A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 6 de março de 2021

De António Braz Teixeira, para a NOVA ÁGUIA 27...

 

APROXIMAÇÃO DO ACTUALISMO PEDAGÓGICO DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL

António Braz Teixeira

 

1. Havendo exercido o magistério filosófico, em Portugal e no Brasil, durante três décadas e meia, natural seria que Eduardo Abranches de Soveral (1927-2003), como Leonardo Coimbra (1883-1936), Delfim Santos (1907-1966), José Marinho (1904-1975) ou Agostinho da Silva (1906-1994), se tivesse detido a considerar, reflexivamente, os problemas fundamentais suscitados pela formação do homem, a que dedicou os volumes de ensaios Educação e Cultura (Lisboa, INP, 1993) e Pedagogia para a era tecnológica (Porto Alegre, EDIDUCRS, 2001), nos quais expôs os lineamentos da sua Filosofia da Educação que denominou actualismo pedagógico.

Em três ideias ou teses se fundava o pensamento educativo do filósofo portuense:

― a de que, na pedagogia, existem estruturas e objectivos formais prévios aos condicionalismos e às finalidades próprias de cada época, correspondentes às estruturas essenciais permanentes do homem e da sua situação existencial;

― a de que todo o processo educativo visa promover a maturidade pessoal do educando, dotando-o da capacidade para o exercício permanente de uma liberdade responsável;

― a de que a Filosofia se acha no início e no fim de todo o processo educativo.


(excerto)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ainda sobre Eduardo Abranches de Soveral...

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Eduardo Abranches de Soveral nasceu a 16 de Agosto de 1927, em Mangualde, e viveu toda a sua meninice e juventude na cidade de Viseu. Iniciou a sua vida universitária na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Mais tarde transferiu-se para o curso de Ciências Histórico-Filosóficas, que concluiu em 1952.
Concorreu então à carreira diplomática. No Ministério dos Negócios Estrangeiros foi secretário de Legação (1956) e chefe do Pacto do Atlântico (1958), em cujas negociações participou.
Em 1960 iniciou a sua carreira académica como assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Dois anos mais tarde foi aprovado em concurso público para restabelecer o curso de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Nesta Universidade se doutorou em 1966, para o que apresentou uma dissertação com o título «O Método Fenomenológico. Estudo para a determinação do seu valor filosófico». A 26 de Junho de 1969 prestou provas para Professor Extraordinário, alcançando a cátedra de Filosofia a 20 de Março de 1970, com 42 anos de idade.
Em 1975 tirou licença sabática e obteve uma bolsa de estudo para um trabalho de investigação sobre os filósofos de língua portuguesa, no Brasil, país onde viveu até 1985, com posterior licença sem vencimento, onde prosseguiu a referida investigação, foi professor nas Universidades Católica de Petrópolis, Gama Filho e Estadual do Rio de Janeiro e orientou vários cursos de doutoramento sobre o pensamento luso-brasileiro. Criou na Universidade Gama Filho (Rio de Janeiro) o primeiro curso de doutoramento em Filosofia. Na Universidade Católica de Petrópolis fundou o centro de Estudos de Filosofia e criou o primeiro curso de pós-graduação na área da Filosofia.
De regresso a Portugal em 1985, voltou a ocupar o seu lugar na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde desenvolveu a docência até 1997, ano em que foi jubilado.
Fundou o Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, de que foi o primeiro director e presidiu ao respectivo Gabinete de Pensamento Português.
Foi membro fundador do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.
Foi membro correspondente da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filosofia.
Faleceu de doença súbita a 29 de Junho de 2003.

