Donde vimos, para onde vamos...

Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".
Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)
sábado, 4 de outubro de 2008
Troca de mails a respeito do MIL e da Europa...
Gostaria de vos colocar uma questão relativamente ao vosso movimento. Eu li tudo o que pude do site, mas há muita coisa que não consegui ler, e por isso decidi escrever-vos...para saber a vossa posição sobre a contrução europeia antes de eu próprio saber se gostaria de aderir...
Qual a vossa posição sobre a europa? São contra qualquer tipo de união política europeia?
Miguel Santos
O que defendemos é que Portugal deve reforçar os seus laços com os outros países lusófonos. Isto sem renegar a nossa condição europeia. Para o bem e para o mal, sempre fomos e sempre seremos europeus...
Quanto ao actual modelo político da União Europeia, a minha opinião pessoal é que ele não vai resistir muito mais tempo aos "ventos da História". Mas isso só o futuro o dirá...
Renato Epifânio
Caro Renato
Obrigado por dispender algum tempo a responder-me.
Disse que o actual modelo da União Europeia não resistirá aos ventos da Historia...quanto a si, qual acha que deveria ser o modelo para a União Europeia, para a Europa?
Muito Obrigado!
Miguel Santos
Caro Miguel
A questão do modelo político da Europa, como a de todos os outros modelos políticos, é a de articular da melhor forma o Uno com o Múltiplo, para mais sendo o Múltiplo tão forte…
Com o alargamento efectuado da União Europeia a muitos países da Europa de Leste, que ainda não cessou (a Turquia é outra questão…), acentuou-se, por contraponto, uma dinâmica pró-Directório Europeu. Que não é um mero fantasma: hoje mesmo, o actual Presidente da União Europeia, o sr. Sarkozy, presidiu a uma "cimeira" com os seus homólogos inglês, alemão e italiano…
Ora, eu não aceito que a Europa seja governada pela França, Inglaterra, Alemanha e Itália. Se é esse o modelo político para o qual se caminha, eu digo não…
Defendo, ao invés, uma Europa em que todas as Pátrias façam ouvir a sua voz. Ainda que em prejuízo de uma quimérica "voz comum", nomeadamente no plano externo. Pela própria natureza das coisas, nunca a Europa terá uma política externa verdadeiramente comum…
Abraço MIL
Renato
P.S.: Caso adira ao MIL, receberá um convite para se registar no Blogue NOVA ÁGUIA. Neste, poderá dialogar com outras pessoas que já têm tomado posição a esse respeito: falo, nomeadamente, do Clavis e do Casimiro Ceivães. Também por isso, tomo a liberdade de publicar este nosso breve diálogo no Blogue.
sábado, 20 de setembro de 2008
Declarações do escritor, dissidente soviético, Vladimir Bukovsky, sobre o Tratado de Lisboa
A URSS era governada por quinze pessoas não eleitas que se cooptavam mutuamente e não tinham que responder perante ninguém. A UE é governada por duas dúzias de pessoas que se reúnem à porta fechada e, também não têm que responder perante ninguém, sendo politicamente impunes.
Poderá dizer-se que a UE tem um Parlamento. A URSS também tinha uma espécie de Parlamento, o Soviete Supremo. Nós, (na URSS) aprovámos, sem discussão, as decisões do Politburo, como na prática acontece no Parlamento Europeu, em que o uso da palavra concedido a cada grupo está limitado, frequentemente, a um minuto por cada interveniente.
Na UE há centenas de milhares de eurocratas com vencimentos muito elevados, com prémios e privilégios enormes e, com imunidade judicial vitalícia, sendo apenas transferidos de um posto para outro, façam bem ou façam mal. Não é a URSS escarrada?
A URSS foi criada sob coacção, muitas vezes pela via da ocupação militar. No caso da Europa está a criar-se uma UE, não sob a força das armas, mas pelo constrangimento e pelo terror económicos.
Para poder continuar a existir, a URSS expandiu-se de forma crescente. Desde que deixou de crescer, começou a desabar. Suspeito que venha a acontecer o mesmo com a UE. Proclamou-se que o objectivo da URSS era criar uma nova entidade histórica: o Povo Soviético. Era necessário esquecer as nacionalidades, as tradições e os costumes. O mesmo acontece com a UE parece. A UE não quer que sejais ingleses ou franceses, pretende dar-vos uma nova identidade: ser «europeus», reprimindo os vosso sentimentos nacionais e, forçar-vos a viver numa comunidade multinacional. Setenta e três anos deste sistema na URSS acabaram em mais conflitos étnicos, como não aconteceu em nenhuma outra parte do mundo.
Um dos objectivos «grandiosos» da URSS era destruir os estados-nação. É exactamente isso que vemos na Europa, hoje. Bruxelas tem a intenção de fagocitar os estados-nação para que deixem de existir.
O sistema soviético era corrupto de alto a baixo. Acontece a mesma coisa na UE. Os procedimentos antidemocráticos que víamos na URSS florescem na UE. Os que se lhe opõem ou os denunciam são amordaçados ou punidos. Nada mudou. Na URSS tínhamos o «goulag». Creio que ele também existe na UE. Um goulag intelectual, designado por «politicamente correcto» (...). Se as vossas opiniões não forem «boas», «politicamente correctas», sereis ostracizados. É o começo do «goulag». É o princípio da perda da vossa liberdade. Na URSS pensava-se que só um estado federal evitaria a guerra. Dizem-nos exactamente a mesma coisa na UE. Em resumo, é a mesma ideologia em ambos os sistemas. A UE é o velho modelo soviético vestido à moda ocidental. Mas, como a URSS, a UE traz consigo os germes da sua própria destruição. Desgraçadamente, quando ela desabar, porque irá desabar, deixará atrás de si um imenso descalabro e enormes problemas económicos e étnicos. O antigo sistema soviético era irreformável. Do mesmo modo, a UE também o é. (…)
Eu já vivi o vosso «futuro»…
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
NOTÍCIAS DO METROPOLITANO
«O primeiro-ministro são-tomense, Rafael Branco, ontem disse à Lusa que pretende discutir com Portugal a perspectiva de o seu país utilizar o euro como moeda nacional. Rafael Branco falava no final de uma audiência de 45 minutos com o Presidente Cavaco Silva, e mostrou-se esperançado no sucesso das negociações.»
Fonte: Global, terça feira, 16 de Setembro de 2008.
Em nosso redor avança um mundo, quer o aceitemos ou não, esse movimento é decidido por muitos agentes e factores. A vontade de São Tomé e Príncipe e Cabo Verde voltarem a Portugal é cada vez mais parte da sua agenda. O colonialismo parece estar esquecido e a posição frágil destas duas pequenas nações no contexto da África lusófona leva-as a querer estabelecer uma aliança mais forte. Neste contexto Portugal aparece como uma porta de entrada ao fundo da qual é a Europa Comunitária a ser procurada.
São questões como esta que, no meu entender, devem levar o MIL à reflexão.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Nova guerra fria ou nova ordem mundial?
terça-feira, 26 de agosto de 2008
O fechamento da muralha em torno da nova versão “fortaleza Europa” prossegue…
O fechamento da muralha em torno da nova versão “fortaleza Europa” prossegue… Depois da chamada “diretiva do retorno”, para a qual já aqui publicitamos esta petição on-line, a Europa, senhoreada agora pela França, levanta as suas muralhas mais alguns metros e lança na forja um novo “pacto sobre imigração e asilo”.
Logo desde o primeiro momento, o acordo foi contestado por associações de imigrantes e de apoio as migrações, e endurece significativamente a política europeia neste domínio.
O texto comum define regras comuns sobre o direito de Asilo e determina restrições sobre regularizações massivas de imigrantes como aquelas realizadas em Portugal nos últimos anos. O novo conceito europeu gira em torno do principio da “imigração escolhida”, de forja francesa e, de facto, é apenas mais uma fila de tijolos no muro cada vez mais alto da “fortaleza Europa”.
