O Sonho do Infante (pormenor, parte esquerda do
mural pintado no tecto do Museu Militar de Lisboa),
José Malhoa, 1907
As primeiras chuvas: uma proa
Que fica na maré – limos mortos, tábuas:
A solidão dos últimos pomos
Madurando ao sol. Nadas.
Do peso da luz. Os príncipes concordaram
Que a vida é insubstante – esta
História é mais antiga que o tempo.
Nada existe ainda; a não ser o terror.
A linha de água, as aves rasas,
Tudo espera ainda o dia
Dos Portugueses. O extremo ou o nada.
O tempo é breve como duas ondas,
Gemebundo entre as rochas, os faróis
Derruídos. Aqui perdura: proa.
Ainda que passe.
Sagres: umbigo do mundo. O barco
Contra a luz. O pescador tira as redes.
É um ermo em forma de cabo,
De breu e sal. A faina de uma pura
Lenda; uma faina de separar abismos.
O homem é maior que a vida. As
Primeiras cinzas do crepúsculo
Rasgam a fraga agónica.
São os mortos que regressam.
Lord of Erewhon
mural pintado no tecto do Museu Militar de Lisboa),
José Malhoa, 1907
As primeiras chuvas: uma proa
Que fica na maré – limos mortos, tábuas:
A solidão dos últimos pomos
Madurando ao sol. Nadas.
Do peso da luz. Os príncipes concordaram
Que a vida é insubstante – esta
História é mais antiga que o tempo.
Nada existe ainda; a não ser o terror.
A linha de água, as aves rasas,
Tudo espera ainda o dia
Dos Portugueses. O extremo ou o nada.
O tempo é breve como duas ondas,
Gemebundo entre as rochas, os faróis
Derruídos. Aqui perdura: proa.
Ainda que passe.
Sagres: umbigo do mundo. O barco
Contra a luz. O pescador tira as redes.
É um ermo em forma de cabo,
De breu e sal. A faina de uma pura
Lenda; uma faina de separar abismos.
O homem é maior que a vida. As
Primeiras cinzas do crepúsculo
Rasgam a fraga agónica.
São os mortos que regressam.
Lord of Erewhon
22 comentários:
"Falei da casa que era grande,
Grande, mas pequena em amor.
Falei da que não era casa,
Senzala cheia de dor.
Falei de mitos, raças,
De escravos e senhores.
Falei para além do meu tempo,
Vendo o Brasil por dentro,
Do espinho até a flor.
Falei para além de minha classe
De fidalgos e doutores.
Fundei e fiz minha história,
Com lógica e contradição,
Erro no qual só incorrem
Aqueles que pisam o chão.
MARINA sILVA- Senadora do PT do Ac
O seu poema e lindíssimo, como sempre!
Gilberto Feire é respeitado em todo o Brasil, principalmente no meio político tanto pela esquerda, direita, centro e até pelos sem-ideologia.
Beijos.
Gilberto Freire - Versos na tarde
Publicado em 19 de maio de 2008 às 18:00
As mangueiras
Gilberto Freire¹
As mangueiras
o telhado velho
o pátio branco
as sombras da tarde cansada
até o fantasma da judia rica
tudo esta à espera do romance começado
um dia sobre os tijolos soltos
a cadeira de balanço será o principal ruído
as mangueiras
o telhado
o pátio
as sombras
o fantasma da moça
tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno.
¹Gilberto Freire
* Recife, PE. - 15 de Março de 1900 d.C
+ Recife, PE. - 18 de Julho de 1987 d.C
→Biografia de Gilberto Freire
O outro Brasil que vem aí
Gilberto Freyre
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
de outro Brasil que vem aí
mais tropical
mais fraternal
mais brasileiro.
O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados
terá as cores das produções e dos trabalhos.
Os homens desse Brasil em vez das cores das três raças
terão as cores das profissões e regiões.
