A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mais um post certeiro: da União Lusófona ou do futuro fóssil (reparem na eloquência da imagem!)



O mundo lusófono não tem, na sua estrutura geopolítica, nada que o distinga das outras quimeras que a História permitiu no seu litoral pleno de restos de naufrágios de tentações de dominação. Não é um espaço de paz, de desenvolvimento humano, de respeito pela dignidade do ser humano. No interior do seu perímetro a miséria, é a miséria, nem as madrugadas cantam, nem uma multidão de iluminados se prepara para salvar o mundo.

A mesma rapacidade económica, o mesmo império do dinheiro e da ganância.

Querer urdir com esta trama de insanidade um tecido político capaz de enfrentar as grandes potências do mundo é, se isso for pensável, querer erguer o mundo ao estatuto de manicómio.

Está mais do que visto que a CPLP não passa duma prateleira para colocar os jarrões que, fartos do paroquialismo da política interna dos Estados, ou tendo chegado à idade em que umas pantufas diplomáticas permitem dourar os anos de reforma, vão alimentando a aparência de vitalidade dum nado-morto, demasiado morto para que fique bem dá-lo como findo.

São as tais boas intenções que douram os jantares de gala e as cimeiras (e já nem disso se fala, ou seja, de cimeiras regulares entre os Chefes de Estado dos países lusófonos – até poderá nascer daqui mais uma daquelas iniciativas de dá cá aquela palha, quem sabe? A Lusofonia com afonia não funciona, há que aproveitar os bicos dos pés para dar nas vistas).

Isto para não falar do celebérrimo acordo ortográfico. Em vez de se aceitarem como naturais as variantes linguísticas, trata-se de tosquiar a Língua. Para além dos editores de dicionários, bafejados por efémera fortuna, quem, no seu perfeito juízo, se contenta com a regulamentação da Língua (coisa, em si absurda), como se pode fomentar a Cultura e incentivar o intercâmbio cultural sem exigir a abolição das barreiras alfandegárias impostas ao livro e aos demais produtos culturais?

Mas no fundo, o que importa é a seiva: os Estados e a malha de interesses em torno da dominação económica e estratégica são, no que diz respeito à vida do Espírito, massa cadavérica. Namorar-lhes as entranhas é fome de abutre, quando o que o mundo precisa, mesmo, é da coragem dos que não se recusam ao encontro e à construção de laços e pontes.

O futuro, nosso e de todos os povos, está nas organizações não governamentais e nas comunidades de base que, enfrentando mesmo as contrariedades mais tenebrosas, não se recusam à solidariedade e, porque não dizê-lo, ao trabalho. O futuro é das formigas, não das cigarras.

A lealdade, a entrega a um espírito comunitário, o desapego perante o poder do dinheiro e o dinheiro do poder, são uma luz na treva.

As navegações de há demasiado tempo para nos podermos considerar, ainda, navegantes, não se fizeram com caravelas de papel. E os egos são como bexigas de porco cheias de ar, ocupam espaço mas não servem para mais do que uma pueril distracção.

Esqueçam-se os homens que se querem grandes e assuma-se a grandeza que habita cada homem. Essa a única união que dá frutos.

E o que poderá ser o trans-nacionalismo lusófono? Está na moda tudo o que é ‘trans’, da pós modernidade, entrámos na trans-modernidade. Não se trata dum apelo da transcendência, ou à transcensão… Trata-se duma adesão ao cinzentismo antropológico, propiciador do terreno onde se semeiam os totalitarismos identitários. A antropolatria indo-europeia, com o seu rebolhão de mitemas alienantes, numa época de derrocada do Espírito a cavalo na Razão alucinada…

Uma das dádivas mais sagradas da História é a Memória, trinta, ou mesmo trezentos anos, não são suficientes para delir as atrocidades cometidas em nome seja do que for, da Pátria, das chinelas, da cor da pele… Cultuar a memória não é alimentar preconceitos. O racismo é sempre racismo, a usurpação é sempre usurpação, mudem-lhes as coordenadas de análise crítica (sem aspas que a coisa nua até fica bem) que o feito continua feito. E os fantasmas da História não se namoram…

E que comunidade pode nascer sob inspiração da intriga, da rapacidade neurótica, da incapacidade de ter maturidade? Uma comunidade de povos que vive, de forma cada vez mais evidente, da exploração do homem pelo homem, da abdicação dos mais elementares direitos humanos perante o poder do dinheiro e da fortuna diplomática… A comunidade do terror, da miséria, da mais desamparada agonia face aos poderes fácticos deste mundo globalizado…

O problema da globalização está, precisamente, no delir da fisionomia espiritual das culturas, a sua sujeição ao império mediático-comercial. Há intercâmbios muito para além do comércio venal. Mas aí há que dar ao outro direito de cidade, é a questão da aceitação: podemos polvilhar África com farinha branca de neve que a coisa não se resolve: o etnocentrismo, em acção alucinada sob o poder do complexo da indústria do entretenimento, tem reflexos em todo o espectro das atitudes perante o outro. Há Cultura em todos os povos. Cultura com ‘C’ grande. Há tradições sapiensiais a que não se atende por miopia logocêntrica – e não é preciso repetir o gesto meio alucinado dum Artaud ou dum Gaugin, no México ou nas Antilhas há fontes por explorar, mas também um pouco por toda a parte onde não houver artificialismos de castrati. A finura das vozes não substitui a acutilância de espírito, nem a limpidez das intenções.

E é no seio dos países lusófonos que mais se fazem sentir os nefastos efeitos da globalização económica (e cultural): a destruição dos Estados africanos, minados pelo narcotráfico e pela exploração diamantífera, petrolífera, agrícola, em nome duma nova expropriação de recursos que deveriam servir para melhorar as condições de vida das populações e dar-lhes um futuro, por mais básicas que fossem as condições em que este se viesse a fundar.

Trans-nacionalismo lusófono? Em nome de quê? Primeiro os homens, todos os homens, seja qual for o seu género, origem étnica, condição política e económica, todos de pé, todos reconhecidos na sua dignidade, depois as quimeras. Negar aos povos africanos o direito à auto-consciência emancipadora é passar-lhes um atestado de incapacidade política, coisa já muito batida e muito repisada.

Mudança de paradigma? É coisa que não se faz correndo atrás das canas dos foguetes do poder. O afã de colagem aos poderes instituídos, a recusa ao questionamento, a imposição aos factos dum esquema rígido, assente numa metafísica do terrorismo patriótico - a velha trama do ‘povo eleito’ que já matou mais que qualquer doença de origem aleatória.

E há uma coisa de pasmar: tanta preocupação com a Galiza… O que dizer de Cabinda? Faz parte da lusofonia ou da lusofolia? Haverá união lusófona para os cabindas? Mesmo depois de mortos, de subjugados, de humilhados culturalmente até à mais completa abjecção?

Sabendo que tal União nunca sairá da prateleira do mini-mercado aquilino (ou seja lá o que for), mais depressa o Brasil abocanha meio mundo, esta sua erecção em montra de desequilíbrio mental serve só desígnios domésticos e pouco ligados à solidariedade entre povos.

Venha o Encontro, venha a entrega à comunhão cultural, com tudo o que isso implica. O resto é pano para fazer fatos domingueiros. E que bem que se canta na Sé!



Publicado por Paulo Feitais em arevistaentre.blogspot.com

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Declaração do líder do PPV, Luís Botelho Ribeiro, no programa "Prós e Contras", de 14 de setembro

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"Não digo não a esta União Europeia. Estou a falar de alguns aspectos concretos e incluímos uma coisa muito importante e identitária para os portugueses, uma ligação lusófona - eu faço parte pessoalmente do Movimento Internacional Lusófono, que procura traduzir esta herança que nós temos como portugueses (...). Eu gostaria que esta Europa não nos proíbisse, por exemplo, a criação de uma União Lusófona. Dentro da União Europeia, com a União Lusófona. Com a proposta que Cabo Verde a pudesse integrar. Em política tudo é possível. Eu gostava que trabalhássemos para isto [União Lusófona]".

1ª Parte:
http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/pros-contras/?k=Programa-de-2009-09-14.rtp&post=14346

P.S.: Esclareça-se que o MIL não tem qualquer ligação com o PPV.

domingo, 16 de agosto de 2009

Será que?...

Pouco tempo depois do Saramago ter casado com uma jornalista espanhola, começou a defender a União Ibérica...
Leio hoje nos jornais que o Lobo Antunes irá em breve casar com uma jornalista brasileira...
Será que o Clavis irá ter um reforço na sua defesa da união Portugal-Brasil?...

sábado, 27 de junho de 2009

Mensagem do mais recente aderente do MIL...

