A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
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Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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domingo, 25 de maio de 2008

BRASIL, POR PÊRO VAZ DE CAMINHA




As naus aproadas, Senhor, tive medo,
O meu coração, as minhas mãos, a alma
Tremiam-me, a minha coragem é a da pena
Não a das armas e do cordame. Um longe,
Primeiro, acima das vagas, e depois
Todas as maravilhas do mundo, o verde
Puro e alto, com o azul celeste, aberto,
Confundidos no calvário infernal do ar e
Aves, ou anjos, de amarelo forte alucinado
No assombro da visão rasgada. Toda a sede,
Toda a fome, toda a dor, se nos calou,
Senhor, naquele instante. Os batéis
Descidos à pressa, calma, homens mais
Não somos, chegados suplicantes, cristos
De carne e sal, vindos do sem pátria
Do terror das águas, a benção do fogo
Sobre nós caía, luz tanta, que do néscio
Nascia eloquência e virtude e levados
Fomos ao paraíso terreno, ao mais santo
Dos chãos. Desta praia, o que Vos damos,
Majestade, do penhor sereis Vós o reino,
O que Deus conservou só podem os reis
Servir, os homens amar, o engenho e a pena
Defender. Em boa razão Vos digo, Meu Rey,
Escrevo estas palavras no imo do eterno e
Do império da morte foi minhalma salva.
Se meus olhos a essa luz nossa, nem à terra
Regressarem, fui de Portugal filho, longe
Posso morrer, que o amor me é mortalha.


Lord of Erewhon,
aos 25 de Maio de 2008 deste Reino de Portugal

21 comentários:

José Pires F. disse...

Algum tempo atrás, fiz um comentário num blog de poesia. Hoje fui lá buscá-lo para to deixar aqui.

Eu não sou poeta, mas sou sonhador. Um poeta tem que ser sonhador...um sonhador pode não ser poeta, logo, o sonho abrange os dois "ramos": quem é poeta e quem não o é... e, sem perder o sentido da realidade, é nesta relatividade de conceitos que se estabelecem analogias comportamentais que, por osmose, nos transportam a projectos, umas vezes de inquietação outras de felicidade. Ora, é neste sentido, para alguns absurdo, mas no respeito pela pluralidade das formas de sentir, que vivo a poesia e sou grato a todos que têm a capacidade, não só de sentir, como de nos oferecer a beleza de um poema.

O meu agradecimento e um grande abraço, Lord.

PS: Hoje, aqui frui.

andorinha disse...

Esplendoroso! Este poema é arte na mais pura acepção da palavra!
Do mais belo que alguma vez li.
Não há palavras que consigam exprimir a minha emoção...

Parabéns e obrigada, Lord, por este momento sublime que proporcionas a todos os leitores deste cantinho.

Beijo grato

Ana Margarida Esteves disse...

Já disse António Vieira que ser Português é ter Portugal para nascer e o mundo inteiro para morrer.

Esta expressão, dita de forma tão sentida e bela num filme Manoel de Oliveira numa cena em que só apareciam ondas do alto mar, é comovente até às lágrimas.

Excelente poema, parabéns.

Lord of Erewhon disse...

A circunstância em que este poema me surgiu, completo e sem necessitar emendas, foi estranhíssima, mas não vou maçar ninguém com o meu misticismo.

Muito obrigado, amigas e amigo.

Viva o Rei!
Viva Portugal!
Viva o Senhor Pêro Vaz de Caminha!

Que a sua Alma, de nós, os vivos, não se esqueça, mas descanse.

José Pires F. disse...

Ana Margarida,
embora conhecesse a frase, dela me não lembrava. Esta, enche-nos o peito.

Ana Beatriz Frusca disse...

Lendo essa tua poesia me veio a sensação de que você nasceu com as mãos

repletas de sementes de poesieiras e que você tem plantado todas elas com

delicadeza em terreno fértil.

Bjuxx, maninho!

Jo disse...

Muito belo.

As almas dos Grandes Homens são seletivas e exigentes quanto aos mortais em que escolhem descer...

:)*

Lord of Erewhon disse...

«repletas de sementes de poesieiras»

Bia, este verso é muito belo. Ainda nos orgulharás a todos, um dia. A mim já.


Temos as vielas nocturnas repletas de vozes antigas, Mariazinha, é na noite que brilham os mortos.


Beijos, para ambas.

Anónimo disse...

Lendo em cima e aqui concluo que voce é que nem o Vieira padre de cima mas gosto mais do teu "estalo".

jawaa disse...

Mylord, tens lugar à mesa da Távola do rei, de pleno direito, depois disto.
Um abraço

Lord of Erewhon disse...