O acordo que será aprovado em Outubro, e enquadra-se numa política comum de emigração que visa favorecer a “imigração laboral”, limita a reintegração familiar e reforça o combate contra a imigração ilegal. No que concerne a “imigração laboral”, nada temos a objectar, desde que existam nos países de origem organismos dedicados a captar por vias legais os futuros imigrantes. A Europa não precisa de mais desempregados, por isso é um truísmo e uma redundância defender que todos os imigrantes devem trabalhar e ter um posto de trabalho assegurado na sua chegada ao pais de acolhimento. Mas discordamos de qualquer restrição na reintegração familiar. Esta favorece a integração comunitária e social dos imigrantes, reforça, através do afluxo de crianças e adolescentes a demografia europeia que está em estado vegetativo desde há décadas e funciona como elemento pacificador em relações comunitárias por vezes muito turbulentas.
Fonte:
Euronews.
Já assinou a PETIÇÃO MIL: CONTRA A “DIRECTIVA DO RETORNO” E EM PROL DO “PASSAPORTE LUSÓFONO”?
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
O fechamento da muralha em torno da nova versão "fortaleza Europa" prossegue...
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O fechamento da muralha em torno da nova versão "fortaleza Europa" prossegue... Depois da chamada "diretiva do retorno", para a qual já aqui publicitamos esta petição on-line, a Europa, senhoreada agora pela França, levanta as suas muralhas mais alguns metros e lança na forja um novo "pacto sobre imigração e asilo".
Logo desde o primeiro momento, o acordo foi contestado por associações de imigrantes e de apoio as migrações, e endurece significativamente a política europeia neste domínio.
O texto comum define regras comuns sobre o direito de Asilo e determina restrições sobre regularizações massivas de imigrantes como aquelas realizadas em Portugal nos últimos anos. O novo conceito europeu gira em torno do principio da "imigração escolhida", de forja francesa e, de facto, é apenas mais uma fila de tijolos no muro cada vez mais alto da "fortaleza Europa".
O acordo que será aprovado em Outubro, e enquadra-se numa política comum de emigração que visa favorecer a "imigração laboral", limita a reintegração familiar e reforça o combate contra a imigração ilegal. No que concerne a "imigração laboral", nada temos a objectar, desde que existam nos países de origem organismos dedicados a captar por vias legais os futuros imigrantes. A Europa não precisa de mais desempregados, por isso é um truísmo e uma redundância defender que todos os imigrantes devem trabalhar e ter um posto de trabalho assegurado na sua chegada ao pais de acolhimento. Mas discordamos de qualquer restrição na reintegração familiar. Esta favorece a integração comunitária e social dos imigrantes, reforça, através do afluxo de crianças e adolescentes a demografia europeia que está em estado vegetativo desde há décadas e funciona como elemento pacificador em relações comunitárias por vezes muito turbulentas.
Fonte:
Euronews.
Já assinou a PETIÇÃO MIL: CONTRA A "DIRECTIVA DO RETORNO" E EM PROL DO "PASSAPORTE LUSÓFONO"?
terça-feira, 22 de julho de 2008
Portugal – Que missão? (IV)
Eurico Ribeiro
Plano estratégico a desenvolver
Contudo penso mais uma vez que a real defesa da nossa identidade, terá que passar, nesta conjuntura em que se perfila uma amálgama miscigenada de povos, pelo pragmatismo, seguindo o caminho possível, que é para mim se torna o de sobrevivência à travessia do deserto dos valores espirituais.
Antes de mais importa reflectir um pouco sobre as mudanças sociais do final do séc. XIX início do séc. XX. Vejo na analogia da evolução que levou à imaterialidade das empresas, antigas entidades com personalidade familiar individual muito sólida, como já referi atrás, uma transição equivalente operada na sociedade Portuguesa de então. Mais, a transformação social que derrubou a monarquia – a família dona da nação, e a substituiu pela república é muito semelhante às tranformações que dentro das organizações empresariais, substituiram as administrações familiares – o patrão, pelas administrações representativas da vontade dos accionistas. As nações como organizações sociais, e em especial a Portuguesa eram fortemente governadas pelo paradigma familiar tradicional. Esta era o núcleo mais importante de organização, independentemente do grau de complexidade, fosse ele apenas uma família, uma empresa, uma localidade, região, nação e mais importante ainda de uma nação global – compreende-se que a nossa estrutura cultural organizativa estava em dissonância com as vontades da nova ordem mundial!
Nos finais do séc.XIX começou-se a desenhar a mudança de paradigma que iria alterar por completo todo este núcleo organizativo, passando o poder a estar disseminado igual circunstância (aparentemente em potência) por todos os indivíduos sem desigualdade de previlégios, que as classes sociais tinham definido até aqui. Era o início do primado do indivíduo, levando à emancipação de uma nova classe alicerçada na alta finança. Não fosse a eterna capacidade de alguns se diferenciarem dos demais, agora pela capacidade de conquista financeira, acumulando riqueza e poder, desarticulados dos valores morais e éticos ancestrais na nobreza europeia, não teríamos qualquer diferença entre os regimes de cariz capitalista e marxista onde a acumulação de riquesa neste último, não poderia acontecer por doutrina (a não ser à classe dirigente, a verdadeira gestora dos bens do povo). Estavam estabelecidos os novos planos para a nova ordem mundial e é nesta conjuntura, contendo as duas ideologias em cada um dos pratos da mesma balança social socialista que se dá a passagem do século XIX para o XX, sistematizando-se ao longo deste até ao séc. XXI e na qual Portugal terá que encontrar a melhor estratégia, junto dos seus pares da Lusofonia, para retomar a sua missão, caso contrário a sua sobrevivência estará comprometida a médio prazo.
Porém, a sua missão actual, está longe de ser a do líder do espaço da Lusofonia, porque nela não poderá ser mais o motor que foi, mas sim o gerador da mística e da sabedoria histórica do sentido de missão que a sua vetusta idade lhe permite! Se reflectirmos um pouco, verificamos que já não somos pátria mas mátria, pois de nação activa com projecto autónomo passámos a nação passiva, na estrita obediência de missões estrangeiras! Veja-se que desde a restauração de 1640 por D. João IV, passámos a ter como padroeiro não o S. Gabriel Arcanjo que foi instituido pelo fundador D. Afonso Henriques, mas a Virgem Santa Maria! Com este passo simbólico se dá conta da orfandade paterna do nosso povo, que ainda sofre com o seu estado de menoridade, tal como a viuva e os seus filhos sofrem, quando perdem o chefe da casa e o seu ganha pão! Com a mudança deste paradigma, se verifica a morte do Mestre Cistercense da Ordem do Templo, de Cristo e de Avis: perdemos o Pai pátreo, o Guia e o Líder da missão que por isso fica interrompida!
Voltando ao plano estratégico a desenvolver, no que diz respeito à imagem e aos valores culturais que lhe estão associados, Portugal terá que se adaptar, defendendo-se nesta travessia do deserto dos valores espirituais. Esta será a primeira fase, que pode durar ainda algum tempo, antes de poder retomar junto do seu património luso mundial, da missão interrompida. O retomar dessa missão será oferecido à Lusofonia se esta com Portugal cumprir os desígnios que Vieira tão bem aponta e o seu reinício será seguido de uma forte necessidade mundial...
Assim, e até se cumprirem os desígnios que as Leis Naturais irão ditar, e seguindo as alterações de paradigma social, Portugal terá que rápidamente se tornar uma marca registada pelo seu escudo e pela sua bandeira com as suas cores. A sua personalidade agora em estado volátil terá que passar a conteúdo ou identidade caracterizada pela portugalidade (cultura, língua, história, gastronomia e vitivinicultura com zonas demarcadas, artesanato, monumentos e paisagem). Com isto terá que se tornar num alfobre de produtos e serviços que a possa garantir como identidade própria numa sociedade actual caracterizada pelo mercado livre global. Terá que para ser conhecido, e por isso garantir a sua sobrevivência, saber-se vender nesse mercado, porque agora vender é existir... Terá que encetar actividades estratégicas que o dirijam nessa direcção, como por exemplo a utilização da CPLP como bolsa das marcas-nação da lusofonia. Se os corpos “estados” estão presos aos interesses e contingências dos acordos dos espaços económicos em que se encontram, o mesmo não se pode passar com as marcas-personalidade, que podem e devem resguardar a sua essência, levando-a até com mais facilidade aos quatro cantos do mundo, seguindo as mesmas Leis de Mercado. O mundo tem que voltar a conhecer Portugal, não como realidade menor, mas como identidade actual e passível de ser seguido.
