos de bandidos e viagens de piratas sanguinários — e envenenava deste modo a História Nacional; enquanto Ramalho Ortigão troçava com ar superior dos seus compatriotas porque estes não possuíam a segura, firme e desempenada marcha peculiar aos povos de raça saxónica e se não encontrava a cada canto um sábio ou artista; enquanto Guerra Junqueiro atacava impiedosamente com as suas sátiras, verdadeiramente juvenalescas pelo vigor da linguagem e pela brutalidade do sarcasmo aliadas a uma trovejante indignação, o Trono e a Religião, contribuindo assim de uma maneira poderosa para a anárquica situação em que hoje nos encontramos; Eça de Queiroz, com o seu indispensável e temível monóculo engastado na órbita, ia miudamente observando, para depois as fazer desfilar nos seus romances, todas as persongens más que encontrava, todos os ignorantes, todos os perversos, todos os cínicos. Todos os acontecimentos mais ou menos ridículos ele retalhava com o seu escalpelo de finíssimo analista e eram esses exactamente os únicos que ele apresentava aos olhos dos leitores.
Criava deste modo Eça de Queiroz um ambiente de desprezo pela pátria; talvez não fosse esta realmente — estou mesmo em crê-lo que o não era — a intenção do romancista, mas as consequências eram inevitavelmente — dada a propensão inata que tem todo o português para dizer mal do que é seu — uma antipatia cada vez mais pronunciada por tudo quanto existia e a esperança, dia a dia em aumento, de que uma mudança das instituições viria limpar de vez e aniquilar para todo o sempre aqueles que Eça de Queiroz tão bem retratava, ou melhor, caricaturava nos seus romances.

(...)

In Acção Académica, Porto, 15 de Outubro de 1925, ano I, nº 3, p. 3

Há uma semana, em Santarém, ouviram-se estas palavras...

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Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.

Várias vezes este dia mudou de nome. Já foi de Camões, por onde começou. Já foi de Portugal, da Raça ou das Comunidades. Agora, é de Portugal, de Camões e das Comunidades. Com ou sem tolerância, com ou sem intenção política específica, é sempre o mesmo que se festeja: os Portugueses. Onde quer que vivam.

Há mais de cem anos que se celebra Camões e Portugal. Com tonalidades diferentes, com ideias diversas de acordo com o espírito do tempo. O que se comemora é sempre o país e o seu povo. Por isso o Dia de Portugal é também sempre objecto de críticas. Iguais, no essencial, às expressas por Eça de Queirós, aquando do primeiro dia de Camões. Ele afirmava que os portugueses, mais do que colchas às varandas, precisavam de cultura.

Estranho dia este! Já foi uma "manobra republicana", como lhe chamou Jorge de Sena. Já foi "exaltação da raça", como o designaram no passado. Já foi de Camões, utilizado para louvar imperialismos que não eram os dele. Já foi das Comunidades, para seduzir os nossos emigrantes, cujas remessas nos faziam falta. E apenas de Portugal.

Os Estados gostam de comemorar e de se comemorar. Nem sempre sabem associar os povos a tal gesto. Por vezes, quando o fazem, é de modo desajeitado. "As festas decretadas, impostas por lei, nunca se tornam populares", disse também Eça de Queirós. Tinha razão. Mas devo dizer que temos a felicidade única de aliar a festa nacional a Camões. Um poeta, em vez de uma data bélica. Um poeta que nos deu a voz. Que é a nossa voz. Ou, como disse Eduardo Lourenço, um povo que se julga Camões. Que é Camões. Verdade é que os povos também prezam a comemoração, se nela não virem armadilha ou manipulação.

Comemora-se para criar ou reforçar a unidade. Para afirmar a continuidade. Para reinterpretar o passado. Para utilizar a História a favor do presente. Para invocar um herói que nos dê coesão. Para renovar a legitimidade histórica. São, podem ser, objectivos decentes. Se soubermos resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas.

Não é possível passar este dia sem olharmos para nós. Mas podemos fazê-lo com consciência. E simplicidade.