Ah, agora sim, desfez-se o nevoeiro! Aos místicos do clero, se algum êxtase os transporta, o voo nunca passa os telhados dos mosteiros - nem dão boleias em vassouras e tapetes voadores... :)

Os que demandam dormem em estábulos e nem encontram descanso no mundo! Não conhecem outra Lei, senão a que erguem com os punhos, mas puro é o coração que será merecedor de chegar.

O menino tem-lhe muita estima e consideração.

Anónimo disse...

Ora que belo poema. Está tudo dito pelos comentadores. Só peço "bis".
Abraço.

PS - Quanto ao maçar ninguém com o misticismo, não maça mas nem é preciso. Quem escreve por vezes completo e sem necessitar emendas compreende bem e sorrindo identifica-se.

Anónimo disse...

«Não somos, chegados suplicantes,/cristos/De carne e sal, vindos do sem pátria/Do terror das águas, a benção do fogo/Sobre nós caía, luz tanta, que do néscio/
Nascia eloquência e virtude e levados/Fomos ao paraíso terreno, ao mais santo/Dos chãos.»

Belíssimo...
Aqueles que temem o Desconhecido e não vacilam, aqueles que são humilhados, desprezados e torturados e não vacilam, esses anónimos da História que morreram em nome da audácia, da coragem, da liberdade, ou de uma outra causa verdadeiramente nobre, honrando não só um povo mas toda a Humanidade, são esses cujos feitos merecem ser cantados.

Tu vestes as palavras de nevoeiro, mas simultaneamente conferes-lhes a identidade e a força de um grito silencioso. É como se as palavras brotassem do céu já salgadas pela terra e só conseguíssem encontrar repouso no horizonte.

Neste escrito escutei três vozes, a voz do homem que a História não esqueceu, a voz da Palavra e a tua, vôvô.

És um dos melhores escritores que já tive o privilégio de ler e o que cuja escrita mais me toca.

Beijinhos grandes afô*

Lord of Erewhon disse...

O menino camponês, rude e iletrado, que segura sem medo o pique em Aljubarrota, não é menos nobre que o cavaleiro montado acima dele... e mais rijo é Portugal nele, porque todo o seu anseio está mais próximo do chão.
Nem menor é o valor daqueles que enfrentaram os horrores do mar desconhecido, apenas armados de idealismo e do esgrimir da pena.

Beijinhos, Sally the Kid... ;)

P. S. Agora é que vieste baralhar por completo estes Amigos... no mínimo, vão pensar que sou Dom António Prior do Crato, furibundo e renascido! :)

isabel mendes ferreira disse...

muito provavelmente e por vias de eflúvios vários comentar "aqui" pode "virar" relâmpagos furiosos, logo desde já que me desculpe o Poeta K.
registo apenas o prazer de O ler.
_________________________

redundante seria tentar acrescentar algo ao já acima escrito.
_________________________.
ressalvo a claridade. do pensamento.
___________
bom dia.

Lord of Erewhon disse...

Ler a Carta a El Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil (mamas, história, apontamentos pícaros, arqueologia, arquitectura,lolitas, condecorações, pintura, F.C. e black metal).

____________@&%$#?#!____________

Evelyne Furtado. disse...

Belíssima! A "coragem da pena" a mim encantou e aqui ainda temos quase todas as maravilhas do mundo e algumas das desgraças também.
Foi um deleite ler a carta de Caminha, aqui Lord!

Beijos

Evelyne Furtado. disse...

Compare a seguir com o trecho da Carta original mais divulgao por aqui:

(...)Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé!

E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo.

E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê.

Beijo as mãos de Vossa Alteza."

Beijos meus.

Ruela disse...

Muito bom.

abraço.

Inha disse...

"O que Deus conservou só podem os reis
Servir, os homens amar, o engenho e a pena
Defender. Em boa razão Vos digo, Meu Rey,
Escrevo estas palavras no imo do eterno e
Do império da morte foi minhalma salva.
Se meus olhos a essa luz nossa, nem à terra
Regressarem, fui de Portugal filho, longe
Posso morrer, que o amor me é mortalha."

Brilhante! Lindo de morrer... (porque será que não fiquei surpreendida?;))

Muito e muito obrigada pelo teu convite a esta humilde leitora.

Uma beijoquINHA muito grande, my Lord.

Viva El Rey
Viva Portugal!

P.S.(r)Vou já tratar de encomendar.;)

Lord of Erewhon disse...

Viva El Rey!
Viva Portugal!
Viva a Lusofonia!

Muito obrigado, querida Amiga.

P. S. Obrigado a todos.