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Caros amigos

A Lusofonia é um tema que me tem vindo a apaixonar (...). Transformar a Lusofonia num novo tipo de organização política que dê substância, assentamento e alicerce à cultura Lusófona. Só o voto popular nos pode dar a força necessária a implementação de medidas adequadas à criação séria da “União Lusofona” (...).

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A "parceria especial" entre Cabo Verde e a UE e de outra possibilidade fundadora para uma "União Lusófona"

A Parceria entre Cabo Verde e a União Europeia foi debatida entre 10 e 11 de Setembro, em Bruxelas, no âmbito de uma palestra sobre a "Parceria Especial União Europeia/Cabo Verde" organizada pelo Euro deputado Ribeiro e Castro e intitulada "Dois olhares, uma visão comum". A parceria especial tem sido objeto de raro consenso entre governo e oposição cabo verdianos, e entre Cabo Verde e a União Europeia.

Esta "Parceria Especial" que data da última presidência portuguesa da União Europeia pretende ir muito para além da pura convergência económica e das tradicionais relações doador-recepcionário que têm caracterizado as relações entre antigas potencias europeias e colonizados africanos. O modelo está esgotado e o estado atual da maioria dos países africanos que têm beneficiado destas relações "neocoloniais" indica que este modelo de auxílio é ineficiente e que não tem contribuído para o melhoramento da vida da maioria dos africanos. A "parceria especial" deve focar o auxílio europeu nas áreas da boa governança, estabilidade social e política, assim como no desenvolvimento da sociedade do conhecimento e da informática.
O reconhecimento da existência de uma "relação especial" entre a Europa e Cabo Verde, consagrado em 2007, é determinante para aproximar ainda mais Portugal de Cabo Verde, o país lusófono que mais próximo tem estado da diplomacia portuguesa e cuja colaboração na missão naval portuguesa de auxílio à Guiné-Bissau na guerra de 1998 foi tão importante.

Neste sentido, as notícias mais recentes que dão como estando a ser cuidadosamente avaliada pelas autoridades caboverdianas a introdução do Euro como moeda de circulação corrente no arquipélago são mais um passo para a aproximação entre este país lusófono e a União Europeia. Já há dez anos que existe um acordo de convertibilidade entre a então moeda portuguesa, o Escudo (hoje, o Euro) e o escudo caboverdiano (CVE) e o crescimento sólido da economia do país encontrou aqui boa parte da sua sustentação. Em 2004, o atual Presidente da Comissão Europeia, o português Durão Barroso anunciou que Cabo Verde iria integrar a "área de influência da União Europeia", pela via do reforço das suas ligações com Portugal.
Como saberão aqueles que mais nos frequentam, somos fervorosos defensores das virtualidades do estabelecimento de uma "União Lusófona", uma forma de re-unificação polítca, económica e cultural entre os países que compõem atualmente a CPLP (a que se poderia juntar depois a Galiza). A forma percusora que poderia tomar esta união poderia passar pela religação dos dois países da CPLP que têm níveis de desenvolvimento económico, político e social mais semelhantes entre si, que são Portugal e o Brasil. Mas o bom sucesso de Cabo Verde, a vontade expressa de muita da sua população e até a presença de uma tão grande comunidade caboverdiana migrante em Portugal abrem portas a uma outra possibilidade:
a aproximação entre Portugal e Cabo Verde e até talvez o estabelecimento entre Portugal e Cabo Verde do mesmo protótipo de "União Lusófona" que também advogamos para Portugal e para o Brasil.



Fontes:

http://www.governo.cv/index.php?option=com_content&task=view&id=920
http://www.portalangop.co.ao/motix/pt_pt/noticias/africa/Parlamento-Europeu-debate-Parceria-Especial-Cabo-Verde,0fdef315-fcae-4a63-9dfd-07b6f939c6b4.html
http://arquivo.vozdipovo-online.com/conteudos/cabo_verde/parceria_especial_entre_a_uniao_europeia_e_cabo_verde_aprovada_pelos_27/ http://pt.globalvoicesonline.org/2008/05/08/cabo-verde-sobre-a-possivel-adocao-do-euro/
http://terra-longe.blogspot.com/2008/05/circulao-do-euro-em-cabo-verde-com-as.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_Verde

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Diálogo com Casimiro Ceivães

"1) Na Clavis Prophetarum - na sua "atenuação", digamos assim, do papel de Portugal - percebe-se em Vieira o desenvolver da ideia de que a consumação do Reino era afinal uma tarefa comum da cristandade; (digo isto tendo presente que, na espiritualidade cristã, a consumação do Reino é sempre, em última análise, uma tarefa divina - isto é, não se trata de um projecto "titânico", "mágico" ou "voluntarista" - tal como já o não tinha sido a vinda do Messias: o que não quer dizer que não fosse importante "aguardá-lo guardando-o no coração"."

> Vieira era um cristão apostólico-romano convicto. É impossível separar o "homem religioso" que habitava em si do seu pensamento e de cada palavra por si escrita. É assim necessário contextualizar qualquer "consumação do Reino" ou "Quinto Império cristão" advogado pelo jesuíta. Apesar de ser necessário suprimir essa variável "cristã" do pensamento vieirino de forma a atualizar a noção de "Quinto Império" para os tempos modernos, a verdade é que continua perfeitamente válida o pressuposto de que Portugal se deveria anular e ultrapassar a si mesmo, para que esse "Império" pudesse ganhar forma e substância no mundo real. Nenhum país poderá jamais assumir a "cabeça" ou "liderança" de tal império, sob pena de destruir a sua própria possibilidade de existência. Não poderá haver um "Quinto Império" recorrendo às mesmas formas de dominação humana, material ou militar, seguindo as mesmas bitolas de dominação do Um pelo Outro utilizadas até à exaustão pelos impérios assírios, babilónicos, persas ou romanos, o "Quinto Império" terá que ser uma nova forma de organização social e estatal, profundamente diversa de qualquer outra forma anterior. Sem o cumprimento deste requisito, não haverá jamais um "Quinto Império".

2) Se for assim como digo, isso seria um "regresso" à ideia comummente aceite pela cristandade, a de todos os cristãos ou homens de boa vontade serem por igual chamados: quero dizer com isto, se posso brincar um pouco, que o Francisco I de França não teria afinal que se queixar - além da queixa que formulou, face a Tordesilhas, de ter sido "excluído do Testamento de Adão" - de ter sido reservado ao seu reino o papel de figurante destinado a absorver-se passivamente em Portugal...

> Ou seja, mesmo em Vieira, o "Reino de Cristo" poderia incluir "homens de boa vontade", isto é, não-cristãos quer nascidos antes da Revelação (um tema várias vezes abordado pelos Padres da Igreja) poderia fazer parte deste "Quinto Império". Não importa neste conceito que sejamos budistas, islamitas ou cristão, ou até ateus... Para que o Quinto Império se possa concretizar no mundo, não temos que converter todos os seus habitantes aos cristianismo. Temos contudo que realizar naqueles que a ele queiram aderir (porque a adesão forçada será a própria negação suprema do Quinto Império) aquela "revolução interior" a que aludir Agostinho da Silva, e esta revolução não tem que ser cumprida em nenhuma religião em particular, estando todas elas na devida distância até essa realização.

3) Mas assim sendo, então em rigor nada nos fica dito quanto ao papel das diversas Nações neste período intermédio da História de preparação para o Advento... De modo que temos que reanalisar esse problema sem nos deixar entusiasmar, por assim dizer, pela exaltação "quinto-imperial" portuguesa.

> O Quinto Império não tem que ser necessariamente cumprido por Portugal. Na verdade, não pode sê-lo. Portugal já não é o farol da lusofonia, nem demograficamente, nem culturalmente, nem sequer economicamente. Essa farol assenta hoje os seus fundamentos no Brasil, e de forma extraordinariamente sólida. É contudo certo que o Quinto Império não poderá avançar sozinho, realizando-o apenas no Brasil (ou em Portugal). Se esta nova forma de organização estatal e social deve existir, terá que ser pela força do exemplo da união política de dois países, separados pela geografia, mas aproximados pelo coração. E neste contexto, nada melhor, nada mais viável, do que uma união entre os dois países lusófonos que mais próximos estão, sob todos estes critérios: Portugal e o Brasil.