domingo, 23 de agosto de 2009

AINDA EM HOMENAGEM A EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL

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Januário Torgal Ferreira

Morreu no último fim-de-semana [29 de Junho de 2003] o Prof. Eduardo Abranches de Soveral, catedrático aposentado do departamen­to de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi um dos inicia­dores da restauração daquela instituição do ensino superior, em 1962. Assinalo o triste acontecimento em homenagem à sua pes­soa, tentando quebrar o silêncio, tão habi­tual em certos momentos.
Fez da vida a dedicação ao pensamento, com a originalidade, a teimosia e a desvalo­rização por parte de alguns. Neste particular, é normal a diferença. É comum até a oposi­ção. Que seria do saber se tudo se reduzisse ao rés do chão ou ao primeiro andar da cul­tura!
O que se não pode entender são os julga­mentos sumários, as ambiguidades da crítica, também os aproveitamentos e as subser­viências.
A dignidade e o sentido de um vi­ver impuseram-se com o tempo. Expe­rimentou também a amizade, despojada e livre, que nunca pode ser de muitos.
Numa altura em que se fala da arte de pensar, da troca de ideias, do diálogo entre grupos e correntes, é fundamental defender a cultura e o ambiente e carreira do ensino su­perior. O mal-estar de antagonismos, as lutas pelo poder, a lógica concorrencial… não são as melhores companhias. As únicas armas a brandir são as das ideias e do seu combate. Quaisquer outros processos voltam-se con­tra uma instituição, onde a normalidade mais normal deveria ser a do respeito pela inteli­gência e liberdade de investigar, a da com­petência do mérito, a da observância das prer­rogativas de cada ser humano.
Para além da imortalidade da vida, resta a documentação de uma obra. Discutível co­mo tudo, menos na independência com que foi construída, permanece fito da sabedoria. Convoca à meditação e à paz, símbolos de uma existência.

In “Falta de diálogo”, O Comércio do Porto, Porto, 6 de Julho de 2003, p. 16.

Último texto para o volume de homenagem a Eduardo Abranches de Soveral (Colecção NOVA ÁGUIA).

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ÉTICA, ESTÉTICA E POLÍTICA EM EDUARDO SOVERAL (excerto)

Pedro Calafate

(...)
No caso da concepção da sociabilidade humana num contexto histórico e existencial, sublinhou sempre a questão das nacionalidades e das culturas nacionais, pois, se a liberdade individual é o valor ético e político supremo, afirmado ao longo do processo de elaboração da filosofia moderna, tornava-se imperioso saber como conciliar a valor único da pessoa humana com a ideia de nação, ou seja, com a existência de comunidades vivas, dotadas de projectos comuns, testadas ao longo tempo pela gravidade das situações vencidas. Se o individualismo contratualista apontava mais para a ideia abstracta de humanidade do que para a ideia bem mais existencial de nação, Soveral assume-se, por isso, como herdeiro do movimento romântico e regressa ao dinamismo da afirmação dos contextos nacionais. Diz, então: «Aquilo que há a salvaguardar é a liberdade nacional e isso melhor se consegue num regime personalista do que num regime individualista», pois se torna mais fácil conciliar os «particularismos nacionais com os valores humanos universais»[1]. Por outro lado, diz ainda Soveral, a nação é «aquela entidade colectiva global onde a terra, o sangue, o universo cultural inscrito numa língua se interpretam ao longo da história e se projectam no futuro como inevitáveis determinantes da sua maneira de ser e de estar no mundo»[2].
Esta a razão por que, muitas vezes, Soveral se insurge contra concepções da história assentes em «utopias radicais uniplanares», elogiando antes a «concreta e pluriforme vida colectiva, tal como a tradição a inspirou e a profunda afectividade popular a deseja», na qual poderá inscrever-se, de modo viável e gratificante, a vida pessoal de cada um.
(...)

[1] Eduardo Soveral, «Relações entre Ética e Política», Op. cit., p. 79.
[2] Eduardo Soveral, «O Princípio da Liberdade Individual e as suas Condicionantes Éticas e Estéticas», in Op. cit., p. 87.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Para um dos próximos volumes da Colecção NOVA ÁGUIA

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A dimensão estética em Eduardo de Soveral (excerto)

Eugénio Andrade

(...)“O sonho, a arte e a ficção alargam, para além do que já se conhece ou experimentou, as fronteiras do Possível.” (...)