Garantimos com altivez que Camões é o grande escritor da língua portuguesa e um dos maiores poetas do mundo, mas talvez fosse preferível estudá-lo, dá-lo a conhecer e garantir a sua perenidade.

Afirmamos, com brio, que os portugueses navegadores descobriram os caminhos do mundo nos séculos XV e XVI e que os portugueses emigrantes os percorreram desde então. Mais vale afirmá-lo com o sentido do dever de contribuir para a solidez desta comunidade.

Dizemos, com orgulho, que o Português é uma das seis grandes línguas do mundo. Mas deveríamos talvez dizê-lo com a responsabilidade que tal facto nos confere.

Quando se escolhe um português que nos representa, que nos resume, escolhe-se um herói. Ele é Camões. Podemos festejá-lo com narcisismo. Mas também com a decência de quem nele procura o melhor.

Os nossos maiores heróis, com Camões à cabeça, ilustraram-se pela liberdade e pelo espírito insubmisso. Pela aventura e pelo esforço empreendedor. Pela sua humanidade e, algumas vezes, pela tolerância. Infelizmente, foram tantas vezes utilizados com o exacto sentido oposto: obedientes ou símbolos de uma superioridade obscena.

Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.

As comemorações nacionais têm a frequente tentação de sublinhar ou inventar o excepcional. O carácter único de um povo. A sua glória. Mas todos sentimos, hoje, os limites dessa receita nacionalista. Na verdade, comemorar Portugal e festejar os Portugueses pode ser acto de lucidez e consciência. No nosso passado, personificado em Camões, o que mais impressiona é a desproporção entre o povo e os feitos, entre a dimensão e a obra. Assim como esta extraordinária capacidade de resistir, base da "persistência da nacionalidade", como disse Orlando Ribeiro. Mas que isso não apague ou esbata o resto. Festejar Camões não é partilhar o sentido épico que ele soube dar à sua obra maior, mas é perceber o homem, a sua liberdade e a sua criatividade. Como também é perceber o que fizemos de bem e o que fizemos de mal. Descobrimos mundos, mas fizemos a guerra, por vezes injusta. Civilizámos, mas também colonizámos sem humanidade. Soubemos encontrar a liberdade, mas perdemos anos com guerras e ditaduras.

Fizemos a democracia, mas não somos capazes de organizar a justiça. Alargámos a educação, mas ainda não soubemos dar uma boa instrução. Fizemos bem e mal. Soubemos abandonar a mitologia absurda do país excepcional, único, a fim de nos transformarmos num país como os outros. Mas que é o nosso. Por isso, temos de nos ocupar dele. Para que não sejam outros a fazê-lo.

Há mais de trinta anos, neste dia, Jorge de Sena deixou palavras que ecoam. Trouxe-nos um Camões humano, sabedor, contraditório, irreverente, subversivo mesmo.

Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo. Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.

Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo, submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.

Mudou até a constituição do povo. A sociedade plural em que vivemos hoje, com vários deuses e credos, com dois sexos iguais, com diversas línguas e muitos costumes, com os partidos e as associações que se queira, seria irreconhecível aos nossos próximos antepassados.

A sociedade e o país abriram-se ao mundo. No emprego, no comércio, no estudo, nas viagens, nas relações individuais e até no casamento, a sociedade aberta é uma novidade recente.

A pertença à União Europeia, timidamente desejada há três décadas, nem sequer por todos, é um facto consumado.

A estes trinta anos pertence também o Estado de protecção social, com especial relevo para o Serviço Nacional de Saúde, a segurança social universal e a escolarização da população jovem. É certamente uma das realizações maiores.

Estas transformações são motivo de regozijo. Mas este não deve iludir o que ainda precisa de mudança. O que não foi possível fazer progredir. E a mudança que correu mal.

A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração. A nossa pertença à União Europeia não é claramente discutida e não provoca um pensamento sério sobre o nosso futuro como nacionalidade independente.