Como actividades estratégicas vejo as Tecnologias de Informação, como actividade a investir porque irão alavancar tudo o resto que se irá passar no dealbar do século XXI. A era das telecomunicações como meio de ligação entre pessoas e povos afastados geográficamente é um dado adquirido cujo boom pertence ao século passado. Trabalhou-se no final do século XX numa evolução das redes de telecomunicações, que funcionando sob protocolos de transmissão IP permitiu uma convergência dos meios antes rigidamente associados aos serviços de voz e dados, num único meio. Esta evolução teve como consequência a hegemonia e normalização das redes, permitindo-lhes suportar uma infinidade de serviços em contínua evolução substancialmente em capacidade e rapidez. A arte da técnica terá que acompanhar as necessidades que se forem criando, arranjando soluções que as tornem possíveis. Por esse motivo a área das telecomunicações, não mais liderará estratégicamente o futuro. Ela normalizou-se e é hoje uma autoestrada já pronta a ser percorrida pelos multiserviços. Daí que as tecnologias da informação estão a ser o passo actual para a interligação de todos os serviços de apoio das sociedades: negócios, conhecimento, cultura, relações pessoais e serviços de variada ordem. As tecnologias da informação colocam à disposição dos indivíduos veículos que obedecendo às “regras de transito” das autoestradas das telecomunicações podem usar os muitos serviços de apoio à circulação, com o fim de beneficiar de tudo o que é e será aí possivel de circular no futuro. Portugal como posição estratégica única e fazendo uso dos seus melhores recursos, pode e deve dar cartas porque é paradigmáticamente um novo mundo a explorar e a dar!
Nas Biotecnologias e novas áreas da medicina com alguns portugueses já na linha da frente ao nível mundial que não é de admirar, mesmo com os parcos recursos de um país geográficamente pequeno em comparação com os EUA ou a Inglaterra ou a Alemanha, mas porque possui uma raça extremamente grande.
Os serviços de diplomacia mundial, são para nós inatos, dado que fomos o primeiro povo globalizador, cuja manutanção dos territórios se devia não só à prestação de serviços aos líderes locais, através da bravura e estratégia, ou às actividades comerciais e de logística, mas em especial da diplomacia, que nos tinha que ser natural, para minorar os eventuais conflitos de interesse, porque não havia nem modelos nem os estudos em sociologia e psicologia comportamental que hoje enchem as bibliotecas. Vemos a força natural que accionamos como povo e que se amplificou pelos grupos de interesses e lobies internacionais, que culminaram na autodeterminação do povo Maubere de Timor Lorosae. Mais, para além dessa “empresa” para a qual não tínhamos qualquer poder económico ou militar em função da nossa diminuta condição geográfica em relação à Indonésia – um dos tigres asiáticos, Timor decidiu escolher a língua portuguesa como sua, contra todas as espectativas. O povo português mais uma vez se agigantou e foi determinante a sua acção pela sua força de coesão.
A língua como última fronteira, num mundo global deverá ser protegida. Longe de ser una deverá ser plural, porque historicamente o português é e terá que ser um cidadão do mundo. Vejo a unificação do português escrito um erro grave, que mais uma vez facilitando o curto prazo, irá trazer consequências nefastas no futuro. A unificação é contrária ao princípio da biodiversidade, que por analogia significa a capaciade de adaptação e multiplicação que é sinónimo de riqueza cultural e garantia única de sobrevivência... Cada povo que faz uso do português como língua materna, deve ser livre de o escrever e de o falar modulando-o à sua cultura, à sua forma de pensar e às suas necessidades locais. A unificação castradora e monocromática deveria ser contrariada, porque a protecção não é feita num qualquer organismo por mais competente que seja na CPLP mas pelo mais humilde daqueles que a usam desde o berço e que junto com os seus semelhantes, a amplificam e lhe dão a voz de todo um povo. Vem-me à ideia o exemplo do povo de Moçambique que tendo aderido à Commonwealth se tornou num dos melhores defensores da língua portuguesa do que qualquer organismo centralizado para esse efeito no interior da CPLP, em especial numa conjuntura geográfica do “Corno de África” adversa onde o Inglês impera como língua oficial de vários países vizinhos. Como ele lembro-me igualmente de Timor Lorosae.
No domínio dos conteúdos, realço o aspecto da educação e formação – sendo a primeira de base e a segunda contínua ao longo da vida do indivíduo. Os conteúdos que nos chegam pelos variadíssimos meios de telecomunicações e sistemas de informação, serão formalmente num futuro próximo a educação e a formação per si. Caberá às instituições de ensino produzir esses conteúdos e reconhecer as competências dos indivíduos, que os posicionarão no lugar correspondente da pirâmide social. Longe estamos do tempo em que as Universidades eram intituições fechadas, de clausura (i.e. claustro – cloister – close) desde os Templos Egípcios, as Escolas dos Gregos, os mosteiros medievais, onde um reduzido número de eleitos eram iniciados tecnica e comportamentalmente, e graduados consoante as suas capacidades para se tornarem condutores das sociedades de então. A democratização e a massificação do ensino vocacionado para o operativo, não acabou é certo com o paradigma ancestral do ensino da excelência, que advém da tradição. O nome da Instituição associada ao preço da propina e ao processo cirúrgico de admissão, mais baseado na entrevista comportamental do que em exames técnicos, tem e fará toda a diferença. A quem é admitido, espera-se uma entrega total num rigor selectivo que irá potenciar ao máximo as suas qualidade técnicas, criativas e comportamentais intrínsecas e extrínsecas, dentro de um método em tudo semelhante com o praticado nos mosteiros medievais, nas Escolas dos Gregos e dos Templos Egípcios, para dar somente alguns exemplos históricos.
Para os que não têm lugar nestas instituições, terão o ensino das “artes de ofício” que actualizadas aos nossos tempos, se referem ao ensino técnico das áreas do saber prático, a fim de se tornarem profissionalmente bons executores ou executivos, das tendências estratégicas emanadas pelos primeiros.
Num terceiro nível, ficarão essencialmente aqueles que não pertencerão a nenhum dos níveis anteriores, e cuja formação será mais curta e terá que ser extremamente especializada e operacional.
Portugal terá que criar ao nível da CPLP, excelência neste capítulo. É importante a criação de instituições de ensino em língua portuguesa de altíssima qualidade, instituições que possam formar as futuras elites da lusofonia, à escala do que existiu até 1535, tal como se referiu atrás. Elites no sentido de terem a capacidade de pensar estratégicamente a “longo prazo”, ao contrário do que se observa hoje, onde se vêem apesar de tudo muitos bons técnicos, mas com um altíssimo índice de miopia reflectiva. A falta de sentido crítico, mesmo nas melhores práticas e tecnicas que nos entram pelas instituições de ensino ou espaço empresarial, leva-os a seguir caminhos que embora se possam apresentar sedutoras no curto prazo, servirão inexorávelmente a médio longo prazo os interesses de quem os desenhou e divulgou mais acima, na grande maioria dos casos em clara oposição daqueles que cegamente os implementam. Deverá ser feita quantitativamente e qualitativamente uma clara separação desde a infância entre as competências de natureza estratégica da executiva, de modo que o português possa ter um espaço estratégico e criativo. Temos a obrigação já de subir do patamar executivo em que nos encontramos para o estratégico e criativo, porque temos capacidades e antiguidade como povo para estabelecer novos caminhos...
A formação das massas – executivos e operacionais – terá que seguir, neste paradigma existencial, o método de mercado: criação de uma necessidade, apresentação de uma solução e prestação do serviço. Para as escolas funcionarem, desde o 1º ciclo até à universidade, terão que saber criar a sua necessidade junto dos alunos – a necessidade adaptada aos tempos, longe que estamos dos tempos da revolução industrial – terão que saber implementar soluções técnicas e comportamentais estratégicamente inovadoras que estimulem os interessados. Por último, essas soluções terão que se dirigir às necessidades dos próprios alunos, prestando-lhes um serviço com alto nível de qualidade prática. Mesmo aqui será de todo o interesse que a base educativa parta da razão de ser e de estar da portugalidade, até porque é das únicas que melhor se adapta a todas as outras, mantendo o português como indivíduo em vantagem no mercado global. Deste modo só com elites formadas na portugalidade se pode ter na base práticas e metodologias consentâneas. Lembro-me ainda que as forças armadas, poderão ter ainda uma palavra a dizer na formação das novas gerações, abolida que foi o serviço militar obrigatório. Refiro-me por exemplo ao Colégio Militar e à Escola de Fuzileiros Navais, que poderão levar a cabo metodologias mais ou menos intensivas com programas destinados a vários níveis etários que ensinem e reforcem os princípios morais, éticos e cultuem a liderança, o princípio do reconhecimento do valor e da responsabilidade individual, dentro dos parâmetros da portugalidade e da missão da nossa história.
