A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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terça-feira, 26 de agosto de 2008

RENASCIMENTO LUSITANO – MODELO (PROSA)



JUNTO AO CHRYSUS

[…]
De repente o grito de «Allah!» retumbou de além do Chrysus: seguiu-se um estridor de poucas frechas, e num instante os atalaias do campo viram alvejar fitas de escuma que se estendiam através do rio para a margem esquerda. Eram os esculcas que o cruzavam a nado, tendo empregado na dianteira dos godos os seus primeiros tiros.
Uma nuvem de setas respondeu ao sibilar das dos esculcas arábes; algumas das fitas de escuma ondearam, derivaram pela corrente e desvaneceram-se no dorso escuro e cintilante das águas. O Chrysus recolhia os primeiros despojos de um terrível combate.
Na principal atalaia dos muçulmanos soou então uma trombeta; centenares delas responderam por todos os ângulos do campo a este convocar para a morte. Os esquadrões uniam-se com a rapidez do relâmpago e, abandonando o recinto das tendas, arrojavam-se para as margens do rio.
Os godos, porém, tinham a vantagem de caminharem ordenados e, por isso, haviam topado com a corrente antes que os seus contrários começassem a atravessar a planície fronteira. As frechas caíam sobre os árabes, que se aproximavam, como saraiva espessa; largas e sólidas jangadas, trazidas em carros puxados por mulas possantes da Lusitânia, baqueavam sobre a água e, desdobrando-se com engenhosa arte, cresciam até entestar com a margem oposta. Então, os melhores cavaleiros godos, curvando-se para diante, com o franquisque erguido, corriam para as pontes, vergadas debaixo do peso dos cavalos e dos homens cobertos de armaduras, e vinham bater em cheio nos corredores árabes, que, no meio das trevas, não podiam esquivar-se aos golpes do ferro inimigo. Já, nas bocas de algumas dessas estradas movediças, os cadáveres amontoados começavam a embargar os passos dos vivos; mas por outras, onde os árabes ainda mal ordenados e menos numerosos não tinham podido resistir ao ímpeto dos godos, golfavam torrentes de guerreiros, que, marchando unidos para uma e outra parte, acometiam de lado os árabes, os quais, feridos pela frente e pelas costas, vacilavam e retrocediam. Debalde a voz retumbante de Táriq sobrelevava por cima dos gritos de furor e de agonia de muçulmanos e cristãos. O número dez vezes maior dos godos tornava impossível a resistência, e a passagem do exército de Roderico para a margem esquerda do Chrysus só Deus a poderia impedir.
[…]


Eurico o Presbítero, Alexandre Herculano, Livraria Bertrand, Lisboa, 1979, pp. 90, 91.



DERRUBADOS OS PORTÕES DA MORTE

[…]
Biddy Early foi uma «sábia» famosa, e a árvore grande de Raheen um ulmeiro majestoso, junto ao qual muitas pravidades e algumas boas graças sucederam a diversas pessoas. Poucos sabem tanta coisa dos «outros» como Mrs. Sheridan, e se alguém a convencesse a revelar os seus conhecimentos e a praticar as curas que com «eles» aprendeu, seria também ela uma «mulher sábia», demandada talvez por peregrinos dos condados vizinhos. É, contudo, muito circunspecta, e foi necessário ganhar a sua confiança para vê-la expandir-se, com algum receio, não obstante, da ira dos «outros», e contar-nos, a mim e a uma amiga, os prodígios que lhes observara. Limitara-se, até aí, a contar-nos histórias que ouvira a terceiros, mas desta vez começou:
«Um dia, viva eu em Cloughauish, afogaram-se dois rapazinhos no rio. Um contava oito anos e o outro onze. E eu saíra pelos campos, enquanto as gentes procuravam os corpos no rio, e vi um homem vir subindo o campo de mãos dadas com os dois rapazinhos e levando-os não sei para onde. E viu o homem que eu me detinha e os observava, e disse: «Tem cuidado, não tentes tirar-mos (pois ele sabia que eu tinha poder para isso), pois tu mesma tens uma filha em casa, e se mos tirares nunca mais a verás a cruzar a porta.» E um dos meninos furtou-se-lhe e deitou a correr na minha direcção, mas pôs-se o outro de gritar-lhe: «Ó Pat, não me deixes sozinho!» Tornou atrás o menino e o homem levou-os consigo. Vi depois outro homem, e muito alto era este, e muito corcovado, que assim me olhava, com a geba mais alta que a cabeça; e trazia com ele dois cães, e vi logo aonde os levava e ao que ia com eles. E quando ouvi dizer que os corpos estavam sendo expostos, acorri à casa onde estavam para mirá-los, e não eram certamente os corpos dos rapazes os que ali jaziam, mas os dois cães que haviam sido postos em seu lugar. Conheci-os por uma espécie de listas que havia neles, quais as que há nas coberturas dos enxergões. E bem sabia eu que os rapazes não podiam estar ali, após ter visto que os levavam. E foi por esses dias que perdi o olho, de algo que lhe sobreveio, e nunca mais me assistiu a vista dele.»
Os «outros» são muitas vezes descritos como envergando roupas às riscas, como é o pêlo dos cães às riscas.
As histórias da gente do campo sobre os homens e as mulheres levados pelos «outros» derramam uma luz claríssima sobre as muitas coisas dos velhos poemas e fábulas celtas e, quando mais histórias forem recolhidas e comparadas, provável é que modifiquemos algumas das nossa teorias sobre a mitologia celta. Os antigos poetas e efabuladores celtas dispuseram de esplêndidos símbolos e analogias, agora defuntos, mas as mesmas coisas sobre que escreveram são as de que os homens e mulheres do campo falam junto à lareira.
[…]


Lady Gregory & W. B. Yeats, 1898

In As Tribos de Danu, Escritos sobre a tradição e a mitologia irlandesa, W. B. Yeats, Usus Editora, Lisboa, 1995, pp. 162, 163. Prefácio, selecção, tradução, notas e glossário de Francisco Luís Perreira.

2 comentários:

Ana Beatriz Frusca disse...

Bem no espírito do Renascimento Lusitano!

Ana Beatriz Frusca disse...

Essas prosas são certeiras!