Há poucos dias, a eleição europeia confirmou situações e diagnósticos conhecidos. A elevadíssima abstenção mostrou uma vez mais a permanente crise de legitimidade e de representatividade das instituições europeias. A cidadania europeia é uma noção vaga e incerta. É um conceito inventado por políticos e juristas, não é uma realidade vivida e percebida pelos povos. É um pretexto de Estado, não um sentimento dos povos. A pertença à Europa é, para os cidadãos, uma metafísica sem tradição cultural, espiritual ou política. Os Estados e os povos europeus deveriam pensar de novo, uma, duas, três vezes, antes de prosseguir caminhos sem saída ou falsos percursos que terminam mal. E nós fazemos parte desse número de Estados e povos que têm a obrigação de pensar melhor o seu futuro, o futuro dos Portugueses que vêm a seguir.

É a pensar nessas gerações que devemos aproveitar uma comemoração e um herói para melhor ligar o passado com o futuro.

Não usemos os nossos heróis para nos desculpar. Usemo-los como exemplos. Porque o exemplo tem efeitos mais duráveis do que qualquer ensino voluntarista.

Pela justiça e pela tolerância, os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais.

Pela honestidade e contra a corrupção, os portugueses necessitam de exemplo, bem mais do que de sermões.

Pela eficácia, pela pontualidade, pelo atendimento público e pela civilidade dos costumes, os portugueses serão mais sensíveis ao exemplo do que à ameaça ou ao desprezo.

Pela liberdade e pelo respeito devido aos outros, os portugueses aprenderão mais com o exemplo do que com declarações solenes.

Contra a decadência moral e cívica, os portugueses terão mais a ganhar com o exemplo do que com discursos pomposos.

Pela recompensa ao mérito e a punição do favoritismo, os portugueses seguirão o exemplo com mais elevado sentido de justiça.

Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.

Dê-se o exemplo e esse gesto será fértil! Não vale a pena, para usar uma frase feita, dar "sinais de esperança" ou "mensagens de confiança". Quem assim age, tem apenas a fórmula e a retórica. Dê-se o exemplo de um poder firme, mas flexível, e a democracia melhorará. Dê-se o exemplo de honestidade e verdade, e a corrupção diminuirá. Dê-se o exemplo de tratamento humano e justo e a crispação reduzir-se-á. Dê-se o exemplo de trabalho, de poupança e de investimento e a economia sentirá os seus efeitos.

Políticos, empresários, sindicalistas e funcionários: tenham consciência de que, em tempos de excesso de informação e de propaganda, as vossas palavras são cada vez mais vazias e inúteis e de que o vosso exemplo é cada vez mais decisivo. Se tiverem consideração por quem trabalha, poderão melhor atravessar as crises. Se forem verdadeiros, serão respeitados, mesmo em tempos difíceis.

Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades
Santarém, 10 de Junho de 2009
António Barreto

segunda-feira, 15 de junho de 2009

«Dicionário dos Italianos Estantes em Portugal»

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A Cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» é uma instituição de investigação científica que, ao longo dos seus onze anos de existencia, tem desenvolvido alguns projectos de investigação avaliados internacionalmente.

Neste momento, temos o prazer de colocar à disposição do público o resultado final de um dos projectos avaliados, aprovados e fnanciados pela agência nacional para a investigação científica, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Este projecto, «Dicionário dos Italianos Estantes em Portugal», abrange o largo período que vai de final do século XV ao final do século XVII.

O conjunto de cerca de 400 biografias, que já estão em parte significativa disponibilizadas no nosso website, em constante actualização e desenvolvimento, remetem-nos para universos profissionais tão variados como as Artes e a Música, o Direito e Literatura, a Astronomia e a Navegação, o Comércio e a Religião.

A proximidade, na época em causa, entre esta elite de italianos que circulava entre Portugal e a Península Itálica e os judeus de origem portuguesa, é essencial para se perceber o meio onde os sefarditas se moviam, os seus interesses e as suas redes.