Como conteúdo de diversão (que não deixa de ser outra veículo potencialmente educativo), vejo o Futebol a par com outras actividades desportivas ao nível da selecção ou dos clubes, uma forma de não só aumentar a força de coesão nacional, que é a identificação com um corpo de que fazemos parte, num legado oitocentista, mas de assegurar a ideia, o sentir, o vibrar, o lutar desportivamente e o viver Portugal. É uma actividade que emociona e toca de modo especial todo um povo, por isso é hoje mais do que nunca uma potente arma de defesa da nação Portuguesa.
Vejo a aposta na indústria do turismo, a possibilidade de salvaguardar os locais patrimoniais de referência, da nossa história, bem como os usos e costumes. O turismo de habitação pode alavancar o redescobrimento das aldeias históricas e das vilas acasteladas, da agricultura biológica (com as práticas de subsistência ancestrais) e esta da nossa restauração típica e tradicional, bem como dos produtos regionais demarcados com embalagens biodegradáveis. A indústria pesada já não faz sentido porque é onerosa e extremamente poluente, em especial como vimos, numa época paradigmática das tecnologias de informação, que tende a evoluir para o “Wellfare”, mas a agricultura biológica, apesar de ser do primeiro sector, fará sempre parte do futuro (quanto mais não seja pela necessidade básica) caso seja sustentável e não lesiva ao ecossistema, tal como eram os métodos tradicionais utilizados pelos nossos antepassados. Penso deste modo que o caminho de defesa da nossa identidade poderá ser perfeitamente consubstanciado com os paradigmas da sucessão dos sectores de actividade que vimos atrás em harmonia com o ecossistema, em que Portugal ideia de nação se transmuta conceptualmente para PortugalÒ – Marca Registada, porque o queremos no domínio dos vivo e não do estudo dos paleontólogos. Os dinossauros foram seres fantásticos, mas como não souberam acompanhar a evolução do meio natural, desapareceram do mundo dos vivos, destino que espero não ver repetir no “organismo” Portugal.
Conclusão
O povo Português para sobreviver como identidade própria, tem que conhecer exactamente a sua história e perceber sem reactividades nem vinganças, de que a sua raça, a "milenar raça portuguesa" foi condenada desde 1535 à lenta extinção, pela ignorância, castração e amnésia. Paradoxalmente, todos esses movimentos têm, ao contrário do que se possa pensar, tido início dentro do próprio país, desde 1139 pelos descendentes daqueles que não acreditam num Portugal livre e independente. A crise que levou à 1ª união ibérica de 1580 a 1640 e ao império dos Habsburgo, não foi provocada por nenhuma invasão espanhola, nem devido ao facto muitas vezes adiantado pelos nossos historiadores submetidos às idiossincrasias políticas, de que não havia pretendentes ao trono vago, após a morte de D. Sebastião, rei que afinal morre encarcerado nos Limoges em França, cujos ecos ficam gravados no Sebastianismo do colectivo nacional! A decisão foi consentida pelos iberistas da época, que oportunamente se aproveitaram da crise política, emergindo o país numa crise financeira a fim de justificarem ao povo a união ibérica com Espanha. Desta feita preferiam o rei Filipe II de Espanha (futuro Filipe I de Portugal) a D. António I, neto de D. Manuel I ou a D. Catarina da Casa de Bragança, cujo neto D. João II futuro el Rei D. João IV viria curiosamente a restaurar a independência. Mais, todos os inícios dinásticos das Reais Casas portuguesas se deram através de filhos ilegítimos: na Casa de Borgonha, suspeitando-se que D. Afonso Henriques possa ter sido filho de D. Egas Moniz perfilhado pelo Conde D. Henrique por incapacidade física do filho natural, a Casa de Avis aparece com D. João I, filho ilegítimo de D. Pedro I e de Teresa Lourenço, e por sua vez a Casa de Bragança com o 1º Duque Afonso, filho ilegítimo de D. João I e de Inês Pereira. Desta feita qualquer argumentação sobre a legitimidade das sucessões, cai por terra, num país que desde o início 1139 até 1910 teve uma monarquia muito própria, cuja sucessão era baseada não só com base na hereditariedade mas no princípio da aclamação popular e das cortes.
Assim, a destruição da nossa paidéia por dentro, por uma classe de portugueses “sem berço” ou por descendentes de ideologistas da ibéria, foi consumada através da Espanha que trouxe com ela a Igreja e a inquisição, pela França de Napoleão que trouxe o racionalismo redutor, pela Inglaterra que se tentou aproveitar do estatuado da “Oldest Ally” e da circunstância da ingovernabilidade do país no período que se seguiu, a consanguinidade e miscigenação estratégica das casas reais europeias que toldaram a nossa missão, enfraquecendo e condenando posteriormente os Braganças (Casa Real periférica e com perigo de afirmação contrária aos interesses mundiais que levaram aos dois grandes conflitos 1ª e 2ª Grande Guerra), as forças ocultas e desestabilizadoras por detrás da 1ª república – movimento que não reflectia os desejos do povo português na sua maioria alheio a tudo isso, os poderes mundiais materializados pelos EUA e URSS na instabilidade forçada que levou à independência antes do tempo das nossas colónias e finalmente a CEE/CE/EU numa sucessão ideológica subreptícia, culminando no perigo que mais uma vez se avizinha da dissolução total da identidade e independência de um povo milenar. Mais uma vez a sombra da perda de soberania nacional é consentida pela classe governativa seguidora do iberismo tranferido por conveniência ao europeísmo.
Atrevo-me a pensar em suma que as forças destruturantes que se acercaram do nosso país desde 1535, se deveram ao facto da missão portuguesa se encontrar muito à frente da capacidade e mentalidade do mundo nessa época e averso ao materialismo capitalista que se desenvolve alguns séculos depois. Era necessário travar os Portugueses, e a sua ideia do mundo unido, era necessário que depois de D. Manuel I (que apercebendo-se do fim, se apressa a registar para épocas mais propícias a missão portuguesa nos sólidos livros de pedra do manuelino), a missão nunca mais fosse restaurada, era necessário matá-la de vez, impedindo que D. Sebastião regressasse a casa… Era necessário em suma que o projecto Templário planeado pelo visionário São Bernardo de Claraval – o Porto do Graal – soçobrasse de vez!
Deste modo é de todo necessário que as condições mundiais se deteriorem de tal modo que Portugal emerja da sua hibernação e volte a ser o centro do mundo material, porque se encontra no centro do “mapa mundi” (posição estratégica) e em esperança espiritual porque é o único país verdadeiramente universalista reflectido no seu povo amistoso e nas armas da sua bandeira: a propagação do Quinto Império Espiritual sobre o Mundo!
P.S.: O texto, aqui publicado em quatro partes, será publicado, em contínuo, no próximo número da Revista NOVA ÁGUIA.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Portugal – Que missão? (III)
O Quinto Império ou a era Quintenária da Imaterialidade
Deste modo Portugal, reúne ainda todas as possibilidades de cumprir a profecia do Quinto Império: estamos a entrar numa nova era, que levará a sociedade à imaterialidade. Este aspecto já é vislumbrado por variadíssimos indícios, se podem resumir em dois paradigmas, um respeitante ao Homem (lembro aqui da 3ª vaga de Alvin Tofler...), e outro ao meio em que vive – o Ecossistema.