Toda a imaginação e criatividade estética de Soveral se revêem nesta frase. Ao considerar a Arte como uma criação do Absoluto, sublima esta vertente filosófica com uma dimensão ontica só possível de se encontrar em espíritos superiores, livres, inteligentes, e abertos aos valores do Absoluto, onde só a existência de uma propensão para as coisas divinas, permite penetrar e auscultar o chamamento para a criatividade.
Ao permitir entender que toda a arte nasce do nada, do nada absoluto e total, Soveral atribui ao artista uma capacidade infinita, uma imaginação superior, onde o Absoluto lhe abre todas as possibilidades de um criador, podendo a sua finitude definir contudo, os limites que o separam do poder criativo de Deus.
A arte, seja ela uma escultura, uma pintura, uma criação musical ou uma qualquer outra forma de arte, é sempre um acto potenciador de virtudes e virtualidades, só possível naqueles que foram contemplados e se encontram abertos ao poder do criador. Este poder infinito do criador, porém, está condicionado à vontade expressa do artista. Criar sem amor e por vaidade, não permite contudo produzir uma obra de arte. A obra de arte é uma produção espiritual que exige uma total dedicação do artista, por forma a que a sua potencialidade criadora possa ser contemplada com a generosidade Divina, e superar a sua negatividade e finitude.
Para Eduardo de Soveral, criar sem amor e por vaidade é criar aberrações, é produzir obras que não permitem a comunicação com o outro em virtude da não existência de amor à obra que criou. É uma trágica experiência de criação por que peca contra o espírito que lhe deu ser. O amor e a beleza são vertentes psicofisiológicas a que o artista não se pode eximir. Criar sem amor é produzir algo a que o artista não se dedicou generosamente. Criar sem beleza é perverter por orgulho e soberba o desespero do momento. A beleza é uma virtude que nos une fraterna e generosamente e nos permite participar na criação do belo e do sublime. Criar sem amor e sem beleza, é produzir obras que lamentavelmente o produtor, que não o artista, se equivocou, e na sua infecunda negatividade se encontrou no desespero das mais terríveis ilusões.
A obra de Arte que se quer obra de Arte é na sua sua profunda criatividade, imaginação, e beleza, uma produção onde se conjugam poder criador, imaginação infinita, e beleza singela, potenciadores e proporcinadores de momentos que nos possam conduzir à eternidade.
Esta visão estética da Arte, só possível num pensador cristão e católico como é o caso de Eduardo de Soveral, é de uma beleza insuperável e de uma humildade tocante, porque em toda a sua reflexão filosófica e artística se encontra esta marca profunda de um sentimento puro e sublime que nos conduz ao mais recôndito da sua subjectividade.
Partindo do Absoluto, o Autor constrói uma teoria estética onde todos os parâmetros artísticos são tratados de uma forma sublimar, permitindo ao discente ou ao leitor concordar ou discordar, mas nunca ficar indiferente à sublimação do discurso. O seu ensaio Imaginação e Finitude, inserido na publicação com o mesmo nome, é uma reflexão que nos toca pela singeleza e pureza do conteúdo.

(...)

sábado, 20 de junho de 2009

Mais um título da Colecção NOVA ÁGUIA...

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Eduardo Abranches de Soveral: o Pensador, o Filósofo, o Humanista

Índice

Oliveira Ramos
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E A REFUNDAÇÃO DA FACULDADE DE LETRAS
Eugénio dos Santos
RAÍZES DO BRASIL MULTI-ÉTNICO NO QUAL VIVEU EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Joaquim Domingues
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E AUGUSTO SARAIVA
António José de Brito
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E MIRANDA BARBOSA
Pedro Alves
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E A FENOMENOLOGIA
J.M. Costa Macedo
RACIONALIDADE E SUBJECTIVIDADE NO PENSAMENTO DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Maria de Lourdes Sirgado Ganho
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL: DO EU EGOLÁTRICO AO EU PESSOAL, NA OBRA FENOMENOLOGIA E METAFÍSICA
Ricardo Velez Rodríguez
OS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO CONHECIMENTO NA FILOSOFIA DE EDUARDO SOVERAL
Maria Celeste Natário
O CONCEITO DE FILOSOFIA EM EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
António Braz Teixeira
GNOSIOLOGIA E ONTOLOGIA EM EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Samuel Dimas
A TEOLOGIA FILOSÓFICA DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Manuel Cândido Pimentel
DEUS E CRIAÇÃO EM EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Constança Marcondes César
AXIOLOGIA E ÉTICA EM EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Pedro Calafate
AS RELAÇÕES ENTRE A ÉTICA E A POLÍTICA NO PENSAMENTO DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
António Paim
O PENSAMENTO POLÍTICO DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Ana Paula Loureiro de Sousa
A TEORIA DA JUSTIÇA DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Norberto Cunha
SOBRE CULTURA E CIVILIZAÇÃO
Adalberto Dias Carvalho
A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NO PENSAMENTO DE EDUARDO SOVERAL
José Maurício de Carvalho
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL: OS PARÂMETROS PARA UMA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Júlio Campos
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL: UMA VIA EXISTENCIAL PARA A IGUALDADE
Manuela Brito Martins
REFLEXÃO EM TORNO DE PASCAL, FILÓSOFO CRISTÃO
José Esteves Pereira
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E O PENSAMENTO LUSO-BRASILEIRO
Renato Epifânio
EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL E A ‘FILOSOFIA PORTUGUESA’
Manuel Ferreira Patrício
ANTÓNIO SÉRGIO VISTO E INTERPRETADO POR EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Maria Leão
METÁFORAS DE REENCONTROS NO PENSAMENTO DE EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Ana Maria Moog
FILÓSOFO, MESTRE, AMIGO
Diogo Alcoforado
PEQUENA LEMBRANÇA PARA O PROF. DOUTOR EDUARDO ABRANCHES DE SOVERAL
Paulo Borges,
ESTRANHEZA
Cristiana Abranches de Soveral
BIBLIOGRAFIA