O «Dicionário dos Italianos Estantes em Portugal» pode ser consultado na secção «Dicionários» do nosso website, em:

http://www.catedra-alberto-benveniste.org/dic-italianos.asp

sábado, 30 de maio de 2009

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)

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"...a ela levava-a acima de tudo um desejo de batalha contra o mal e tinha a certeza de que a sua vida seria a mais feliz de todas, mesmo entre tudo que para os outros pareceria uma desgraça, se estivesse realizando qualquer tarefa, grande ou pe­quena, em que pudesse verdadeiramente melhorar o mundo; não tinha melancolias duradouras, nem re­núncia perante o poder adversário; cada vez mais forte o desejo de intervir, cada vez mais robustas, pela meditação e pelo estudo, as energias que a impeliam para o alvo que indistintamente se marcara. Pensou em escrever, mas não a satisfazia nem a glória, nem a acção do autor: no escrever sentiria sempre um meio inferior ao de agir no mundo e só ficaria satisfeita com um livro quando ele fosse um reforço da acção; cria que só se escreve quando se não pode viver, que um livro é também de certo modo uma concessão que o escritor faz ao seu próprio gosto da comodidade e do sonho; ora o sonho só lhe parecia defensável quando é um projecto, jamais quando se apresenta como uma evasão, como um paraíso artificial em que se refugiam os fracos; sonhar, para ela, era pensar fazer, não criar uma outra vida ao lado daquela que nos fugiu ou que tememos; depois, as energias que se empregaram para escrever um livro, que nunca se sabe que resultados poderá dar, foram energias que se per­deram para realizar na vida aquilo que na vida pode­ria ter sido indiscutivelmente bom."

A Vida de Florence Nightingale, Lisboa, Edição do Autor, 1942, pp. 6-7.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Editado o primeiro documento de uma Comuna Judaica Portuguesa

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Cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» da Universidade de Lisboa
Centro de Documentação

Editado o primeiro documento de uma Comuna Judaica Portuguesa

Reforçando a vocação de apoio à investigação, a Cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» acaba de apresentar no seu Centro de Documentação aquele que é, neste momento, o primeiro documento conhecido exarado por uma Comuna Judaica Medieval.

Ver a edição paleográfica e interpretação no nosso website em:

http://www.catedra-alberto-benveniste.org/documentacao.asp?tab=3&id=11

O documento foi editado por Hugo Miguel CRESPO.
A localização deveu-se ao trabalho de Maria Fernanda GUIMARÃES.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Mais alguns excertos...

VIDA DE MIGUEL ÂNGELO
Ed. do Autor, 1942.


- seremos animais, se pararmos no esforço de ser deuses; mais vale o sofrimento, a angústia mil vezes renovada, do que o automatismo, a inconsciência, a bruta natureza das pedras e dos bichos
- Nada importa lutar se tem de se lutar; mesmo que se não quisesse fazê-lo, impulsos interiores que existem em todos os homens impeli-los­-iam para a acção; no pessimismo de Miguel Ângelo não entram nenhumas possibilidades de penetrarmos, pelo menos ainda vivos, na insensibilidade, no repouso absoluto; e a melhor acção será, natural­mente, a que se exerce para tentar dar corpo a esse ideal de uma huma­nidade que sofra menos ou que saiba sequer transferir o sofrimento do plano em que ele não tem interesse ou é evitável, o plano social, para o plano dos espíritos, onde será para sempre impossível apagá-lo

- a inde­pendência de alma de Miguel Ângelo, a consciência do que vale, um sentimento indomável de dignidade humana — por isso se quer bom, por isso se quer puro — uma radicada oposição a tudo que possa levar homens à posição de animais, afastando-os de Deus
- O forte individualismo de Miguel Ângelo, baseado numa inteligên­cia superior, numa grande penetração psicológica e no seu gosto da soli­dão, levavam-no a não pertencer a nenhum partido; não havia nenhum credo, nem o da Igreja, que aceitasse completo
- O que importa, porém, para Miguel Ângelo, o que vale como um valor de eternidade não é a incompreensão dos homens, a resolução que os leva a tomar a sua inteligência reduzida, quantas vezes, porventura, o desespero em que andam mergulhados e que, não se lhes revelando à plena luz da consciência, ou não encontrando campo suficiente nas almas restritas, se manifesta pela má vontade, pela perpétua irritação, pelo malévolo ataque a todos que aparecem como espíritos superiores

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

E até, imagine-se, franceses...


