Donde vimos, para onde vamos...

Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Dicionário dos Sefarditas Portugueses
Exmos. Senhores,
A Cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» da Universidade de Lisboa tem a honra de apresentar o produto central do seu primeiro projecto de investigação avaliado internacionalmente.
Após cinco anos de trabalho de uma vasta equipa, o Dicionário dos Sefarditas Portugueses: Mercadores e Gente de Trato encontra-se terminado e será colocado à venda no início de Dezembro.
A venda nas bancas terá o preço de 55 Euros. Contudo, quem fizer a encomenda directamente para a Cátedra «Alberto Benveniste» apenas pagará 35 Euros (a que acrescem os valores correspondente aos portes, caso o exemplar não seja levantado directamente nas instalações na Faculdade de Letras).
Pode ter acesso a mais elementos sobre a nossa instituição em:
http://www.catedra-alberto-benveniste.org/
Com os melhores cumprimentos,
A coordenação do projecto,
Paulo Mendes Pinto
domingo, 29 de novembro de 2009
Colóquio Nacional: Ética, Cultura e Filosofia Prática
A APEFP vai culminar o seu 1º ano de existência com um grande evento a realizar na Faculdade de Filosofia em Braga, dia 12 de Dezembro (Sábado) e que será o seu I Colóquio Nacional com figuras destacadas a nível nacional e internacional da Filosofia e ética Prática.
A APEFP pretende que este dia seja uma demonstração de associativismo e de encontro não só pelo Colóquio pela importância que a ética e a Filosofia devem assumir na sociedade actual. APEFP que tem tido um ano de dinamismo, esforço, devoção à causa como poderão constatar no blog http://www.apefp.blogspot.com/
Respeitosamente,
O Presidente da Direcção Nacional
Eugénio Oliveira
Declaração de Valdjiu, líder dos Blasted Mechanism, de apoio ao Partido Pelos Animais
Retenho outra declaração, em pleno palco, no concerto memorável de ontem no Coliseu dos Recreios: "Agradecemos ao Professor Agostinho da Silva ter-nos mostrado que o Amor existe e dura!"
Assim é, Amigo. Pelo bem de todos os seres, sem qualquer excepção!
ESTA SEMANA, MAIS 5 LANÇAMENTOS DA NOVA ÁGUIA...
02.12.09 - 18h30: Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Apresentação de José Meirinhos (Professor da FLUP)
02.12.09 - 21h30: Clube Literário do Porto
Apresentação de Germano Silva (Jornalista da Revista "Visão")
02.12.09 - 23h00: Labirinto Bar (Porto)
Em conjunto com o lançamento da obra "Por menor que eu seja", de Maria Teresa Mota
03.12.09 - 16h30: Biblioteca Municipal de S. João da Madeira
04.12.09 - 21h00: Casa das Cenas (Sintra)
sábado, 28 de novembro de 2009
Portugal, Europa e Ocidente: o enigma do "olhar esfíngico e fatal" e o rapto de Europa

Ticiano, O rapto de Europa
“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal”
- Fernando Pessoa, “O dos Castelos”, Mensagem.
É com este poema que Fernando Pessoa abre a Mensagem, cujo nome cifra o dizer latino: Mens ag(itat) (mol)em – o pensamento/a inteligência/a mente impele/põe em movimento a massa(matéria)/multidão. O presente poema deve pois ser considerado como o primeiro momento disso que todo o livro pretende e anuncia ser: mover e orientar numa determinada direcção a massa passiva e inconsciente das coisas e/ou da mole humana, o que supõe nesta a potencialidade de deixar de o ser, despertando do sono que a equipara à matéria e pondo-se a caminho de um estado superior de consciência.
De quem fala o poema e o que diz? O poema fala da Europa, figurada, de acordo com as sugestões do seu mapa, como um ser, decerto feminino, que “de Oriente a Ocidente” se deita, apoiado “nos cotovelos”, “fitando”, ou seja, olhando fixamente para um alvo diante de si. Um dos cotovelos pousa na Itália e o outro na Inglaterra, sendo este que sustenta a mão “em que se apoia o rosto”, onde a moldura romântica dos cabelos evoca “olhos gregos”. Esse rosto, “o rosto com que fita”, “é Portugal”, o finistérreo extremo-ocidente europeu, voltado para o Oceano.
Recordemos a mitologia acerca de Europa, mulher fenícia de Tiro, cujo nome, do grego, sugere etimologicamente a imagem de um rosto ou visão amplos (ευρυ-, largo, amplo, e οπ-, olho(s), rosto). Nas duas versões acerca do seu destino, na mais conhecida é seduzida por Zeus transformado em touro, o qual, após haver conquistado a sua confiança, subitamente a rapta e leva pelo mar para Creta, onde se une com ela. Dessa união nascerá o rei Minos. Noutra versão, narrada por Heródoto, Europa é sequestrada pelos minóicos e levada igualmente para Creta.
Notemos que a Europa é, curiosamente, uma figura não indo-europeia, pois os fenícios, segundo Heródoto, provêm do Oceano Índico, enquanto que, segundo a moderna historiografia, procedem de uma região entre o Mar Morto e o Mar Vermelho. O seu nome significa em grego “vermelho” e pode provir da cor da sua pele (Agostinho da Silva refere-os como os “pele-vermelhas”. Foram uma grande potência marítima, um povo de viajantes, que fez um trânsito de Oriente para Ocidente. Quanto ao mito do rapto de Europa, sugere-nos a essência do seu destino como o de ser seduzida, descentrada, arrebatada ao seu lugar original por uma potência divina que a fecunda. Isto em Creta, lugar de mediação entre Oriente e Ocidente, entre as raízes arcaicas, matriarcais e não indo-europeias da futura cultura europeia, e o seu futuro bélico prefigurado nos invasores aqueus indo-europeus. Creta, lugar perigoso do labirinto, da errância por várias possibilidades de destino, mas com uma única saída salvadora. Lugar do risco de se ser devorado pelo Minotauro e da possibilidade de saída libertadora pelo encontro do fio de Ariana.
Portugal, com a sua larga costa voltada para o Oceano, sugerindo um perfil contemplando o infinito, é assim na verdade não apenas o rosto da Europa, mas esse mesmo “rosto” ou “visão” amplos que diz o nome Europa. Portugal é a essência da Europa, a essência que em si contêm e encerra as complexas possibilidades que no mito se entrecruzam e entremostram: a ponte e mediação entre Oriente e Ocidente, entre o arcaico e o novo, a sedução pela alteridade, o rapto, o arrebatamento e a fecundação pelo divino, a labiríntica errância entre perdição e salvação e o rosto/visão ampla que é, simultaneamente, limite e limiar, limite que se pode converter em limiar.
O que fita então esse rosto-Portugal/Europa e como o fitam os seus “olhos gregos”, que agora supomos serem cretenses? O seu “olhar esfíngico e fatal” fita “o Ocidente, futuro do passado”. Uma esfinge é um monstro, com um corpo misto de vários animais e rosto humano, como no Egipto e na Grécia, enquanto um “olhar esfíngico e fatal” é um olhar que expressa um enigma sempre letal, pois estrangula (sphingo) e devora quem não o decifrar, ao mesmo tempo que se suicida caso a decifração aconteça, como no Édipo Rei, de Sófocles. A mulher fenícia é então uma Esfinge e Portugal o rosto humano desse monstro, que se estende de Oriente a Ocidente contemplando fixamente o Ocidente/Oceano. O Ocidente, do latim occidens, entis, é o particípio presente do verbo occidere, o qual, se for intransitivo, significa morrer e, se for transitivo, significa matar. O Ocidente é assim o lugar onde se morre ou se é morto, como acontece com o sol que aparentemente aí declina e desaparece. Esse lugar é também o Oceano, o Okeanos que os gregos visionavam como o grande rio caótico e turbilhonante que corria circularmente em torno do mundo. Em qualquer dos casos, o Ocidente e o Oceano, para além da sua determinação geográfica, assinalam o aparente limite da terra firme do conhecimento e da vida, figurado na linha igualmente aparente do horizonte, cuja etimologia grega (orizón) designa “o que limita”. É isso o “futuro do passado” e é isso que a Europa-Esfinge, que “jaz […] / De Oriente a Ocidente”, amplamente “fita” com o rosto-Portugal.
Este confronto configura uma situação-limite, na qual uma das instâncias do confronto – Portugal, rosto-essência da Europa, e o Ocidente/Oceano, “futuro do passado” – não pode sobreviver. O rosto-Portugal fita, ou seja, foca unidireccionadamente, concentrando toda a energia do desejo numa visão intensa, isso que está diante de si, esse Ocidente/Oceano/Horizonte ignoto que é o “futuro” desse “passado”-Europa que Portugal ainda é, porém já na condição anfíbia de finistérrea ponta extrema, lançada para o alvo da alteridade absoluta, irredutível a qualquer identidade europeia, ocidental ou outra. Rosto humano da monstruosa Esfinge-Europa, que aqui pode figurar todo o próprio “passado” euroasiático da história do mundo, ou tudo o que ela mesma aspira a ultra-passar em si, Portugal figura o descentramento da história, da vida e da consciência europeia, e/ou da própria consciência, para o desenlace crucial do morrer ou matar que no Oceano/Ocidente se simboliza. Portugal incarna, no rosto/visão amplos descentrados para a alteridade infinita, a própria essência da Europa, ou seja, a sua sedução, rapto e arrebatamento jamais terminados e apaziguados, a própria condição da sua divina fecundação e criatividade.
Não esqueçamos que neste quadro da Europa que abre a Mensagem se destacam explícita e implicitamente os quatro momentos-figuras histórico-civilizacionais que Pessoa identifica nos quatro impérios “passados” e perecíveis cuja superação o Quinto Império simboliza: “E assim, passados os quatro / Tempos do ser que sonhou, / A terra será teatro / Do dia claro, que no atro / Da erma noite começou. // Grécia, Roma, Cristandade, / Europa – os quatro se vão / para onde vai toda idade. / Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?” (“O Quinto Império”). No poema inaugural da Mensagem, a Grécia está representada pelos “olhos gregos”, Roma e a Cristandade pela Itália e a Europa por si mesma e pela Inglaterra, que personifica o quarto império noutros textos, em prosa, de Pessoa.
O mais fundo enigma reside, contudo, no facto de Portugal ser o “rosto”-“olhar esfíngico e fatal” com que a Europa fita o Ocidente. O que quer dizer que o enigma mortal não está propriamente diante, no Ocidente/Oceano, mas antes nesse que os fita. Portugal, como rosto-essência da Europa, é o próprio esfíngico enigma que, numa inesperada inversão da situação aparente, é suposto ser também contemplado pelo Ocidente/Oceano. Quem levará quem à morte? Paralisará e devorará Portugal, rosto-essência da Europa, o Ocidente/Oceano, caso este não decifre o enigma que transporta? Porá Portugal, rosto-essência da Europa, fim à vida, caso o Ocidente-Oceano o decifre? Morrerá o futuro e a alteridade às mãos do passado e do mesmo ou serão antes estes a perecer perante aqueles?