4) A ideia de que as Nações têm um diferente papel meta-histórico - e que, sempre na tradição judaico-cristã, assenta creio eu naquela referência bíblica à luta entre o "anjo de Israel" e o "anjo da Pérsia" foi por exemplo muito forte em França em diferentes épocas, "fille ainée de l'Église" (também em principio tudo isso reforçado pelo caso extraordinário de Joana d'Arc);

> Se até agora, todas as formas de organização estatal "imperial" se firmaram sobre o terreno instável da luta de opostos, o "Quinto Império" terá que se erguer sobre a sua concórdia. Não se trata de "tolerância de opostos" (Agostinho rejeitava aliás a necessidade de "tolerância" preferindo o termo "aceitação"), trata-se da construção de uma nova forma de organização capaz de integrar em si mesmo, de forma pacífica e frutuosa, diversas tendências e visões interpretativas da realidade e do mundo. A diferença entre indivíduos não deve ser motivo para a sua separação ou de desavenças constantes, deve ser raiz de uma criatividade que só ela pode justificar essa imensa benesse que é a existência humana.

5) Neste ponto, poderemos ir buscar a ideia do "Portugal, gente conversável" do Agostinho, mas permanece o problema de saber se se trata de jogo e predestinação de uma qualquer Providência, ou se é só um acaso, um pouco à semelhança daqueles suiços do Borges que "tomaram a estranha decisão de ser racionais".


> Não se trata de uma predestinação pura. Não no sentido genético do termo, pelo menos. A especificidade da portugalidade não se esgota em Portugal nem nas suas estreitas fronteiras terrestres e marítimas, estando agora plenamente transferida para todas as sementes que os portugueses souberam ir plantando pelo mundo fora, de Macau a Timor, de Goa ao Brasil. Contudo, em todas elas está vivo o espírito que forjou a nacionalidade nos idos de antanho onde os sangues mouros (norte africanos) se misturaram com os louros visigodos e estes com os latinos e pré-romanos e de permeio com muitos outros. Do cruzamento destas gentes tão diversas em temperamento e com expressões culturais tão diferentes se haveria de soltar o português, forma única, porque o cruzamento que lhe deu origem foi também único de um ser humano fadado a um destino universal e universalista, como universal e universalista é a matriz étnica e cultural que lhe deu origem.

6) Ainda que não haja essa predestinação ou papel meta-histórico português (se a houver é irrelevante que lhe dicutamos o fim) parece-me possivel nesta fase do raciocínio chegar a uma espécie de bifurcação: por um caminho, defender que a valia histórica de Portugal (o simples facto de ser nação lhe não traz nenhuma, à semelhança da pobre Dinamarca) consistiu em ter sido visivel para nós, que nos habituámos a ver a História como a História das Nações, a possibilidade prática da conversabilidade: não é uma utopia de filósofos, mas uma coisa que aconteceu aqui neste lugar do mapa e neste ponto da seta do tempo. Se aconteceu uma vez, diz-nos o bom senso que pode voltar a acontecer: em princípio, não há milagres. MAs então Portugal cumpriu-se, de facto, e falta já não faz nenhuma (falta faz a "conversabilidade", ela mesma). Como a antiga Grécia, que ainda hoje nos inspira já não existindo.
[NOTA: estou ciente de que o pressuposto explicito no Manifesto da N.A. é o da "não-entificação"]


> Essa é a minha visão. Se Portugal parece ser em tantos domínios uma espécie de "Estado-falhado", surgindo tão frequentemente nas posições inferiores de tantas listas ordenativas da Europa, tal deve-se ao facto de Portugal, ter sido sempre muito mais uma "ideia de nação" do que uma nação. Portugal, na sua mais pura forma de existência, não foi uma nação que teve um império ultramarino. Portugal era a sua presença no Ultramar e quando este foi solto na sua devida liberdade, o tronco de onde emanavam essas ramos, mirrou e secou, incapaz de existir sem esses seus prolongamentos. A "opção europeia" que lhe inventaram para o tornar um país dedicado a vender o Sol aos ricos do norte da Europa, vivendo de turismo, praia e "serviços" não pôde nunca servir de alternativa a uma vocação ultramarina atávica e constitutiva da própria essência da portugalidade.

7) Mas por outro caminho dir-se-á que a constatação da "vida conversável" em Portugal mostra a importância da manutenção de uma Nação - a conversa começa geralmente a dois, ou a poucos, embora depois, como aqui, progressivamente se vá alargando. Por este caminho dir-se-á que não é a Nação o obstáculo, mas o "maquiavelismo" (e agora, infelizmente, mais um conjunto de problemas com que D. João III nem sonhava); e poder-se-á continuar defendendo que a libertação das ilusões do "mundo moderno" é mais eficaz quando realizada num quadro comunitário, ou nacional.

> Se é o "Centralismo" o maior adversário ao cumprimento de Portugal, então terá que passar pela sua supressão o advento do Quinto Império, forma plena de Portugal na sua História e do seu devir. É no Portugal descentralizado nos municípios livres e semi-independentes do Portugal medieval, pré-maquiavélico, onde o Rei buscava o essencial do seu apoio para afirmar um Estado jovem e vigoroso contra os impulsos feudais da nobreza e do clero. O ideal da "vida conversável", só pode ser alcançado quando as partes que dialogam, são paritárias, isto é, quando nenhuma delas se arroga a uma situação superior à outra e isso é incompatível com um Estado centralizado ou com uma organização piramidal da sociedade.

8) Aqui voltamos ao "patriotismo" e às paixões imoderadas do Vieira. Eu lembro-me, por exemplo, de ler numa crónica dos Descobrimentos a história de um D. Manuel de Lima que, para intimidar com os seus navios o capitão turco de uma fortaleza, mandou encher os mastros de cadáveres de gente que foi passando a fio de espada à medida que cruzava as aldeias vizinhas dessa fortaleza; parece que aterrorizou de tal modo os turcos que se renderam de imediato; mas não pode, obviamente, justificar a sua acção com o "patriotismo" que talvez sentisse. Obviamente, não queremos mais gente desta.

> Afonso de Albuquerque, o grande fundador do Império do Oriente, realizou bastas violências destas... Recordo-me também de uma nau moura (turca?) que encheu com mãos e orelhas cortadas e que lançou para um porto controlado pelos muçulmanos, algures na Índia... Aqui também é necessário contextualizar. Tais práticas eram muito comuns na época e havendo um tão grande desiquilíbrio de forças no Oriente, para que Portugal pudesse sobreviver no Oriente tinha não somente de seguir as mesmas práticas dos outros actores na região, sob pena de ser considerado "fraco" perante potencias locais e internacionais que não hesitavam em recorrer a tais barbarismos, como precisava de instituir um certo "terror" perante a força das suas armas, já que as suas bases (e reforços) se encontravam a um ano de navegação perigosa e incerta e que em todo o Oriente havia talvez pouco menos de 1000 homens de armas e menos de 50 navios de guerra... Isto perante forças locais que podiam ascender ao meio milhão de homens, como aqueles que mais do que uma vez foram lançados (sem sucesso) contra a praça portuguesa de Diu. Se não precisamos de "cortadores de narizes e mãos", precisamos contudo daqueles portugueses de seiscentos que não se atemorizavam perante estas imensas hordas de gentes, nem perante estas circunstâncias aparentemente impossíveis de vencer. É essa convicção na ação correta de que precisamos agora, para podermos sair deste pântano europeu onde nos encastraram e de onde precisamos de sair se queremos regressar a esta ideia de Portugal.

9) Não me parece evidente, neste caso, a vantagem de uma "união luso-brasileira" que não seja PRECEDIDA por um retomar de consciência "local". Posto de outra forma, reconhecendo vantagem no diálogo das línguas, não vejo que o Esperanto seja salvífico: e por isso hesito diante do "refundar Portugal, abolindo-o" como hesitaria diante do "refundar a língua portuguesa, adoptando o Esperanto". O inglês está aí pronto a servir em todo o planeta.

Impôr uma união Portugal-Brasil a uma nação que não sente esta união política como necessária é um ato de violência e um desperdício inútil de recursos e tempo. Estas transformações não se realizam a partir do exterior ou de um topo político ou cultural. Têm que brotar do interior de cada um e de firmar aqui o seu terreno sólido para depois, pela via do exemplo próprio e da sua expressão pública passarem ao exterior e ganharem aqui consistência. Se Portugal deve ser abolido para que se cumpra plenamente o "Quinto Império" tal é porque essa abolição é já hoje efetiva! Portugal não existe mais, não passa de um cadáver adiado que sobrevive fundamentalmente como apêndice europeu e dos fundos que esta Europa do norte - que tão pouco tem a ver com a sua alma verdadeira - alimenta de forma intravenosa. Para que este Portugal reencontre o seu seu sentido e alma, terá que os buscar novamente fora de si, num mundo que ajudou a desbravar e a re-ligar. Por isso, se a abolição de Portugal consiste na sua re-ligação ao mundo lusófono que perdeu, obcecado com um "imperialismo" e um "centralismo" que têm muito de germânico e inglês e muito pouco de "português"; então que morra. E que na sua morte salvífica e fértil possa nascer a sua próxima encarnação: a União Lusófona.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sobre a presença militar internacional no Afeganistão e a posição do MIL


Não temos que ter posição sobre tudo. Especialmente sobre temas que extravasam diretamente da área da Lusofonia, como este.

