Escreveu o Klatuu no último post: “Os impérios sempre conferiram maiores direitos de cidadania que os estados e garantem melhor a paz, impedindo a rivalidade entre estes. É evidente que tornar-se Estado é a forma de afirmação da Nação, mas isto só é possível para as pequenas nações pelo recurso a uma terceira instância que é o «império».”.
1. Historicamente, nada de mais verdadeiro. Daí a necessidade das alianças ao longo dos séculos. De outro modo, há muito que Portugal tinha deixado de existir…
2. Nestas paragens, já passámos, contudo, o tempo das invasões*. Objectivamente, não há qualquer perigo de, por exemplo, sermos invadidos pela Espanha. O risco que poderia advir de Espanha seria a sua desintegração – e as consequências disso (voltaremos um dia a este ponto).
3. Não se pondo a questão de uma ameaça militar (a ameaça terrorista é outra coisa), há, decerto, outros planos a considerar – nomeadamente, o demográfico (sim, Portugal corre o risco de colapso demográfico) e o económico (apesar da “assistência” europeia). Mas, para esses, vai havendo sempre remédios, ou pelo menos, paliativos (que não iremos agora desenvolver).
4. Portugal, contudo, não é uma mera “empresa” - sob o ponto de vista empresarial, tudo isso se resolveria com uma mera “deslocalização”, como agora se diz. Portugal é um território (por definição, indeslocalizável) e, sobretudo, um povo, cuja singularidade está, essencialmente, na língua e na cultura. É esse o fundamento maior da nossa “independência”.
5. Sob esse ponto de vista, o risco maior à nossa independência seria a língua portuguesa ficar confinada a este nosso território (falamos sempre no plano do médio-longo prazo). Daí a aposta estratégica na Lusofonia: é do nosso interesse que a língua portuguesa se continue a falar nos diversos países da CPLP.
6. E, também, ponto decisivo, para os outros países da CPLP. Para os PALOPs (países africanos de língua oficial portuguesa), por exemplo, é a língua o grande factor de coesão nacional. Por isso (esclarecimento ao Casimiro) escrevi aqui que “é a razão o que sobretudo nos une”. Acredito mais na perpetuidade das alianças por interesse do que por paixão (as paixões esvaem-se; os interesses mantêm-se). Por isso, acredito no futuro da Lusofonia**. Tanto mais porque essa “plataforma linguística” tem virtualidades outras (económicas, por exemplo) ainda não de todo exploradas. Por isso, em suma, acredito no futuro de Portugal. Aliás, parafraseando o outro, se não acreditasse, não estaria aqui…
* O mesmo não se passa ainda, por exemplo, na Europa de Leste (veja-se o que se está a passar na Geórgia) e em muitos locais do mundo. Daí, também, a fragilidade da independência timorense (ponto a desenvolver).
** A este respeito, há, obviamente, que referir e salientar o papel do Brasil (outro ponto a desenvolver).
1. Historicamente, nada de mais verdadeiro. Daí a necessidade das alianças ao longo dos séculos. De outro modo, há muito que Portugal tinha deixado de existir…
2. Nestas paragens, já passámos, contudo, o tempo das invasões*. Objectivamente, não há qualquer perigo de, por exemplo, sermos invadidos pela Espanha. O risco que poderia advir de Espanha seria a sua desintegração – e as consequências disso (voltaremos um dia a este ponto).
3. Não se pondo a questão de uma ameaça militar (a ameaça terrorista é outra coisa), há, decerto, outros planos a considerar – nomeadamente, o demográfico (sim, Portugal corre o risco de colapso demográfico) e o económico (apesar da “assistência” europeia). Mas, para esses, vai havendo sempre remédios, ou pelo menos, paliativos (que não iremos agora desenvolver).
4. Portugal, contudo, não é uma mera “empresa” - sob o ponto de vista empresarial, tudo isso se resolveria com uma mera “deslocalização”, como agora se diz. Portugal é um território (por definição, indeslocalizável) e, sobretudo, um povo, cuja singularidade está, essencialmente, na língua e na cultura. É esse o fundamento maior da nossa “independência”.