VIDA DE PASTEUR[1]

- E era sempre o mesmo; de cada vez que lançava uma ideia nova, de cada vez que vinha fornecer um outro elemento para o progresso da Humanidade, chocava com a imensa barreira da incompreensão, da miséria intelectual e da miséria moral; a falta de receptividade para o que era diferente do que até então se julgara revelava-se mais perfeita de dia para dia; adaptavam-se lentamente e quem ia oferecer um bene­fício era recebido com a severidade que haveria para um criminoso; uns reagiam pelo cepticismo, outros pelo silêncio que habilmente organi­zavam à volta de Pasteur; mas, através do véu de hostilidade, sentia que se formava a grande massa poderosa que por completo o havia de rom­per (...).
- Só de quando em quando o vinha saltear a tentação da política; ante os resultados do império, parecia-lhe que tinha cometido um crime não se interessando pelas coisas públicas; tanto o prendeu a ideia que aban­donou o laboratório para se apresentar aos eleitores; elaborou o seu pro­grama e fez discursos de propaganda; delicadamente, não ousando tratar mal o homem que sabiam superior, os outros candidatos puseram-se todos de acordo para insistir junto do público em que o lugar dos sá­bios não era nas assembleias políticas, mas nas Academias; não estavam preparados para as discussões da Câmara, mas para as disputas científi­cas; a assistência dos comícios eleitorais escutava Pasteur com deferên­cia e ele pôde alimentar a ilusão de que os convencia com as suas pala­vras moderadas e de que lhe entendiam perfeitamente os raciocínios; esperou, logo à primeira, levar pela inteligência quem estava acostu­mado a guiar-se pela paixão; o resultado foi que Pasteur obteve o lugar de candidato menos votado.
[1]In Seara Nova, Lisboa, nºs 576 a 581, 27 de Agosto de 1938 a 1 de Outubro de 1938; Lisboa, Seara Nova, 1938.

E americanos também...

A VIDA DE LINCOLN[1]

- (...) os mais argutos adivinhavam nele o grande homem; a fronte ampla e rasgada, de heróico talhe, o jeito decidido dos lábios, a luz que lhe brilhava nos olhos, feita de toda a concentração de pensa­dor e de toda a firmeza de político, não enganavam os previdentes; ao mesmo tempo, a honestidade inquebrantável ganhava-lhe a simpatia de todos
- Prestava já, no entanto, bastantes serviços ao seu partido whig para que as invejas germinassem e os inferiores se coligassem contra ele; apro­veitavam-no para tudo que representava vantagens, mas sempre as intri­gas e os maquiavelismos se arranjaram de modo a excluírem-no dos pri­meiros lugares; a perspicácia e a popularidade de Lincoln começavam a assustá-los, temiam a rigidez do seu carácter e o seu desprendimento das vaidades do mundo; preferiam dar a proeminência aos medíocres que estavam dispostos a moldar-se aos interesses da maioria e eram capa­zes de entrar nas sórdidas campanhas dos empregos ou de lançar mão de expedientes que repugnavam a Lincoln; depois, havia nele, às vezes, uma impressão de isolamento, de fundo meditar, de melancolia distan­te, que impedia as intimidades e os excessos; sentiam-lhe a reserva e afastavam-se.
- Certos eleitores começavam a achá-lo um deputado pouco cómodo; às razões públicas juntavam-se as particulares: não se esforçava por arran­jar empregos para os amigos, nem pactuava com os intrigantes; viera ao Congresso para tratar de interesses da União, para manter em toda a actividade política uma linha moral sem quebras; assegurar votos com promessas de lugares no correio ou na polícia aparecia-lhe como um suborno a que não desceria; se algum candidato era competente para o cargo, apoiava-o junto das secretarias de Estado; se era incompetente, ele próprio informava o secretário, com toda a lealdade, do conceito em que tinha o pretendente. Nada fazia contra a sua consciência; nenhu­ma combinação política o levaria a um acto menos digno; pronto a ceder nos pontos mínimos, a que às vezes se prendiam os outros, organizara nas posições essenciais uma linha de defesa que ninguém conseguia transpor.
- O sentimento de fraternidade que punha como essencial à sua exis­tência e ao cumprimento da missão que teria de desempenhar não era de modo algum efeminado e mole; o rude rachador do Illinóis, o pilo­to do Ohio, o advogado tenaz e decidido, estava demasiado afeito às tarefas viris para cair no sentimentalismo e na fraqueza; duro quando era necessário, dando por vezes aos ouvintes uma impressão de brutali­dade, sabia forçar as circunstâncias e sabia também que nem sempre uma bondade incondicional é a melhor alavanca pedagógica (...).