No primeiro vem-me à memória as sucessão dos sectores de actividade que nos acompanham desde os primórdios da actividade do homem sobre a Terra: o sector primário com a caça, pesca e agricultura que é já uma actividade de transição ao sector secundário que aparece mecanizado nos finais do século XIX com a revolução industrial. O sector secundário é uma actividade de transformação efectiva da natureza, cuja necessidade proveio inicialmente da conservação dos produtos perecíveis do sector primário e da criação de novas ferramentas e utensílios auxiliares à actividade do Homem. O sector terciário que aparece globalmente só na segunda metade do século XX, foi iniciado pelos portugueses de quinhentos, através dos seus avançados sistemas de logística, montados nas rotas comerciais e de serviços – sim porque as nossas feitorias e frotas marítimas para além de polos comerciais, também forneciam serviços de protecção ao nível da costa aos senhores dessas regiões, tal como Macau, que protegia a China contra a investida da pirataria costeira. Era o que se poderia chamar hoje de uma relação Win-Win.
Voltando aos sectores de actividade, o terciário que se destina aos serviços, como vimos, sendo alavancado pelos dois sectores anteriores, potenciou uma mudança total e completa de paradigma: da produção alicerçada somente nos produtos passou-se a uma produção de aproximação cada vez maior às necessidades e procura de mercado dos indivíduos tornados clientes. Actualmente vivemos no sector quaternário que se caracteriza pela era das tecnologias da informação e conteúdos, que cumprem as necessidades de uma sociedade global. Do futuro espera-se que isto venha a suceder na era quinquenária do “Wellfare” ou do bem-estar. Os impérios da história acompanharam todos estes sectores, e impuseram paradigmaticamente a mudança, como nós portugueses com a implementação do sector terciário.
As organizações seguiram igualmente a tendência da desmaterialização, passando para sobreviverem ao primado das marcas, das ideias, dos conteúdos e da informação. Substituiu-se a materialidade empresarial centrada no produto e nas organizações rígidas do tipo familiar ou estatal, cujos activos (corpo material) se vêem disseminados por um conjunto indefinido de novos donos, accionistas, que por sua vez não são fixos, porque são livres de comprar e vender as participações nessas empresas. A personalidade e identidade, em suma, a alma destas organizações, reside agora só e apenas na marca, cuja mobilidade é tal que pode mudar de corpo, e de donos. A sua desligação acentuada ao plano material, pode no entanto conduzi-las à sua extinção, por perda de influência e de objectivos concretos que alimentam a ideia de identidade...
A internet tem substituído a materialidade dos livros, das bibliotecas, dos suportes multimédia e de algumas empresas. Grande parte do trabalho é hoje executado em suportes imateriais, cada vez mais o trabalho do homem reside nas ideias, na criatividade e na mudança de mentalidades, mais balanceado para o pensar, para o criar e menos para o fazer, ou executar…
No segundo paradigma, o do Ecossistema, tem-se verificado e propagado aos quatro ventos que os três primeiros sectores de actividade, são extremamente lesivos ao equilíbrio dos recursos naturais, daí que a actividade económica tenha que transitar rapidamente ao plano das ideias alavancada pela alta finança, saindo do âmbito do plano físico. Desde que se articulem estratégias sustentáveis de manutenção das necessidades básicas de subsistência das sociedades, a actividade ou o negócio do Homem transitará para o mundo criativo das ideias, suportado através de meios virtuais, que interfiram o mínimo possível com os ecossistemas terrestres, que são o suporte de todas as actividades.
Deste modo, a harmonização dos dois paradigmas prevêem a salvaguarda do equilíbrio Natural e a sustentabilidade das Sociedades do Homem, que sem as obsessões actuais se tornam num cumprimento absoluto das Leis do Equilíbrio Natural – ou Leis Divinas. Devo contudo referir, que mais nefasta que a poluição física dos ecossistemas, é a poluição mental dos Homens, ou melhor a falta de Amor Incondicional, do Amor Verdadeiro e fraterno que é a única Força agregadora e criativa do Universo. Antes de seguir o raciocínio quinto imperista e de o adaptar como o Padre António Vieira, nos soube deixar na sua História do Futuro, importa meditar sobre o seguinte texto:“Considerem agora os Portugueses, e leiam tudo o que daqui por diante formos escrevendo com este pressuposto e importantíssima advertência: que, se alguma cousa lhes poderia retardar o cumprimento destas promessas, seria só o esquecimento ou desconhecimento do soberano Autor delas, quando por nossa desgraça fôssemos tão injuriosamente ingratos a Deus, que ou referíssemos os benefícios passados, ou esperássemos os futuros de outra mão que a sua. Prometeu Deus de livrar os filhos de Israel do cativeiro do Egipto, como tinha jurado aos seus maiores, e de os levar e meter de posse da terra da Promissão; (…) se buscarmos no Texto Sagrado as causas deste desvio e dilação (a qual durou quarenta anos inteiros, sendo a distancia do caminho breve, e que se podia vencer em poucos dias) acharemos que foram, três. Agora nos servem as duas, depois diremos a terceira. A primeira causa foi atribuírem a liberdade do cativeiro a Moisés; (…) A segunda, e ainda mais ignorante (sobre ímpia e blasfema), foi atribuírem a mesma liberdade ao ídolo que de seu ouro tinham fundido no deserto. (…) Basta, povo descortês, ingrato e blasfemo! Que Moisés e o vosso ídolo foram os que vos livraram do cativeiro do Egipto?! (…)Mas antes que passemos às outras utilidades, que ficarão para os capítulos seguintes, justo será que fechemos este com a terceira causa do castigo que ponderávamos, a qual refere o Texto Sagrado no cap. XIV dos Números, e pode ser de grande exemplo para outra casta de gente, que são os que a Escritura chama filhos da desconfiança.”(Padre António Vieira em História do Futuro, Cap. II vol. I)
Segundo o P. António Vieira existem três aspectos que podem impedir que a profecia se cumpra: a destruição da concepção do Princípio Divino que é o desrespeito às Leis Naturais, a anulação do ideal da aristocracia natural transferíndo-a a ídolos com pés de barro e a perda de fé do indivíduo em sim mesmo.
No primeiro pode haver o risco das novas gerações perderem a noção da dependência das Leis Naturais (Lex Natura), pela ignorância ou pela arrogância. O falso conhecimento pode levar ao caminho divergente da verdadeira Luz com adoração a falsos profetas e deuses menores da ciência, da política, da finança e dos “media”.
Na segunda, a criação e adoração de "bezerros de ouro": os bens materiais que conduzem ao hedonismo numa sociedade virada somente ao prazer e à futilidade. A procura do ter, mais e melhor do que o outro, a ostentação de sinais externos de riqueza, o sentimento de que a sociedade do Homem tem ferramentas prontas a resolver todos os problemas e o autismo com que os privilegiados encaram a sua vida e viram a cara à miséria dos excluídos, sem direitos aos frutos da prosperidade.
Na terceira, o eterno recalcamento depressivo a que o português é sujeito desde a infância, levando-o ao complexo de inferioridade pelo nascimento, a desacreditar em si próprio, a pensar que é menos capaz que todos os outros, que é atrasado e que nunca chegará à linha dos povos da frente. O sentimento desde o berço de que nasceu num país pobre e pequeno, e que é filho de um povo atrasado e medíocre. Bombardeado pelos “media”, passando pelo estabelecimento de ensino, à empresa onde trabalha e às conversas de circunstancia, não lhe é permitido que o seu espírito germine e que erga a cabeça. Para isso tem que imigrar, para um sítio onde não seja identificado e anatematizado por ser tão só Português! Para que Portugal dos portugueses possa liderar, por direito próprio, num futuro próximo, o avanço da Humanidade como o fez desde o século XII ao XVI, terá que saber transmutar os agentes internos que se mantêm presos a ideologias e interesses que o aprisionam nestes três aspectos.
No primeiro, penso que terá que se mudar o paradigma, criando em todo o português um ideal superior, místico, uma missão, um Leitmotiv, uma Paidéia segundo Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Agostinho da Silva, António Quadros bem como muitos outros! Terá que seguir uma estratégia de vida que obedeça às Leis Naturais ou Divinas. A natureza é por definição a nossa melhor professora e a analogia a melhor das ferramentas de observação dos fenómenos.
Na segunda, a educação não para a igualdade castradora, taylorista, mas para a natural separação de indivíduos por capacidades e potencialidades, de tal forma que os que se encontram à frente se tornem nos ideais a projectar nos que estão mais a trás, os líderes naturais pelo abnegável exemplo, pelos princípios e em suma pelo valor e não pela falsa imagem que leva os indivíduos das classes inferiores a questionarem os das classes mais privilegiadas. Temos que colocar líderes naturais equilibrados pela Lei Natural e pela mais valia técnica e humana, a fim de servirem de força de tracção a toda a sociedade pelo seu trabalho operativo e pelo seu exemplo como seres humanos.