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Texto para o volume de Homenagem a Eduardo Abranches de Soveral (conclusão). Um dos próximos volumes da Colecção NOVA ÁGUIA...

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“Vamos directos para a questão filosófica de fundo que estas questões levantam. Trata-se do velho problema de saber se às entidades colectivas e genéricas pode ser atribuída a existência e, consequentemente, os predicados que lhe são próprios.
Se levarmos na devida conta o princípio dos indiscerníveis de Leibniz, haveremos de concluir que só atingem a necessária densidade ontológica para existirem os seres que possuem predicados exclusivos e intransferíveis. E assim só existem verdadeiramente seres espirituais dotados de consciência e liberdade.
Dizer, pois que a Raça [que – salienta ainda Eduardo Abranches de Soveral – não tem para Pascoaes um sentido estritamente biológico e se aproxima muito do conceito de Povo] e a Pátria, possuidoras de alma própria, existem, é certamente uma afirmação excessiva, mas não destituída de sentido. Os colectivos conaturais à condição terrena do homem, e mesmo aqueles que a cultura vai forjando, não são simples nomes ou quimeras mas possuem uma certa consistência ôntica que lhe advém do facto de possibilitarem relações inter-subjectivas que ampliam e enriquecem os homens.”
[1]

Eis a tese que queremos aqui, enfim, salientar: a Pátria amplia e enriquece o universo ontológico dos homens, ela é fonte de mais ser. Poderemos, decerto, renegá-la – a nossa liberdade permite-o, irredutivelmente. Mas isso torna-nos mais pobres, mais vácuos, quase uma pura abstração.
Ora, o homem não é, ou não é apenas, uma “pura abstracção”, mas um ser concreto, universalmente concreto, um ser que, de resto, será tanto mais universal quanto mais assumir essa sua concretude, a concretude da sua própria circunstância. A esse respeito, permitimo-nos citar um outro insigne Professor e Filósofo, Francisco da Gama Caeiro: “se admitirmos que o homem é, de algum modo, a sua circunstância – a circunstância orgânica (a par de outras, a família, a sociedade, etc.) é a Pátria[2].
Em grande medida, essa é igualmente a nossa perspectiva. Julgamos, com efeito, que o homem não é, ou não é apenas, essa “pura abstracção”, mas um ser concreto, universalmente concreto, um ser que, de resto, será tanto mais universal quanto mais assumir essa sua concretude, a concretude da sua própria circunstância. Dessa circunstância faz organicamente parte, como referiu Gama Caeiro, a “pátria”, isso que, segundo José Marinho, configura a nossa “fisionomia espiritual”[3].
Nessa medida, importa pois assumi-la, tanto mais porque, como escreveu ainda José Marinho, foi “para realizar o universal concreto e real [que] surgiram as pátrias”[4]. Neste Colóquio de Homenagem a Eduardo Abranches de Soveral, que nos seja permitido este repto final, tanto mais porque este repto é, a nosso ver, fiel ao seu pensamento. Com a ressalva de que, na esteira de Eduardo Abranches de Soveral e da sua afirmação de um “pensamento luso-brasileiro”, possamos e devamos, ao referirmos a nossa Pátria, falar da Pátria luso-brasileira, mais amplamente ainda, da Pátria Lusófona.