[1] In Seara Nova, Lisboa, nºs 566 a 572, 18 de Junho de 1938 a 30 de Julho de 1938; Lisboa, Seara Nova, 1938.

Também há suiços bons...

VIDA DE PESTALOZZI[1]

- (...) acima de tudo punha a pátria, de que o seu último ideal era conseguir o bem do povo, salvá-lo do atoleiro em que mais e mais se ia afundando. Pelo povo sacrificaria a sua vida e, se preciso fosse, a vida dos seus; e não seria a acção rápida e brilhante que tortura num minuto e no minuto seguinte traz a quem a praticou a palma dos heróis; seria a batalha de todos os instantes, a pobreza e a fome, o desconforto e, quantas vezes, o desespero mais profundo, ilimitado.
- Só um caminho lhe restava: o de se dirigir às minorias, aos que voluntariamente se tinham separado dos conjuntos e, possuidores de verdadeira cultura e de clara inteligência, meditavam, longe do comum, os meios que atalhariam o mal que aumenta cada hora.
- Cria também que as revoluções, se devem gerar o forte executivo que inutiliza o adversário e limita os excessos dos amigos, mais têm de formar ambiente para que surjam os governos paternais, educado­res, capazes de dar ao povo as bases de cultura indispensáveis a uma verdadeira Humanidade.
- A política, no entanto, não deixava de interessá-lo; entendia as profundas relações que existem entre a actividade pedagógica e a actividade de reforma social (...).

[1] In Seara Nova, Lisboa, nºs 546 a 552, 29 de Janeiro de 1938 a 12 de Março de 1938; Lisboa, Seara Nova, 1938.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre a filosofia portuguesa...

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(…) a história da filosofia portuguesa é, em meu entender, a história dos pensadores que equacionaram, desenvolveram e (ou) sistematicamente pretenderam solucionar filosofemas nascidos da tradição nacional, ou nela inscritos pelas suas consequências. E assim, em termos práticos de metodologia da história das ideias, convirá: a) partir do estudo dos autores e das obras sem preconceitos críticos ou interpretativos; b) integrá-los no respectivo contexto histórico e sociológico, marcando a sua originalidade e fecundidade; c) analisar-lhes, respectivamente, a exigência e a estrutura gnosiológica para aquilatar da sua qualidade filosófica; d) elaborar, por último, largos quadros sintéticos onde os vários autores e as suas obras mutuamente se situem, e seja possível conhecer a fisionomia peculiar do pensamento filosófico nacional.
Só isso permitirá que a inteligência portuguesa tome nítida consciência da sua identidade, e possa participar, na plenitude das suas potencialidades, na génese da nova teologia, do novo humanismo, da nova cosmovisão, da nova cultura, enfim, que a era tecnológica urgentemente exige.”
[1]

Eduardo Abranches de Soveral

[1] In “Pensamento Luso-Brasileiro”, Pensamento Luso-Brasileiro: estudos e ensaios, Lisboa, Instituto Superior de Novas Profissões, Lisboa, 1996, p. 17.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Três espécies de Português


