A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 6 de setembro de 2008

O Menino Jesus


I
Como clarissimanente expôs o Paulo Borges no texto hoje publicado, as coisas não existem em si e por si, antes lhes sendo intrínseca a interdependência (e a impermanência).

Para mim assim é o MIL; e portanto, como com qualquer outra coisa, ele não existe para além da percepção que os que nele se reconheceram dele têm: é feito pela sua história, e não pelo seu desígnio. Ora essa percepção assenta, para todos, no que lhes é proposto pelo Manifesto e pela Declaração de Princípios; e assenta também, ao menos em todos os que não tenham sido os seus fundadores, naquilo que encontraram ao chegar como etapa caminhada já, como história partilhada pelos que antes chegaram. Para ir directo ao assunto, se Portugal não é Menino-Jesus-das-Nações não vejo que possa haver um MIL Menino-Jesus-das-ideias; não há, neles, uma essência destinada à progressiva revelação (a neófitos ou a inspiradores); não há, com eles, pré-determinação de pontos de chegada ou, sequer, de etapas de jornada.

Definimo-nos em fraternidade, na barca e na estalagem comum da lusofonia – o resto serão coisas de caminhar. Sabemos que andamos em busca, e isso não nos diz onde vamos esta noite dormir: a barbárie indo-europeia deu-nos, entre outras maravilhas, a possibilidade de pensar a vida como uma aventura, e a aventura como uma possibilidade de redenção. Como na história grande do Graal, não estamos frente a uma porta fechada: antes temos na mão uma chave e é o pórtico o que nos falta, antes temos respostas soltas, com que buscamos a grande Pergunta-a-haver. Mistério da beleza, que nos beija na impermanência das coisas; mistério da Elevação, que faz dos nadas a claridade do ser.


II
No mesmo fundamental texto de hoje, diz-nos Paulo Borges:

a) que “É apenas à luz do patriotismo trans-patriótico e universalista, como projecto fundamentalmente ético-espiritual (…) que considero fazer sentido a existência do MIL”;
b) que “patriotismo trans-patriótico e universalista é o que encontro no melhor da ideia de Portugal e da comunidade lusófona que – depurada do lastro de muitos condicionantes - interpreto em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva”;
c) que “patriotismo trans-patriótico e universalista é o que em última instância aspira a orientar as energias de uma dada nação para que (…) a comunidade humana possa expressar o mais possível a estrutura e as leis fundamentais da própria realidade: ausência de id-entidades com características intrínsecas, interdependência, impermanência”.

Porque não quero admitir que estejamos diante de uma operação de manipulação friamente planeada ou de uma OPA hostil à herança do pensamento lusíada, tomo isto como uma proposta séria – tanto mais importante quanto, na ilusão da nossa ainda não trans-patriótica e definitivamente libertada percepção, a vejamos como vinda de um Paulo Borges objectivamente exterior a nós e realmente fundador do MIL – de percorrer um caminho, e um caminho escolhido na luz de já encontrada candeia. Ora esse caminho eu descrevo-o assim:

a) vejamos a herança dos pensadores portugueses, de Camões, de Vieira, de Pessoa, de Pascoaes, de Agostinho; depuremo-la – como lastro no alto mar – de todas as referências a Portugal-povo, a Portugal-nação, a Portugal-história, a Portugal-combate – o mundo não é senão a ilusão e o nada;
b) vejamos aquilo que ainda cremos ser, e despojemo-nos disso – assim atingiremos o não-ser, que é o que realmente somos;
c) vejamos a hierarquização das coisas a que chamamos Pátria, e lembremo-nos de que tudo é impermanente excepto a dissolução – assim atingiremos o vazio, única Pátria verdadeiramente comum;
d) vejamo-nos a nós, manto ilusório de id-entidade, onda insubstancial do Oceano maior; e renunciemos ao manto como o único acto digno do Rei, que é a Abdicação.
e) ah, e este é o verdadeiro MIL - tal como eu o sonhei, mesmo sem saber que sonhava.

Fundamental, crucial proposta. De facto, quase tudo o que antes escrevi neste lugar lhe é o contraponto e a objecção; mas não é esse o secretíssimo amor, a solitária meditação de Lúcifer?

12 comentários:

Unknown disse...

Meu Irmão Casimiro! :)

Relembro o Poeta...

Arre, Portugal!

"ARRE, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto!"
Álvaro de Campos

Agora arrisco-me aqui a entrar...

Sim, Portugal é SÓ isto, é o que se vê mas que não é visto... porque os olhos não vêem pensando o que vêem, vêem vendo, simplesmente. Vêem abrindo-se, vendo o exterior que neles se espelha. Portugal cumpre-se sendo o que é, não pensando o que é. O ser humano é incapaz de se realizar verdadeiramente enquanto procurar fazê-lo através da consciência que tem de si, pois toda a realização implica inconsciência: toda a realidade da vida é inconsciente.

Com Amor, Total!

Anónimo disse...

Finalmente percebi!!! A "refundação" do MIL passa por assumir o nada e o vazio como a nossa verdadeira Pátria. Se não fosses tu, Casimiro

Ob

Anónimo disse...

Isso é o que Paulo Borges sempre pensou!!! Ou nunca leram nenhum texto dele?

Unknown disse...

