Para além de todas as questões psicológicas, sociais e institucionais já aqui bem apontadas e inerentes ao estado actual de Portugal e à sua morte/metamorfose, mas em estreita relação com elas, creio que o desafio do nosso presente e do nosso futuro passa por sabermos cultivar uma ideia e criar uma realidade nacional que corresponda verdadeiramente à aspiração mais funda de todo o ser humano, em qualquer tempo e espaço: ser feliz, realizar-se plenamente. Só assim mobilizaremos os milhões que em Portugal são mais ou menos indiferentes à questão da pátria (excepto no futebol) e estão perfeitamente enfastiados e descrentes da política porque nela não vêem mais do que a disputa do poder pelos indivíduos, grupos e partidos. A questão é como fazer com que se associe o nome e a ideia de Portugal e da Comunidade Lusófona a um projecto de vida integralmente vivida, livre de opressão cultural, social, política e económica, a um projecto de libertação de tudo o que nos impede a plena realização das nossas melhores e superiores possibilidades, no respeito por tudo o que de melhor haja na tradição e aponte nesse sentido, mas sem poupar os seus aspectos mais obscuros, opressores ou não adequados ao homem do presente. Creio que só este poderá ser um projecto tendente ao consenso, que transcenda e aglutine pessoas das mais variadas áreas ideológicas e sem qualquer ideologia, como está a acontecer no MIL, sinal que considero muito promissor.
A possibilidade de realizar isto não depende em absoluto da nossa vontade, que o não pode criar artificialmente do nada, mas da existência ou não de um substrato e de uma vitalidade cultural e humana que não esteja esgotada. Sinto que a cultura e o homem português e lusófono têm em si esse substrato, embora bastante adormecido pela nossa ignorância, erros e conformismo. A questão é como vamos reconhecê-lo, despertá-lo, cultivá-lo e orientar e gerir o florescimento e frutificação desejados.
Neste sentido, a tarefa que se impõe começa por ser a de repensar a nossa cultura e a nossa história, procurando ver, para lá da decadência tantas vezes referida, o que há nelas de mais persistente e vivo, qual a direcção e o rumo para o qual, apesar de todos os obstáculos e desvios exteriores e interiores, apontam. A meu ver, esse rumo é o da comunicação e fraternidade universal, o do estabelecimento de pontes entre as mais diversas culturas, religiões e civilizações, procurando que se compreendam entre si e se relacionem a partir do que une e não do que separa. Nesse sentido apontam também os nossos mitos maiores, essa revelação do que há de mais profundo no inconsciente colectivo, quando falam por exemplo de Quinto Império, que há que descomplexadamente compreender e dar a conhecer como "império" da paz e da fraternidade universal, sem qualquer imperialismo.
Se isto for assim, Portugal, a Comunidade Lusófona e o MIL não podem ser pensados fora deste grande objectivo de promover, primeiro em nós e depois nas relações com todos os povos e culturas, esta consciência do universal, como condição de possibilidade do surgimento de um homem novo, que, mais esclarecido, justo e solidário, possa ser mais feliz e realizar mais plenamente as melhores possibilidades da sua existência no mundo. Sem dispensar outras finalidades mais básicas, como assegurar dignas condições de existência material para todos os portugueses, a nível de trabalho, saúde e habitação, não podemos esperar que todas estas estejam plenamente resolvidas para promover a reforma ou revolução das mentalidades que acima de tudo importa e da qual depende a própria melhoria das referidas condições de existência material das populações. É neste sentido que vejo, neste momento inicial, a tarefa prioritária do MIL como de natureza cultural e pedagógica, o que não significa fechar-se na esfera da cultura académica e erudita e, antes pelo contrário, levar esta nova ideia de Portugal, da União Lusófona e da universalidade a enraizar-se no mais fundo de todas as camadas sociais e populares. Só a partir daí, e em função dos resultados obtidos, pode surgir a sua natural expressão num movimento de índole mais explicitamente política que poderá aproveitar as eleições presidenciais de 2011 para aparecer como alternativa consistente e viável, radicada numa aspiração colectiva que transcenda as nossas ideias e projectos pessoais. Mas isso depende, aí sim, do grau de compromisso e de empenho, consciente e voluntário, de cada um e de todos nós nesta tarefa que, por ser cultural, cívica e pedagógica, não é menos política, no verdadeiro e mais nobre sentido desta palavra.
No fundo, é desta Grande Política, uma política radicada na cultura e no espírito, que Portugal, a Comunidade Lusófona e o Mundo urgentemente carecem.
(Seria interessante que todos os aderentes do MIL e leitores deste blogue pudessem debater esta questão e dizer sinceramente o que pensam)
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra).
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa).
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286.
Donde vimos, para onde vamos...
