Malika Mokeddem é uma força da natureza.
Nasceu na Argélia e cresceu por entre as convulsões da independência nos anos sessenta. Oriunda dos povos nómadas do deserto, seus olhos argutos na tez escura perscrutam o mundo em volta, olhando além da dunas. Desde a infância, histórias dos homens das areias – Les Hommes qui Marchent é um dos seus livros mais fascinantes – misturam-se no carinho e protecção da avó Zohra, esta tornada sedentária pelo casamento, eterna inadaptada às leis que coarctam a sua liberdade, alteram a sua percepção de espaço e de tempo.
Ouvido atento à contadora de histórias, foi a leitura depois que lhe preencheu as horas sem sono, lhe abriu os horizontes que haveria de conquistar com perseverança e denodo, com a força de alma necessária para ultrapassar a sua condição de mulher e muçulmana.
Paralelamente à sua formação na área da medicina, num percurso lento e doloroso, de esforço ciclópico, dedicou-se à escrita, denunciando a escravidão da mulher, a subserviência, a submissão ao outro sexo, a anulação como pessoa, a sua redução à função única de procriar, açaimada por uma religião falocrática.
A sua escrita é poderosa, objectiva, contundente. Mas eivada de uma sensibilidade latente, ternura, revolta, humildade. A sabedoria do deserto, as estrelas povoando a noite, o calor crescendo nas areias escaldantes, as nuvens de gafanhotos, a falta de chuva, também a neve, a luz do entardecer, as tribos de nómadas que passam, tudo aparece em pinceladas, sensações de uma vivência diferente e única.
Malika Mokeddem continua a escrever, denunciando a injustiça dos homens.
É actualmente médica urologista em Montpellier.
3 comentários:
Fiquei com vontade de a ler.
foi a leitura depois que lhe preencheu as horas sem sono, lhe abriu os horizontes que haveria de conquistar com perseverança e denodo
Esta é uma luta que travo diariamente: a de fazer os meus alunos entender o quanto a leitura lhes pode alargar os estreitos horizontes (porque nas periferias das grandes cidades também há horizontes estreitos)...
:)
beijo*
E eu também fiquei com vontade de ler.
E eu também travo uma luta constante pelo alargar de horizontes dos meus alunos através da leitura, através do olhar, ver, interiorizar.
Foi a primeira vez que visitei o vosso blogue. Gostei muito.
E por isso vou "linkar" esta vossa casa à minha.
Também fiquei com uma enorme vontade de a ler.
É com certeza uma grande mulher e uma grande escritora.
Tal como a Mariazinha e a Anabela travo essa luta quase diária pelo alargar de horizontes dos meus alunos, tentando fazer-lhes ver tudo o que de bom podem alcançar através da leitura.
Nobre função a nossa, não é, colegas?:)
Beijinhos
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