5. Sob esse ponto de vista, o risco maior à nossa independência seria a língua portuguesa ficar confinada a este nosso território (falamos sempre no plano do médio-longo prazo). Daí a aposta estratégica na Lusofonia: é do nosso interesse que a língua portuguesa se continue a falar nos diversos países da CPLP.
6. E, também, ponto decisivo, para os outros países da CPLP. Para os PALOPs (países africanos de língua oficial portuguesa), por exemplo, é a língua o grande factor de coesão nacional. Por isso (esclarecimento ao Casimiro) escrevi aqui que “é a razão o que sobretudo nos une”. Acredito mais na perpetuidade das alianças por interesse do que por paixão (as paixões esvaem-se; os interesses mantêm-se). Por isso, acredito no futuro da Lusofonia**. Tanto mais porque essa “plataforma linguística” tem virtualidades outras (económicas, por exemplo) ainda não de todo exploradas. Por isso, em suma, acredito no futuro de Portugal. Aliás, parafraseando o outro, se não acreditasse, não estaria aqui…
* O mesmo não se passa ainda, por exemplo, na Europa de Leste (veja-se o que se está a passar na Geórgia) e em muitos locais do mundo. Daí, também, a fragilidade da independência timorense (ponto a desenvolver).
** A este respeito, há, obviamente, que referir e salientar o papel do Brasil (outro ponto a desenvolver).
4 comentários:
Caro Renato, claramente de acordo quanto à "razão" das alianças (eu falava do "império", e antes desta nossa separação de águas entre ideais e estratégias, que acho fazia falta aqui no blog).
Acho também que há uma questão - ia dizer ontológica - de base na ideia luso-europeia de império, qua vai além da estratégia actual da lusofonia. Não falo disso por andar a sonhar à noite com caravelas :) mas sim porque - repare - está tudo por dizer sobre as nossas alianças europeias neste contexto (o klatuu levantou a questão, e levantou uma lebre gorda)
PS: A Georgia foi, Renato, precisamente pôr o dedo na ferida.
PPS: Klatuu, sei que isto é um comentário. Mas volto à conversa maior amanhã ou segunda.
"5. Sob esse ponto de vista, o risco maior à nossa independência seria a língua portuguesa ficar confinada a este nosso território (falamos sempre no plano do médio-longo prazo). Daí a aposta estratégica na Lusofonia: é do nosso interesse que a língua portuguesa se continue a falar nos diversos países da CPLP."
[...]
"...Tanto mais porque essa “plataforma linguística” tem virtualidades outras (económicas, por exemplo) ainda não de todo exploradas..."
Verdades mais-que-verdadeiras, prezado amigo! No entanto, é estranho que um grande número de blogs, escritos por portugueses, oponham-se com tanta veemência ao acordo ortográfico. Alguns referem-se a este acordo com palavras agressivas; às vezes, ofensivas; vezes, chulas. Outros, vislumbram uma tentativa de "abrasileiramento" da língua.
Acredito que a maioria dos queixosos sequer deu-se ao trabalho de ler, na íntegra, o conteúdo do acordo.
Aqui no Brasil, a cada período de vinte, trinta anos, moderniza-se o idioma. E nem por isso, ficamos menos satisfeitos em termos como língua-mãe, a última flor do Lácio.
Muito barulho por uma simples retirada da letra "c", da palavra "facto". :)
Parabéns pelo ótimo artigo. Seria interessante que os xiitas lingüísticos tivessem a oportunidade de ler.
Um abraço!
Há aqui algo que merece destaque: o capital sem fim de afecto que os demais lusófonos devotam a este pequeno, valente e orgulhoso País! Nem África nem o Brasil nem ninguém que alguma vez tenha sido tocado pela «língua de Camões» quereria alguma vez que Portugal desaparecesse - e acredito que fariam mais do que protestar!
É também por isso que é preciso muita cautela com o que se defende... os lusófonos não são burros... E há no MIL alguns «entusiasmos» que é preciso moderar.
De facto, caro Oliver, tem razão :)
O que é uma letrinha "c" se não a matter of fat?
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