Há três espécies de Portugal, dentro do mesmo Portugal; ou se se preferir, há três espécies de português. Um começou com a nacionalidade: é o português típico, que forma o fundo da nação e o da sua expansão numérica, trabalhando obscura e modestamente em Portugal e por toda a parte de todas as partes do Mundo. Este português encontra-se desde 1578, divorciado de todos os governos e abandonado por todos. Existe porque existe, e é por isso que a nação existe também.
Outro é o português que não o é. Começou com a invasão mental estrangeira, que data, com verdade possível, do tempo do Marquês de Pombal. Esta invasão agravou-se com o Constitucionalismo, e tornou-se completa com a República. Este português (que é o que forma grande parte das classes médias superiores, certa parte do povo, e quase toda a gente das classes dirigentes) é que governa o país. Está completamente divorciado do país que governa. É, por sua vontade, parisiense moderno. Contra a sua vontade, é estúpido.
Há um terceiro português, que começou a existir quando Portugal, por alturas d’El-Rei D. Dinis, começou, de Nação, a esboçar-se Império. Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer-Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado sempre, e continuam estando, à espera dele. Como o último verdadeiro Rei de Portugal foi aquele D. Sebastião que caiu em Alcácer-Quibir, e presumivelmente ali morreu, é no símbolo do regresso de El-Rei D. Sebastião que os portugueses da saudade imperial projectam a sua fé de que a família se não extinguisse.
Estes três tipos do português têm uma mentalidade comum, pois são todos portugueses, mas o uso que fazem dessa mentalidade diferencia-os entre si. O português, no seu fundo psíquico, define-se com razoável aproximação, por três característicos:
1 - O predomínio da imaginação sobre a inteligência;
2 - O predomínio da emoção sobre a paixão;
3 – A adaptabilidade instintiva.
Pelo primeiro característico distingue-se, por contraste, do grego antigo, com quem se parece muito na rapidez da adaptação e na consequente inconstância e mobilidade. Pelo segundo característico distingue-se, por contraste, do espanhol médio, com quem se parece na intensidade e tipo do sentimento. Pelo terceiro distingue-se do alemão médio; parece-se com ele na adaptabilidade, mas a do alemão é racional e firme, a do português instintiva e instável.
A cada um destes tipos do português corresponde um tipo de literatura.
O português do primeiro tipo é exactamente isto, pois é ele o português normal e típico. O português do tipo oficial é a mesma coisa com água; a imaginação continuará a predominar sobre a inteligência, mas não existe; a emoção continua a predominar sobre a paixão, mas não tem força para predominar sobre coisa nenhuma; a adaptabilidade mantém-se, mas é puramente superficial – de assimilador, o português neste caso, torna-se absolutamente mimético.
O português do tipo imperial absorve a inteligência com a imaginação; a imaginação é tão forte que, por assim dizer, integra a inteligência em si, formado uma espécie nova de qualidade mental. Daí os Descobrimentos que são um emprego intelectual, até prático, da imaginação. Daí a falta de grande literatura nesse tempo (Camões, conquanto grande, não está nas letras, à altura em que estão nos feitos o Infante D. Henrique e o imperador Afonso de Albuquerque, criadores respectivamente do mundo moderno e do imperialismo moderno?). E esta nova espécie de mentalidade influi nas outras duas qualidades mentais do português: por influência dela a adaptabilidade torna-se activa, em vez de passiva, e o que era habilidade para fazer tudo torna-se habilidade para ser tudo…
Onde quer que se coloque o início da nossa decadência – da decadência resultante do formidável esforço com que realizamos as descobertas e as conquistas - , aí se deve colocar o início da grande ruptura de equilíbrio que se deu na vida nacional. Com a dispersão por todo o mundo e a morte em tantos combates, precisamente daqueles elementos que criavam o nosso progresso, o nosso pequeno povo foi pouco a pouco ficando reduzido aos elementos apegados ao solo, aos que a aventura não tentava, a quantos representavam as forças que, numa sociedade, instintivamente reagem contra todo o avanço. É um dos casos mais visíveis da criação de uma predominância das forças conservadoras. Com isto, visto à luz do que se explicou, queda revelado o porquê da nossa decadência.
Todos os fenómenos se seguiram, que na devida altura detalhei, como o seguimento fatal da supertradicionalização. O que restava de progressivo desnacionalizou-se depressa. Cavou-se um abismo entre esses e a maioria do país. Em uns e outros, o nível intelectual, o nível cultural e o nível da vontade prática e útil foi baixando. Um ou outro homem de maior destaque surgia e desaparecia e a sua obra, quando não morria com ele, morria pouco depois, pois não havia coesão social, por onde se propagasse, nem interesse intelectual, por onde, ao menos, se mantivesse. A Restauração, livrando-nos da maior vergonha externa, não nos livrou, nem trouxe quem nos livrasse, da vergonha interna paralela. Ficámos independentes como país e dependentes como indivíduos. Tornámos a ser portugueses de nacionalidade, mas nunca mais tornamos a ser portugueses de mentalidade. Nem portugueses de nada.
Fernando Pessoa
(Publicado por Quasímodo, extraído de http://www.flogao.com.br/comalmalusa)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Um inédito de Agostinho da Silva...