Toda a lógica e intencionalidade da Mensagem e do pensamento pessoano apontam para a segunda possibilidade. E tudo se esclarece se considerarmos que em Portugal se figura a impossível coexistência das duas figuras e a encruzilhada crucial na qual uma tem de ser sacrificada. Talvez seja precisamente esse o enigma. Tudo depende do que vai predominar em Portugal - que Pessoa vê como a quinta-essência do complexo de possibilidades que é a própria Europa - e, a um nível mais fundo, na possibilidade universal do homem e da consciência que Portugal aqui figura (como Israel, a Cristandade ou o Islão nas respectivas culturas): ou a asfixia e deglutição da adveniente alteridade pela monstruosa mesmidade passada ou o autocolapso desta no desentranhamento e desvendamento do secreto fito a que no mais íntimo aspira - morrer e devir, autotranscender-se trespassando a linha do horizonte e revelando a sua mera aparência, converter e revelar o limite como limiar. Ou o quarto ou o Quinto Império, como consumação do íntimo fito da consciência europeia e da própria consciência, tanto mais comprovado quanto mais aparente e visceralmente o rejeita: ser, agora e sempre, divinamente seduzida, raptada, arrebatada e enfim fecundada.
Labirinto que é, talvez só nesse rapto, só nesse abandono e entrega à alteridade absoluta, possa encontrar o fio de Ariana que a resgate de morrer devorada pelo Minotauro, ou seja, autodevorada pelo próprio medo e desejo de segurança agressivos que este, tal como a Esfinge, personificam.
(texto em elaboração)
A situação cultural hoje!?
País pequeno, grande cultura?
País de povo em ponto grande? Ou país de pequeninos em Portugal? Grandes lá fora?
Há escolas de grandes? Pequenas?
Artes casam com educação? Em que tempos e territórios?
Quantas escolas de pequenos nos pensam?
Pensa-se? Escreve-se? Pinta-se? Compõe-se? Pratica-se? Age-se? Coze-se? Cose-se?
Bordados encetados e bem acabados? Cerzidos? Pespontos bem certos?
Praticamos culturas? Histórias da vida de cada um? Cerimónias e tempos? Nomes!?
Que memorizamos? Que memorizámos e ainda ritualmente revemos?
Trabalhos prosseguidos à custa de cantos? Noites vividas escutando contos? Que mais histórias se ouve? Anedotas?
Quantos provérbios se sabe de cor e salteado? Lengalengas? Trava-línguas?
Quem nos coloca adivinhas em frente? Qual é a nossa frente?
O mar existe em nossa frente? Ou mais terra do que mar?
Qual o lado que mais interessa? Interior? Ou exterior? Fora? Ou dentro? Cima ou baixo?
Fala-se disso? Disso… o quê?
Quem fala connosco? A terra? E os rios e as rias?
Fala-se com a terra? Com o mar, ria e rio? Onde? Que água nos rega e alimenta?
Que alimentos mastigamos? Com quem aprendemos a comer?
O companheiro junto a nós? Ou alguém que vem de cima?
Conversa-se no céu? Como e porquê?
Céu é dentro? Alto ou baixo?
Respigam-se restos? Para onde vão as sobras? Para as galinhas?
Que galinhas nos chocam? Há galinhas chocas? E quantos galos nos governam?
Vêem-se águias por aí? Velhas? Novas?
Que mais é moderno nesta sociedade? Coisas antigas?
Que tradições ainda vivem sem darmos por elas?
Quando se escreve ou pensa ou dorme ou acorda, sabe-se que o passado anda por aí a espreitar?
De que serve estar atento?
Como reparamos a falta que tínhamos cometido por não ter reparado naquilo que devíamos reparar?
Reconhecemo-nos sendo aquilo que somos? Ou parecemos?
Longe ou perto somos grandes?
Gostamos de ser quem e quando somos?
Somos quem? Qual é a situação cultural hoje?
*
O que tem o IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa – a ver com esta conversa de Ana Paula Guimarães sobre situação cultural hoje?!
Nós, IELTsadores e IELTistas, raramente somos convidados para nos pronunciarmos sobre situação cultural hoje. Desta vez, foi a directora chamada a proferir sua sentença. Como não sabe responder…perguntou. Faz mal agir assim? Ou assado… era melhor? Ah! Ainda bem, a IELTsar é que a gente se entende.
Nós, IELTsadores e IELTistas, temos tentado ir IELTsando para ver se nos entendemos connosco e convosco, vós, os de lá-fora-das-portas e vós, os que vão cuidando da terra em redor da sua criação como quem resguarda os bens e os haveres.
Nós, IELTsadores e IELTistas, tentamos lançar, humildemente, húmus perto da casa e depois ficar a prever florescimento de qualquer planta um pouco mais longe (à maneira de compor bolas de sabão… tentando que vivam distantes).
Nós, IELTsadores e IELTistas, tencionamos continuar a procurar fios que nos unam e nos separem, a detectar sinais em matérias demasiado próximas e, no seu tempo, a dá-los a ver aos outros, os que não somos nós e que bem gostaríamos de ver entusiasmados.
Será que nós, IELTsadores e IELTistas, conseguiremos movimentar um pouco a situação cultural hoje-em-dia na rua onde moramos? Se não conseguirmos “mudar a vida de quem vive mais longe, pelo menos, que consigamos mudar a vida de quem vive ao pé de nós”, recados deixados algures.
É assim? Basta?
Sabemos que não chega mas há que começar, continuar. Começar outra vez. E prosseguir.
P.S.: Se quiser perder (ou ganhar) um tempinho – estamos public(it)ando os nossos gestos diários –… espreite algumas acções desenvolvidas pelo referido IELT – Instituto de Estudos de Literatura Tradicional:
www.ielt.org
www.memoriamedia.net
www.grandepequeno.com
Ana Paula Guimarães
Blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal
O blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal é um projecto de dar voz às nossas melhores aspirações a um país melhor para todos, em que a primazia seja dada não ao combate contra os outros, mas à assunção da nossa responsabilidade por sermos a diferença que julgamos faltar a Portugal e ao mundo e, ao mesmo tempo, por concebermos e propormos as transformações que julgamos necessárias para que a nossa comunidade mais imediata se torne mais consciente, solidária e feliz.
Este projecto visa dar voz às ideias dos cidadãos acerca do melhor sentido a dar à nossa vida colectiva, livres de compromissos partidários e dos grupos em luta pelo poder político-económico. Independentemente de qual for o resultado desta iniciativa, o simples facto de ela existir é já o seu triunfo, pois significa que não passámos pela vida indiferentes e distraídos da nossa vocação a enriquecermos a existência com conhecimento e amor.
Divulguemos esta iniciativa e saiamos da passividade e conformismo em que andamos. A esfera armilar é o símbolo de um Portugal-Universo, aberto a tudo e a todos, a uma cidadania planetária e cósmica.
Saudações
umoutroportugal.blogspot.com
Hoje, às 15h, na Biblioteca Municipal de Sesimbra...
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Homenagem ao professor Conceição Silva
Um velho homem novo de cultura
Lúcia Helena Alves de Sá
Ao perto e ao longe, ocorreu-me enunciar a personalidade singular, a extraordinária inteligência acostumada ao pensamento matemático, à agudez mental e à argumentação racional de José Luís Poças Leitão Conceição Silva para que não viva na névoa da memória de um passado histórico que ainda se faz recente tanto para Portugal como para o Brasil.
Conhecer o professor Conceição Silva, como é mais comumente chamado, tem sido um encanto e uma educação para alguns jovens estudantes da Universidade de Brasília que nele redescobriram certa suprema elegância da Vida ávida de saberes genuínos. Envolvente sempre — porque não perdera, apesar de seus 93 anos, a candidez de menino — e livre de qualquer dogmatismo ou orgulho de casta filosófica mantém-se todo ouvido para as indagações sobre a História de Portugal e de seu multifacetado painel cultural que fora aberto para toda Humanidade.
Qual o saber especial, qual a riqueza de ideias que tem ajudado nossos pensamentos a surgir dos embaraços, tornando-nos mais reflexivos e, inesperadamente, mais inventivos e sedentos pelas histórias e livros que guardam nossas origens ancestrais da grei portuguesa. Isto porque Conceição Silva é aquela espécie rara de educador que extrai de uma pessoa algo que a torne renovada, libertando-lhe potencialidades criadoras. E, para inseri-lo na precisão do termo que lhe é mais adequado, ele exerce a “[...] anagogia, o caminho para cima, [...].”.
Detentor de conhecimentos vários, como Historiografia Portuguesa, Arquitetura Popular Portuguesa, Tecnologia de Alimentos, Questão e Ordenamento Agrário e Reforma do Setor Primário da Economia do Brasil; professor de física e matemática, agricultor e economista agrário, engenheiro geógrafo, astrônomo, historiador, escritor, orador, entendedor de teatro e perito em música, violinista... Enfim, um velho homem novo de cultura que “[...] é ledor dos livros, mas é também ledor das coisas, dos fatos e dos homens. Tudo relaciona; integra tudo; não desperdiça uma via ou um momento sequer de conhecimento: [...], e, sobretudo, quando atento a um quadro ou a um poema, o que medita, imagina, intui, detecta.”. Culto de cultura (façamos valer as redundâncias) imensa e vária, Conceição Silva “[...] vê como se movem os homens, e enxerga, como poucos, as forças diabólicas, infernais, que endeusam o Mercado e movimentam a Sociedade Global.”.
Não obstante outros adjetivos, o professor Conceição é o estudioso que interpretou de modo único o enigma dos Painéis que continuam a manifestar-se nas Festas do (Divino) Espírito Santo no Brasil e na Ilha da Madeira, redescobrindo e ressignificando a perspectiva do Império ou do Reino da fraternidade ecumênica pictoricamente inscrito em uma das [...] maiores obras (se não a maior) do acervo [do Museu de Arte Antiga de Lisboa]: o famoso Políptico de São Vicente, também conhecido por Políptico de Nuno Gonçalves, Políptico do Infante Santo, Políptico das Janelas Verdes, ou mais recentemente Políptico da Veneração de São Vicente. As seis tábuas, datadas do século XV, que constituem a magnífica obra-prima, e na qual estão primorosamente pintadas 60 figuras de ar majestoso e hierático, transformaram-se, com o correr dos anos, em verdadeiro ícone artístico-cultural, ideológico e até mesmo político da história portuguesa.
Conceição Silva, também, foi um homem de ação política. Em Portugal, desde os idos anos de 1932, já integrava o Partido Comunista que iria, tempos depois, lutar contra a Ditadura Fascista de Salazar. Foi preso duas vezes: uma prisão ocorreu em 1947, devido a sua participação no Movimento de Unidade Democrática Juvenil, permanecendo por dois meses no Forte de Caxias junto com Mário Soares; a outra, em 1949, sendo, inclusive, proibido de se manifestar verbalmente pela Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE). Após um interregno nas atividades políticas, entre 1959 até o início de 1962, juntou-se ao ataque ao Quartel de Beja, intento fracassado o que o levou a ser preso em 2 de janeiro de 1962 por mais dois meses, no Aljube, em Lisboa, como implicado na tentativa de Golpe. Um papel encontrado no bolso de um dos revolucionários mortos no ataque ao quartel tinha uma lista dos políticos da Oposição de Beja que seriam convocados para a formação de um Governo Provisório presidido por Humberto Delgado. O nome de Conceição Silva era o primeiro da lista.
