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A dimensão estética em Eduardo de Soveral (excerto)
Eugénio Andrade
(...)“O sonho, a arte e a ficção alargam, para além do que já se conhece ou experimentou, as fronteiras do Possível.” (...)
Toda a imaginação e criatividade estética de Soveral se revêem nesta frase. Ao considerar a Arte como uma criação do Absoluto, sublima esta vertente filosófica com uma dimensão ontica só possível de se encontrar em espíritos superiores, livres, inteligentes, e abertos aos valores do Absoluto, onde só a existência de uma propensão para as coisas divinas, permite penetrar e auscultar o chamamento para a criatividade.
Ao permitir entender que toda a arte nasce do nada, do nada absoluto e total, Soveral atribui ao artista uma capacidade infinita, uma imaginação superior, onde o Absoluto lhe abre todas as possibilidades de um criador, podendo a sua finitude definir contudo, os limites que o separam do poder criativo de Deus.
A arte, seja ela uma escultura, uma pintura, uma criação musical ou uma qualquer outra forma de arte, é sempre um acto potenciador de virtudes e virtualidades, só possível naqueles que foram contemplados e se encontram abertos ao poder do criador. Este poder infinito do criador, porém, está condicionado à vontade expressa do artista. Criar sem amor e por vaidade, não permite contudo produzir uma obra de arte. A obra de arte é uma produção espiritual que exige uma total dedicação do artista, por forma a que a sua potencialidade criadora possa ser contemplada com a generosidade Divina, e superar a sua negatividade e finitude.
Para Eduardo de Soveral, criar sem amor e por vaidade é criar aberrações, é produzir obras que não permitem a comunicação com o outro em virtude da não existência de amor à obra que criou. É uma trágica experiência de criação por que peca contra o espírito que lhe deu ser. O amor e a beleza são vertentes psicofisiológicas a que o artista não se pode eximir. Criar sem amor é produzir algo a que o artista não se dedicou generosamente. Criar sem beleza é perverter por orgulho e soberba o desespero do momento. A beleza é uma virtude que nos une fraterna e generosamente e nos permite participar na criação do belo e do sublime. Criar sem amor e sem beleza, é produzir obras que lamentavelmente o produtor, que não o artista, se equivocou, e na sua infecunda negatividade se encontrou no desespero das mais terríveis ilusões.
A obra de Arte que se quer obra de Arte é na sua sua profunda criatividade, imaginação, e beleza, uma produção onde se conjugam poder criador, imaginação infinita, e beleza singela, potenciadores e proporcinadores de momentos que nos possam conduzir à eternidade.
Esta visão estética da Arte, só possível num pensador cristão e católico como é o caso de Eduardo de Soveral, é de uma beleza insuperável e de uma humildade tocante, porque em toda a sua reflexão filosófica e artística se encontra esta marca profunda de um sentimento puro e sublime que nos conduz ao mais recôndito da sua subjectividade.
Partindo do Absoluto, o Autor constrói uma teoria estética onde todos os parâmetros artísticos são tratados de uma forma sublimar, permitindo ao discente ou ao leitor concordar ou discordar, mas nunca ficar indiferente à sublimação do discurso. O seu ensaio Imaginação e Finitude, inserido na publicação com o mesmo nome, é uma reflexão que nos toca pela singeleza e pureza do conteúdo.
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