Dedicado ao 1º Sargento CMD Roma Pereira, morto no Afeganistão
Fotos por cortesia de Amigos
A morte, a de sempre, real, a que uiva
Desde o início dos tempos, de luvas negras,
A que não se mostra na TV, entre a sopa,
Os talheres sem fio, as toalhas sujas, os rostos
Zombificados da família dopada.
A morte, ceifeira muda que estende a mão
Aos mortos – valquíria antiga, valente e pura –
Para longe da miséria dos vivos,
Nas suas tocas, tronos, como vermes,
Ou pardas toupeiras cegas, ávidas, à procura
Da sua ração de gozo no lixo.
Estes, os guerreiros sem nome nos livros,
Nas conversas de café e de bordel,
Que são antes os primeiros – os olhos são altos –
A correr para as muralhas da cidade,
Tijolos de carne e amor, estandartes da honra,
Lanças e clarins, ao sol, à geada,
Defendem as fronteiras do Ocidente, protegem-nos
Nas Termópilas ainda, em Aljubarrota,
Com a memória dos filhos no coração sangrante,
A terra pátria guardada nas mãos.
Não leram Heraclito e são o garante da lei,
As páginas de sangue em que duramos e somos.
Klatuu Niktos
13 comentários:
poema maravilhoso.. um desfecho arrebatadador! algo que comove e faz pensar..
parabéns!
Um bom homem e um militar de grande bravura e dignidade, que deixou viúva e uma filha pequena, ao serviço de Portugal e dos valores da democracia e da liberdade defendidos pela Civilização Ocidental - a pena dos poetas nunca poderá rivalizar com a espada e o escudo que segurou com honra até ao instante final!
Obrigado, Amigo Fabrício.
Um abraço!
MAMA SUME!!
Escudo Vermelho e Espada!!
O sofrimento e a dor dessa gente não sai no jornal, são heróis anônimos que a História não particulariza, sabe-se do todo e não de parte por parte do que se passou por esses corações e cabeças.
Poema lindo e impactante como tu!
Beijos.
Tou escutando colibri no meio do bananal e ouvindo discurso de mosca! LOL!!
A segunda e terceira estrofes do poema dialogam com este pensamento de Heraclito e a Herança Helénica:
«Deve o povo lutar em defesa da lei como se fosse as muralhas da cidade.» Frag. 44 D (D. L., IX, 2)
¬¬
Comovente e merecida homenagem, extensível a todos aqueles que caem no campo de batalha ao serviço da Pátria.
Os guerreiros anónimos sem nome nos livros merecem toda a nossa admiração e respeito.
"...a pena dos poetas nunca poderá rivalizar com a espada e o escudo que segurou com honra até ao instante final!"
Rivalizar não, mas ajudar a imortalizar, sim.
A pena é também uma arma.
"Sempre que a Pátria decreta,
Vem-nos de Deus o recado.
— E veste-se cada poeta
De soldado."
(Rodrigo Emílio, 1973)
É com um coração emocionado que comento este belo poema deixado a um Camarada, a um Irmão, a um Compatriota. Gostava de evocar também aqui o Cabo Horácio Mourão, gravemente ferido pela mesma mina que vitimou o Srg. Roma Pereira.
Roma era tudo isso para mim, apesar de não o conhecer pessoalmente, todos os que cruzaram os portões de um qualquer quartel de Comandos, na qualidade de mancebos são meus Irmãos.
Também o são todos aqueles que tombaram a servir a nossa Pátria, todos os que com coragem e valentia, mas também com medo e dor lutaram para defender a honra e a dignidade do país em que nasci.
Pelos COMANDOS e por PORTUGAL
MAMA SUME
É tão pouco, Nitrox. E só agradeço a tua estima, a tua chamada de atenção e o apreço, teu e dos teus camaradas, em ler o que escrevo.
Abraço!
Viva Portugal!
Casimiro, não me piques com o Emílio, que ando a comer mal... :)
Enviar um comentário