“...pode dizer-se que um lavrador do nosso Douro ou Trás-os-Montes tem mais saber implícito na sua linguagem que qualquer indivíduo mais ou menos literalizante...”
Leonardo Coimbra*
"O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta."
* excerto de “Em louvor das maiorias”, in A Tribuna de 13 de Maio de 1920
** in Diário XII
Foto retirada daqui.
13 comentários:
Sugestão musical para acompanhar a leitura:
Oh bento airoso, canção tradicional de Trás-Os-Montes
Belíssimo. Já to tinha dito, não?!
De tudo o que li teu, este foi, provavelmente, o que mais fundo me tocou.
Não podias ter começado melhor.
Beijinho grande de boas vindas :)
:) Obrigada Frankie
beijo*
Belíssimo texto. É pena que tanta gente viva estas saudades da terra mas tão pouca tenha a coragem e o desprendimento de deixar o comforto pequeno-burguês e regressar a ela.
Salve salve, minha bruxinha!
Que lindo!
Começou bem!
Bem-vinda a tribo!
Beijos.
Obrigado, morcega!
Houve toda a justeza em ter voado sobre os chinós de tão ilustres cidadãos da Invicta... Vivemos numa decadência tão extrema, que já só as podres criaturas proscritas recordam a cultura da terra onde nasceram!!
Dark kiss e uma vénia de todos os corcundinhas do mundo.
Muito belo!
Hoje é uma noite recheada de surpresas.
Parabéns!:)
Beijinhos
Lindo do texto!Bonita estréia!
Beijos.
Não só pelo Norte perduram os velhos deformados pelo reumatismo que sofrem o abandono das terras que - sabem! - ninguém mais vai cuidar depois deles. Conheço-os aqui pelo Ribatejo, bem perto de Lisboa...
Gostei de ler este texto bonito e, porque é citado o Diário XII de Miguel Torga, vou postar aqui algo que já foi publicado há tempo no meu espaço e lembra um pequeno «contencioso» meu com o autor magnífico da terra que tanto amou e soube cantar.
A minha amada Invicta, o Douro que na mente percorro... :)
mariazinha, gostei imenso deste texto, trouxe-me um pouco de dor/saudades da terra que tão bem me acolheu.
Beijinho*
Bem-vinda, Mortisa!
É um prazer ter-te entre nós.
ana margarida esteves:
obrigada :)
É, de facto, uma pena, embora pense que esse "regresso à terra" precisa de algo mais do que coragem e desprendimento.
beijo*
bia:
obrigada, querida :)
beijos**
Lord:
a vénia é minha, é uma honra participar neste projecto.
:)
beijo*
andorinha:
obrigada :)
beijo*
lúcia beatriz:
:)
obrigada pelo carinho!
beijo*
jawaa:
é mal geral do país, sim...
escrevo o Douro porque o sinto meu, porque as mãos deformadas eram do meu avô.
Já li o teu texto e entendi perfeitamente o contencioso ;)
beijo*
mortisa:
:)
a dor da saudade é uma dor boa. ter saudades é ter gente e lugares dentro do peito.
beijo grande*
(faço minhas as palavras do carrasco)
Lord e mariazinha,
obrigado. :)
Esperemos que consiga manter os altos padrões literários que por aqui propagam...:)
Beijinhos**
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