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
Albufeira, Alcáçovas, Alcochete, Alcoutim, Alhos Vedros, Aljezur, Aljustrel, Allariz (Galiza), Almada, Almodôvar, Alverca, Amadora, Amarante, Angra do Heroísmo, Arraiolos, Assomada (Cabo Verde), Aveiro, Azeitão, Baía (Brasil), Bairro Português de Malaca (Malásia), Barcelos, Batalha, Beja, Belmonte, Belo Horizonte (Brasil), Bissau (Guiné), Bombarral, Braga, Bragança, Brasília (Brasil), Cacém, Caldas da Rainha, Caneças, Campinas (Brasil), Carnide, Cascais, Castro Marim, Castro Verde, Chaves, Cidade Velha (Cabo Verde), Coimbra, Coruche, Díli (Timor), Elvas, Ericeira, Espinho, Estremoz, Évora, Faial, Famalicão, Faro, Felgueiras, Figueira da Foz, Freixo de Espada à Cinta, Fortaleza (Brasil), Guarda, Guimarães, Idanha-a-Nova, João Pessoa (Brasil), Juiz de Fora (Brasil), Lagoa, Lagos, Leiria, Lisboa, Loulé, Loures, Luanda (Angola), Mafra, Mangualde, Marco de Canavezes, Mem Martins, Messines, Mindelo (Cabo Verde), Mira, Mirandela, Montargil, Montijo, Murtosa, Nazaré, Nova Iorque (EUA), Odivelas, Oeiras, Olhão, Ourense (Galiza), Ovar, Pangim (Goa), Pinhel, Pisa (Itália), Ponte de Sor, Pontevedra (Galiza), Portalegre, Portimão, Porto, Praia (Cabo Verde), Queluz, Recife (Brasil), Redondo, Régua, Rio de Janeiro (Brasil), Rio Maior, Sabugal, Sacavém, Sagres, Santarém, Santiago de Compostela (Galiza), São Brás de Alportel, São João da Madeira, São João d’El Rei (Brasil), São Paulo (Brasil), Seixal, Sesimbra, Setúbal, Silves, Sintra, Tavira, Teresina (Brasil), Tomar, Torres Novas, Torres Vedras, Trofa, Turim (Itália), Viana do Castelo, Vigo (Galiza), Vila do Bispo, Vila Meã, Vila Nova de Cerveira, Vila Nova de Foz Côa, Vila Nova de São Bento, Vila Real, Vila Real de Santo António e Vila Viçosa.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Que rumo dar ao MIL ? A tarefa que se impõe
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
6 comentários:
Estou inteiramente de acordo com tudo o que é dito neste texto (adjectivá-lo será fechá-lo em termos de interpretação).
No fundo, bem no fundo, o que está em causa é Isso que levantou Portugal e andou com ele, digamos, às costas, projectando-o em frente, mesmo contra o "sentido" monolítico, ilusoriamente progressista da noção ocidental de História.
Esta questão do Rumo é verdadeiramente firmante. Eu estou neste momento em crise: o que eu quero é propriamente o impossível, que cada homem possa ser o que quiser (desde que isso não impeça ninguém de ser tudo o que é). Que cada homem se possa ver ao espelho sem as fantasmagorias que o viver consumista, hedonista e narcisista espalha na interioridade de cada um.
E, em certo sentido, em Política (a Grande, a Plural, a Imensa) a maior ruptura é a que tem a coragem de deixar tudo na mesma, isto é, a que não obriga ninguém a entrar num paraíso alheio, mas que convoca cada um a assumir-se como senhor do mundo e a fazer-se um paraíso com um sentido humano. Isso pressupõe que a responsabilidade seja o centro a partir do qual encaramos a liberdade: cada ser humano é capaz do melhor e do pior e todos devem ser conduzidos à compreensão disso.
Quanto à eleição presidencial, já é tempo de romper com o carácter plebiscitário dessa eleição (pelo menos quando se trata do acesso ao segundo mandato). E a mais alta magistratura da República não devia a ser um cargo jubilatório de políticos à procura dum corolário para a sua carreira. Deveria ser o cargo mais exigente e mais representativo da alma colectiva (e não apenas da desistência dos corpos, vergados sob o peso da realidade e do possível).
Império sim, de Amor e de Serviço.
O MIL me parecer ser o feliz instrumento libertário a salvar a CPLP da sua irremediável atrofia. De modo semelhante, as trovas do sapateiro Bandarra inflamaram o povo cansado do jugo da "união" ibérica e o hesitante Conde de Bragança deixou o conforto de seu palácio para correr o risco da Restauração. Já não se trata mais da falecida União Ibéria (1580-1640), mas do guião da Globalização... Qual o povo que está seguro e feliz com o neoliberalismo?
O MIL deverá ser mais do que mil Bandarras, Vieiras, Pessoas e Agostinhos da Silva... Deverá ser muito mais do que mil heróis independentistas em Ámérica, África, Ásia e Oceania.
O rei "Encoberto" ou a idade do Espírito Santo está na ordem do dia. Metáfora da inteligência coletiva na construção de uma História do futuro de segurança e Paz para todos.
Todo poder ao espírito - 'Filho do Homem', neto da animalidade - i. é; da matéria santificada como ensinava o pe. Teillard de Chardin! Latinité oblige e Lusitanidade realiza.
Portugal precisa de um movimento de desinquietação generalizada e de um Presidente que seja o primeiro e grande desassossegador !...
Cuidado ... Olhem que Hitler e Mussolini tambem foram grandes "desassossegadores" ... E preciso, isso sim, criar instituicoes que permitam as pessoas se desassossegarem a elas mesmas, e essim por sua vez produzir lideres e representantes que desajm desassossegad@s e desassossegadores.
O personalismo sempre foi muito perigoso...
Nunca vi as instituições desassossegarem alguém, excepto no mau sentido, como é o caso de quase todo o actual estado português... O que falta é o despertar de um estado geral amorfo e acomodado da população, que pode e deve ser catalisado por aqueles que estão mais despertos e conscientes.
Enviar um comentário