As mulheres do Brasil em vez das cores boreais
terão as cores variamente tropicais.
Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil,
todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor
o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o semibranco.
Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil
lenhador
lavrador
pescador
vaqueiro
marinheiro
funileiro
carpinteiro
contanto que seja digno do governo do Brasil
que tenha olhos para ver pelo Brasil,
ouvidos para ouvir pelo Brasil
coragem de morrer pelo Brasil
ânimo de viver pelo Brasil
mãos para agir pelo Brasil
mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e novo dos Brasis
mãos de engenheiro que lidem com ingresias e tratores europeus e norte-americanos a serviço do Brasil
mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar).
mãos livres
mãos criadoras
mãos fraternais de todas as cores
mãos desiguais que trabalham por um Brasil sem Azeredos,
sem Irineus
sem Maurícios de Lacerda.
Sem mãos de jogadores
nem de especuladores nem de mistificadores.
Mãos todas de trabalhadores,
pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,
de artistas
de escritores
de operários
de lavradores
de pastores
de mães criando filhos
de pais ensinando meninos
de padres benzendo afilhados
de mestres guiando aprendizes
de irmãos ajudando irmãos mais moços
de lavadeiras lavando
de pedreiros edificando
de doutores curando
de cozinheiras cozinhando
de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas comadres dos homens.
Mãos brasileiras
brancas, morenas, pretas, pardas, roxas
tropicais
sindicais
fraternais.
Eu ouço as vozes
eu vejo as cores
eu sinto os passos
desse Brasil que vem aí.
Poema escrito em 1926 e publicado no livro "Poesia Reunida", Editora Pirata - Recife, 1980, que nos foi enviado pelo escritor Antônio Prata, a quem agradecemos.
"faina de separar abismos". Ah, o tremendo equívoco oceânico...
(Lorde, a falta de tempo para escrever - e para ler...)
Abraço
Gostei de ler.
Depois de haver... já não há outro ser, mas há ainda este oceano de chão - a Reconquista não ficou terminada...
Entretanto, vê se te apuras.
- Faz umas parcerias com o Ruela... :)
Bia, clica na etiqueta: Gilberto Freyre... e desce até encontrares... Sagres.
;)
Só Góticos... :)
...que nada fazem pelo país.:)
Tão baum, irmaum! Clicarei.
PS: Meu novo Acordo ortográfico.tou treinando.
Quer dar cabo da minha cabeça, Klatuu? Sagres é esse poema! cliquei na etiqueta daqui, mas é óbvio que não repostaste, aí fui ao teu blogue e não vi etiqueta nenhuma.
Tás a fim de @#$% meus 3 neurônios, pá?
estes góticos são do caraças ;)
estive no Heavens na semana passada...só góticos ;)
Um dia irei no Heavens, mas tem que ser com o Klatuu e com o Lord, pois eles são tão sociáveis...
JAJAJAJAJAJAJAJA!
Clica de novo, tem poema «Sagres» do Gilberto... ;)
Já vi e li, maminho!:)
PS: Vou ler Milan Kundera.
JAJAJAJAJAJAJAJA!
Vai ter castigo! - Não pode ler esse Checo libidinoso, só poeta popular Alentejano! :)=
Quem gosta é mano Lord, painho...foi ele que indicou. Todo dia ele lê excertos da Insustentável Leveza do Ser. O homem não é fruto do meio? Pois. Só reproduzo aquilo que vivencio.
JAJAJAJAJAJAJAJAJAJAJA!
(A vida deveria ser mais lenta, porque a pessoa que és agora é irrepetível. O resto não precisa de palavras.)
klatuu, isso que disseste é terrivelmente verdadeiro sim.
Nhó, bais me deixar enbergonhada painho.
Posta aí, tio 2dão!
Ah, eu lembro-me deste! É forte... Fica aqui bem :)
Gostei. Muito.
(Ando parca em palavras, desculpa).
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