Na terceira, perceber e mostrar que o povo Português é naturalmente igual ou superior aos outros povos e se não se consegue avançar pelo caminho que os outros o querem dirigir e confinar é porque ele não nasceu para o fazer, como já referi. Ele nasceu para criar os seus próprios caminhos para lá do impossível, tornando-se no vanguardista, no descobridor, no navegador que dá novos mundos ao mundo!
sábado, 19 de julho de 2008
Portugal – Que missão? (II)
O reconhecimento da mudança de paradigma CEE-CE-UE
Não podemos ocultar o facto de que a adesão à CEE, cuja designação passou por CE e hoje é EU, tem sido uma falácia se fizermos um exercício de memória sobre as vantagens e expectativas de Portugal quando em 1986 assina o pacto comunitário. A adesão ao organismo europeu além de se reduzir ao paradigma económico, consubstanciado em regras políticas conjunturais, traduz-se na pratica e por essa via, no princípio do fim das soberanias Europeias, concomitantemente a nossa, com a ratificação do recente Tratado de Lisboa. A mudança da designação acompanhou a alteração de paradigma dado que inicialmente de comunidade de países soberanos, passámos a uma união onde se perfilam já os contornos de regiões e relações económicas interregionais fronteiriças. O sistema de regiões, promovido estrategicamente pelos interesses estruturais da UE, irá surgir no plano territorial a partir do provável fraccionamento de alguns países pelas suas idiossincrasias étnico-culturais latentes. As regiões desta feita irão imergir, como último reduto, lutando na defesa da identidade comunitária, no sentido da sua autodeterminação cuja força é agora acrescida face ao enfraquecimento das soberanias nacionais, e o distanciamento de poderes transferidos para Estrasburgo. Mais, a livre circulação de pessoas, no espaço comunitário, com a atracção das melhores inteligências nos locais mais desenvolvidos do ponto de vista económico, irá provocar a médio prazo a miscigenação dos povos com a perda total de identidade e o empobrecimento regional mais acentuado ao nível do valor humano. As regiões mais pobres ficarão ainda mais pobres, e na dependência total dos subsídios, que virão em troca de mais empobrecimento e dependência.
Neste aspecto é relevante a unidade do povo português continental e insular, de modo a que as fronteiras do berço da portugalidade se mantenham inalteráveis em todo o processo que se venha a desenhar. É necessário que se tomem medidas de manutenção e fixação dos melhores indivíduos, na prestação de serviços à sua comunidade, bem como políticas culturais baseadas na história e na missão Portuguesa, a fim da tradição ser de tal modo demolidora que quem decidir ficar entre nós, terá não só que aprender o português, como ter acesso aos nossos costumes e respeitar os nossos valores, tal como acontece nos países nórdicos. Essa unidade só será possível através de um líder natural que se torne o símbolo de união e alianças económico-culturais aos restantes países da lusofonia, relembrando o conhecimento prático da nossa história, adaptando-a à actualidade e projectando-a no futuro.
Quem é o Povo Português
O povo português sofre de atavismos próprios de quem já foi grande… a queda no abismo leva à melancolia e à depressão, esse saudosismo que o Pessoa refere como sendo do Futuro, reflexo de um passado incompleto! Este é o nosso Fado…
Contrariamente ao que é referido commumente, o povo Português não é ingovernável nem se pode dizer que não se pode esperar muito dele. Quando o povo português se torna ingovernável e contrário às políticas vigentes, significa que estas são naturalmente desajustadas ou insustentáveis, emergindo o princípio paradigmático de auto-preservação e de auto-regulação, subjacente a uma sabedoria ancestral gregária que funciona como um corpo só através do seu subconsciente colectivo, tal como um cardume de milhares de peixes que se movimenta num todo e quase por instinto face a um qualquer perigo externo!
Há um dizer em Sintra que expressa: “Nascer em Portugal ou por missão ou por castigo!” É um facto que o povo Português não nasceu para seguir os outros e cumprir as suas regras, mas para “andar à frente do mundo”, para dar “novos mundos ao mundo” – não é um povo de terra mas um povo de mar... Dêem uma missão impossível ao Português e ele é eficiente, dêem-lhe uma rotina e ele desinteressa-se e torna-se improdutivo. Falando de produtividade, ela não pode ser um objectivo principal para o povo português, mas secundário: falem de missão, tracem um rota e mostrem um destino por mais impossível que seja, que o português saberá lançar mãos à obra e a produtividade aparecerá consequentemente como por milagre! Gostaria de pedir aos governantes e gestores para que conheçam o povo que governam ou os trabalhadores que dirigem antes de implantarem as técnicas e métodos desenvolvidos noutros quadrantes pelos gurus da moda, que são efémeros, que se têm mostrado ser comprovadamente ineficazes quando aplicados a um povo sobranceiro e milenar como o nosso! E não é com repressão ou pela força ou ainda pela intimidação que se tira o melhor de cada um – medidas aliás que têm conduzido sempre no limite a convulsões revolucionárias, como que se de um tumor maligno o povo se quisesse ver livre. Tira-se partido desta gente conhecendo e potenciando tão-somente a corda sensível que a projecta e a transcende: a sua ambição pelo impossível! Tal foi a visão estratégica de São Bernardo de Claraval, levada a cabo pela Ordem do Templo / Cristo, única potência estratégica que soube como nenhuma outra até hoje, levar o povo Português às suas reais potencialidades.
Certo é ainda que o português gosta de conhecer as novidades porque se posicionam numa perspectiva de descoberta, porque é um povo aberto para o mundo: é descendente do fenício, filho da original casta Lusitana, mas também do celta, é constituido pelo árabe, pelo judeu e pelo cristão! Na sua globalização, cruzou-se com o africano, com o índio americano, com os asiáticos e com os indianos. Criou ou ajudou a criar países com idiossincrasias muito próprias e de certo modo ligadas à nossa causa que é deles também. A nossa Globalização, o Port+Graal emergiu de pequenas colónias ou feitorias para províncias ultramarinas espalhadas por todo o mundo. O que se conclui que a filosofia era tornar Portugal não numa metrópole contida no pequeno rectângulo original com colónias subjugadas de povos inferiores, mas “dilatar a Fé, o Império, e as terras viciosas”, tornando Portugal todo e uno em qualquer lugar por onde se estabelecesse o gene português.
Deste modo ele é aberto às novidades, expansivo e tolerante mas odeia ser obrigado a viver pelas regras dos outros, porque criou a sua própria paidéia triplamente transmitida pela terra onde nasce, pelos genes dos seus antepassados e pela oralidade dos poetas. O português tem tanto de Vasco da Gama, quanto de D. Henrique quanto de Velho do Restelo. E todos são úteis: o aventureiro que quer dar novos mundos ao mundo, o sonhador e estratega que concebe e planeia, e o ponderado que embora refractário e reactivo o faz por defesa da sua terra natal face aos perigos do caminho. No entanto sendo constituídos conceptualmente pelos três, tornamo-nos seres inquietos, pelo paradoxo de que somos reflexo.
O português sendo aventureiro e missionário, não pode ser materialista no seu íntimo, porque o risco de uma epopeia ou missão, implica a espiritualidade, o desapego completo, para além do limite da sua própria vida! O espírito de desapego do português é tal que nas épocas de governação estrangeirada, desconhecendo a sua ancestral missão ligada à do país onde nasceu, substimando a sua “raça”, o leva a raiar a traição, tal se encontra motivado a ser um cidadão do mundo. Desse mal padecem as classes governativas e intelectuais infectadas pelo jacobinismo e positivismo da revolução francesa de 1800 cuja continuidade atravessou dois séculos até ao europeísmo actual com as filosofias neoliberais e niilistas, de cariz desagregador da nossa paideia.