A partir de 1962 teve a vida complicada por ações da PIDE e por ordem da polícia, em 1964, foi demitido do cargo de professor do Ensino Técnico de Évora. Torna-se, então, de 1964 até os primeiros meses de 1967, Tarefeiro do Centro de Estudos de Economia Agrária da Fundação Calouste Gulbenkian. Mantendo-se ainda em dificuldades devido a ações políticas, Conceição Silva deixa Portugal e emigra para o Brasil e, por intermédio de Agostinho da Silva, chega a Brasília, em 26 de maio de 1967, para trabalhar no Centro Brasileiro de Estudos Portugueses. Permaneceu nesse Centro como Diretor Executivo e Coordenador Substituto até 17 de abril de 1972 quando foi fechado definitivamente pelo governo militar que se instalou no Brasil em 1964.
Depois de ter estado naquele Centro desempenhou atividades várias, todas elas sempre relacionadas a assuntos de agricultura e produção agropecuária no Brasil. Em 17 de abril de 1991, Conceição Silva foi demitido do Ministério da Agricultura pelo Presidente Fernando Collor de Mello e obteve apenas em 1992 a aposentadoria do cargo de professor da Universidade de Brasília, conforme o amparo da anistia concedida pela Constituição Federal do Brasil de 1988 àqueles que foram perseguidos pela Ditadura Militar.
Daquela trajetória militante para o fim da opressão em Portugal e o estabelecimento de uma Reforma Agrária que se conjugasse a novidade tecnológica com a forma de trabalho coletivo comunitário, recorda-se Conceição Silva, em uma de suas conversas livres9, que — em 1975, depois do golpe revolucionário de 25 de abril de 1974 (a Revolução dos Cravos) que derrubou o regime pró-fascista de Marcelo Caetano, herdeiro de Salazar — realizou-se no Alentejo a verdadeira Reforma Agrária que ficou conhecida internacionalmente como um dos acontecimentos políticos mais importantes do século XX. Os trabalhadores rurais ocuparam todos os latifúndios, muito de acordo com a propaganda e esclarecimento político a que se dedicara desde 1945 até 1967.
A ação político-social do professor Conceição Silva só foi reconhecida em 1999 quando, no dia 25 de abril, foi dado o seu nome a uma rua da cidade de Beja, relembrando aos mais velhos e deixando registrado para a geração jovem o seu trabalho como político antifascista que durou 35 anos (de 1932 a 1967) e as suas propostas de alteração do sistema tecnológico da agropecuária no Alentejo. Hoje, pode-se afirmar que a luta pela Reforma Agrária foi um sucesso, porém, só se podendo confirmar que ela não mais existia em Portugal a partir de 1991.
O modelo adotado na prática — organização de cooperativas de trabalhadores rurais ocupando as terras e trabalhando coletiva e comunitariamente por conta e risco próprios — foi aquele que o professor propusera durante anos e que, no Brasil, foi apresentado por ele, sucessivamente, aos Ministros da Reforma Agrária e Desenvolvimento durante toda a sua estadia no Ministério responsável pela reforma e desenvolvimento agrários. Além dessas intervenções, de modo constante, apresentou sugestões e propostas a políticos influentes dos Governos de Fernando Collor de Mello a Fernando Henrique Cardoso, senadores, deputados e outros na liderança política brasileira, sobretudo, da oposição.
Desse modo, Conceição Silva foi uma força formativa atuante que — mesmo sob a incompreensão de pessoas desprovidas de qualquer preparado para a diversificação de culturas e manutenção e geração da biomassa natural— deixou evidente seu esforço modelar de socialização, comunitarismo e cooperativismo dos bens agrários e, para usar o termo político, isento de populismo. Embutida nele, como um projeto utópico, melhor dizendo, tópico porque é de todo realizável, está a conversão — a reforma — do que até hoje se tem elaborado de melhor em relação à exploração agropecuária na qual os inconvenientes característicos na prática da agricultura moderna generalizada nos países de sistema capitalista são evitados.
Cabe a nós, agora, trazer a lume a máxima do pensamento de Conceição Silva que reaviva esperanças e nos põe de imediato com a futura-Idade do Brasil, esta feita para se “[...] festejar o advento da Nova Era de Fraternidade Universal.”, estreitamente vinculado à efetiva reforma agrária que deve se processar para todos indistinta e igualitariamente. Anunciou o professor que
O espírito da “não violência” para qualquer ser vivo no conjunto do meio ambiente natural do qual o Homem faz parte, orientou a elaboração [de sua] proposta de uma nova metodologia para exploração do campo pela atividade agropecuária. [Acredita] sinceramente ser o Povo Brasileiro o “eleito” para começar o processo de transformação cujo primeiro passo consiste na adoção da metodologia proposta. Tudo o resto, tão desejado por todos, virá por acréscimo, de forma natural e pacífica.
Será assim cumprida a “Profecia” expressa na representação da Cena dos Painéis, do Rei D. Afonso V de Portugal, cuja execução artística terminou [a mais de] 515 anos.
Assim, Conceição Silva conseguiu cumprir sua missão de político de opiniões “[...] pouco ortodoxas sobre reforma agrária que tem defendido mas não tem podido executar [...]” por incompetência e ingerência de Governos. Conforme ele próprio,
[...] estava fadado a permanecer no Brasil e continuar, de qualquer maneira cumprindo um destino que poderia ter importância quanto ao estudo e tentativa de resolução dos problemas sociais do povo brasileiro, indubitavelmente relacionados com a reforma do Setor Primário da Economia a qual deveria começar por uma verdadeira Reforma Agrária. [...] agora pouco mais haveria a fazer do que levar à prática tanto quanto possível, experiências e demonstrações da viabilidade e garantia de acesso do sistema proposto. Como norma básica apenas deveríamos lembrar o seguinte:
Com trabalho assalariado, na exploração dos recursos naturais de produção, não há condições de êxito real,portanto: organizar os trabalhadores e criar as condições de se poder trabalhar em regime coletivo-comunitário por conta e risco próprios sem patrões nem assalariados, isto sem preocupações de caráter político partidário.
Esse velho homem novo de cultura, então, permance no Brasil há 42 anos e continua sendo, sobretudo, um educador eivado de espírito de fraternidade ecumênica e espiritual que bem ilumina o pensamento de nossas ideias e nos leva a perceber um mundo outro e novo do qual não fazíamos ideia alguma.
"Segredos da Descoberta da Austrália pelos Portugueses"

NOVAS REVELAÇÕES COMPROVAM A PRESENÇA DE NAVEGADORES PORTUGUESES NA AUSTRÁLIA MAIS DE 200 ANOS ANTES DA COROA INGLESA
Baseando-se em dois mapas de 1547 recentemente descobertos numa biblioteca em Los Angeles, nos Estados Unidos, os autores defendem a hipótese, solidamente sustentada pela cartografia quinhentista e pela toponímia, da descoberta da Austrália e, muito provavelmente, da Nova Zelândia, pelos navegadores portugueses.
Apesar desta teoria ser já defendida por alguns investigadores escoceses e ingleses desde o séc. XVIII, a presente obra revela novos dados que fortalecem e clarificam a descoberta portuguesa, que terá ocorrido mais de dois séculos antes do Capitão James Cook reclamar, em 1770, a posse do vasto território australiano para a coroa inglesa.
Esta obra inclui uma ampla quantidade de antigos mapas, dos quais se destaca um, de 1598, de origem inglesa – aqui reproduzido a cores – contendo informações inéditas que revelam ser uma cópia de portulanos portugueses anteriores.
Infelizmente, os mapas secretos lusos não chegaram até aos nossos dias porque, muito provavelmente, foram ocultados ou destruídos pela coroa portuguesa, que quis manter afastados os seus rivais, particularmente os espanhóis.
Todas estas descobertas, para além de revelarem informações inéditas sobre a verdadeira amplitude dos Descobrimentos Portugueses, revelam a importância dada pela cartografia lusa ao Extremo Oriente.
PARA ALÉM DA HISTÓRIA OFICIAL DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES, EXISTE UMA HISTÓRIA SECRETA, ONDE PROLIFERAM AS RIVALIDADES, OS SEGREDOS DA COROA E AS ESTRATÉGIAS POLÍTICAS
Inclui Reprodução a Cores de um Mapa Inédito da Austrália do Séc. XVI
Para mais informações: www.zefiro.pt
Blog Revista Lusofonia
Caros Colaboradores.
Esta no ar a edição de Novembro completa do Blog Revista Lusofonia. www.revistalusofonia.wordpress.com.
artigos:
· Os dois principais Focos do Instituto Histórico de São Paulo
· Diálogo com os leitores
· Leituras de Férias por João Alves das Neves
· A Arte da Dubiedade como previsão do Futuro Por Dalila Teles Veras
· Novo Acordo Ortográfico por Pedro Silva
· O Mito da Liberdade de Expressão Por Isabel Gouveia
· Por Portugal – e Mais Nada por José Campos e Sousa
· Profissão do Futuro no País do Futuro! por Fabiola Neves Nese
· Notas ecomentários
- Livro de Cyro de Mattos é publicado na Alemanha
- A cultura na rede mundia
- Fernando Pessoa, Salazar e o Estado Novo
Boa leitura a todos,
Fabiola
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Na Biblioteca Nacional, em Lisboa...
Antonio Machado e Fernando Pessoa
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A meio caminho entre esta soberania vazia, sem id-entidade e logo sem alteridade, irredutível a qualquer relação mesmo-outro, e a absoluta identidade heterofágica para que tende o sonho de ser Deus-tudo em Bernardo Soares, o Pessoa ortónimo vive a experiência heteronímica como imitação de uma singular criação divina do mundo. Num poema escrito em 1930, Pessoa parte da assunção do querer “sentir tudo / de todas as maneiras” para uma contemplação do mundo em que o sujeito, em vez de possuir o que vê, se dispersa em cada coisa que contempla e em cada pensamento que o “torna já diverso”. Sendo “estilhaços do ser” as “coisas dispersas” do mundo, a intensa atenção que lhes dedica converte-se também numa fragmentação da “alma em pedaços / E em pessoas diversas”, que revelam o erro de alguém se julgar “próprio”, dotado da unidade de uma identidade senhora de si: “Quem se crê próprio erra, / Sou vário e não sou meu”. Sendo as “coisas” do mundo não só “estilhaços” ontológicos mas também gnosiológicos, não só do “ser”, mas ainda “do saber do universo”, o sujeito assume não ser senão os seus “pedaços, / impreciso e diverso”. Perante a irredutível alteridade de quanto sente e a ausência de si mesmo (“de mim sou ausente”), na medida em que o sujeito deixou de ser um centro unificado na relação consigo e com o mundo, interroga-se “como é que a alma veio / A acabar-se em ente?”, o que entendemos como a perplexidade perante a falácia da representação dominante da “alma” como uma id-entidade que plenamente se possui. É aqui que proclama a descoberta deste outro modo de ser, plural e não singular, múltiplo e não uno, como uma correspondência à criação divina, entendida heterodoxamente como uma pluralização do próprio Deus em diversas modalidades de si: “Assim eu me acomodo / Com o que Deus criou, / Deus tem diverso modo / Diversos modos sou”. A explosão e fragmentação heteronímica é na verdade uma imitatio Dei, pois Deus ao criar retira “o infinito / E a unidade” ao “que é”, o que deixa supor que a totalidade dos existentes não é senão a plural modalização de um Deus que ao criar se finitiza e multiplica, como no sentido da divina autotransgressão criadora em Teixeira de Pascoaes.
