Por aqui ando...,
no campo a semear
sementes de silêncio,
um trabalho que comecei de noite
e que não cheguei a acabar.
(Dizem os antigos
que as melhores partes do dia para o semear
é ao início da meia noite e continuar pela manhã.)
Algumas palavras lançadas para o ar cairão em
terra fértil. Todas nascem! Algumas morrem
comidas pelas aves, outras pisadas nos pés da língua
só uma ou duas sobreviverão no livro.
Assim por aqui caminho no rego da água,
lavo os pés
esfrego o silêncio da noite no rosto
sinto a humidade com alegria.
O meu terreno situa-se na meia encosta,
neste momento deserta,
a erva zumbe e cresce pacificamente no papel,
aproveito o momento.
Agora em descanso acaricio o branco no sexo do papel
e provoco humidade, a paisagem incha nas minhas mãos.
O silêncio perfura repetidamente a voz
até a sentir enterrada no escuro.
Ana Maria Costa
02 de Setembro de 2008
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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terça-feira, 2 de setembro de 2008
Palavras para o ar
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1 comentário:
Belíssimo poema, é aquela coisa antiga: "o silêncio fala mais alto que as palavras", deixemos então o silêncio falar.
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