A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Ainda sobre a ideia de Pátria, com P maiúsculo: a tentação do “trans-”.

Agora que a poeira assentou, continuemos então, serenamente, o debate…

1. Quanto propus como tema para o primeiro número da Revista a ideia de Pátria, já pressentia que era em torno deste conceito que muita coisa se iria jogar, até na adesão ou na rejeição do nosso Manifesto (e no que veio a ser o MIL). No caso das recusas, o argumento tem sido, com todas as variantes possíveis, sempre o mesmo, o velho e estafado argumento de sempre: “não sou ateniense nem grego, mas cidadão do mundo” (não, a frase não é de Sócrates…).

2. Há muita gente que acha que todos os problemas do mundo se resolveriam (em grande parte, pelo menos) se houvesse uma única língua (daí o esperanto) e se (como causa ou consequência disso) houvesse uma única Pátria (ou seja, se não existissem Pátrias). Deixo aqui de lado a questão “religiosa” (por economia do debate).

3. Passemos então, uma vez mais, à ideia de Pátria. Começo por relembrar o “intróito” ao que escrevi no primeiro número da revista, precisamente a respeito dela: «O homem não é, ou não é apenas, uma “pura abstracção”, mas um ser concreto, universalmente concreto, um ser que, de resto, será tanto mais universal quanto mais assumir essa sua concretude, a concretude da sua própria circunstância. Dessa circunstância faz axialmente parte a “pátria”, isso que, segundo José Marinho, configura a nossa “fisionomia espiritual". Nessa medida, importa pois assumi-la, tanto mais porque, como escreveu ainda Marinho, foi “para realizar o universal concreto e real [que] surgiram as pátrias”.»

4. Ou seja, à luz desta visão, o Universal não se realiza por negação da Pátria, mas, ao invés, pela sua afirmação. Não, decerto, porque estas sejam o horizonte último. Mas porque são, para mim, o melhor caminho, o melhor “meio” (é preciso valorizar as mediações…), para cada um de nós, e nós em conjunto, realizarmos esse Universal. Tanto mais porque, à luz desta visão, nenhum desses caminhos exclui qualquer outro: enquanto “universais concretos”, todas as pátrias são verdadeiras e, por isso, todas elas podem e devem ser preservadas. Como sou português, digo: é porque me afirmo por português (e lusófono) que sou, verdadeiramente, cidadão do mundo. Se fosse russo, diria: é porque me afirmo como russo… Tudo isto, decerto, em prol do “bem-comum”. Penso, genuinamente (mas admito que isto seja uma questão de fé…), que se todos os povos preservassem a sua “Pátria”, todos eles ficariam melhor individualmente – donde resultaria que, no seu conjunto, o mundo (enquanto conjunto de Pátrias) também ficaria melhor. Retomando a provocação amiga do Casimiro, “é preciso passar pela Índia (ou seja, pelo universal concreto) para chegarmos à Ilha dos Amores”. Por isso, aliás, nos alertou igualmente Marinho contra o “apressado conceito de cidadão do mundo e de universalidade do pensamento”. Se por aqui estivesse agora, talvez nos alertasse contra a "tentação do trans-".

5. Decerto, sei que o conceito de Pátria desperta as mais abusivas suspeitas. Ainda há pouco tempo, o nosso “amigo” Desidério Murcho nos veio assegurar que, em Portugal, quem fala de Pátria só pode ser salazarista. Ou nacionalista-passadista. Ou qualquer outro palavrão do género…

6. A essa luz, compreendo a tentação do “trans”, começando assim a falar-se de “trans-patriotismo”. Muito comunistas também passaram a auto-designar-se como “pós-comunistas”, resignados que ficaram à identificação entre “comunismo” e “totalitarismo”. O mesmo acontece, hoje, com muitos islâmicos: quando se assumem como tal, salvaguardam logo que não são “fundamentalistas”. Um dia destes auto-designar-se-ão como “trans-islâmicos”, ou algo do género, pensando assim evitar confusões...

7. Esse não me parece, contudo, o melhor caminho, desde logo porque “enterra” ainda mais, senão de vez, o conceito de Pátria, concedendo-o, em exclusivo, aos que o desvirtuam (vocês sabem que quem eu estou a falar…). Ora, o que nós queremos (pelo menos, o que eu quero) é, ao contrário, reabilitar o conceito. Pela minha parte, continuarei pois a falar da Pátria. Com P maiúsculo. E é-me completamente indiferente que o Desidério Murcho, ou qualquer outro, “salazarista” me chame…

12 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Salvo erro, a frase é de Plutarco. Mas há uma outra, de outro banimento, atribuída a Diógenes Laércio, que muito aprecio:

«Não sois vós que me expulsais, sou eu que vos condeno a ficar.»

Falta de cultura à parte... vou reflectir e te enviarei a minha meditação.

Abraço, Renato.

Klatuu o embuçado disse...