Contudo, é minha opinião de que aquilo que se está a passar no Afeganistão é de tal gravidade que todos os Estados têm o dever de participar ativamente no que aqui decorre.

A ascensão do poder dos Taliban (que montam hoje um cerco efetivo a Kabul) e o colapso da presença da NATO e do "governo" local irá implicar o retorno do país às mãos dos fundamentalistas islâmicos e o ressurgimento de um santuário a partir de onde se lançam tentacularmente operações terroristas em todos os países do mundo.

Ou seja, sejamos claros: se o Afeganistão retornar ao jugo talibã, não faltará muito tempo a que tornemos a ver bombas estourando nos transportes públicos de todos os países da NATO e do Ocidente, e Portugal, tendo em conta o relativo despreparo nestes assuntos está muito mais vulnerável do que qualquer outro país membro da NATO.

Travamos uma guerra no Afeganistão, para que não tenhamos que a travar nas nossas ruas.

Sendo a guerra um inevitável "último recurso" e tendo em conta a barbárie que os islamitas querem instalar no Afeganistão e a projeção desta depois a todos os cantos do mundo onde a conseguissem lançar não cabe aos homens e mulheres de bem tudo fazer para impedir que tal tumor assassino se reinstale no poder?

Não estaremos assim perante uma "guerra justa" (ao contrário da recente na Geórgia, dos bombardeamentos na Sérvia, na ocupação do Iraque, etc, etc) onde temos o dever moral e político de participar?

E falamos de 40 e tal "técnicos" não-combatentes que estarão sempre no perímetro do aeroporto de Cabul, não falamos?

Por fim, quanto à "
Força Lusófona de Manutenção de Paz", é minha convicção de que ela, quando for criada (e sê-lo-á, mais cedo ou mais tarde) deverá intervir em primeiro lugar em todos os locais onde seja necessária a sua presença estabilizadora e pacificadora, dentro do mundo lusófono, e sempre com a intensa e coordenadora participação de forças locais, mas é também minha convicção de que nenhum país lusófono devia participar isolado em qualquer missão de paz internacional descontextualizado desta força. Assim, no Haiti, o Brasil não devia estar sózinho, nem Portugal o devia estar no Kosovo, no Líbano ou no Afeganistão. A partir do momento em que fosse constituída esta força, as forças nacionais deveriam ser substituídas por "forças lusófonas", imparciais, desinteressadas (ao contrário do que se passa geralmente com os anglo-saxões) e respeitadas pelas partes, quer pela sua tradição não-intervencionista, quer pela presença no local com meios suficientes capazes de garantir a eficácia da força (não repetindo, p.ex. os erros da UA no Darfur).

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Vantagens da integração (União Política) Portugal-Brasil


Como qualquer conceito novo e aparentemente "revolucionário", a ideia de uma união política e económica entre Portugal e o Brasil encontra necessariamente na maioria dos espíritos que a confrontam pela primeira vez uma natural aversão. Apesar de o Brasil ser o país que pela cultura, pela língua e até pelo modo particular de viver a vida mais próximo se encontra de Portugal (com excepção talvez da Galiza), a ideia de uma União Portugal-Brasil ainda não congregou a massa crítica suficiente para ascender à agenda mediática e tornar-se uma proposta viável a curto ou médio prazo.
E entre aqueles - raros - que já estão familiarizados com o conceito nem todos concordam na visão daquilo que seria efetivamente uma União Portugal-Brasil. Alguns brasileiros encaram-na apenas como uma extensão até à Europa da sua federação, "anexando" Portugal como mais um Estado. Alguns portugueses, encaram por seu lado, a União como uma forma de reeditar um "império colonial" anacrónico e saudosista no pior sentido do termo. Na verdade uma qualquer forma de "União Portugal-Brasil" nunca poderia ser viável ou estável se assumisse alguma destas duas formas. Nem os portugueses aceitariam qualquer forma moderna de imperialismo brasileiro, nem os brasileiros aceitariam qualquer regresso a um império de que souberam sair no século XIX.
Dito isto, parece claro que qualquer forma viável, perene e dinâmica de "União Lusófona" nunca poderá assumir nenhuma forma "imperialista", nem brasileira, nem portuguesa. Simplesmente, os tempos não estão já conformes a essas formas de imposição da vontade de terceiros nem nenhuma das partes tem a forca económica ou militar para impor à outra a sua vontade. Logo, uma União Portugal-Brasil teria necessariamente que assumir sempre uma nova forma de organização política e económica, compatível com o desejo de autonomia expresso por várias vezes e de forma bem cabal ao longo dos tempos pós portugueses e brasileiros, preservar o sentimento de independência nacional de cada povo.
Logo, uma "União Portugal-Brasil" teria que ser não um fim em si, mas um patamar inicial para uma estrutura de maior fôlego e âmbito, um protótipo para um "União Lusófona" de que Portugal e Brasil seriam apenas os percursores, dando o exemplo que, depois seria seguido pelos demais povos lusófonos, erguendo os pilares de uma estrutura pluri-continental que desde Timor aos Açores fosse um verdadeiro farol das novas formas de organização, de diálogo e coexistência de que são capazes os povos lusófonos.
As estruturas estatais atuais não conseguirão organizar um tal tipo de União. O modelo federal - que pressupõe sempre a entrega de uma parcela muito significativa da Soberania a uma entidade central - não conseguira lidar eficazmente com as diferenças geográficas, económicas e sociais dos dois países. E sobretudo, uma federação aplicada no seu modelo clássico não iria aplacar os interesses daqueles que temem um "imperialismo brasileiro" que esmagaria pela forca do numero dos 180 milhões de brasileiros os 10 milhões de portugueses nem dos demais que - do outro lado do Oceano - recusam o regresso da Corte de Lisboa. Precisamos assim de rebuscar as cinzas da Historia em busca de um modelo de organização capaz de criar uma União adequada aos interesses dos dois povos, capaz de servir de esteio e polarizador da adesão dos restantes países lusófonos a esta União.
O mais básico rebuscamento no passado português, coloca a descoberto a solução para o problema antecipado no final do parágrafo anterior: o modelo municipalista português da Alta Idade Media. Agostinho referia-se a este período da monarquia como a "Idade de Ouro" do reinado de Dom Dinis, em que o essencial da administração do Estado assentava nos municípios, geridos democraticamente por conselhos de cidadãos livres, que respondiam apenas perante o Rei e que formavam com as suas milícias municipais o núcleo do exército real. Esta forma de administração e ordenamento do território seria depois destruída pelos impulsos centralistas importados da Europa fruto da influência do pensamento de Maquiavel entre nós e da acão de reis como Dom João III e Dom Manuel. Mas na sua essência absolutamente descentralizada, formando uma efetiva "federação de municípios livres" (nas palavras de Agostinho) este modelo de organização poderia ser reeditado e aplicado na constituição de uma "união Portugal-Brasil" resolvendo grande parte dos escolhos que antevimos para esta forma prototipal de uma "União Lusófona", que assumiria assim a forma de uma Confederação em que os Estados membros manteriam o essencial das suas competencias e soberania, delegando apenas funções como a Defesa, os Negócios Estrangeiros e outras áreas que exigiriam uma forma de administração supra-estatal para que pudessem ser executadas com eficiência. Na base desta Confederação não estariam os Estados brasileiro ou português, ou qualquer outro Estado lusófono que se quisesse juntar a este projeto, mas os municípios de cada um destes Estados. Os Estados atuais (a República Portuguesa e a Federação Brasileira) continuariam a existir, mas apenas como tessitura jazendo na base das federações de municípios portuguesa e brasileira, perdendo a maioria dos seus poderes para os municípios e delegando a maioria dos restantes para as estruturas da União, cuja capital deveria ser rotativa, muito à maneira da União Europeia mas sem as pretensões centralistas e federalistas expressas por diversas vezes por uma eurocracia muito beneficiada no processo de transformação da "União Europeia" numa "Federação Europeia" altamente centralizada numa eurocracia não-eleita e ferida de ilegitimidade até ao mais profundo tutano.
Muitos pensarão que não existe razoabilidade em deixar uma União Europeia que tantos fundos estruturais enviou para Portugal, que tanto contribuiu para a modernização do tecido legislativo e administrativo nacional e até para uma radical mudança em tantos aspectos da economia e da sociedade portuguesas. Mas estes tempos em que os frutos materiais de uma União que nunca soube ou pôde conquistar o coração dos portugueses eram decisivos para um sentimento nacional dominante (ainda que nunca referendado) pró-europeu. Mas esses tempos estão a chegar ao fim. Portugal é já o maior contribuinte líquido per capita para os cofres da União Europeia, e ainda que receba esse dinheiro totalmente de volta e ainda algum mais de retorno. Mas dado o imparável movimento de crescimento da União Europeia, com uma expansão crescente para Leste, aproximando-se cada vez mais da Rússia, e anexando eventualmente a enorme Ucrânia e a problemática Turquia, como crer que este retorno de fundos vai persistir neste cenário? Portugal, num cenário em que os Fundos Estruturais da EU estarão quase totalmente alocados à reconstrução do Leste, não será mais um receptor destes fundos, apenas um contribuinte líquido, e nesse cenário o sempre ténue apoio popular a um processo de adesão europeia que - recordemo-nos - numa foi referendado, acabará cedo ou tarde por se esfumar... Portugal não cessa de divergir com os padrões económicos e de vida europeus, e este movimento divergente decorre já desde meados da década de noventa, como esperar então que os portugueses consintam assim que passem a contribuintes líquidos para uma expansão a Leste que, afinal, serve primariamente os interesses comerciais e estratégicos alemães e franceses? Neste contexto, a saída da EU torna-se plausível e a credibilidade de opções alternativas sobre exponencialmente. E se Portugal sair da União Europeia que alternativas restam? A opção solipsista, "orgulhosamente sós", que tantos benefícios provou (não) ter nos últimos anos do Antigo Regime salazarista e pós-salazarista? Ora toda a Historia portuguesa caminha contrariamente a essa opção estratégica isolacionista. Portugal nunca foi uma Suíça ou uma Suécia que conseguiram viver isoladas e descontextualizadas durante séculos. Portugal sempre foi um país da integração, do estabelecimento de povos com outros povos e culturas, um quase puro "território-ponte" na mais pura acepção do termo. Incapaz de viver em concha, fechado sobre si mesmo, a energia anímica da portugalidade vai compelir-nos a buscar novas opções a uma Europa envelhecida e obcecada com um alargamento a Leste de dimensões gargantuânticas. E que opção mais natural poderia emergir do que o sempre latente, de Camões, a Vieira, passando por Pessoa e Agostinho mito do "Quinto Império"? Como qualquer mito, este é um protoplasma, um arquétipo que não pode ser aplicado ou interpretado de forma literal, carecendo sempre de actualização para que possa assumir uma forma real, material e atual. Nos tempos modernos, em que os países procuram encontrar blocos económicos e políticos que possam potenciar o seu desenvolvimento e garantir a sua Segurança regional, a emergência de um bloco lusófono, natural e previsível evolução a partir de uma CPLP anémica e desprovida de ambição, é mais do natural, sendo até inevitável.
E se a caminhada para uma "União Lusófona" é inevitável no contexto de uma eventual saída da União Europeia, então a caminhada para uma maior aproximação entre Portugal e o Brasil também o é. Com efeito, nenhuma forma de "União Lusófona" poderá surgir espontaneamente e de forma simultânea unindo todos os países de expressão oficial Lusófona. Tal movimento tem que ser prototipado por dois países, exemplificando e demonstrando a viabilidade e expressando a plena ambição de tão proposta. E todo o movimento que propele para uma "União Lusófona" tem que começar pela união transatlântica de Portugal e o Brasil, os dois países que maior proximidade de padrões culturais, económicos e de desenvolvimento de toda a Lusofonia. Qualquer outra opção para começar o projeto seria ferida logo à nascença pelos receios de um neocolonialismo português renascido. Somente pela via de uma união paritária entre um grande pais (demográfica, económica e geograficamente falando: o Brasil) e um país médio (Portugal) se poderia formar o esteio de uma União Lusófona robusta o bastante para poder crescer até englobar todos os países de expressão Lusófona. Nenhum dos dois países fundadores teria forca económica, militar ou demográfica para simplesmente anexar o outro, e assim se suprimiriam os naturais receios imperialistas que sempre surgiriam na mente dos mais cépticos. Qualquer outra forma de União - talvez mais realista e concretizável no curto prazo, como uma União Portugal-Cabo Verde, traria como canga o peso da memória colonial e do racismo. Cargas negativas que não existem na relação Portugal-Brasil e que justificam a nossa opção por este primeiro passo para a fundação da União Lusófona.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Foi você que pediu um "passaporte lusófono"?