A heteronímia, sendo afinal a protagonização e experiência íntima de uma divina heterogeneização, mostra a aventura pessoana como um outro modo de ser Deus, um Deus em autopoética alteração criadora, dinâmica e potencialmente extensiva a outros sujeitos, que assim, repetimos, medeia entre o absoluto vazio trans-divino do “King of Gaps” e a absoluta divinização do sujeito em Bernardo Soares. A experiência desta humana e divina heterogeneização parece aproximar o pensamento heteronímico de Pessoa desse “pensamento mágico” de Martín que veicula a “essencial heterogeneidade da substância única”, a “imanente outridade (otredad) do ser que se é”, o quieto e “perpétuo câmbio” da própria substância, o “câmbio substancial”. Isto, contudo, não por via da “sede metafísica do essencialmente outro”, ou seja, do “amor”, como “autorevelação” da heterogeneidade do ser, como acontece no apócrifo machadiano. Se o amor é, tanto em Machado como em Pessoa, uma fantasia e uma impossibilidade, ao menos em Machado ele revela a deiscente verdade do ser.
MIL: NOVO BLOGUE, NOVO DEBATE, NOVA RECOLHA DE LIVROS
O MIL TEM AGORA UM BLOGUE:
http://www.mil-hafre.blogspot.com/
Caso queira participar, envie-nos um e-mail para adesao@movimentolusofono.org
EM POUCOS DIAS, JÁ COM MAIS DE MIL VISITAS...

Do homem honesto e do homem vulgar
- Confúcio, Analectos, II, 14.
FIB em vez de PIB: o Reino Budista do Butão apresenta ao mundo a mais genial criação político-social dos nossos tempos
FELICIDADE INTERNA BRUTA (FIB) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um pequeno país do Himalaia. O conceito nasceu em 1972, elaborado pelo rei butanês Jigme Singya Wangchuck. Desde então, o reino de Butão, com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em prática, e atraiu a atenção do resto do mundo com sua nova fórmula para medir o progresso de uma comunidade ou nação. Assim, o cálculo da “riqueza” deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas.
FIB é baseado na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.
As nove dimensões do FIB são:
1) BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
Avalia o grau de satisfação e de otimismo que cada indivíduo tem em relação a sua própria vida. Os indicadores incluem a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, e analisam a auto-estima, sensação de competência, estresse, e atividades espirituais.
2) SAÚDE
Mede a eficâcia das políticas de saúde, com critérios como auto-avaliação da saúde, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercício, sono, nutrição, etc.
3) USO DO TEMPO
O uso do tempo é um dos mais significativos fatores na qualidade de vida, especialmente o tempo para lazer e socialização com família e amigos. A gestão equilibrada do tempo é avaliada, incluindo tempo no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais, etc.
4) VITALIDADE COMUNITÁRIA
Foca nos relacionamentos e interações nas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado.
5) EDUCAÇÃO
Leva em conta vários fatores como participação em educação formal e informal, competências, envolvimento na educação dos filhos, valores em educação, educação ambiental, etc.
6) CULTURA
Avalia as tradições locais, festivais, valores nucleares, partipação em eventos culturais, oportunidades de desenvolver capacidades artísticas, e discriminação por causa de religião, raça ou gênero.
7) MEIO AMBIENTE
Mede a percepção das cidadãos quanto a qualidade da água, do ar, do solo, e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de coleta de lixo, etc.
8) GOVERNANÇA
Avalia como a população enxerga o governo, a mídia, o judiciário, o sistema eletoral, e a segurança pública, em termos de responsibilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos com as decisões e processos políticos.
9) PADRÃO DE VIDA
Avalia a renda individual e familiar, a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habitações, etc.
Publicado por João Read Beato em:
umoutroportugal.blogspot.com
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Por entre as bátegas...
Os nossos parabéns ao Miguel Real, colaborador da NOVA ÁGUIA desde a primeira hora...

Miguel Real vence Prémio Jacinto do Prado Coelho 2008
Segundo Liberto Cruz, presidente da Associação Portuguesa dos Críticos Literários e membro do júri, ao lado de Manuel Frias Martins e Carlos Jorge Figueiredo Jorge, o livro de Miguel Real foi distinguido «pelas reflexões brilhantes e pela interpretação que o autor faz da obra produzida por Eduardo Lourenço entre 1949 e 1997».
Eduardo Lourenço figura entre os anteriores galardoados com o Prémio Jacinto do Prado Coelho, que é atribuído há mais de 20 anos e já coube também a Óscar Lopes, Vergílio Ferreira, António José Saraiva, José Gil, Carlos Reis e Maria Alzira Seixo, entre outros.
O galardão, que consagra as modalidades de ensaio, crítica, história da literatura e teoria da problemática literária, tem o valor pecuniário de 5000 euros e é patrocinado pela Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas.
O Prémio Jacinto do Prado Coelho 2008 será entregue a 15 de Dezembro, na Sociedade Portuguesa de Autores.
Lusa
Liquidação total da livraria Buchholz
Sob a designação de “Livros Únicos s Preços Únicos”, a partir do próximo dia 1 de Dezembro, na extinta Livraria Buchholz, também conhecida como Livraria Alemã, vai-se realizar uma Liquidação Total dos stocks existentes na loja.
Esta iniciativa constitui uma oportunidade única para encontrar livros únicos que são verdadeiras raridades, a preços imbatíveis. A oferta é constituída por uma enorme diversidade (dezenas de milhares de livros), destacando-se em particular o stock de livros estrangeiros a preços únicos de liquidação. Os livros estarão à venda a partir de 1€.
Esta acção irá decorrer durante o mês de Dezembro, de 2ª feira a Domingo, das 10h00 às 20h00, nas antigas instalações da Livraria Buchholz, junto ao Marquês de Pombal, na Rua Duque de Palmela nº 4 em Lisboa.
O melhor serviço que se pode prestar a Portugal e à comunidade lusófona
É assim que se acede a uma dimensão civilizacional e é assim que se faz de uma pátria e de uma cultura um suporte e não um obstáculo para a evolução mental dos indivíduos e da sociedade. Essa é hoje a tarefa de um patriotismo universalista, que seja um abraço armilar ao mundo e ao universo, humano e não-humano.
Esse é hoje o rumo de um Outro Portugal.
umoutroportugal.blogspot.com
Hoje às 19h30 na Loja Rosa-Cruz Amorc (Lisboa)
HOJE, MAIS 2 LANÇAMENTOS DA NOVA ÁGUIA...
25.11.09 - 18h30: Sociedade de Língua Portuguesa (Lisboa)
25.11.09 - 19h30: Loja Rosa-Cruz Amorc (Lisboa)
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Grupos de trabalho do Manifesto "Refundar Portugal" e novo blogue Outro Portugal
Grupo 1 – Comunicação
Sofia Costa Madeira (coordenadora)
Luís Resina
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges
Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais
Rui Almeida
Vera Fonseca
Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida
Grupo 4 - Política
David Amaral
Mário Nuno Neves
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Feitais
Fernanda Gil
Zé Leonel
Joana dos Espíritos
Duarte Soares
Manuel João Croca
Paulo Borges
Grupo 6 - Saúde
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro
Paulo Antunes
Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões
Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - e coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)
umoutroportugal.blogspot.com
Maio de 2010...
COLLOQUE INTERNATIONAL
Écrire le passé et construire l’avenir
Intellectuels, penseurs, écrivains, regards croisés
Portugal-Brésil
1910-2010
sous l’égide
la Commission Nationale pour les Commémorations du Centenaire de la République Portugaise (1910-2010) et dans le cadre du projet
República das Letras
coordonné par Helena Carvalhão Buescu
sous le Haut patronage de
Son Excellence Monsieur Francisco Seixas da Costa
Ambassadeur du Portugal à Paris
à
l’Université Paris Ouest Nanterre La Défense
et à l’Université Rennes 2 Haute Bretagne
27- 29 mai 2010
organisé par
CRILUS/ Nanterre (EA 369) et PRIPLAP/ERIMIT-Rennes 2 (EA 4327) )
en collaboration avec
l’Institut d’études brésiliennes de la Faculté de Lettres de l’Université de Lisbonne
le Centre de Recherches Luso-brésilien du Real Gabinete de Leitura de Rio de Janeiro ,
l’Instituto Camões, les lecteurs de portugais à Paris et le Centre Culturel Calouste Gulbenkian à Paris
En 2010, le Portugal fête le premier centenaire de la proclamation de la République, instaurée le 5 octobre 1910. Le rôle joué par les intellectuels portugais dans le processus qui culmina avec la chute de la monarchie est indiscutable. Ces commémorations nous donnent l’occasion d’étudier et de comprendre le projet politique, idéologique, culturel et esthétique que des penseurs, écrivains et hommes de lettres de l’envergure de Teófilo Braga, Manuel Teixeira Gomes, António Patrício, Aquilino Ribeiro, António Sérgio, Jaime Cortesão, pour n’en citer que quelques-uns, inspirèrent.
Par ailleurs, ces commémorations peuvent également donner lieu à une étude plus approfondie et élargie de la figure de l’homme de lettres ou de l’intellectuel en tant qu’homme de la res publica et à une interrogation sur la nature des rapports entre vie culturelle latu sensu et vie politique au Portugal et au Brésil. Ce, tant au cours de la période de l’implantation proprement dite de la République portugaise que durant tout le XXe siècle ; rappelons que le 5 octobre 1910, Hermes da Fonseca, fraîchement élu président du Brésil, se trouvait en voyage officiel au Portugal.
Les relations profondes et complexes entre les intellectuels portugais et brésiliens, aussi bien durant la période républicaine portugaise (1910-1926) correspondant, au Brésil, à la deuxième phase de la República Velha , que sous les Estados-novos, d’inspiration fasciste, portugais et brésilien, virent émerger et prendre corps revues, journaux, œuvres littéraires mais aussi certaines polémiques. Les échanges de correspondances entre l’intelligentsia des deux pays furent nombreux et les influences mutuelles, fructueuses.
Les projets liés à l’éducation, ceux relatifs à la construction d’une « nouvelle » conscience ou identité nationale ou encore la mise sous tutelle et la normalisation des activités des intellectuels suscitèrent des débats, des convergences et des divergences entre des penseurs et hommes de lettres des deux côtés de l’Atlantique …
Ce colloque s’inscrit dans le prolongement de celui réalisé en 2005 à Paris/Nanterre : Au carrefour des littératures brésilienne et portugaise : influences, correspondances, échanges (XIXe-XXe siècles) et de celui organisé du 24 au 26 mai 2010, dans le cadre du « Projecto República das Letras » : Literatura Portuguesa : a construção do passado e do futuro (dirigé par les Professeures Helena Carvalhão Buescu et Teresa Cerdeira). Il cherchera, à travers l’étude des modalités de relation entre la figure de l’intellectuel et la société, à mettre au jour des liens et des influences, des discordances et des complicités ; bref, des passerelles entre la vie littéraire et la vie publique au long du XXe siècle, aussi bien au Portugal qu’au Brésil.
