VIDA DE PASTEUR[1]
- E era sempre o mesmo; de cada vez que lançava uma ideia nova, de cada vez que vinha fornecer um outro elemento para o progresso da Humanidade, chocava com a imensa barreira da incompreensão, da miséria intelectual e da miséria moral; a falta de receptividade para o que era diferente do que até então se julgara revelava-se mais perfeita de dia para dia; adaptavam-se lentamente e quem ia oferecer um benefício era recebido com a severidade que haveria para um criminoso; uns reagiam pelo cepticismo, outros pelo silêncio que habilmente organizavam à volta de Pasteur; mas, através do véu de hostilidade, sentia que se formava a grande massa poderosa que por completo o havia de romper (...).
- E era sempre o mesmo; de cada vez que lançava uma ideia nova, de cada vez que vinha fornecer um outro elemento para o progresso da Humanidade, chocava com a imensa barreira da incompreensão, da miséria intelectual e da miséria moral; a falta de receptividade para o que era diferente do que até então se julgara revelava-se mais perfeita de dia para dia; adaptavam-se lentamente e quem ia oferecer um benefício era recebido com a severidade que haveria para um criminoso; uns reagiam pelo cepticismo, outros pelo silêncio que habilmente organizavam à volta de Pasteur; mas, através do véu de hostilidade, sentia que se formava a grande massa poderosa que por completo o havia de romper (...).
- Só de quando em quando o vinha saltear a tentação da política; ante os resultados do império, parecia-lhe que tinha cometido um crime não se interessando pelas coisas públicas; tanto o prendeu a ideia que abandonou o laboratório para se apresentar aos eleitores; elaborou o seu programa e fez discursos de propaganda; delicadamente, não ousando tratar mal o homem que sabiam superior, os outros candidatos puseram-se todos de acordo para insistir junto do público em que o lugar dos sábios não era nas assembleias políticas, mas nas Academias; não estavam preparados para as discussões da Câmara, mas para as disputas científicas; a assistência dos comícios eleitorais escutava Pasteur com deferência e ele pôde alimentar a ilusão de que os convencia com as suas palavras moderadas e de que lhe entendiam perfeitamente os raciocínios; esperou, logo à primeira, levar pela inteligência quem estava acostumado a guiar-se pela paixão; o resultado foi que Pasteur obteve o lugar de candidato menos votado.
[1]In Seara Nova, Lisboa, nºs 576 a 581, 27 de Agosto de 1938 a 1 de Outubro de 1938; Lisboa, Seara Nova, 1938.
2 comentários:
O escritor Portugues Goncalo Tavares esta a fazer um trabalho parecido, mas em forma de romance, conto e teatro, sobre a vida de grandes escritores Europeus do Seculo XX.
Quem sabe, seria ate interessante convida-lo para falar sobre o seu trabalho nalgum evento onde se falasse desta faceta de biografo de Agostinho da Silva.
Quem sabe...
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