A Polónia anunciou hoje que não irá ratificar o Tratado de Lisboa. O que significa que, depois da Irlanda, ele recebeu o segundo “prego”, ficando definitivamente crucificado. Para mais, a Polónia não é a Irlanda. É um país demasiado grande para se esconder debaixo do tapete, como o Directório Europeu quis fazer com a Irlanda…

Não é preciso ser adivinho para perceber que o processo da União Europeia irá fatalmente regredir. Esta sempre foi uma construção artificial, em grande medida motivada pelo trauma da II Guerra Mundial, por um particular clima económico favorável, com a paternal assistência norte-americana…

Portugal não irá deixar de seu um país europeu por isso. Somos o mais antigo país europeu e não precisamos de, provincianamente, querer provar essa condição a toda a hora…

Precisamos antes de pôr de novo os olhos no mar, retomando os laços com o mundo lusófono. Eis o caminho que o MIL preconiza, conforme se pode ler na nossa Declaração de Princípios e Objectivos…

Uma das medidas que nessa Declaração de Princípios e Objectivos se enuncia é o “passaporte lusófono”, idealizado por Agostinho da Silva, com vista a, gradualmente, permitir a livre-circulação no espaço lusófono.

Agora que a União Europeia está a começar a regredir, não acham que é altura de se começar a avançar para esse objectivo?

sexta-feira, 30 de maio de 2008

SOBRE A NOVA ASSOCIAÇÃO DOS REGULADORES DE ENERGIA DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA

No dia 29 de Maio foi criada em Lisboa Portugal a Associação dos Reguladores de Energia dos Países de Língua Portuguesa. A Formalização será feita pelas entidades de Brasil, Portugal, Cabo Verde e Angola.
Participarão desta Associação a ANP (agência Nacional de Petróleo) e a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) representando o Brasil, a ERSE (Entidade reguladora dos Serviços Energéticos) por Portugal, a Agência de Regulação Econômica de Cabo Verde e o Instituto Regulador do Setor Elétrico de Angola.
A primeira presidência desta associação ficará com a portuguesa Erse e o mandato será até o final de 2009. E a formalização da associação ocorrerá durante uma conferência que é organizada pela própria Erse. O tema escolhido para esta conferência será a "Regulação da Energia nos Países de Língua Oficial Portuguesa". Nada mais propício para a abertura e formalização da Associação.
Segundo a Erse, a associação supranacional visa constituir uma plataforma de cooperação, capacitação técnica e troca de informação e de dinamização de iniciativas futuras e foi informado ainda que o objetivo principal da associação é desenvolver e partilhar experiências de regulação no setor da energia e facilitar a formação e a comunicação entre especialistas e profissionais das várias entidades associadas.
Aguardo a participação dos demais países que compõem a CPLP para aderirem a essa formidável iniciativa.
Fonte: Lusa

domingo, 13 de abril de 2008

Dez vantagens económicas da aproximação política dos Estados Lusófonos: Portugal e Brasil

Num mundo em que o factor económico está sempre no centro de qualquer actividade, é impossível ignorar os aspectos económicos de uma União Lusófona. Que vantagens e desvantagens resultariam do estabelecimento de uma União Lusófona? Vamos abordar de uma forma muito sucinta e simplificada estas questões:

1. O estabelecimento de uma União Lusófona, englobando Portugal e o Brasil, e outras nações africanas de expressão lusófona aumentaria o volume e a qualidade das trocas comerciais, assim se criariam e reforçariam os laços entre os povos da lusofonia.

2. Portugal e o Brasil têm tudo a ganhar se investirem em mercados onde através da lingua comum e da própria existência de numerosas comunidades migrantes lhes dá vantagens competitivas sobre os demais países. Poupanças em etiquetagem, marketing e publicidade, semelhantes culturais, todas estas vantagens podem ser decisivas e servir de argumento económico para aproximar os países de lusófonos.