La commission scientifique acceptera des propositions de communication en portugais et en français. Doivent y figurer : le titre, un résumé d’une dizaine de lignes et une courte présentation bio bibliographique de l’auteur (5 lignes). Elles devront être envoyées à l’adresse suivante avant le 15 décembre 2009 :
republica2010@gmail.com
Commission scientifique et d’organisation:
André BELO (Université de Rennes 2-Haute Bretagne)
José da COSTA (Université de Rennes 2-Haute Bretagne)
José Manuel DA COSTA ESTEVES (Chaire Lindley Cintra de l’Institut Camões-Université Paris Ouest Nanterre la Défense)
Claudia PONCIONI (Université Paris Ouest Nanterre la Défense)
Comité scientifique :
Vania CHAVES (directrice de l’Institut d’Etudes Brésiliennes , Université de Lisbonne)
Rita GODET (directrice PRILAP, Université de Rennes 2-Haute Bretagne)
Jean-Yves MERIAN ( directeur ERIMIT, Université de Rennes 2-Haute Bretagne)
Idelette MUZART - FONSECA DOS SANTOS ( directrice CRILUS, Université Paris Ouest Nanterre la Défense)
Gilda SANTOS (Real Gabinete Português de Leitura – Rio de Janeiro)
Pour toute information consulter le site : http://www.sites.univrennes2.fr/erimit/cutenews/priplap/coll/index.html
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Uma aberração…

(...)
Texto publicado, na íntegra, no MILhafre:
http://mil-hafre.blogspot.com/2009/11/uma-aberracao.html
30 de Novembro, pelas 18h30, na Embaixada da República Democrática de Timor-Leste
Exmo.(a). Senhor(a),
A Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, a Lidel – Edições Técnicas e os autores, Luís Costa e António José Borges, têm a honra de convidar V. Exas. para a Sessão de Lançamento das obras literárias:
Borja da Costa – Selecção de Poemas / Klibur Dadolin
e
de olhos lavados / ho matan moos
A sessão será presidida por Sua Excelência a Embaixadora da República Democrática de Timor-Leste em Lisboa, Dr.ª Natália Carrascalão.
A apresentação do livro de olhos lavados / ho matan moos estará a cargo da Profª. Ana Paula Tavares (Poetisa; Ensaísta; Professora Universitária) e contará também com a participação da Dra. Elsa Rodrigues dos Santos (Presidente da Sociedade da Língua Portuguesa).
O evento realizar-se-á no dia 30 de Novembro, pelas 18h30, na Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, no seguimento das comemorações do Dia da Proclamação da Independência.
Agradecemos a s/ confirmação até ao próximo dia 26 de Novembro para os seguintes contactos: Telef: 21 351 14 48 - E-mail: marketing@lidel.pt
Contamos com a sua presença!
Petição que nos chegou...
Petição pública: por uma ANTENA 1 mais divulgadora da música portuguesa
«Decerto já se aperceberam que a nossa ANTENA 1 não está a fazer um verdadeiro serviço público, no que concerne à divulgação da nossa música portuguesa, nomeadamente, de uma forma desinteressada, com a difusão de grupos e/ou intérpretes individuais de todo o país. Como Editor Fonográfico há treze anos (http://www.emilianotoste.pt/) e, actualmente, com um catálogo considerável na área da música portuguesa, com alguns intérpretes nomeados para os principais prémios deste país, tenho verificado que os meus editados não têm sido contemplados com uma divulgação efectiva, tendo-o sido, apenas, de uma forma pontual (por exemplo, através de ARMANDO CARVALHÊDA e ANA SOFIA CARVALHÊDA, a nível nacional e MÁRIO JORGE PACHECO e SIDÓNIO BETTENCOURT, a nível regional). O mesmo sentem outros editores que, também, têm prestado um serviço sério e contributivo para a dignificação da arte musical portuguesa.
É de salientar que esta posição não é isolada, porque reflecte o sentir de muitos cidadãos, com os quais tenho dialogado sobre este assunto.
Para não irmos mais longe, basta-nos percorrer a nossa vizinha Espanha e verificarmos a sorte que têm os seus cidadãos músicos. São muito bem divulgados!
É por este motivo que me dirijo a vós, no sentido de contar com o vosso contributo, através da vossa assinatura (no caso da vossa concordância), a qual chegará às Entidades responsáveis por este serviço público, alertando-as para esta pobre realidade que, em nada dignifica a nossa cultura, a nível nacional e internacional.
Desde já, muito obrigado pelo vosso contributo.
Subscreve,
Emiliano Toste - Editor Fonográfico e Professor - BI: 5012748» (in http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N490)
Esta é uma petição muitíssimo pertinente e só peca por tardia porque efectivamente a atitude das direcções da RDP-Antena 1, depois da saída de João Coelho e de António Cardoso Pinto (director interino durante algum tempo), face à música portuguesa de qualidade tem sido absolutamente indigna e indecorosa. Atente-se em qual a música que entra na 'playlist' e na que é deliberada e criminosamente excluída. É facilmente constatável (e já tive oportunidade de o fundamentar no texto 'Playlist' da Antena 1: uma vergonha nacional) que a rádio do Estado, longe de prestar um serviço cabal e conveniente no que à música portuguesa diz respeito, se tornou numa espécie de extensão dos departamentos comerciais das editoras mais poderosas e influentes. Resultado: tudo o que não tem a chancela daquele 'lobby' de interesses é implacavelmente posto à margem e deixado na sombra.
De facto, são muitos os discos de música portuguesa de qualidade que a Antena 1 ignora e/ou marginaliza (cf. Grandes discos da música portuguesa: editados em 2008). E tal acontece não só na afunilada 'playlist' como em programas de autor (por exemplo, no "Vozes da Lusofonia" que deixa de fora álbuns distinguidos com o Prémio José Afonso e contempla – pasme-se! – discos cantados em inglês). Ora, sabendo-se que não é das 'majors' que actualmente sai a melhor música portuguesa, a situação vigente na estação do Estado assume ainda maior gravidade. Esta tem sido uma temática que tenho recorrentemente tratado no blogue "A Nossa Rádio" (http://nossaradio.blogspot.com/), tendo o cuidado de enviar os textos a quem de direito, mas parece que ninguém está interessado em atacar o cancro. Insensibilidade do poder político e das entidades competentes para o problema (que tantos prejuízos tem causado e continua a causar à música portuguesa mais qualificada) ou medo de bulir com interesses instalados? Talvez a resposta seja um misto das duas coisas. Em França e Espanha, como se sabe, estas coisas são tratadas muito seriamente. Por cá, é o deixa andar: "não te rales que eu também não". Esquecem-se as entidades responsáveis que o problema tem uma repercussão cultural (e não só) bem mais nefasta do que à partida possa parecer.
Para a Antena 1, creio que existe uma quota obrigatória de 60 % de música portuguesa. Eu pergunto: de que forma é que tal quota está a ser preenchida? Já alguém se deu ao cuidado de o averiguar? Embora tenha sérias dúvidas quanto ao cumprimento da percentagem em si mesma, dada a profusão de música anglo-americana (ainda por cima de baixíssima qualidade), há outra coisa ainda mais preocupante e inaceitável. Refiro-me obviamente ao facto da 'playlist' estar monopolizada por um único género musical: a pop (a anglo-americana e a nacional, em geral esteticamente tributária daquela). Os géneros musicais de menor potencial económico (portanto, sem interesse para as 'majors', as quais têm de atingir determinados resultados em termos de lucros, porque assim o exigem os accionistas) são implacavelmente marginalizados, sendo relegados para minúsculos apontamentos (durante a semana) ou para programas de autor (ao fim-de-semana), sendo que no último caso nem isso acontece para a música tradicional/folk portuguesa, o que não pode deixar de se considerar uma lacuna muito grave do serviço público de rádio.
Por tudo isto, Emiliano Toste e todos os outros editores que vêem as suas edições serem marginalizadas pela rádio do Estado têm muitíssima razão em se queixarem. Mas os prejudicados não são apenas os pequenos editores: são também os numerosos artistas de mérito silenciados ou deficientemente divulgados, designadamente os que têm vínculo contratual com uma pequena editora ou que lançam os seus trabalhos em edição de autor, e, como não podia deixar de ser, também os ouvintes/contribuintes que assim vêem ser-lhes sonegada, pela rádio que financiam, a oportunidade de tomarem conhecimento de uma parte significativa da boa música portuguesa que se vai produzindo entre nós.
Por um acaso do Destino ou por determinação da Providência ou do Grande Arquitecto do Espaço-Tempo, não me foi dado viver no tempo em que Oliveira Salazar e Marcelo Caetano governaram Portugal, e nessa medida não posso testemunhar com conhecimento de causa qual a música que predominava na Emissora Nacional, a antepassada da Antena 1. Mas baseando-me nos relatos escritos e falados de quem viveu na época, não andarei longe da verdade se disser que o género de música que tinha honras de privilégio era o chamado nacional-cançonetismo (julgo que a expressão é da autoria do jornalista João Paulo Guerra, que actualmente faz a revista de imprensa nas manhãs da Antena 1). E se assim acontecia era porque o regime totalitário o ditava: havia, portanto, uma razão ideológica subjacente. O Estado Novo terminou em 25 de Abril de 1974, e se é certo que o nacional-cançonetismo praticamente desapareceu do éter nacional, inclusive da rádio do Estado, não deixa de ser igualmente verdade que na mesmíssima rádio do Estado, o seu lugar está neste momento a ser ocupado pelo seu equivalente hodierno – a música pop. Com explicar tal situação num regime constitucionalmente democrático e pluralista? A democracia pressupõe o pluralismo de expressão/comunicação e a garantia do exercício de livre escolha por parte dos cidadãos. Mas a livre escolha só é possível se as pessoas tomarem conhecimento do que existe, porque só se deseja e se ama o que se conhece (como diria Fernando Pessoa). Ora é precisamente neste ponto que a rádio pública tem o seu papel a desempenhar, divulgando as obras de qualidade, e sem olhar a quem: se o editor/artista é X ou Y ou se está radicado em Lisboa, no Minho ou no Algarve. Uma rádio pública generalista de âmbito nacional deve reger-se pelo princípio da equidade e dar igualdade de oportunidades a todos os nacionais que apresentem trabalhos de mérito. Não pode favorecer escandalosamente uma parte dos editores/artistas (seja por conluio verbal ou tácito, seja através das famigeradas avenças de promoção), nem tomar partido por uma determinada estética ou linguagem musical como se essa fosse a música oficial do regime. O condicionamento/dirigismo do gosto é uma coisa própria de regimes totalitários (de direita ou de esquerda, para o caso vale o mesmo) e julgo que ninguém defende isso em democracia. Mas é precisamente isso o que a actual direcção de programas da Antena 1 vem fazendo na prática, ignorando por completo as disposições consignadas na legislação que enquadra o serviço público de radiodifusão!
