A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Extracto da Comunicação para o Colóquio sobre a Seara Nova (FLUL, 28-30 de Outubro)

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Entre os movimentos da Renascença Portuguesa e da Seara Nova - da Lusitanidade à Lusofonia: o caso de Agostinho da Silva.

Dentre as cisões que animaram a nossa história cultural, a cisão Renascença Portuguesa-Seara Nova é, decerto, uma das mais fracturantes, senão mesmo a mais fracturante.
Perante ela, parece fácil tomar posição. Tanto mais porque, historicamente, foi a Seara Nova que parece ter vencido, pelo menos nesse plano retórico onde muitas vezes, senão sempre, se joga o destino das histórias culturais.
Segundo essa mesma retórica, temos, de um lado – da Renascença Portuguesa –, um movimento saudosista, logo passadista, logo reaccionário, que, alegadamente, pretendia enclausurar Portugal em si próprio[2]; do outro lado – da Seara Nova –, temos um movimento progressista, modernizador, que, ao invés, pretendia abrir Portugal à Europa, a todo o mundo…
Como quase todas as visões caricaturais, também esta é tão substancialmente falsa quanto acidentalmente verdadeira. É verdade que a Renascença Portuguesa – na perspectiva de Pascoaes, em particular – sobrepunha, como veremos, os paradigmas endógenos aos exógenos. Isso não faz dele, contudo, a priori, menos progressista.
O que aqui há são diversas concepções de progresso, e mesmo de modernidade. Se, para Teixeira de Pascoaes, “o fim da Renascença Lusitana é combater as influências contrárias ao nosso carácter étnico, inimigas da nossa autonomia espiritual e provocar, por todos os meios de que se serve a inteligência humana, o aparecimento de novas forças morais orientadoras e educadoras do povo, que sejam essencialmente lusitanas”[3], para Raul Proença, por exemplo, o paradigma é de facto outro. Ouçamos, para o atestar estas suas palavras:
“O nosso espírito, a nossa maneira de encarar os problemas, o nosso modo de os resolver, as ideias fundamentais que formamos da vida e do mundo, tudo isso que é o que importa numa sociedade, porque é o que nela há de garantias para uma sociedade melhor, são coisas anacrónicas, sem relação nenhuma com o meio europeu em que nos integramos fisicamente. É como se fossemos uma pústula no meio da Europa, onde circula ininterruptamente sangue sempre novo e sempre vivificante. Como estremunhados pensamos ideias que não são para o nosso tempo, continuamos num sonho distante, estranhos à actividade, estranhos ao pensamento moderno”[4].

De facto, estamos aqui perante dois paradigmas: de um lado, pugnava-se por um progresso a partir de dentro, que fosse fiel à nossa alegada singularidade histórico-cultural; do outro, pugnava-se por uma adequação de Portugal ao que aparentava ser o exemplo máximo de modernidade: a Europa.
Esta divergência – de ordem cultural, filosófica e até ideológica – foi, de resto, assumida, de uma forma tanto mais nobre porquanto não envolveu qualquer desqualificação ético-moral da “outra parte”.
Foi esse, por exemplo, o caso de Raul Proença, que se referiu aos seus “oponentes” do movimento da Renascença Portuguesa como “criaturas de alto valor, de nobre senso moral, credoras da nossa admiração e do nosso respeito”[5]. O que é de enaltecer, pois que, entre nós, o mais habitual é as divergências de ordem cultural, filosófica e até ideológica redundarem em desqualificações ético-morais…
Neste caso, isso não aconteceu, até porque a divergência era de facto clara: entre, por exemplo, alguém como António Sérgio, que “não se pensava sob a categoria do nacional”[6], e alguém como Teixeira de Pascoaes, que pensou a Pátria como “um ser vivo superior aos indivíduos que o constituem, marcando, além e acima deles, uma nova Individualidade”[7], era claramente difícil, senão impossível, haver um caminho comum…
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Não obstante, houve casos que ultrapassaram essa fronteira aparentemente intransponível: prova de que os percursos pessoais são sempre irredutíveis a todos os rótulos, a todas as etiquetas…
Exemplo máximo disso foi, a nosso ver, o caso de Agostinho da Silva. Não tendo sido propriamente um “renascente” – até por questões de ordem etária: Agostinho da Silva nasceu em 1906, apenas 6 anos antes da criação do movimento da Renascença Portuguesa – alguns textos de juventude aproximam-se, bastante, do ideário da Renascença.
Atentemos, por exemplo, no seguinte texto:
AS RESPONSABILIDADES DE EÇA DE QUEIROZ[8]
(...)
Comparemo-lo agora com o seguinte texto, escrito apenas cinco anos após, quando Agostinho da Silva militava já nas fileiras da Seara Nova[9]:
DA IMITAÇÃO DA FRANÇA[10]
(...)
A diferença, de facto, dificilmente poderia ser maior. No primeiro texto, acusa Eça de Queiroz de ter criado “um ambiente de desprezo pela pátria” – eis, de resto, a acusação que Agostinho da Silva imputou a toda a “Geração de 70”, à excepção de Francisco Manuel de Melo Breyner, conde de Ficalho, que, ao contrário dos outros, “não teve pessimismos, não considerou a nação falida, não troçou de ninguém”[11]. No segundo, conclui com seguinte exortação: “Imitemos a França, imitemo-la inteiramente…”.
Cerca de uma década e meia depois, já no Brasil – para onde parte em 1944 –, vai, contudo, Agostinho da Silva reencontrar a nossa singularidade histórico-cultural – para ele, de resto, como ele próprio escreverá, foi a criação do Brasil que terá “definitivamente livrado Portugal das daninhas influências europeias que não o deixaram ter nem regime cultural nem acção nem política verdadeiramente adequadas à sua mentalidade”[12], antes procuraram “fazer de Portugal uma Dinamarca latina”[13].
Esse reencontro não se constituiu todavia como um regresso. Ainda que tenha retornado a este país, em 1969, aqui permanecendo os últimos vinte e cinco anos da sua vida – Agostinho da Silva faleceu no dia 3 de Abril de 1994 –, o autor da Reflexão à margem da literatura portuguesa jamais verdadeiramente regressou. Desde os anos cinquenta o seu horizonte foi sempre já outro: não já a Lusitanidade, não já Portugal, mas a Lusofonia, a Comunidade Lusófona, da qual Portugal era apenas uma extensão, a extensão europeia. No princípio de um novo século, eis o novo horizonte que se depara aos nossos olhos[14].