3. A formação de uma Comunidade Lusófona, capaz de usar nos fóruns internacionais uma só voz poderá potenciar a resistência dos países seus integrantes contra manobras de dumping social e laboral capazes de arruinar e desindustrializar os países que dela façam parte... Falando em nome de 240 milhões de lusófonos poderemos intervir de forma mais actuante e influente nos fóruns internacionais e impedir que certas potencias menos éticas sejam capazes de destruir a capacidade dos países menos fortes resistirem à invasão massiva e descontrolada dos seus produtos agrícolas e industriais.

4. A integração dos países lusófonos em espaços económicos regionais pode estar a potenciar a sua diluição ou absorção por outras entidades transnacionais e a perda da sua própria identidade... Esse risco é muito palpável em Portugal pela forma quase imperial como a Europa do norte nos impõe os seus ditames, mas também pode ocorrer na África austral, com Moçambique (e em menor grau com Angola) e até no Brasil, com o Mercosul... A integração destes países numa Comunidade Económica Lusófona reforçaria a sua identidade e independência, criando um novo vector de Desenvolvimento, alicerçado nas comunhões culturais e linguísticas que os unem, por oposição às anglofonias e castelhanias que marcam os seus vizinhos regionais...

5. A existência de uma mesma língua - reforçada agora pela mesma grafia - poderá potenciar os intercâmbios científicos e académicos, multiplicando as parcerias universitárias no campo da Investigação Aplicada e da inovação e facilitando a transferência do Conhecimento para o campo prático e empresarial. Neste contexto, uma versão lusófona do bem sucedido "Programa Erasmus" da União Europeia poderia ser uma plataforma excelente para potenciar os contactos e os intercâmbios culturais e económicos entre os países da Lusofonia.

6. Se Portugal se mantivesse integrado na União Europeia e se simultâneamente (o que é pouco provável) estabelecesse alguma forma de união ou confederação política com o Brasil, o peso demográfico acrescido, assim como o decorrente aumento da representativa em instâncias europeias, desde o Parlamento Europeu até à própria Comissão. Desta forma, a união Portugal-Brasil poderia reclamar para si uma maior proporção dos financiamentos europeus e ao tornar-se no país demograficamente mais poderoso da União Europeia afirmar-se como uma verdadeira potencia mundial.

7. A integração entre Portugal e o Brasil facilitaria o desenvolvimento económico do Brasil ao facilitar a entrada dos seus produtos em Portugal, onde os padrões de consumo são mais elevados e permitiria a substituição de muitos produtos que actualmente Portugal importa do Extremo Oriente e do norte da Europa. Permitiria também reduzir os fluxos migratórios de Portugal para o Brasil, ao potenciar ainda mais um desenvolvimento que actualmente já é tão flagrante e para Portugal seria indiferente já que apenas a fonte das suas importações mudaria, já que a base industrial brasileira ainda não foi tão erodida como a nossa e continua globalmente competente nas áreas em que Portugal já não tem oferta própria ou não a pôde ter (combustíveis, alimentos, aeronáutica, defesa e algumas importações de alta e média tecnologia).

8. Portugal é o país da União Europeia em que o comércio externo (Importações e Exportações) mais está concentrado na Europa, e nesta, sobretudo para a Espanha, que canaliza a maioria das nossas importações e exportações. Isso torna a economia portuguesa muito exposta a qualquer flutuação ou crise que possa ocorrer no nosso vizinho. Multiplicar as nossas trocas comerciais com o Brasil iria - além de reforçar os laços com outros povos lusófonos - aumentar a capacidade de resistêbnncia da economia portuguesa a crises induzidas pelo nosso vizinho.

9. Para o Brasil, o incremento das ligações comerciais com Portugal poderia servir como porta de entrada do Brasil nas ricas economias europeias (como profetizava Agostinho na década de 80) e contribuir assim para uma maior internacionalização da sua economia, encontrando mercados sólidos e de alto poder de compra naquela que já é a maior potencia económica do mundo: a União Europeia.

10. O estabelecimento de uma união aduaneira entre Portugal e o Brasil aumentaria as relações comerciais entre o Mercosul e a UE, disponibilizando à Europa os produtos de algumas das maiores potenciais agrícolas do mundo, potenciando o desenvolvimento destes países. O facto de Portugal não ser um país beneficiário da Política Agrícola Comum coloca-o como um bom agente para este tipo de intermediação. Por outro lado, o tipo de produções agrícolas brasileiras (tropicais) dificilmente colocariam uma ameaça aos nosso tipo de produção agrícola, que actualmente recebe subsídios para deixar de produzir e manter essa produção alocadas nos países do norte que são efectivamente os maiores contribuintes líquidos da PAC.

Fontes:
Revista Janus
http://www.ciari.org/opiniao/brasil_vertenteatlantica.htm

sábado, 29 de março de 2008

Uma perspectiva pessoal daquilo que poderia ser uma União Lusófona

1. Esta deve começar por Portugal e por Brasil, os dois países com graus de desenvolvimento económico e tecnológico mais idênticos de entre todos os países da Lusofonia. O sucesso desta união percursora haveria depois de cativar os demais países.

2. A União assumiria a forma de uma Confederação, em que os actuais Estados transfeririam para os órgãos centrais da União apenas as responsabilidades de Defesa e de representação internacional.

3. Os Estados compostos da União teriam direitos paritários entre si, mas as responsabilidades de política económica, fiscalidade, solidariedade social, Justiça, Saúde e Educação caberiam em primeiro lugar aos Municípios autónomo democráticamente eleitos e verdadeiro esteio democrático da União Lusófona, aproximando os cidadãos do Governo, como não sucedeu ainda em nenhuma outra forma de Governo ou Estado no mundo ou na História do Mundo.

Esta é, repito, uma perspectiva lusófona e não vincula o Movimento Internacional Lusófono, mas revê-se completamente na sua carta de princípios.



Concorda com esta visão de uma “União Lusófona”?

1) Sim
2) Não
3) Só com alguns pontos

Se é português: Concorda com a União Portugal-Brasil?

1) Sim
2) Não

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Se é brasileiro: Concorda com a União Brasil-Portugal?

1) Sim
2) Não

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sábado, 23 de fevereiro de 2008

Portugalidade e Racismo

Não podia estar mais de acordo com o texto abaixo publicado. Como escrevi há tempos no jornal “Público”, num texto precisamente com este título, “Portugalidade e Racismo”, para um português nada há de mais anti-patriota do que assumir atitudes racistas.
Tais atitudes são uma afronta ao mais genuíno sentido histórico da nossa Cultura, que, apesar de alguns desvios, sempre primou pela sã convivência entre todas as variantes do género humano.
Por isso, de facto, algumas pessoas que por aí andam, aparentemente muito “patriotas”, muito veneradoras dos símbolos nacionais, estão por inteiro equivocadas. Não é macaqueando a dita extrema-direita europeia que o patriotismo português se poderá (re)afirmar. Pelo contrário!
Para aqueles que seguem esse caminho, para aqueles que defendem um “Portugal branco”, exclusivamente “europeu”, a nossa via não lhes pode servir, de facto: aqui, na NOVA ÁGUIA e no MIL, defende-se, de forma assumida e inequívoca, um Portugal lusofonamente universal, multicolor…

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A respeito da "pesada herança" colonial...

Longe de mim negar ou sequer minimizar todos os crimes que se cometeram ao longo da vigência do Império Colonial Português.
Não precisei de ler "O livro negro dos Descobrimentos", ou qualquer outro, para ter noção de todos esses crimes. Bastou-me o conhecimento prévio de uma das mais axiais leis históricas: sempre que dois povos em diferentes graus de desenvolvimento se encontram, o mais desenvolvido tende a dominar o menos desenvolvido. Foi assim, desde logo, na Península Ibérica, entre os romanos e os "lusitanos", foi depois assim em África, entre os portugueses e os diversos povos africanos, foi assim, em geral, no resto do mundo...
Reconhecer isso não invalida, contudo, a pertinência do projecto de um estreitamento de relações entre os povos lusófonos. Bem pelo contrário.
Nem sequer uso o argumento de que a colonização portuguesa foi, em geral, menos cruel do que as outras colonizações europeias.
O meu argumento é apenas este: é do interesse dos próprios países de expressão portuguesa a promoção da lusofonia.
Vimos e vemos isso em Timor, bem como em todos os países africanos de expressão portuguesa.
A Lusofonia é para todos esses países, sem excepção, o garante da independência e da coesão nacional.
Por isso são os próprios governos desses países que promovem a língua lusa, por mais que, paralelamente, alguns deles, insistam numa retórica anti-portuguesa, de modo a alimentar a má-consciência de alguns e, sobretudo, a desviar as atenções. Areia para os olhos! Iluda-se quem quiser...