3ª feira, dia 24, na Casa Fernando Pessoa, às 18.30, lançamento de "O Sol do Tarot de Sintra", de Risoleta Pedro

«Ao todo são vinte e duas as personagens, tantas quantos os arcanos maiores, todos desempenham um papel arquetípico neste pequeno teatro familiar que se desenrola em parte na Serra de Sintra, onde as flores são de plástico, o boi é o hierofante e o quotidiano pode ir do mais extraordinário ao mais banal, como a passagem dos ciclistas, uma ópera, um casamento, uma peça de teatro, uma investigação, uma morte, uma gravidez, a vida, o eterno teatro.»
O Sol do Tarot de Sintra (Indícios de Oiro) é uma ficção de Risoleta C. Pinto Pedro que parte das pinturas de Frederico Mira George. A obra será apresentada por Paulo Borges dia 24 de Novembro pelas 18h30, na Casa Fernando Pessoa. Com leituras por Luiza Dunas, haverá ainda a interpretação de duas peças musicais pela pianista Vera Prokic, e um apontamento de dança pelo bailarino Pedro Paz.
Câmara Municipal de Lisboa
Casa Fernando Pessoa
R. Coelho da Rocha, 16
1250-088 Lisboa
Tel. 21.3913270
Autocarros: 709, 720, 738 Eléctricos: 25, 28 Metro: Rato
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt
www.mundopessoa.blogs.sapo.pt
ESTA QUARTA, MAIS 2 LANÇAMENTOS DA NOVA ÁGUIA...
25.11.09 - 18h30: Sociedade Língua Portuguesa (Lisboa)
25.11.09 - 19h30: Loja Rosa-Cruz Amorc (Lisboa)
domingo, 22 de novembro de 2009
Europa versus União Europeia
A Europa existe enquanto espaço civilizacional e todos nós portugueses somos, para o bem e para o mal, europeus. Tenhamos ou não consciência disso.
(...)
Texto publicado, na íntegra, no MILhafre: http://mil-hafre.blogspot.com/2009/11/europa-versus-uniao-europeia.html
II Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora
Programa
Dia 27 de Novembro
(Sexta-feira)
1º Painel:
14h30Discurso de Boas-vindas de um Representante da Casa de Goa
14h45Discurso do Presidente da A.L.D.C.I., Dr. Fernando Machado
15h00Discurso abertura do Comissário do II Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora, Delmar Maia Gonçalves
15h30Homenagem ao Escritor Ascêncio de Freitas
16h00Intervalo
2º Painel:
16h20Dra. Fernanda Angius – “Os pioneiros da Literatura Moçambicana”
16h40Jorge Viegas – “Alguns nomes da Literatura Moçambicana”
17h00Zetho Cunha Gonçalves – “Chichorro e Craveirinha: duas cartas de navegação para o Índico”
17h20Rodrigues Vaz – “Das Artes Plásticas em Moçambique e em Angola”
17h40Delmar Maia Gonçalves – “O contributo dos escritores, poetas e artistas plásticos moçambicanos na sociedade portuguesa”
18h10Debate
18h30Encerramento dos trabalhos
Moderador – Isabel Ferreira
Dia 28 de Novembro
(Sábado)
1º Painel:
10h30Reabertura – Discurso de Boas-vindas por Delmar Maia Gonçalves
10h40Mestre Lívio de Morais – “A condição do Estatuto do Artista”
11h00Augusto Carlos – “Será a figura de “Pai da Nação” incompatível com a Democracia?”
11h20Carlos Gil
11h40Debate
12h30Pausa para almoço
Moderador – Fernando Gil
2º Painel:
14h30Elsa de Noronha
15h00Edite Correia (em representação de João Craveirinha) – “Lusofonia ou Portugofonia?”
15h20Dra. Marta Rodrigues – “Os Objectivos da Federação das Mulheres para a Paz e o seu papel na sociedade”
15h40Joaquim Evónio – Apresentação da “Varanda de Estrelícias” – site da Lusofonia
16h00Intervalo
Moderador – Fernanda Angius
16h30Inauguração de Exposição Lusófona de Pintura, Escultura e Fotografia pelo Sr. Embaixador da República de Moçambique em Portugal Dr. Miguel Mkaima
Artistas:
Lara GuerraMoçambiquePintura
Ruth MatchabeMoçambiqueFotografia
NtalumaMoçambiqueEscultura
Enid AbreuAngolaPintura
António MaginaAngolaEscultura
Cristina AraújoPortugalPintura
Helena PauloPortugalPintura
Anselmo AmadoSão-Tomé e Príncipe Escultura
João de BarrosGuiné-BissauPintura
16h30
Recital de poesia Moçambicana
Declamadores:
Elsa de Noronha
Ilda Oliveira
Jorge Viegas
Vera Novo Fornelos
Delmar Maia Gonçalves
Flauta:
Luna Delmar Gonçalves
18h30Encerramento – Discurso do Sr. Embaixador da República de Moçambique em Portugal Dr. Miguel Mkaima
19h00Encerramento – Discurso do Comissário do II Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora Delmar Maia Gonçalves
19h30Jantar Tertúlia no Restaurante Casa de Goa
RESTAURANTE CASA DE GOA
Calçada do Livramento, 17 – Tel. 21 393 01 71
Europa, Bélgica e Portugal...

Vem isto a propósito da recente eleição de Herman Van Rompuy para Presidente permanente do Conselho Europeu, um cargo criado no Tratado de Lisboa para termos finalmente um “Presidente da Europa”, alguém que pudesse falar, de igual para igual, com os Presidentes do E.U.A., China, Rússia, etc.
Entra pelos olhos dentro que a eleição deste belga teve precisamente como objectivo boicotar a potencial importância do cargo. Se o eleito tivesse sido o Tony Blair – goste-se ou não dele (eu não gosto) –, teríamos, de facto, um Presidente da Europa. Assim, temos apenas alguém a quem o Obama telefonará depois de falar, sucessivamente, com Merkel, Sarcozy, Brown, etc. Até o nosso Durão virá à frente na lista telefónica. E não é por começar por D…
O mais bizarro, contudo – passando por cima da cumulativa eleição da “Chefe da Política Externa da União Europeia”, a Sra. Catherine Ashton, eleita, tão-só, por ser, simultaneamente, mulher, socialista e britânica – é o facto do Sr. Rompuy ter aceite o cargo. Para quem não saiba, o Sr. Rompuy foi o primeiro-ministro que conseguiu finalmente formar um Governo na Bélgica, após sucessivos meses de bloqueio. A sua saída levará a que a Bélgica fique de novo, por muitos meses, sem Governo, tal a disputa entre valões e flamengos. Um preço demasiado alto para a nomeação de um mero funcionário…
A menos que, como insinua hoje o Miguel Esteves Cardoso no Público, a razão seja a seguinte: o Sr. Rompuy é contra os Estados nacionais europeus em geral e o Estado nacional belga em particular. A sua reconhecida competência enquanto primeiro-ministro belga estava pois a ser contraproducente. Saindo, mais depressa a Bélgica, essa ficção tipicamente europeia, se desagregará…
Há quem diga que essa era também a razão do “nosso” Durão Barroso, mais isso, obviamente, é uma piada de mau gosto. Mesmo com sucessivos Governos maus, Portugal não corre esse risco. Somos pobres, é certo, mas inquebrantáveis…
Publicado no MILhafre: http://mil-hafre.blogspot.com/2009/11/europa-belgica-e-portugal.html
"Para um novo universalismo baseado na interculturalidade": François Jullien
Como habitualmente, em Portugal não há um único livro traduzido deste autor, ao contrário do que acontece nas principais nações europeias. Já o tenho proposto a vários editores...
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"Por um novo universalismo baseado na interculturalidade": íntegra da entrevista com o filósofo François Jullien.
François Jullien é um dos filósofos franceses mais em evidência na atualidade. Especializou-se em pensamento chinês e afirmou-se como um importante teórico do diálogo intercultural no contexto do mundo globalizado.
É professor na Universidade Denis Diderot, Paris VII, onde dirige o Instituto do Pensamento Contemporâneo. É membro sênior do Instituto Universitário da França, já presidiu o Colégio Internacional de Filosofia e a Associação Francesa de Estudos Chineses. Ele dirige atualmente a revista Agenda do Pensamento Contemporâneo, editada pela Flammarion. Desempenha também papel de consultor para empresas ocidentais que desejam se instalar na China. Seus livros estão traduzidos em uma vintena de países, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida em Paris, François Jullien discute a sua opção por estudar a China, problematiza a diferença entre alteridade e exterioridade, entre universal, uniforme e comum, conceitos que considera fundamentais para compreender a dinâmica do diálogo entre as culturas. Jullien fala ainda sobre o pensamento chinês como um modo de coerência com características próprias e debate a China contemporânea, a Comunidade Comum Européia, o Brasil e o papel do intelectual na atualidade. Repensa, ainda, os limites dos Direitos Humanos e defende a necessidade de construção de um novo universalismo, baseado na diferença, mas refratário ao relativismo cultural.
Por que a China, por que fazer da China o sujeito de seu trabalho?
No início, fui helenista. Mas fui interessando-me pela China porque ela se constitui em uma exterioridade particularmente marcante em face da cultura européia. Exterioridade de língua, já que o chinês não pertence à grande tradição indo-européia; de História, já que os contatos da Europa com a China tornaram-se mais freqüentes apenas a partir do século XVI, na esteira das missões de evangelização, ganhando intensidade na segunda metade do século XIX, como desdobramento do processo colonial moderno. Apesar das diferenças, ambas, Europa e China, são comparáveis. Não se trata de buscar o exotismo da China, mas de se evidenciar o quanto ela é um caso particularmente tipificado e com forte exterioridade com relação à cultura européia. Minha abordagem é filosófica. Trabalho sobre um pensamento constituído e explicitado, com o objetivo de re-interrogar o pensamento europeu a partir de fora.
Qual é a diferença entre a exterioridade e a alteridade?
Sim, eu mencionei exterioridade e não alteridade. Por que a exterioridade é algo dado pela geografia, pela língua, pela História - se constata. Por sua vez, a alteridade é uma construção cultural. A China está alhures; mas em que medida ela se constitui em um outro? É o que Foucault chamava literalmente, em "As palavras e as coisas", de heterotopia da China, distinguida da utopia: as utopias confortam, as heterotopias inquietam.
Mais do que a diferença do pensamento extremo-oriental com relação ao europeu há uma indiferença nutrida tradicionalmente entre estes termos. O primeiro desafio é sair desta indiferença mútua, de maneira a que um possa visualizar o outro, numa mudança de enfoque que suscita o pensar.
Existem modos possíveis de coerência no mundo contemporâneo em paralelo à tradição judaico-cristã e ao racionalismo ocidental?
Contrariamente ao que pretende a história ocidental da filosofia, o Extremo Oriente não ficou em estado pré-filosófico. Ele inventou os seus marcos de abstração, conheceu uma diversidade de escolas e explorou outras fontes de inteligibilidade.
Há um benefício duplo deste percurso intelectual pela China. Além da descoberta de uma outra inteligibilidade, sonda-se até onde pode ir esta deterritorialização do pensamento. Mas este deslocamento implica também num retorno. A partir deste ponto de vista da exterioridade, trata-se de retornar aos pressupostos a partir dos quais se desenvolve a razão européia, pressupostos ocultos, não explicitados, que o pensamento europeu veicula como uma evidência. O objetivo aqui é remontar ao impensado do pensamento, captando a razão européia ao inverso, a partir de sua exterioridade.
