2006, 25 de Março.
Hoje estive a tomar um café na esplanada da aldeia.
Uma réstia de sol ajudou a afastar o terror que me assombra de noite. Continuo sem conseguir ler as palavras que de vermelho se escrevem e apagam perante o meu olhar.
O verde viscoso que escorre pelas paredes enche-me de pânico. São verdes os montes que me rodeiam, plenos de promessas de vida, mas são também verdes esses outros pântanos de águas podres, estagnadas. A cor do broto que desponta é a do lodo de que fujo.
A verdura que luta com o verde!
O vermelho que joga comigo!
~Ü£w^’€>
Sentada na esplanada, resguardada do vento que soprava, Moema segurava na mão um livro esquecido. Os seus olhos, fixos na mesma página, vagueavam por outras paragens, indiferentes ao movimento do mercado.
As mulheres entravam e saiam carregadas de sacos de fruta, verduras e peixe. O muge era muito procurado, frito ou no forno, era um verdadeiro petisco que poucos dispensavam.
Os homens, amontoados em pequenos grupos, enchiam o largo de conversas cantadas. Davam uma vista de olhos pelo jornal desportivo, faziam-se prognósticos para os jogos de futebol…olhavam Moema pelo canto do olho.
Bonita moça!
A mais não se atreviam, pelas mulheres que podiam estar alerta, pelo ar sério e meio ausente com que ela se recostava na cadeira desconfortável.
O empregado, de tez morena, trouxe o café da manhã. Entre o tom educado, com que indica o melhor pão caseiro, dá um relance pela capa do livro, marcado com o indicador.
É de poucas falas. E pelo que lê também não chego lá!
Entre um encolher de ombros e um ligeiro aceno de cabeça, pegou na bandeja, sem novidades para contar.
Lá dentro, o vinho tinto servia-se a copo, entre nódoas marcadas no balcão de mármore gasto pelo tempo.
Hoje estive a tomar um café na esplanada da aldeia.
Uma réstia de sol ajudou a afastar o terror que me assombra de noite. Continuo sem conseguir ler as palavras que de vermelho se escrevem e apagam perante o meu olhar.
O verde viscoso que escorre pelas paredes enche-me de pânico. São verdes os montes que me rodeiam, plenos de promessas de vida, mas são também verdes esses outros pântanos de águas podres, estagnadas. A cor do broto que desponta é a do lodo de que fujo.
A verdura que luta com o verde!
O vermelho que joga comigo!
~Ü£w^’€>
Sentada na esplanada, resguardada do vento que soprava, Moema segurava na mão um livro esquecido. Os seus olhos, fixos na mesma página, vagueavam por outras paragens, indiferentes ao movimento do mercado.
As mulheres entravam e saiam carregadas de sacos de fruta, verduras e peixe. O muge era muito procurado, frito ou no forno, era um verdadeiro petisco que poucos dispensavam.
Os homens, amontoados em pequenos grupos, enchiam o largo de conversas cantadas. Davam uma vista de olhos pelo jornal desportivo, faziam-se prognósticos para os jogos de futebol…olhavam Moema pelo canto do olho.
Bonita moça!
A mais não se atreviam, pelas mulheres que podiam estar alerta, pelo ar sério e meio ausente com que ela se recostava na cadeira desconfortável.
O empregado, de tez morena, trouxe o café da manhã. Entre o tom educado, com que indica o melhor pão caseiro, dá um relance pela capa do livro, marcado com o indicador.
É de poucas falas. E pelo que lê também não chego lá!
Entre um encolher de ombros e um ligeiro aceno de cabeça, pegou na bandeja, sem novidades para contar.
Lá dentro, o vinho tinto servia-se a copo, entre nódoas marcadas no balcão de mármore gasto pelo tempo.
3 comentários:
A sua escrita é de uma beleza rara, de uma sabedoria que não grita, cala, em surdina, como a água dos ribeiros, humilde e pura, como um cântico antigo, aquele que foi o das sacerdotisas de Prisciliano.
Tudo aqui é um rumor.
Os meus cumprimentos e o meu agradecimento por me fazer sentir que em Portugal ainda há portuguesas.
Também tenho saudades das tardes e dos crepúsculos à beira do Guadiana, entre as pedras que falam, sonhos de Godos e Mouros, o Al-Andaluz e a nobreza bárbara, a açorda, o muge, o odor no vento...
Gostava de ser outro homem.
:)Eu sei...
Beijo doce Lord
Obrigada Jesus Carlos
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