[2] Partindo desta perspectiva, mais ou menos expressamente enunciada, inevitável é depois falar-se do “esgotado movimento da Renascença Portuguesa e da revista A Águia” (como, por exemplo, in Seara Nova: Razão, Democracia, Europa, Porto, Campo das Letras, 2001, p. 7). Como visão contrapolar a esta, refira-se, nomeadamente, a de José Marinho, para quem “com a ‘Renascença Portuguesa’, e com tudo quanto se lhe segue em afinidade espiritual ou crítico contraste, surge a mais funda transmutação na vida espiritual portuguesa desde o Renascimento.” [cf. Verdade, Condição e Destino no pensamento português contemporâneo, Porto, Lello, 1976, pp. 224-225].
[3] Cf. “Manifesto da Renascença Portuguesa”, in A Vida Portuguesa, ano l, nº 22, 10/2/1914, pp. 10-11.
[4] In A Vida Portuguesa, Ano I, nº 22, 10/ 02/ 1914, p. 12
[5] Idem, ibidem.
[6] Cf. “Prefácio” a O Mundo que o Português criou, de Gilberto Freyre, Lisboa, Livros do Brasil, 1940, p. 10.
[7] In A Arte de Ser Português, Lisboa, Delraux, 1978, p. 33.
[8] In Acção Académica, Porto, 15 de Outubro de 1925, ano I, nº 3, p. 3.
[9] Agostinho da Silva aproximou-se em particular de António Sérgio, a quem inclusivamente chegou a reconhecer como seu “mestre” – isto apesar destas suas considerações: “…Sérgio não ousou afrontar os problemas filosóficos mais profundos, as questões de dúvida. Preferia manter-se na certeza.”; “Mesmo como pedagogo, a sua atitude tendia a ser de grande arrogância intelectual.” [cf. Dispersos, introd. de Fernando Cristóvão, apres. e org. de Paulo A. E. Borges, Lisboa, ICALP, 1988/ 1989 (2ª, revista e aumentada)., p. 55]. Como, contudo, o próprio Agostinho reconhece, o seu discipulato relativamente a Sérgio cumpriu-se, sobretudo, por oposição: “…mas ele [Sérgio] não me ensinou o racionalismo: ensinou-me antes o irracionalismo, por reacção minha.” [cf. Francisco Palma Dias, “Agostinho da Silva, Bandeirante do Espírito”, in AA.VV., Agostinho [da Silva], São Paulo, Green Forest do Brasil Editora, 2000, p. 155]. Nessa medida, ainda que indirectamente, Agostinho terá sido, muito mais do que um “discípulo de Sérgio”, um “discípulo de Leonardo” – António Telmo considerou-o mesmo, de resto, como “o último discípulo de Leonardo Coimbra” [cf. “Testemunho”, in Diário de Notícias, 4/4/1994]. Isto apesar do próprio Agostinho da Silva, na sua expressão algo jocosa, “nunca ter sido leonardesco” [cf. AA.VV., Agostinho [da Silva], ed. cit., p. 155] –, não obstante ter reconhecido a sua “largueza de espírito” [cf. Dispersos, ed. cit., p. 174]. Mais do que discípulo de Leonardo, Agostinho terá permanecido sempre, sobretudo, discípulo da Faculdade de Letras do Porto enquanto “escola de liberdade” [cf. ibid., p. 147].
[10] In Seara Nova, Lisboa, nº 197, 23 de Janeiro de 1930.
[11] Cf. “Desconhecidos, quase”, in Vida Mundial, 12/11/1971, p. 25.
[12] Cf. Reflexão à margem da literatura portuguesa, in Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira, Lisboa, Âncora, 2000, vol. I, p. 66.
[13] Cf. “Desconhecidos, quase”, in Vida Mundial, 12/11/1971, p. 25.
[14] A esse respeito, uma breve referência à NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI (www.novaaguia.blogspot.com) e ao MIL: MOVIMENTO INTERNACIONAL LUSÓFONO (www.movimentolusofono.org). Ambos, de diversos modos, procuram, no princípio deste novo século, cumprir esse horizonte.

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