Pensar na China é justamente sair deste grande movimento pendular entre Atenas e Jerusalém encarnado pela filosofia européia.
Na sua percepção, os chineses possuem noções do Ser, da Verdade e do Tempo diferentes daquelas consolidadas pela tradição ocidental?
Consideremos a noção de "Ser" a partir da qual, sabe-se, a Europa baseou seu pensamento, desde os gregos (desde Homero). "Ser" ou "Não Ser", no pensamento europeu, forma a alternativa dramática básica; do mesmo modo que a oposição entre o "Ser" e o "Devir" constitui nele a linha de separação a partir da qual se desenvolveu a Ontologia, o caminho expresso para a Filosofia. Ora, ao mesmo tempo em que não podemos pensar fora dessa dupla oposição do "Ser" (nossa mente se articula nela), estamos conscientes de que o termo "Ser" é empregado com "diversos sentidos", primeiramente os de "existência" e "qualificação" (ser isto ou aquilo, ou de certo modo). Convergem esses significados para uma só unidade, onde permanecem estranhos um ao outro, dando, por isso, margem a confusões? Mas, tornando precisa a questão, tratar-se-ia exatamente da "raça humana" e, sobretudo, não de algo grego, que "nós" herdamos na Europa? Quanto ao pensamento chinês clássico, diferencia ele entre o "existir" (you) e o "o estar" (wei) ou o "existir-estar", "existência-subsistência" (on he on), admitindo também a função da "cópula" (ye), isto é, o verbo que une o sujeito ao nome predicativo do sujeito. Mas entre eles, não se diz (não se pensa) em "Ser" como um absoluto: o "Ser" como um fenômeno do qual todos os outros devem participar para que se diga que "existam"; e tampouco a idéia do "Ser" como "Ser como Estar" (on he on), à qual devemos desde Aristóteles que a Filosofia se tenha feito Ciência. Ao pensamento chinês, portanto, não se colocou - ou não pôde se colocar - a questão que para nós, contudo, até aqui parece inevitável, a do ti esti, ou seja, "do que se trata"?
Para os gregos, uma relação entre o conhecimento e o "Ser" funda a filosofia, ao passo que na China não há qualquer Ontologia. Não se pretendeu construir uma aparência onde possamos viver, mas busca-se encontrar a diversidade de pontos de vista e sua anulação mútua, o que constitui o "caminho" comum da imanência (o tao).
A China pensou a "adequação" circunstancial, mas porque ela não a pôde apoiar no Ser, não a pôde estabelecer sob um plano de eternidade, não a pôde sustentar por um projeto puro de conhecimento (que tendeu como entre os gregos a assimilar a sabedoria à ciência, a sophia à epistémé), ela não produziu a Verdade, como visão maior da filosofia - não pôde visto aqui não como a expressão de uma falha, mas mais como a abertura para um outro possível. O termo em chinês antigo que melhor podemos traduzir por "verdadeiro" significa antes "autêntico" (zhen: no sentido dos sentimentos ou de uma natureza verdadeiros; o "homem verdadeiro" zhen ren é, notadamente no taoísmo, aquele que ascendeu a uma perfeita disponibilidade interior e não conhece mais os entraves ao desabrochar de sua existência). Os chineses manejaram bem o julgamento disjuntivo, mas eles cedo se desafiaram, desde a formação de suas escolas de pensamento, na antiguidade, sobre a perda fatalmente ocasionada - do ponto de vista da globalidade da sabedoria - do conflito (estéril) de posições. Isto significa que não necessariamente os chineses são incapazes de distinguir o verdadeiro e o falso, mas que não é sobre este ângulo, da pesquisa e da busca da verdade, que eles desenvolveram suas concepções. Enfim, os chineses não produziram uma fixação sobre a Verdade.
Noções que acreditamos serem gerais e invariantes, universais, não necessariamente se repetem na China. Para entrar no pensamento chinês, é preciso acompanhar o desenvolvimento de suas noções e de seus questionamentos internos, sem pressupor que seus modos de coerência concordam de golpe com os dos europeus.
Isto acontece também com a noção de tempo. Os chineses pensaram a temporada, o instante (momento - ocasião - circunstância: shi) e a duração (jiu), mas não a noção de tempo homogêneo e abstrato, destacado do curso dos processos, tal qual os gregos a pensaram a partir de uma física do movimento dos corpos e de seu deslocamento no espaço (Aristóteles), de uma ruptura metafísica com a eternidade do Ser (Platão-Plotino) ou de Deus (Santo Agostinho); e tal que nós a flexionamos de ordinário na conjugação dos diferentes tempos verbais - a língua chinesa não conjuga.
O tempo europeu é divisível em diversos tempos, mas as divisões não existem efetivamente: o presente não é mais do que um ponto de passagem, sem extensão, portanto, sem existência, entre o passado, que não é mais, e o futuro, que ainda não é. Quando os chineses e os japoneses encontraram a noção ocidental de tempo, ao final do século XIX, ao se defrontaram com o pensamento e a ciência ocidentais, a traduziram por "entre-momentos" (shi-jian, em chinês, e ji-kan, em japonês).
Restemos, portanto, vigilantes quando nos depararmos, em uma tradução do chinês clássico para uma língua européia, com termos como Verdade, Ser, tempo, ideal, etc...: uma assimilação já se consumou ali, bem intencionada, até, mas gerando indevidamente a ilusão da universalidade.
Quais são as conseqüências dessa sua compreensão para a percepção da China contemporânea?
Eu proponho a noção de "potencial de situação" para compreender a concepção chinesa de eficácia. Apanho-a aos estrategistas da Antiguidade, como Sun Zi e Sun Bin. Mais do que modelar uma fórmula ideal colocando-a como uma meta, o que implica em forçar a impregnação desta meta na realidade, aquilo que vem a ser eficácia na China se aplica a demarcar, a detectar, os fatores favoráveis existentes no seio da situação abordada. A idéia é fazer evoluir continuamente a situação em função dos fatores que podem ser revelados, de maneira que é da situação mesma que decorre o efeito. Assim, se hoje não é favorável, é preferível esperar, mais do que se destroçar enfrentando uma situação adversa. É por isto que prefiro para a China o termo "eficiência", mais do que "eficácia", pois permite compreender a continuidade de um desdobramento, ao mesmo tempo que a arte de captar sua imanência, sem evidenciar a imposição de um projeto.
Donde decorre uma segunda noção: a de "transformação silenciosa". Ora, diferentemente do herói europeu, que não apenas se estabelece uma meta, como ainda age de maneira a propiciar a forma ideal que traçou, um dos temas mais marcantes do pensamento chinês é o não agir, que não deve de forma alguma ser compreendido no sentido de passividade ou de ausência de engajamento. Se o estratego não age, ele transforma, faz lentamente evoluir a situação no sentido desejado, por influência. Enfim, a transformação se manifesta como o contrário da ação. Enquanto esta é local, momentânea e ligada a um sujeito específico, a outra é global e progressiva. Nós não a vemos, mas ela acontece. Como o envelhecimento de uma pessoa, que percebemos quando a comparamos com uma fotografia sua de vinte anos atrás. O pensamento chinês dissolve a individualidade do evento no processo.
A China, ainda hoje em dia, não me parece estar projetando um plano sobre o devir, perseguindo um fim dado ou divisado, mesmo imperialista; mas sim parece estar explorando da melhor maneira possível, dia após dia, seu potencial de situação. Quer dizer, tirar partido dos fatores favoráveis, seja no domínio econômico, no político, no internacional e em qualquer que seja a ocasião. É apenas agora que começamos, um tanto estupefatos, a constatar os resultados: que em alguns decênios ela se converteu na usina do mundo e nos próximos anos seu potencial crescerá inelutavelmente. E isto, sem um grande evento, ou ruptura. Deng Xiaoping, o "pequeno timoneiro", foi este grande transformador silencioso da China. Ele empurrou gradualmente a sociedade chinesa, alternando liberalização e repressão, do regime socialista ao hiper-capitalismo, sem jamais ter declarado uma ruptura franca entre os dois.
Vejamos, por exemplo, a imigração chinesa na França. Ela se estende de um bairro a outro, com cada recém-chegado trazendo, um após o outro, todos os seus primos. As celebrações chinesas ganham ano a ano mais importância. Mas esta transição é tão contínua que nós não a percebemos e não a barramos.
São necessárias ferramentas teóricas específicas para compreender a China contemporânea, com este regime hiper-capitalista sob uma redoma comunista apoiada em uma estrutura hierárquico-burocrática. O Partido Comunista Chinês já se transformou muito. A China renovou suas elites, de uma geração à outra, graças às temporadas de estudo e estágios no exterior. Mas ele permanece a estrutura de poder. Uma das minhas grandes admirações é perceber que a China jamais conheceu um outro regime que não a monarquia. Fala-se na China apenas do bom ou do mau príncipe, da ordem ou da desordem. E, mesmo, considera-se que um mau príncipe é melhor do que a anarquia. Há sim momentos em que o poder chinês fracassa, mas eu jamais vi aparecer o ideal de política, no senso das formas-modelo, que vemos sendo debatido por Platão, Aristóteles ou Montesquieu: que constituem regimes distintos, cujas qualidades intrínsecas nós cotejamos.
Como o senhor caracteriza e diferencia os conceitos de universal, de comum e de uniforme?
O universal exprime-se um conceito da razão, emergindo da tradição européia, e se reclama como uma necessidade à priori, confundindo-se com a elevação do pensamento e com a própria ciência. Assinala, assim, uma intransigência inegociável.
O uniforme é um conceito da produção, que se projeta não por necessidade, mas por uma comodidade. A única racionalidade que pode ser atribuída ao uniforme é a da gestão e a da economia. Enquanto o universal apóia-se na ordem da lógica e do prescritivo, o uniforme repousa sobre a imitação. Assim, se o universal suscita ostensivamente a rebelião, aquela da singularidade, o uniforme se contenta em acalmar as resistências ao seu redor e se funde à paisagem. Sua potência é cumulativa: quanto mais ele se propaga, mais ele se impõe. O uniforme produz a estandartização e, assim como o universal, pode ofender o individual ou o singular, chocando-se com a diferença.
O comum é político. Diz respeito àquilo que se compartilha. O comum não é o parecido. Ele é dado por uma noção de pertencenimento, que conforma comunidade, e pode se legitimar em progressão, por extensão gradual, como que delineando níveis sucessivos de comunidade aos quais um indivíduo ou grupo pode ser integrado. Trata-se, portanto, de um termo de dupla face, ao mesmo tempo inclusivo e exclusivo, pois ao incluir determinado perfil, ele pode excluir outro, por negação. A tendência histórico-filosófica do comum é mais forte no sentido de se descerrar do que de se fechar. O comum evolui de um espaço de inclusão e de convergência para um local onde as particularidades se diluem, onde os interesses privados e específicos brandem suas contradições em igualdade de condições, com transparência, possibilitando a emergência do diálogo e da política.
A Declaração dos Direitos do Homem está no plano do universal? Em sua opinião, quais as conseqüências disso?