Que rumo dar ao MIL ? A tarefa que se impõe

Para além de todas as questões psicológicas, sociais e institucionais já aqui bem apontadas e inerentes ao estado actual de Portugal e à sua morte/metamorfose, mas em estreita relação com elas, creio que o desafio do nosso presente e do nosso futuro passa por sabermos cultivar uma ideia e criar uma realidade nacional que corresponda verdadeiramente à aspiração mais funda de todo o ser humano, em qualquer tempo e espaço: ser feliz, realizar-se plenamente. Só assim mobilizaremos os milhões que em Portugal são mais ou menos indiferentes à questão da pátria (excepto no futebol) e estão perfeitamente enfastiados e descrentes da política porque nela não vêem mais do que a disputa do poder pelos indivíduos, grupos e partidos. A questão é como fazer com que se associe o nome e a ideia de Portugal e da Comunidade Lusófona a um projecto de vida integralmente vivida, livre de opressão cultural, social, política e económica, a um projecto de libertação de tudo o que nos impede a plena realização das nossas melhores e superiores possibilidades, no respeito por tudo o que de melhor haja na tradição e aponte nesse sentido, mas sem poupar os seus aspectos mais obscuros, opressores ou não adequados ao homem do presente. Creio que só este poderá ser um projecto tendente ao consenso, que transcenda e aglutine pessoas das mais variadas áreas ideológicas e sem qualquer ideologia, como está a acontecer no MIL, sinal que considero muito promissor.
A possibilidade de realizar isto não depende em absoluto da nossa vontade, que o não pode criar artificialmente do nada, mas da existência ou não de um substrato e de uma vitalidade cultural e humana que não esteja esgotada. Sinto que a cultura e o homem português e lusófono têm em si esse substrato, embora bastante adormecido pela nossa ignorância, erros e conformismo. A questão é como vamos reconhecê-lo, despertá-lo, cultivá-lo e orientar e gerir o florescimento e frutificação desejados.
Neste sentido, a tarefa que se impõe começa por ser a de repensar a nossa cultura e a nossa história, procurando ver, para lá da decadência tantas vezes referida, o que há nelas de mais persistente e vivo, qual a direcção e o rumo para o qual, apesar de todos os obstáculos e desvios exteriores e interiores, apontam. A meu ver, esse rumo é o da comunicação e fraternidade universal, o do estabelecimento de pontes entre as mais diversas culturas, religiões e civilizações, procurando que se compreendam entre si e se relacionem a partir do que une e não do que separa. Nesse sentido apontam também os nossos mitos maiores, essa revelação do que há de mais profundo no inconsciente colectivo, quando falam por exemplo de Quinto Império, que há que descomplexadamente compreender e dar a conhecer como "império" da paz e da fraternidade universal, sem qualquer imperialismo.
Se isto for assim, Portugal, a Comunidade Lusófona e o MIL não podem ser pensados fora deste grande objectivo de promover, primeiro em nós e depois nas relações com todos os povos e culturas, esta consciência do universal, como condição de possibilidade do surgimento de um homem novo, que, mais esclarecido, justo e solidário, possa ser mais feliz e realizar mais plenamente as melhores possibilidades da sua existência no mundo. Sem dispensar outras finalidades mais básicas, como assegurar dignas condições de existência material para todos os portugueses, a nível de trabalho, saúde e habitação, não podemos esperar que todas estas estejam plenamente resolvidas para promover a reforma ou revolução das mentalidades que acima de tudo importa e da qual depende a própria melhoria das referidas condições de existência material das populações. É neste sentido que vejo, neste momento inicial, a tarefa prioritária do MIL como de natureza cultural e pedagógica, o que não significa fechar-se na esfera da cultura académica e erudita e, antes pelo contrário, levar esta nova ideia de Portugal, da União Lusófona e da universalidade a enraizar-se no mais fundo de todas as camadas sociais e populares. Só a partir daí, e em função dos resultados obtidos, pode surgir a sua natural expressão num movimento de índole mais explicitamente política que poderá aproveitar as eleições presidenciais de 2011 para aparecer como alternativa consistente e viável, radicada numa aspiração colectiva que transcenda as nossas ideias e projectos pessoais. Mas isso depende, aí sim, do grau de compromisso e de empenho, consciente e voluntário, de cada um e de todos nós nesta tarefa que, por ser cultural, cívica e pedagógica, não é menos política, no verdadeiro e mais nobre sentido desta palavra.
No fundo, é desta Grande Política, uma política radicada na cultura e no espírito, que Portugal, a Comunidade Lusófona e o Mundo urgentemente carecem.

(Seria interessante que todos os aderentes do MIL e leitores deste blogue pudessem debater esta questão e dizer sinceramente o que pensam)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O caminho do Horizonte...

Porque o Fundamento de Portugal é a Cultura (ver texto anterior: “A Cultura Primeiro”), o seu Firmamento, o seu Horizonte último, só pode ser a União Lusófona, ou seja, a religação com todos os outros países com quem Portugal tem mais afinidades linguísticas e culturais, ou seja, com todos os outros países lusófonos, obviamente numa relação já por inteiro pós-colonial.

Como, contudo, chegar aí?

O Acordo Ortográfico é um bom princípio, até do ponto de vista simbólico – nos fóruns internacionais, como na ONU, os documentos não terão que ser mais traduzidos para as duas variantes da língua lusa (o que, convenhamos, é por inteiro absurdo), mas apenas para uma, aparecendo todo o espaço lusófono como um único Bloco...

Através desse Acordo, desde logo, o que o MIL pretende não é senão isso - que os diversos países lusófonos se (re)aproximem, no aprofundamento das suas relações: linguísticas, mas também culturais, mas também económicas, mas também políticas...O Acordo Ortográfico será apenas, na nossa perspectiva, o começo desse Movimento, dessa Dinâmica.

Outro passo que se poderia dar, a curto/ médio prazo, seria a criação de um Parlamento Lusófono, com deputados eleitos, tal como acontece para o Parlamento Europeu…

Esse Parlamento, por sua vez, poderia eleger o “Presidente da Comunidade/ União Lusófona”, que seria o sumo representante de todo o espaço lusófono em todos os fóruns internacionais…

Fica a ideia, o Horizonte…

domingo, 27 de janeiro de 2008

IV Centenário do Nascimento do Padre António Vieira (1608-2008)


Como sabem estamos a uma dezena de dias do inicio das comemorações do IV Centenário do nascimento do Padre António Vieira.
Designadas por Ano Vieirino, numa iniciativa da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa em Lisboa e da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, as comemorações terão a sua abertura oficial, num evento – Congresso Internacional - que ocupará todo o dia 6 de Fevereiro próximo, na Academia das Ciências de Lisboa.

O ano de 2008, será pois, ano de celebração do Jesuíta e da perpétua obra de uma figura ímpar da Cultura Portuguesa e Brasileira.

Grande pensador do Quinto Império, Quinto, porque segundo ele - na interpretação de Agostinho da Silva - não haveria Sexto, já que, acreditava que os males de Portugal tinham a ver com o comando, logo, como o seu Quinto era católico e por maioria de razão o seu comando entregue a Deus, não poderia haver sexto. Assim ficou até hoje e nem Pessoa nem Agostinho o alteraram.

Padre António Vieira, considerado um dos maiores prosadores da língua portuguesa, é um espírito complexo e vigoroso, paladino dos direitos humanos, patriota esforçado, utopista, visionário e politicamente realista. O padre António Vieira foi o sebastianista criador da ideia do Quinto Império, uma nova era sob a égide temporal de Portugal.
Virtuoso da língua portuguesa, arrastava multidões com os seus dialécticos sermões, obras dramáticas e calculadas com exactidão para que provocassem as reacções desejadas no público. (1)

Espanta-nos desde logo a sua personalidade multifacetada: o insigne orador, que mereceu o título de “O Crisóstomo Português”; o conselheiro real e diplomata a quem D. João IV gabava a “lábia”; o missionário imbuído de profunda religiosidade, o “Payassu” (“Padre Grande”), como o alcunharam os Índios.

