
As naus aproadas, Senhor, tive medo,
O meu coração, as minhas mãos, a alma
Tremiam-me, a minha coragem é a da pena
Não a das armas e do cordame. Um longe,
Primeiro, acima das vagas, e depois
Todas as maravilhas do mundo, o verde
Puro e alto, com o azul celeste, aberto,
Confundidos no calvário infernal do ar e
Aves, ou anjos, de amarelo forte alucinado
No assombro da visão rasgada. Toda a sede,
Toda a fome, toda a dor, se nos calou,
Senhor, naquele instante. Os batéis
Descidos à pressa, calma, homens mais
Não somos, chegados suplicantes, cristos
De carne e sal, vindos do sem pátria
Do terror das águas, a benção do fogo
Sobre nós caía, luz tanta, que do néscio
Nascia eloquência e virtude e levados
Fomos ao paraíso terreno, ao mais santo
Dos chãos. Desta praia, o que Vos damos,
Majestade, do penhor sereis Vós o reino,
O que Deus conservou só podem os reis
Servir, os homens amar, o engenho e a pena
Defender. Em boa razão Vos digo, Meu Rey,
Escrevo estas palavras no imo do eterno e
Do império da morte foi minhalma salva.
Se meus olhos a essa luz nossa, nem à terra
Regressarem, fui de Portugal filho, longe
Posso morrer, que o amor me é mortalha.
Lord of Erewhon,
aos 25 de Maio de 2008 deste Reino de Portugal