É o universal que se afirma na Declaração dos Direitos do Homem. O Ocidente tenta impô-la a todos os povos do mundo, independente de sua cultura, como um dever, exigindo subscrição incondicional, padrão que já foi anteriormente forçado goela abaixo dos próprios europeus. A fabricação do "universal" foi excêntrica, nascendo de múltiplos projetos que culminaram na Declaração dos Direitos do Homem de 1789. Objeto de intermináveis negociações e compromissos, o texto final é uma associação de fragmentos, que ignorou os pontos de disputa. Apesar da pressa com que foi feito, alçou-se a um estatuto ideal e necessário, revestindo-se de aura mítica. Mas o fato de ter sido constantemente reescrito, da Constituição francesa de 1793 à Declaração da ONU de 1948, já mostra que a sua suposta universalidade não é um fato consumado. Impostos na época moderna, os Direitos do Homem promovem uma dupla abstração, tipicamente ocidental, que é fonte de contradição: dos "direitos" e do "homem". Ela isola o sujeito, privilegiando a emancipação, consagrada como fonte da liberdade, e, além disso, isola o Homem de seu contexto vital, estabelecendo as dimensões social e política como dependentes de uma construção posterior que garanta sua existência. A ereção do universal desvincula o humano de seu mundo, estabelecendo uma dramática contradição.
Na Índia, por exemplo, não se concebe uma ordem natural da qual o ser humano não faça parte. A integração é estabelecida até a partir dos animais, que para os indianos são dotados do poder de compreensão e de conhecimento e podem já ter sido homens antes de renascerem como bichos. Ali, o homem é tão pouco excepcional que sua vida e morte carecem de significado, sendo destinadas a se repetirem indefinidamente. Não se evidencia um princípio de autoconstituição política a partir das quais os direitos do homem devam ser declarados. Enquanto para o pensamento europeu a liberdade é a última palavra, para o Extremo-Oriente é a harmonia. E sob esse aspecto, a Índia se comunica efetivamente com a China por meio do budismo. Lá, é o Ocidente que produz uma exceção ao introduzir a ruptura que isola o Homem. E, no Islã, o medo do Juízo Final, elemento primeiro da fé, reduz os direitos humanos à insignificância. Claro que hoje a noção ocidental dos direitos humanos existe em países orientais como "enxerto" estrangeiro. Afinal, quando os jovens chineses da Praça da Paz Celestial mobilizam-se, sabem que tipo de mensagem estão transmitindo para o Ocidente. Mas por que os orientais foram praticamente forçados a aprender esse significado e os ocidentais, por sua vez, não compreendem a visão dos orientais?
A Comunidade Comum Européia está no plano do comum ou do uniforme?
Bruxelas é uma máquina de uniformização. Para começar, qual será a língua que falaremos na Europa? Como a Europa será inovadora se ela não levar em conta que boa parte de sua inventividade se deve à pluralidade das suas línguas e culturas? Foi por não cessar de se reinterpretar, de uma língua à outra, começando pelo grego e pelo latim, que a Europa se fecundou e se renovou. Pois este esforço permitiu não apenas a expansão de conceitos, como ainda a relativização de pressupostos de uma cultura a partir de uma externalidade. Foi assim que a filosofia, por exemplo, ganhou uma natureza translinguística, mas também teve acicatada sua criticidade. Na Europa, pensar é também traduzir. Se os filósofos são gregos, a filosofia nasce em Roma. A dispersão das línguas na Europa possibilitou à filosofia uma capacidade de auto-reflexão.
A uniformização, entre outros simulacros, produziu aqueles da concórdia e da paz. Acreditamos nela, porque ela silencia as divergências. Mas não nos enganemos sobre a sua verdadeira natureza: quando a uniformização não responde a fins de pura rentabilidade, é burocrática, absorvida por medidas anônimas, muito mais do que efetivamente democráticas. Uma Europa feita pela uniformização e pela redução das diferenças será estéril e incapaz de se mobilizar. Como empresa de homogeneização, ela relega à heterogeneização as forças mais pobres, menos fecundas, quais sejam, as dobras identitárias e as recusas teimosas daquilo que já não mais aparece como construção incontestável, como construção comum, como uma lógica da História.
Cada época tem a sua forma de resistência, ostensiva ou discreta. Definamos a nossa: o deslocamento, a diferenciação, é o conceito de uma resistência cultural ao mesmo tempo ética e política.
É possível a construção de um novo universalismo capaz de contemplar a diferença, mas sem se diluir na miragem do relativismo cultural?
Sim, e isto pode se dar pela inter-culturalidade, pelo diálogo efetivo entre as culturas. A chance de escapar à pretensão de universalismo aplastante, de um lado, e, de outro, ao abandono relativista das diversas culturas às suas próprias perspectivas singulares e aos seus destinos únicos, é a grande oportunidade da época em que vivemos. Somos a primeira geração à qual a mundialização permitiu viajar mais livremente entre as culturas, no sentido, justamente - em oposição à uniformização estéril -, de poder circular por inteligibilidades diversas para promover, através delas, uma inteligência comum - coisa que não tem nada a ver, bem entendido, com uma cultura única.
Voltemos, como exemplo, aos direitos humanos. Como conceito, como abstração separada da sua cultura de origem, eles podem ser comunicados aos outros povos. Como abstração, os conceitos podem ser manejáveis, identificáveis e transferíveis, tornando-se um instrumento privilegiado de diálogo. A radicalidade conceitual dos direitos humanos está em se apropriar do humano em seu estágio fundamental, enquanto recém-nascido. Esta concepção é transversal e emerge em outras culturas.
O filósofo chinês Mêncio estabelece a consciência da "piedade" como essencial ao humano. Qual homem assiste indiferente à cena na qual uma fera arranca dos braços da mãe uma criança de colo? Na piedade, um indivíduo identifica-se com o seu semelhante. Aqui, ao invés de intersubjetividade, existe transindividualidade, no sentido de que todos os indivíduos estão ligados a uma essência. Para todo o homem, portanto, existe alguma coisa que ele não faz e que ele não pode suportar que aconteça aos outros.
Conhecer o Outro é humanizar e ampliar a moral, restabelecendo a possibilidade de sua refundação e permitindo buscar uma moral que admite a crítica da suspeita.
Assim, como ferramenta de protesto, como instrumento insurrecional, os direitos humanos alcançam uma utilidade mais ampla, abrindo brechas numa totalidade satisfeita, acendendo ou reacendendo nela uma aspiração, dimensão que pode gozar grande utilidade para todas as culturas. Por esta razão, valeria a pena abrir mão da pretensão universal dada em benefício de uma perspectiva universalizante, que sinaliza para a idéia de que o universal está em curso e pode operar como agente promotor, adaptando-se às especificidades culturais. Assim, se deslocaria a questão do teórico para o prático, da verdade para o recurso.
Enfim, um humano desviado por suas diferenças e estabelecido na auto-reflexão não corre, ao contrário do que se poderia imaginar, riscos de se decompor. Pois se permitirá a emergência de um universal liberado dos universalismos instalados aos quais costumamos nos render, destravado das totalidades dadas, desfeito de seus revestimentos ideológicos. Um universal que não cessará de desimpedir renovadamente as condições de possibilidade de um comum sempre ameaçado pelo estreitamento. E, assim, o senso de humano não conhecerá mais limites para crescer e se desenvolver.
Como se processa o diálogo intercultural?
É sobre o plano cultural, mesmo entre os Estados-nação, que se jogam doravante os principais confrontos. A pretensão do Ocidente à universalidade o leva cada vez mais a entrar em conflito com outras civilizações, em particular o Islã e a China. O diálogo emerge aqui como opção e em oposição ao choque. Não se trata, portanto, de afirmar a noção de "identidade cultural" fundada sobre a diferença, e, sobretudo, sobre uma concepção simplista e reducionista que caracteriza as culturas com base em seus traços mais óbvios, o que é inevitável fonte de antagonismos, mas de reconhecer a fecundidade dos distanciamentos e das diferenciações culturais como fonte a ser explorada.
Samuel Huntington, assim, se vale de instrumentos rudimentares de determinismo cultural para alcançar conclusões reacionárias. Por que fundar, por exemplo, a pretensão de uma tradição européia sobre o Cristianismo e não, também, sobre o ateísmo?
Ao contrário, o pensamento contemporâneo está precisamente engajado num dispositivo de auto-reflexão do humano. O humano se reflete - no sentido de se visualizar e de se meditar - quando confrontado ao diverso. Ele se descobre por meio das facetas iluminadas e desdobradas pelas múltiplas culturas, na tradução de sentidos entre uma língua de partida e uma língua de chegada, na des- e na re-categorização de tradições de pensamento.
O diálogo é uma estrutura eficiente e operante que obriga cada uma das partes a re-elaborar suas concepções. Mas em qual língua se daria este diálogo? Digo, sem temer o paradoxo: cada um dialoga na sua língua de origem, mas traduzindo à outra. A tradução obriga a re-elaborar conceitos do Outro no seio de sua própria língua, portanto a reconsiderar seus próprios implícitos, para torná-los disponíveis à eventualidade de um sentido alternativo. Longe de ser uma deficiência, como obstáculo e fonte de opacidade, é a necessidade de traduzir que faz trabalhar as culturas entre elas mesmas. A tradução, a meu ver, é a única ética possível do mundo global que vem aí. É por isso que penso serem os tradutores profissionais-chave no mundo que estamos construindo.
Uma sociedade pode erguer-se a partir da espinha da inter-culturalidade?
Talvez o Brasil seja um país que não apenas faz permanentemente um diálogo intercultural com o exterior, como ainda tenha efetuado um diálogo intercultural interno. Ali as fronteiras entre a cultura popular e a cultura erudita parecem ser tênues. Da mesma forma, o país parece estabelecer pouca resistência às influências culturais exógenas, o que não implica numa descaracterização local ou numa vassalagem. Estímulos internos e externos parecem estar em permanente estado de fusão.
Qual a função do intelectual na sociedade contemporânea?
Na era da mundialização, o engajamento do intelectual não é mais o do posicionamento extremado, em busca de uma radicalidade de princípios, que conduz ao antagonismo de posições. Mas consiste em revelar por quais vias aquilo que parece ruim, ou mau, aquilo que conforma a alteridade, encerra fontes inexploradas ou invisíveis para a descoberta de uma fecundidade possível e cooperativa. E, ainda, num movimento inverso e complementar, em incentivar a diferenciação do pensamento, rearranjando as possibilidades do dissenso de forma a trabalhar ao encontro do consenso, no qual o pensamento, quando não inquirido, está sempre ameaçado de adormecer e de se estiolar.
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Gunter Axt nasceu em Porto Alegre, em 1969. Bacharelou-se em História pela UFRGS, onde também defendeu dissertação de mestrado, em 1995. Doutorou-se em História Social pela USP, em 2001. Desenvolveu pós-doutorado junto ao CPDOC da FGV-RJ e foi professor visitante na Université Paris VII, Denis Diderot. Foi consultor de várias instituições, dentre as quais o Poder Judiciário e o Ministério Público do RS, o Conselho da Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal. É pesquisador associado do Laboratório de Estudos da Intolerância (LEI), da USP. Escreve regularmente em revistas de cultura e política, de São Paulo e de Porto Alegre. Entre artigos, livros e capítulos de livros, publicou diversos títulos, tendo se especializado gestão cultural e em história política, econômica, judiciária e cultural do Brasil.
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