Em todos os textos de feição visionária – sejam eles a História do Futuro, o Livro Anteprimeiro (prólogo explicativo daquela), as Esperanças de Portugal, a Clavis Prophetarum ou mesmo a Defesa Perante o Tribunal do Santo Ofício – se procura explicar o verdadeiro sentido das profecias de Bandarra, as quais, infalíveis em tantos pormenores, haviam também de o ser na consumação do Quinto Império: um império universal, totalizante, harmónico, onde coubessem todas as raças e todas as culturas, unidas espiritualmente num único reino cristão e católico. (2)

No seu livro “História do Futuro” de 1718, o Padre António Vieira expunha ser ele também mensageiro da loja branca e senhor do segredo divino, num misto de ocultismo e de cristianismo de sentimento sebástico de concepção ocultista e cristã do
Império das raças e sub-raças, com a esperança de que o Quinto Império anunciado para depois do segundo é o império espiritual português. É sua a sublimar frase: Para se avaliar a esperança, há-se de medir o futuro.
A “História do Futuro”, é um manancial de profecias ao profeta Daniel, intérprete do sonho de Nabucodonosor onde vai colher o fundamento do mito do Quinto Império e que o Padre António Vieira no sermão de acção de graças pelo nascimento do príncipe D. João assim descreve:

Nabucodonosor, aquele grande monarca, pôs-se uma noite a considerar se o seu império seria perpétuo, ou se depois dele sucederiam outros no mundo; e adormecendo com estes pensamentos viu aquela famosa estátua tantas vezes pregada nos púlpitos, cuja cabeça era de oiro, o peito de prata e o ventre de bronze, e daí até aos pés de ferro. Viu mais que uma pedra caída do alto, dando nos pés da estátua, a derrubava e fazia em pó, e a mesma pedra crescendo se aumentava e dilatava em um monte de tanta grandeza que enchia toda a terra. Este foi o sonho de que Nabucodonosor totalmente se esqueceu, até que o profeta Daniel lho trouxe outra vez à memória e lhe declarou a significação dele. A cabeça de oiro – diz Daniel – significa o primeiro império, que é o dos Assírios, a que hão-de suceder os Persas; o peito de prata significa o segundo império, que é o dos Persas, a que hão-de suceder os Gregos; o ventre de bronze significa o terceiro império, que é o dos Gregos, a que hão-de suceder os Romanos; o demais de ferro até os pés significa o quarto império, que é o dos Romanos, a que há-de suceder o da pedra, que derribou a estátua: porque ele é o último; e assim como a pedra se levantou à altura e se estendeu à grandeza de um monte que encheu todo o mundo, assim este império dominará o mesmo mundo, e será reconhecido e obedecido de todo ele. (3)

Na História do Futuro podemos ler o seguinte:

Tudo que abraça o mar, tudo que alumia o sol, tudo o que cobre, e rodeia o sol, será sujeito a este Quinto Império: não por nome ou título fantástico, como todos que até agora se chamaram impérios do mundo; senão por domínio, e sujeição verdadeira. Todos os reinos se unirão em um ceptro, todas as cabeças obedecerão a uma suprema cabeça, todas as coroas se rematarão em um só diadema, e esta será a peanha da cruz de Cristo. (4)

É este o império espiritual do padre António Vieira, implantado sob a Cruz e que, no rasto do sapateiro de Trancoso cujas profecias datavam de 1554, predizia o mito sebástico vinte e quatro anos antes da batalha de Alcácer Quibir.

Fontes:

1 – Dicionário de autores da língua portuguesa – Amigos do livro – Editores.
2 – Sermões escolhidos, Padre António Vieira - Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses.
3 – Estudo biográfico e crítico, Hernâni Cidade. Vol. I - Agência geral das colónias.
4 – História do Futuro - Oficina de António Pedrozo Garlam


Nota Posterior (14:45): Reparei agora, que as comemorações já estão referenciadas na coluna da esquerda deste blog, e que, Eduardo Lourenço e Manuel Ferreira Patrício, membros do Conselho de Direcção da NOVA ÁGUIA, usarão da palavra na sua abertura oficial.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Da “Alma Portuguesa”, da Superação da Mesma e do… Quinto Império


“Se para nós é claro que a plenitude exige a nadificação das particulariedades do ser sujeito, o problema reside em se considerar uma nação como um sujeito e uma consciência individual, que pudesse usufruir todas essas possibilidades éticas, espirituais e místicas de sacrifício e oblação ao outro e ao absoluto. Cremos que isso é o remanescente da visão agostiniana de um excesso de paixão lusocêntrica que colhe das suas principais fontes - Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa - e que, se até certo ponto prejudica a sua desejada aceitação e universalidade, por isso mesmo tende a depurar-se e autosuperar-se na ideia de uma realização desse sujeito nacional que seria Portugal pelo servir o bem do mundo e, ao limite, pela dissolução anuladora e plenificante no absoluto subjacente ao próprio mundo.”

Paulo Borges in “Agostinho da Silva, Pensador do Mundo a Haver”

Sem dúvida que as nações ou comunidades humanas de escala diversa conseguem ter aquilo a que chamamos “alma”, “atman” ou “consciência colectiva”, numa visão mais jungiana da coisa… Um grupo de indivíduos, reunido sob o mesmo grupo de matrizes culturais, agregado sobre uma conceptualização do mundo única e distinta dos demais, assume um “karma colectivo” e logo, penso que podemos falar com toda a legitimidade de “alma nacional” ou neste concreto “alma portuguesa”…. Sendo que a dita tem essa estranha e exótica particularidade de ser uma alma universal e universalista que pela sua própria essência implica uma superação de si mesma, e logo, uma anulação e uma transferência para uma outra entidade espiritual superior e trans-nacional… É a isto que Paulo Borges se refere quando procura explicar um dos maiores mistérios do pensamento agostiniano: o sentir e o exprimir de Agostinho implica um “nacionalismo”, strictu sensus? Sem dúvida que esta leitura é a explicação da relativa popularidade de Agostinho da Silva entre alguns movimentos extremistas ligadas à vertentes ultra-nacionalistas da Direita portuguesa, mas em Agostinho encontramos coisa diversa… A tolerância religiosa e étnica transpiram em todos os textos e palavras de Agostinho… O multiculturalismo, a crítica aos ímpetos centralistas e imperialistas de Madrid e da “Europa da gente loira” são abundantes… Tudo isso contradiz essa interpretação redutora do pensamento agostiniano…

De facto, como bem aponta Paulo Borges, em Agostinho o “amor a Portugal” parece servir sobretudo como um catalisador para um estado ou patamar de desenvolvimento espiritual colectivo superior que tornaria a limitada, obsoleta e incompleta “alma portuguesa” num Nirvana colectivo a que autores como Vieira, Pessoa e Agostinho chamaram de… “Quinto Império”, ou seja, o patamar seguinte do desenvolvimento da alma colectiva portuguesa, brasileira e… universal.

Texto originalmente publicado em Setembro de 2007 por AQUI.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O MIL enquanto Movimento, enquanto Dinâmica: muito para além do Acordo Ortográfico...

Quando elaborámos a "Declaração de Princípios e Objectivos" do MIL (Movimento Internacional Lusófono), tivemos como preocupação fundamental apresentar um documento simultaneamente assertivo e aberto. Por isso o nosso apelo a sugestões e críticas não é uma mera figura de retórica...
Uma das críticas que alguns levantaram foi a nossa expressa defesa do Acordo Ortográfico. Sem querer contornar a discussão, ela não me parece, neste momento, muito consequente. O Acordo Ortográfico é já uma inevitabilidade - resta apenas saber quando é que entrará em vigor. Nessa medida, do que se trata, agora, é de realçar as suas virtualidades, prevenindo alguns dos seus potenciais efeitos negativos. Ao contrário do que aqui já se escreveu, não me parece que seja o Acordo que vá eliminar todos os dialectos existentes em todo o espaço lusófono. Do que se trata apenas é de harmonizar a ortografia oficial entre o Brasil e os restantes países lusófonos...
As virtualidades parecem-me óbvias, desde logo no plano externo. Nos palcos internacionais, como na ONU, os documentos não terão que ser mais traduzidos para as duas variantes da língua lusa (o que, convenhamos, é por inteiro absurdo), mas apenas para uma, aparecendo todo o espaço lusófono como um único Bloco...
Através desse Acordo, desde logo, o que o MIL pretende não é senão isso - que os diversos países lusófonos se (re)aproximem, no aprofundamento das suas relações: linguísticas, mas também culturais, mas também económicas, mas também políticas...
O Acordo Ortográfico é apenas o começo desse Movimento, dessa Dinâmica. Tendo o MIL como principal bandeira a "União Lusófona", estranho seria que não defendesse esse Acordo. Não como fim, mas como princípio. O Acordo que o MIL almeja está para além, muito para além, do plano ortográfico! Haja Vontade...