
Vem isto a propósito da recente eleição de Herman Van Rompuy para Presidente permanente do Conselho Europeu, um cargo criado no Tratado de Lisboa para termos finalmente um “Presidente da Europa”, alguém que pudesse falar, de igual para igual, com os Presidentes do E.U.A., China, Rússia, etc.
Entra pelos olhos dentro que a eleição deste belga teve precisamente como objectivo boicotar a potencial importância do cargo. Se o eleito tivesse sido o Tony Blair – goste-se ou não dele (eu não gosto) –, teríamos, de facto, um Presidente da Europa. Assim, temos apenas alguém a quem o Obama telefonará depois de falar, sucessivamente, com Merkel, Sarcozy, Brown, etc. Até o nosso Durão virá à frente na lista telefónica. E não é por começar por D…
O mais bizarro, contudo – passando por cima da cumulativa eleição da “Chefe da Política Externa da União Europeia”, a Sra. Catherine Ashton, eleita, tão-só, por ser, simultaneamente, mulher, socialista e britânica – é o facto do Sr. Rompuy ter aceite o cargo. Para quem não saiba, o Sr. Rompuy foi o primeiro-ministro que conseguiu finalmente formar um Governo na Bélgica, após sucessivos meses de bloqueio. A sua saída levará a que a Bélgica fique de novo, por muitos meses, sem Governo, tal a disputa entre valões e flamengos. Um preço demasiado alto para a nomeação de um mero funcionário…
A menos que, como insinua hoje o Miguel Esteves Cardoso no Público, a razão seja a seguinte: o Sr. Rompuy é contra os Estados nacionais europeus em geral e o Estado nacional belga em particular. A sua reconhecida competência enquanto primeiro-ministro belga estava pois a ser contraproducente. Saindo, mais depressa a Bélgica, essa ficção tipicamente europeia, se desagregará…
Há quem diga que essa era também a razão do “nosso” Durão Barroso, mais isso, obviamente, é uma piada de mau gosto. Mesmo com sucessivos Governos maus, Portugal não corre esse risco. Somos pobres, é certo, mas inquebrantáveis…
Publicado no MILhafre: http://mil-hafre.blogspot.com/2009/11/europa-belgica-e-portugal.html