A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

RIMANCE DO CAVALEIRO DAS ESCÓCIAS (II & III)

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FINISTERRA


«O meu cavalo é a minha pátria.»

Dito por um proto-ariano anónimo no princípio dos tempos

«Quando estiveres perdido na batalha, meu filho, solta os cães, mas não para muito longe de ti, porque os cães já foram um dia lobos, criaturas selvagens.»

Dito por um guerreiro Dácio ao seu filho durante a iniciação militar


O mar sem fim, a luz feroz, acesa alto e o semi-deserto, florido de todas as maravilhas terrenas. Ó terra, recebe-me como teu filho, porque eu fui escorraçado de todas as pátrias e muito caminhei e padeci para aqui chegar. Tanta luz e mar e horizonte são a tua coroa, mãe generosa e doce, gentes tão diversas e felizes são as tuas vestes, limpas e simples e os perfumes do ar, em que se mistura toda a imensa beleza destes campos sagrados, são o teu ceptro, justo e altivo. Recebe-me, terra, recebe-me, mãe, que eu sou um errante sem pátria e já só tu, Terra do Fim, Terra das Serpentes, és a minha derradeira esperança.
Ouvi no vento furioso que no teu ventre santo guardas um tesouro e um sonho, que unirás todos os povos do mundo no teu seio manso e belo e erguerás um Império de Luz Extrema, em que os homens, as feras e as aves cantarão juntos. Recebe-me como filho, ó mãe, que me fizeram órfão e me roubaram tudo, eu serei o guardião do teu tesouro e o soldado do teu sonho e por ti combaterei, eu e todos estes por quem ergo a voz, cavaleiros fulvos das Escócias, aprumados lanceiros das Arábias, valentes guerreiros Mandingas das Áfricas primordiais, archeiros clarividentes da Cidade de D*us e muitos outros que virão, os que vierem de além das estepes, os de além dos gelos, os que descerem das montanhas, vestidos de nuvem e luz e os que se levantarão do fundo negro dos mares, ainda que lhes digam que estão mortos.
Ó Terra do Fim, mãe generosa e doce, Senhora minha, Rainha minha, aceita-me por teu filho e a este exército apátrida; sem mãe, um homem não tem centro nem paz e à nossa a mataram diante dos nossos olhos. Recebe-nos mar sem fim, recebe-nos luz alta, recebe-nos deserto desprezado do Ocidente, eu serei o teu filho fiel, o teu jardineiro proficiente e o teu bardo vociferante, sangrento e sem temor, inflamando pelo canto todos os que aqui perfilam comigo, ajoelhados na areia da praia última, frente ao mar Oceano, irmãos do meu sangue e teus filhos, que seremos a carne do teu Trono e da tua Glória!
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OS QUE VÃO MORRER


O homem baixo de olhos altivos acercou-se da montada do gigante de longos e revoltos cabelos castanho-avermelhados.
– «Senhor, os meus estão prontos. Já rezámos e quero dizer-lhe que o meu D*us o receberá no Seu Paraíso.»
O Cavaleiro de aspecto feroz moveu o rosto e olhou.
– «De que falais?»
– «Senhor, eu sei que morreremos hoje, o inimigo é dez vezes os nossos! Face à morte nada mais pode separar os homens… Quero que saiba que é sangue do nosso sangue para sempre, merece mais do que passar a Eternidade numa taberna suja!»
O gigante de cabelos revoltos, como lume, moveu um pé do estribo para o dar ao homem baixo de olhos estranhos, estendeu-lhe o braço. O cavalo tremeu.
– «Subi! Olhai para o fim do nosso exército!»
– «Alguns fogem, Senhor…»
– «Fogem sempre alguns. Olhai mais fundo, para além do horizonte…»
– «Vejo sombras, fogos-fátuos, vultos…»
– «Olhai agora para a direita e para a esquerda… e olhai para cima!»
O rosto e a voz do Israelita de olhos estranhos alteraram-se de um modo indizível e disse.
– «Os mortos…»
– «Sim, os mortos!» – replicou o Cavaleiro das Escócias – «O nosso exército dos mortos é mil vezes superior… e cada vez que um de nós cair aqui… irá engrossar o número daqueles» – estendeu o braço e apontou para o céu – «ali! Preparai-vos!»
Um vento começou a soprar. O inimigo dava já mostras de querer atacar. O Cavaleiro de bárbaros couros vestido ergueu a espada.
– «A mim! A mim, bravos das Escócias! Gritai comigo! Que nem um homem fique a dormir nas highlands! Que os clãs despertem e saibam que ganharemos hoje, aqui, a glória!»
Um grande grito humano se ouviu, urro terrível e temerário. Depois, uma espécie de grito, ainda maior, e era como um cântico e homens gritavam e, entre eles, Anjos.
– «Shema Yisrael Adonai Eloheinu Adonai Ehad!!»
O Cavaleiro carregou e, de imediato, foi ultrapassado por cavalaria rápida.
– «Santiago!!»
– «São Jorge!!»
Cavaleiros ibéricos de rosto fechado e, no meio dos cavalos, tão lestos quanto estes, se moviam sombras letais, guerreiros negros emplumados, de tronco nu. O Cavaleiro das Escócias, de longo cabelo revolto irmão do vento, empinou a montada e gritou.
– «Portugal!» – e ouviu-se um eco vindo da terra e do céu – «Portugal!!»
Os homens gritavam, mas também Anjos, cavalos, deuses esquecidos, mastins de guerra e o clamor do vento, a luz cheia e o rugido do mar.
«PORTUGAL!!!»


Lord of Erewhon

5 comentários:

Ana Beatriz Frusca disse...

Eu quero ler os anteriores antes de começar a ler este e comentar.

Lord of Erewhon disse...

RIMANCE DO CAVALEIRO DAS ESCÓCIAS - os dois últimos são um acrescento: A Morte do Cavaleiro das Escócias; um «doce» para o leitor.

Anónimo disse...

lord, uma perguntinha, o texto é magnífico, não vou comentar mais, mas porque escreveus "D*us"?" o que simboliza o "*"? um beijo.

Lord of Erewhon disse...

Não simboliza... Há um contexto também judaico no texto e no Judaísmo é proibido pronunciar o nome de D*us - omitir uma letra é um recurso usado por muitos Judeus Portugueses.

Ruela disse...

tema para um filme.