Do “ser português original” excluo obviamente o indivíduo mesquinho e de visão curta de que muitos se tornaram, o que se alimenta da corrupção, porque parasitas os há em todos os quadrantes e latitudes e não respeitam nenhuma terra que pisam. Excluo o novo-rico com as suas manias e preconceitos que o manterá para sempre tão pobre e desligado interiormente como nasceu: tem vergonha da sua condição, projectando a sua inferioridade no povo de que faz parte, mas que não lhe reconhece pertença. Refiro-me sim aqui ao português de alma e coração: desde o inovador cosmopolita mas conhecedor da sua missão, ao português profundo enraizado na terra dos seus antepassados, o indivíduo estreitamente ligado à terra, ao ser autêntico, granítico, rude de mãos e caras fendidas temperado pelo sofrimento, pelas alegrias e pelos elementos, mas com um conhecimento empírico tal, que muitas vezes mancha o manto sobranceiro do académico.
O Português é um Homem livre, preparado para a incógnita, para o desconhecido que o empolga, que o agiganta e que em suma o liberta, não para a rotina, para o conhecido, para as regras dos outros que o aprisionam, o asfixiam e o condenam a uma morte lenta… A sua reacção no presente é claramente de renúncia às regras impostas, ao sentimento de saudosismo, na esperança de ver renascida das cinzas, projectada no futuro a missão vanguardista de quinhentos que foi somente sua.
O Português genuíno é o povo que primeiro se dispõe a abandonar a Caverna de Platão e as suas sombras materiais sedutoras...
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Portugal – Que missão? (I)
Introdução
A época sombria em que vivemos tem sido paradoxalmente um motor de esperança, e virtude do aparecimento de muitos indícios que levam à redescoberta do país onde nascemos, dos nossos antepassados, e das verdadeiras potencialidades que possuímos. Como portugueses que somos, descendentes da “ínclita geração”, espero que sejamos merecedores de levar por diante a missão à qual por destino nos encontramos ligados.
Estou de acordo quando se fala da letargia e da falta de esperança que tem assolado o povo Português, sentimento que podemos constatar ao nível individual, bastando para isso sair um pouco da rotina e tomar consciência da realidade – da nossa realidade. Esse tempo de introspecção é necessário para observar o nosso estado de alma, para compreender o que realmente somos e valemos ainda como povo milenar, e para constatar o desvio que já temos dessa génese primordial: o fim do sentido de missão como povo activo da linha da frente a simples servidores passivos medíocres dos interesses alheios à nossa história e ao nosso propósito de ser e de estar.
É importante começar por referir que este sentimento não é de agora, refiro mesmo que é cíclico: a exuberância, a melancolia e o fatalismo. Curiosamente ou talvez não, o nosso país desde a sua fundação tem apresentado ciclos de queda que põem em causa a sua soberania como projecto-nação independente aproximadamente de 200 em 200 anos: 1383 - Crise do Interregno, 1580 – Dinastia Filipina, 1800 – Invasão Francesa e a Guerra Peninsular e 1986 – Adesão à então CEE. Mínimos vibratórios, matematicamente falando, durante os quais a alma portuguesa é obrigada a uma longa hibernação... emergindo nessas alturas a “sua mística” pelos nossos utopistas, filósofos e poetas: foi assim com Bandarra, com Luís Vaz de Camões, com o Padre António Vieira, com Fernando Pessoa, com o Agostinho da Silva, bem como muitos outros. É nessas alturas que aparecem os soldados da pena...
terça-feira, 15 de julho de 2008
Ainda sobre a nova Petição MIL (II)
A esse respeito, três breves notas:
1. Acusar a NOVA ÁGUIA e o MIL de terem uma linguagem proto-identitária é tão bizarro como, por exemplo, acusar o PCP de ter uma linguagem proto-marxista. Não é defeito, é feitio...
2. Falaremos e continuaremos a falar do sentido histórico da nossa Cultura, da nossa vocação, da nossa destinação, etc., etc., etc. Sem querer impor nada a ninguém, tanto mais porque essa destinação (e daí a diferença com o termo destino) é um caminho largo, uma “via aberta”, para usar uma expressão cara a José Marinho.
3. Decerto, os portugueses de hoje podem renegar por inteiro o que os melhores de ontem fizeram e/ ou pensaram. Mas o que acontece a todo aquele que renega o melhor de si? Melhor, com certeza, não fica…
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Ainda sobre a nova Petição MIL…
Quem, contudo, ler com atenção (e com boa-fé…) o texto da Petição poderá verificar que a proposta é gradualista. De resto, ainda no próprio texto da Petição se diz que “o MIL compreende e aceita que os fenómenos migratórios tenham que ser regulados”.
Nessa medida, e concretizando: cada vez mais, no espaço europeu, a política de imigração passa pelo estabelecimento de quotas. Pois bem: o que propomos, à luz desta Petição, é que essas quotas sejam preferencialmente preenchidas por imigrantes lusófonos...
Mas, obviamente, é bem mais fácil fazer caricaturas: também não se costuma dizer que o Agostinho da Silva era contra o trabalho?...
* Curiosamente, algo de similar aconteceu com a primeira Petição: na altura, houve algumas almas que acharam que nós queríamos (re)invadir Timor...
domingo, 13 de julho de 2008
Porque não subscrevo a nova Petição MIL (IV)
Se vocês querem impor a visão de Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva ao povo português, só têm, de facto, uma saída: levá-la a votos a todo o povo português...
Então veremos quanto votos vale essa “grande visão” de Portugal e do Mundo radica no sentido histórico da nossa Cultura…
Estarei cá para ver! Até lá, ganhem juízo…
Porque não subscrevo a nova Petição MIL (III)
Em Democracia, não temos que estar reféns do que fizeram e/ou pensaram os nossos antepassados, por mais ilustres que tenham sido.
As únicas pessoas que podem, legitimamente, determinar a nossa “destinação” são os cidadãos portugueses devidamente recenseados para votar.
Se estes determinassem pôr fim a Portugal, poderiam, com toda a legitimidade, fazê-lo. E o facto de muitos portugueses, no passado, terem dado a vida pela Pátria é absolutamente irrelevante…
P.S. Sou como o Hugo Chávez. A mim, ninguém me cala. Pelo menos, enquanto a Direcção do blogue não me banir daqui… Se o fizer, esse será o reconhecimento da minha razão, da superioridade dos meus argumentos. Só se cala quem não se consegue refutar…
Porque não subscrevo a nova Petição MIL (II)
Pergunto: que direito têm vocês de definirem a nossa “destinação”? Nem vocês o têm, nem qualquer dos “grandes pensadores” que referem: Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
Acordem, meus amigos: vivemos há muito em Democracia. A opinião de Pascoaes, Pessoa ou Agostinho é tão válida como qualquer outra. Vale, apenas, um voto…
Se alguém tem alguma legitimidade para falar da nossa “destinação” é o nosso Sócrates. E não estou a falar do Filósofo…
sábado, 12 de julho de 2008
Porque não subscrevo a nova Petição MIL...
1. Diga o MIL o que disser, Portugal deve privilegiar os imigrantes europeus (com os quais tem efectivas afinidades civilizacionais) e não os imigrantes lusófonos (com os quais tem apenas relativas afinidades culturais e linguísticas) - daí o acerto da "Directiva do Retorno". Eu tenho uma empregada polaca e não a trocaria por nenhuma brasileira, cabo-verdiana, angolana, moçambicana, são-tomense, guineense ou timorense. Fala menos mas trabalha bem mais...
2. Obviamente, a ideia do “passaporte lusófono” jamais se irá concretizar: só com a vinda de brasileiros, Portugal ia de vez ao fundo! Ainda bem, aliás, que, uma vez mais, não há qualquer referendo: manifestamente, os portugueses não se sabem governar a si próprios. Que a Europa, cada vez mais, nos governe, que é única forma de ir mantendo o barco à tona…
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Mudança de Paradigma, de Horizonte...
Portugal tem que reencontrar a sua razão de ser, ou seja, o sentido histórico da sua cultura, tal como ele foi prefigurado pelos nossos maiores pensadores, nomeadamente, por Agostinho da Silva.
Reencontrando esse sentido histórico, o caminho só pode ser esse: religarmo-nos, progressivamente, aos outros povos lusófonos, fazendo, em última instância, da Lusofonia em espaço único...
Não que para isso tenhamos que deixar de ser europeus. Portugal é o mais antigo país europeu. É pois ridícula esta obsessão de fazermos, a todo o instante, prova da nossa condição de europeus. Se alguém a tem que fazer, não somos, decerto, nós...