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ÁGUIAS[1]

Ide, portugueses, ide! Afrontai as tempestades, os ventos sibilantes.
Segue-vos num olhar de ansiedade e de ternura a Alma Portuguesa; assim Ela outrora olhava os seus nautas destemidos que cortando o mar descobriram a Índia e o Brasil.
Tombastes, águias lusitanas!
É o Adamastor do ar, fremente de raiva e de desespero que vos corta a passagem.
Mas as caravelas do Gama não temeram os rugidos do gigante que se torcia em paroxismos de furor, não recearam as suas profecias horrendas, porque sabiam que a Cruz de Cristo que lhe esmaltava as velas e lutava com temporais no tope dos mastros os protegia.
Heróis, avante!, que Nun’Álvares ergue-se do seu tumulto e vai orar por vós na magnificência rendilhada da Batalha; avante! que D. Henrique no cimo dos rochedos de Sagres olha-vos, como dantes, para procurar nas curvas do horizonte as asas brancas da nau de Gil Eanes.
Duarte Pacheco e Afonso de Albuquerque, Bartolomeu Dias e Gonçalo Velho vêm vibrar em vós a Alma de Portugal, a Alma que palpitou em Cochim, em Ormuz, no Cabo da Boa Esperança.
Camões apara a pena, a velha pena das iluminuras dos «Lusíadas» -, o livro de Horas da Pátria Portuguesa; e em letras de ouro escreve a «Epopeia do Ar».
Das campinas verdes do Minho aos campos quentes do Algarve, das serranias da Beira aos fios de água da Veneza lusitana um frémito de patriotismo percorre o povo português e eleva-se aos ares azuis, os ares que agora sulcais, a voz de Portugal.
- Salve, Heróis! Obrigado, gigantes!

1922

2 Junho 1922 [datação manuscrita]
[1] "Águias", O Comércio do Porto, Porto, Ano LXVIII, n.º 129, 2 de Junho de 1922, p. 1 (Victor Alberto, pseudónimo de Agostinho da Silva).

domingo, 30 de novembro de 2008

30 de Novembro de 1935 - Partida de Fernando Pessoa

" - O que calcula que seja o futuro da raça portuguesa ?
- O Quinto Império. O futuro de Portugal - que não calculo, mas sei - está escrito já, para quem saiba lê-lo, nas trovas do Bandarra, e também nas quadras de Nostradamus. Esse futuro é sermos tudo. Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé ? Que português verdadeiro pode, por exemplo, viver a estreiteza estéril do catolicismo, quando fora dele há que viver todos os protestantismos, todos os credos orientais, todos os paganismos mortos e vivos, fundindo-os portuguêsmente no Paganismo Superior ? Não queiramos que fora de nós fique um único deus ! Absorvamos os deuses todos ! Conquistámos já o Mar: resta que conquistemos o Céu, ficando a terra para os Outros, os eternamente Outros, os Outros de nascença, os europeus que não são europeus porque não são portugueses. Ser tudo, de todas as maneiras, porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa ! Criemos assim o Paganismo Superior, o Politeísmo supremo ! Na eterna mentira de todos os deuses, só os deuses todos são verdade"
- Fernando Pessoa, resposta a "Portugal, vasto Império", inquérito de Augusto da Costa