[1] In “Sobre o pensamento político de Teixeira de Pascoaes”, Revista da Faculdade de Letras, Porto, 2004, p. 213.
[2] AA.VV., Ao Encontro da Palavra: homenagem a Manuel Antunes, Lisboa, FLUL, 1986, p. 40.
[3] Cf., a título de exemplo, Estudos sobre o pensamento português contemporâneo, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1981, p. 19: “Os povos, como nascentes e manifestações terrestres do espírito, têm iniludível fisionomia espiritual, embora esta se configure de modo menos apreensível que o expressivo rosto dos homens singulares.”.
[4] Cf. O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra e outros textos, “Obras de José Marinho”, vol. IV, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001, p. 502.

domingo, 1 de março de 2009

Para o Colóquio de amanhã: excerto de "Eduardo Abranches de Soveral e a 'filosofia portuguesa'"

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“Vamos directos para a questão filosófica de fundo que estas questões levantam. Trata-se do velho problema de saber se às entidades colectivas e genéricas pode ser atribuída a existência e, consequentemente, os predicados que lhe são próprios.
Se levarmos na devida conta o princípio dos indiscerníveis de Leibniz, haveremos de concluir que só atingem a necessária densidade ontológica para existirem os seres que possuem predicados exclusivos e intransferíveis. E assim só existem verdadeiramente seres espirituais dotados de consciência e liberdade.
Dizer, pois que a Raça [que – salienta ainda Eduardo Abranches de Soveral – não tem para Pascoaes um sentido estritamente biológico e se aproxima muito do conceito de Povo] e a Pátria, possuidoras de alma própria, existem, é certamente uma afirmação excessiva, mas não destituída de sentido. Os colectivos conaturais à condição terrena do homem, e mesmo aqueles que a cultura vai forjando, não são simples nomes ou quimeras mas possuem uma certa consistência ôntica que lhe advém do facto de possibilitarem relações inter-subjectivas que ampliam e enriquecem os homens.”
[1]

Eis a tese que queremos aqui, enfim, salientar: a Pátria amplia e enriquece o universo ontológico dos homens, ela é fonte de mais ser. Poderemos, decerto, renegá-la – a nossa liberdade permite-o, irredutivelmente. Mas isso torna-nos mais pobres, mais vácuos, quase uma pura abstração.
Ora, o homem não é, ou não é apenas, uma “pura abstracção”, mas um ser concreto, universalmente concreto, um ser que, de resto, será tanto mais universal quanto mais assumir essa sua concretude, a concretude da sua própria circunstância. A esse respeito, permitimo-nos citar um outro insigne Professor e Filósofo, Francisco da Gama Caeiro: “se admitirmos que o homem é, de algum modo, a sua circunstância – a circunstância orgânica (a par de outras, a família, a sociedade, etc.) é a Pátria”[2].
Em grande medida, essa é igualmente a nossa perspectiva. Julgamos, com efeito, que o homem não é, ou não é apenas, essa “pura abstracção”, mas um ser concreto, universalmente concreto, um ser que, de resto, será tanto mais universal quanto mais assumir essa sua concretude, a concretude da sua própria circunstância. Dessa circunstância faz organicamente parte, como referiu Gama Caeiro, a “pátria”, isso que, segundo José Marinho, configura a nossa “fisionomia espiritual”[3]. Nessa medida, importa pois assumi-la, tanto mais porque, como escreveu ainda Marinho, foi “para realizar o universal concreto e real [que] surgiram as pátrias”[4].
Neste Colóquio de Homenagem a Eduardo Abranches de Soveral, que nos seja permitido este repto final, tanto mais porque este repto é, a nosso ver, fiel ao seu pensamento.

[1] In “Sobre o pensamento político de Teixeira de Pascoaes”, Revista da Faculdade de Letras, Porto, 2004, p. 213.
[2] AA.VV., Ao Encontro da Palavra: homenagem a Manuel Antunes, Lisboa, FLUL, 1986, p. 40.
[3] Cf., a título de exemplo, Estudos sobre o pensamento português contemporâneo, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1981, p. 19: “Os povos, como nascentes e manifestações terrestres do espírito, têm iniludível fisionomia espiritual, embora esta se configure de modo menos apreensível que o expressivo rosto dos homens singulares.”.
[4] Cf. O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra e outros textos, “Obras de José Marinho”, vol. IV, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2001, p. 502.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eduardo Abranches de Soveral e a ‘filosofia portuguesa’

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(resumo da comunição a apresentar no Colóquio de Homenagem a Eduardo Abranches de Soveral, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2 e 3 Março)