Porque ninguém avisa que não existe aqui guerra alguma? Ninguém quer nada de ninguém. Nem ninguém se vai embora à procura de caminhos do Oriente.
Somos um mesmo à procura de um mesmo. Para quê tanta separação? Qual é o inimigo afinal? O que nos está aqui a desunir? Ideias? Mas que somos nós afinal? Meras de ideias de seres? Ou Seres?
...
Deixemo-nos ser, simplesmente...
Eu não sou de lado algum, nem estou por ninguém, mas por TODOS!
O nada, o tudo, a Pátria, a Mátria, a Frátria. Porque tudo isto não passam de palavras criadas pela minha mente! O que eu sou não é descritível, e como eu ninguém é.
Andamos a lutar aqui, como quase todo o mundo, pelo que não existe. A única coisa que há a alcançar já Nós a somos desde sempre. Somos seres eternos, deuses esquecidos que o são, que vivem o próprio sonho comum. Qual é a loucura aqui? Loucura é a morte deste Ser que nos sentimos, absurdo é esta vida vinda de um nada impossível. Loucura, tudo loucura, porque tudo nasce da expressão do Amor, ou da sua ausência. Que pode mais ser ele do que loucura?

Baixemos as guardas de vez, ergamos os braços ao que a vida é, porque é ela que nos está a ser a nós, que nos é.

Anónimo disse...

É isso mesmo, Anita! O Nada e o Tudo, é tudo igual, tudo Ilusão, tudo «criações da nossa mente». Eles é que ainda não sabem

Casimiro Ceivães disse...

Anita Soror :)

Tinha-me esquecido dessas linhas do Campos, há tantos anos as não lia :) Obrigado.

Queria responder, mas vou fazê-lo "lá em cima", isto é, sob a forma de um pequenino post. Pode ser?

Unknown disse...

Só conheço a liberdade plena Casimiro. :)

Anónimo disse...

Se eu bem entendi (ainda estou meia atarantada), trata-se então de fazer do MIL o MIB, movimento internacional budista

Anónimo disse...

Não percebi, nem quero.

Anónimo disse...

Patria do vazio, depois da fortaleza europa o portugal vazadouro. esse lider de vocês é vieira reencarnado, com dor de cabeça e cenoura no cabelo.
Gente que segue doido como se chama?

Paulo Borges disse...

Caro Casimiro Ceivães, perdoe-me a sinceridade, mas esperava bem mais da sua inteligência, bem como da de muitas outras pessoas que prezo... Na verdade, pergunto-lhe, e aos outros, onde é que digo que "o mundo não é senão a ilusão e o nada", onde é que falo de atingir o "não-ser" ou o "vazio" como "Pátria" comum, onde é que falo de ondas, Oceanos ou Abdicação !?...
O problema, creio, é que vocês sabem que sou budista e, como não percebem nada de budismo, continuam a repetir os lugares-comuns dos intérpretes ocidentais do séc.XIX, que identificam budismo com niilismo... Ora é o próprio budismo que formulou a mais antiga crítica e denúncia do niilismo como um erro paralelo ao essencialismo!
Mas eu não falei de budismo no meu texto, falei apenas da convergência de milenares tradições sapienciais, que recorrem à introspecção meditativa - como ainda Descartes, por exemplo, o pai do racionalismo moderno - , e da microfísica contemporânea, para nos darem um quadro do mundo onde a noção de relação prima sobre a de substância e a de interdependência prima sobre a de existência em si e por si. Parti daí para aplicar isto à questão das identidades nacionais e lembrar que os povos, as culturas, as nações e as pátrias não podem ser abstractamente pensados como entidades ou coisas independentes, mas antes como processos inscritos na trama de interdependências que é a história e o próprio universo.
E para quê ? Apenas para recordar o que está presente na Declaração de Princípios e Objectivos do MIL, ou seja, que Portugal e a Lusofonia não são um fim em si, mas que o melhor da sua tradição cultural visa pô-los ao serviço do desenvolvimento da consciência e do bem comum de todos os homens e de todos os seres, ou seja, do universo. Isto, também, para contrapor a um nacionalismo ou patriotismo autocentrado a ideia de um novo patriotismo, que defini como trans-patriótico e universalista.
Se falei de meditação, não foi de meditação budista, mas do indispensável exercício de observação introspectiva e de auto-conhecimento que se requer quando queremos superar as nossas tendências egocêntricas e colocar as nossas energias ao serviço não só dos amigos, dos compatriotas ou de grupos restritos, mas de projectos generosos e universais, como pretendo que seja o do MIL. Esta auto-observação da mente foi praticada por todas as escolas de filosofia gregas - chamavam-lhe "meleté" - , foi praticada na tradição cristã (por Vieira, por exemplo, segundo as instruções de Inácio de Loyola) e, comum a religiões e irreligiões, é hoje redescoberta em todo o mundo e alvo da pesquisa de vanguarda no domínio das neurociências, estando a ser proposta nos EUA para substituir o consumo de Prozac.
Ao falar da sua relação com a política, poderia ir muito longe, mas basta-me dar um exemplo da sua grande utilidade: se a maioria dos actuais políticos, em todo o mundo, praticassem sinceramente esta introspecção meditativa, verificando sinceramente se iam para a política por engodo da fama, da riqueza e do poder, ou para servir o bem comum, decerto tinham desistido, para seu bem e nosso!...
Espero que estas reacções à flor da pele, ao falar-se de política e meditação, não indiquem haver no MIL quem queira, por recusa de observar a própria mente, ir no mesmo caminho de sempre...
Aprendi muito, ao ler os vossos comentários, e fico-vos por isso imensamente grato. Mas também algo céptico, relativamente à possibilidade de se cumprir verdadeiramente a Declaração de Princípios e Objectivos: vejo em vocês muita coisa, menos aspiração ao bem universal... Ainda bem que vos incomodo!

Casimiro Ceivães disse...

Caro Paulo Borges, vi agora a sua resposta - como está também publicada em forma de post, vou agora responder-lhe em comentário, "lá".

Vou para "lá" agora :)