O que não podemos é, contudo, ficar reféns dessa Europa-Fortaleza, fechada em si própria, e assim renegar esse nosso sentido histórico de abertura ao mundo, em particular, ao mundo lusófono…
Obviamente, para muita gente, esquecida que está ou ignorante que é desse sentido histórico, o que o MIL propõe é demasiado temerário, demasiado ousado…
Olhem então para a Grã-Bretanha, por exemplo: acham que ela vai alguma vez renegar a sua singularidade (em todos os planos, nomeadamente no da sua política externa) para se anular numa Europa pretensamente una?...
terça-feira, 24 de junho de 2008
EUROPA

O despojo, um crânio sobre pneus,
Confunde a esfinge e o seu escriba
Sentado. (O búzio
Perdeu a ressonância,
Não canta por si,
É preciso soprá-lo.)
O deserto derrete as páginas.

Ecos, cópias, luzes falsas.

Lucrécio atormenta-se em casa,
Trancado com o Universo… enigmas
Prenhes de enigmas prenhes
De enigmas... Lucrécio não tem fundo.
E, de noite, o deus
Fá-lo cantar.

Imundície, pestes, mentiras.

(Quem comanda os meus passos?
As vielas, o tear de túneis,
Mergulham no Hades.)

Telémaco no bordel.
Penélope no secador.

As parcas douradas que tecem as ruas
Tecem o labirinto. Os sinais. Os corvos
De Zeus devoraram-se
No ar. Ulisses,
Não encontra o caminho de volta.
As vagas e os campos
São martelados pela tempestade.

As tochas dançam sem faunos,
Nem música. A nudez,
A beleza, etc, são agora crime.
Os lagos foram abandonados.
A populaça em fúria
Persegue o Minotauro,
Os cegos, o rapaz
De braços de gafanhoto que nasceu
Com seios, o chiador,
Os disformes; mongolóides, anões.
Os centauros são abatidos nas praças.

Teseu de ariana espada vem para nós
A 120 km/h da hidra subterrânea.

(Livros, rosas, seios, não sei,
Faltam-me as palavras.
A guerra – em breve
Os poetas serão um luxo.)
sexta-feira, 13 de junho de 2008
A ANEDOTA POLÍTICA DA SEMANA
«Os Irlandeses estão com medo da Europa.»
Dito por um gajo qualquer num telejornal, apresentado como analista político.
Meu caro senhor – perdoe-me não saber o seu nome; a culpa é inteiramente da minha ausência de hábitos televisivos, que se resumem ao malfadado hábito dos restaurantes não desligarem a trampa dos televisores durante as refeições –, retomando, meu caro senhor, com os Escoceses, os Irlandeses estão no topo da valentia a Ocidente. Durante os anos de pertença à Europa comunitária (nenhuma alusão à utopia das comunas) ergueram da fome e da opressão uma Nação sempre orgulhosa, cujo sucesso económico e social é um exemplo, tendo no momento melhor nível de vida que os Ingleses (qualidade de vida, riqueza para alguns e poderio dos Estados são categorias sumamente diversas).
A Irlanda, em cujo povo Almada Negreiros encontrou, fora da matriz ibérica, as maiores semelhanças aos Portugueses, ao limpar o cu ao Tratado de Lisboa, está, primeiramente, a dar-nos um recado solidário: sabem que somos um povo inteligente, com mitigada culpa no governo da idiotia e só nos querem auxiliar na recuperação do nosso orgulho e da nossa honra. É uma irmandade do sangue, que fala mais alto que qualquer argúcia política de gabinete, chama-se brio antigo! – algo que também herdaram dos primeiros colonizadores das Bretanhas, os Iberos.
TO IRELAND IN THE COMING TIMES
NOW, that I would accounted be
True brother of a company
That sang, to sweeten Ireland's wrong,
Ballad and story, rann and song;
Nor be I any less of them,
Because the red-rose-bordered hem
Of her, whose history began
Before God made the angelic clan,
Trails all about the written page.
When Time began to rant and rage
The measure of her flying feet
Made Ireland's heart begin to beat;
And Time bade all his candles flare
To light a measure here and there;
And may the thoughts of Ireland brood
Upon a measured quietude.
Nor may I less be counted one
With Davis, Mangan, Ferguson,
Because, to him who ponders well,
My rhymes more than their rhyming tell
Of things discovered in the deep,
Where only body's laid asleep.
For the elemental creatures go
About my table to and fro,
That hurry from unmeasured mind
To rant and rage in flood and wind;
Yet he who treads in measured ways
May surely barter gaze for gaze.
Man ever journeys on with them
After the red-rose-bordered hem.
Ah, faeries, dancing under the moon,
A Druid land, a Druid tune!
While still I may, I write for you
The love I lived, the dream I knew.
From our birthday, until we die,
Is but the winking of an eye;
And we, our singing and our love,
What measurer Time has lit above,
And all benighted things that go
About my table to and fro,
Are passing on to where may be,
In truth's consuming ecstasy,
No place for love and dream at all;
For God goes by with white footfall.
I cast my heart into my rhymes,
That you, in the dim coming times,
May know how my heart went with them
After the red-rose-bordered hem.
William Butler Yeats
Mobilização contra a directiva da vergonha (de retorno)
Largo de São Domingos, Rossio,
junto ao Monumento pela Tolerância
A União Europeia agita a bandeira da xenofobia e do racismo
Os Ministros do Interior da UE aprovaram o Projecto de Directiva de Retorno, que estabelece as regras comuns para a expulsão dos imigrantes indocumentados. Os governos Europeus, incluindo o Português, ignoraram assim os apelos de organizações da sociedade civil que têm rejeitado esta directiva. Este projecto terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu, entre 16 a 19 de Junho.
São vários os aspectos verdadeiramente vergonhosos desta directiva:
· fixa em dezoito meses o período máximo de detenção de imigrantes indocumentados, antes de sua deportação. Como um primeiro passo, fixa um máximo de seis meses, que pode ser prolongado por mais doze meses, por falta de "cooperação" dos países de origem dos migrantes. É verdade que os Estados Membros são autorizados a manter um período de prisão inferior a dezoito meses, mas a directiva fará com que os Estados-Membros tendam a alinhar-se com a duração máxima prevista pelo acordo;
· prevê que a partida de um imigrante indocumentado, suavemente chamada de "remoção", terá lugar numa base "voluntária" mas que este, no caso de resistência, poderá ser forçado ou obrigado, sendo depois proibida a sua entrada no território da UE, durante cinco anos;
· até as crianças podem ser detidas, mesmo que por um período "tão breve" quanto possível.
Neste contexto, consideramos que:
1. O triângulo de poder Sarkozy-Merkel-Berlusconi tem condicionado a política de imigração europeia, pressionando numa direcção claramente regressiva e securitária, encontrando nos imigrantes os bodes expiatórios para o clima de insatisfação social que se vive na Europa;
2. A aprovação desta Directiva vai na linha do espírito da política que tem sido activamente implementada pelo presidente Francês, Nicolas Sarkozy, que pretende chegar a um pacto sobre a imigração, marcado por medidas populistas, racistas e xenófobas;
3. A directiva fortalece a política de massificação dos centros de detenção dentro da europa (actualmente já são 280), ou subcontratados com os países vizinhos;
4. O argumento apresentado pelo Ministro da Administração Interna de que esta directiva apenas estabelece máximos de detenção e que em Portugal esta Directiva não vai implicar qualquer alteração é hipocrita pois a directiva, para além de agravar a situação dos imigrantes indocumentados na Europa, legitimará as medidas de expulsão e limitará as perspectivas de legalização.
Perante esta agressão dos valores da dignidade humana, das liberdades políticas e dos direitos fundamentais:
· Manifestamos a nossa clara condenação à directiva de retorno, que solidifica a Europa Fortaleza;
· Em pleno Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, consideramos que esta medida é uma afronta directa ao espírito de promoção do respeito dos Direitos Humanos e da diversidade cultural, e do diálogo intercultural;
· Apelamos aos deputados europeus a rejeitarem esta Directiva, aquando da sua discussão, entre 16 e 19 de Junho, no Parlamento Europeu;
· Reinvidicamos a regularização de todos imigrantes indocumentados que se encontram na UE.
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SOS Racismo
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