Num seu ensaio, intitulado “Pensamento luso-brasileiro”, escreveu Eduardo Abranches de Soveral o seguinte:
“(…) a história da filosofia portuguesa é, em meu entender, a história dos pensadores que equacionaram, desenvolveram e (ou) sistematicamente pretenderam solucionar filosofemas nascidos da tradição nacional, ou nela inscritos pelas suas consequências. E assim, em termos práticos de metodologia da história das ideias, convirá: a) partir do estudo dos autores e das obras sem preconceitos críticos ou interpretativos; b) integrá-los no respectivo contexto histórico e sociológico, marcando a sua originalidade e fecundidade; c) analisar-lhes, respectivamente, a exigência e a estrutura gnosiológica para aquilatar da sua qualidade filosófica; d) elaborar, por último, largos quadros sintéticos onde os vários autores e as suas obras mutuamente se situem, e seja possível conhecer a fisionomia peculiar do pensamento filosófico nacional.
Só isso permitirá que a inteligência portuguesa tome nítida consciência da sua identidade, e possa participar, na plenitude das suas potencialidades, na génese da nova teologia, do novo humanismo, da nova cosmovisão, da nova cultura, enfim, que a era tecnológica urgentemente exige.”

Eis uma excelente síntese da tarefa que cabe a todos nós – cultores da “filosofia portuguesa” – cumprir. E da tarefa que, ao longo da sua fecunda vida, o próprio Eduardo Abranches de Soveral exemplarmente cumpriu.
Ao lermos os seus múltiplos ensaios, emerge, desde logo, o seu perfil genuinamente filosófico. Ao invés de todos aqueles que, na esteira de Marx, procuram, precipitadamente, transformar o Mundo e o Homem, antes de o procurar compreender, Eduardo Abranches de Soveral procura sobretudo antes compreender – e daí, com efeito, o seu perfil genuinamente filosófico.
Não que essa compreensão o leve depois, enfim, a uma paralisia. Se, ao compreendermos o Mundo e o Homem, percebemos que o Homem e o Mundo não serão substancialmente transformáveis, nem por isso o Mundo e o Homem deixam de ter uma margem de progressão. Uma larga margem.
Daí que essa compreensão filosófica leve, coerente e consequentemente, a uma praxis. Não a uma praxis ingenuamente revolucionária, que vise transformar o que não é transformável, mas uma praxis lucidamente reformista – que reforme, que melhore, o que pode e deve ser melhorável.
Não por acaso, um dos filósofos que Eduardo Abranches de Soveral mais valorizou foi Agostinho da Silva. Não por acaso porque Agostinho da Silva foi, precisamente, um dos filósofos portugueses que mais correspondeu ao seu repto: “[que] a inteligência portuguesa tome nítida consciência da sua identidade, e possa participar, na plenitude das suas potencialidades, na génese da nova teologia, do novo humanismo, da nova cosmovisão, da nova cultura, enfim, que a era tecnológica urgentemente exige”.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre a filosofia portuguesa...

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(…) a história da filosofia portuguesa é, em meu entender, a história dos pensadores que equacionaram, desenvolveram e (ou) sistematicamente pretenderam solucionar filosofemas nascidos da tradição nacional, ou nela inscritos pelas suas consequências. E assim, em termos práticos de metodologia da história das ideias, convirá: a) partir do estudo dos autores e das obras sem preconceitos críticos ou interpretativos; b) integrá-los no respectivo contexto histórico e sociológico, marcando a sua originalidade e fecundidade; c) analisar-lhes, respectivamente, a exigência e a estrutura gnosiológica para aquilatar da sua qualidade filosófica; d) elaborar, por último, largos quadros sintéticos onde os vários autores e as suas obras mutuamente se situem, e seja possível conhecer a fisionomia peculiar do pensamento filosófico nacional.
Só isso permitirá que a inteligência portuguesa tome nítida consciência da sua identidade, e possa participar, na plenitude das suas potencialidades, na génese da nova teologia, do novo humanismo, da nova cosmovisão, da nova cultura, enfim, que a era tecnológica urgentemente exige.”
[1]

Eduardo Abranches de Soveral

[1] In “Pensamento Luso-Brasileiro”, Pensamento Luso-Brasileiro: estudos e ensaios, Lisboa, Instituto Superior de Novas Profissões, Lisboa, 1996, p. 17.

Em Março: Colóquio de Homenagem a Eduardo Abranches de Soveral