P. S. Esse Desidério Murcho de repente arrebitou-se para o tema pátrio... A febre das galinhas pode ser o prenúncio do Apocalipse. Temos que nos prevenir com redes mosquiteiras nas janelas...

Renato Epifânio disse...

Envia. As tuas meditações fazem falta...
Abraço MIL

Casimiro Ceivães disse...

Renato, sem tempo agora para mais, que vou sair - :) - digo só que o Sócrates que afinal era o Plutarco tinha a vantagem desse duplo nível de referência: o ateniense e o grego... "Pátria" é às vezes para mim a "minha terra" (que por exemplo inclui a Galiza mas não o Algarve, e é onde eu me sinto na minha casa ancestral), outras vezes a nação portuguesa, outras vezes o Portugal-no-mundo que inclui Goa e outros lugares...

Faltam-nos termos que exprimam essa multiplicidade hierárquica das coisas; o que é mais um argumento para que os que temos se não desvirtuem. E em tudo, guardar lugar para o nómada, aquele para quem "pátria é o lugar
onde repouso a cabeça".

O "trans" parece-me coisa diferente, bem diferente. Louvável no seu lugar, que se não confunde com o dela (Pátria).

Cordiais cumprimentos,

Casimiro

Ana Moreira disse...

Caro Renato,
Antes de mais queria pedir desculpa pela perguntas “penetras”. Penso que reconhecerás nelas não a vontade de interferir, ou de ferir mas antes uma vontade de colaborar na dissipação de mal entendidos lexicais. Para que o que digo seja totalmente claro, reafirmo que são meras reflexões de alguém que tem mais perguntas do que respostas!
Porque razão não havemos de aplicar a palavra Pátria para designar o local onde nascemos ( sitio de origem), aceitando que os vínculos afectivos, culturais, valores e história associados à sua expressão, não são amarras à livre expressão do indivíduo enquanto cidadão?
Tal como José Marinho tão claramente afirma ao dizer que foi “para realizar o universal concreto e real [que] surgiram as pátrias”.», eu também posso dizer , numa perspectiva ainda mais focalizada que: - foi para realizar o universal, concreto e real que surgiram seres, indivíduos, cidadãos.
Se a fome de mundo de um cidadão Português se revê na frase “não sou ateniense nem grego, mas cidadão do mundo” o que ele está a afirmar não será antes a sua condição individual de cidadão? Se assim fosse, tal afirmação não seria renegação do conceito de Pátria enquanto ponto de origem mas antes a afirmação da Universalidade do Ser - Indivíduo - Cidadão como derradeira finalidade.
O Trans-patriotismo ( nunca trans-nacionalismo), não se poderá aplicar ao universo lusófono, abdicando assim, de uma vez por todas, da palavra Império; palavra gasta - não por ti nem por mim - mas pela carga histórica que lhe está associada; porque foi abusivamente utilizada pelos que tentaram reprimiram a inequívoca expressão de tantos povos do mundo lusófono de afirmar, com toda a propriedade, a sua autonomia e a integridade das suas Pátrias, bem como de uma outra visão de cidadania?
Obrigada e até um dia destes...

Paulo Borges disse...

Não há verdadeira pátria nem verdadeiro patriotismo sem "trans-", que não é negação, mas o impulso de superação e de inegração de toda a particularidade num plano superior: como a Aufhebung hegeliana. Nesta perspectiva, creio que a tentação reside sim na supressão do "trans-", que seria o cortar de asas da águia...

Lux Caldron disse...

Creio que a Pátria em Portugal é sempre "trans", logo neste caso patriota é sempre sinónimo de transpatriota! A Pátria portuguesa não pode nunca dispensar o seu Passado e este pertence ao Mundo! O seu Futuro também lhe deve pertencer.

Por isso o patriotismo que pretendemos defender como meio de preservar Portugal e a lusofonia terá sempre de ser "trans", embora considere o seu uso como prefixo indiferente.

Abraço MIL

Renato Epifânio disse...

Cara Ana: eu reconheço-te o direito de tu achares que a tua realização enquanto "indivíduo" não passa pela mediação da instância "Pátria". E, acredita, não te levo a mal por isso. Eu sou menos "mau" do que por vezes pareço...

Caro Paulo:
1. Decerto, em particular para um português, ser patriota cumpre-se em ser trans-patriota (cf. Vieira, Pessoa, Agostinho, etc.).
2. Mas, para se fazer a “superação” do caminho, importa percorrê-lo primeiro.
3. Se recusamos a priori a mediação da instância "Pátria", como poderemos vir a ser realmente “trans-patriotas”?

Caro Lux Caldron: Subscrevo-o por inteiro...

Abraço MIL (a todos)

Casimiro Ceivães disse...

Ora, a Ana Moreira veio precisamente falar as palavras do nómada :) Era exactamente a isso que eu me referia. E evidentemente não precisaremos de verificar se o seu BI é emitido pela República Portuguesa ou qualquer outro Estado da Lusofonia para lhe dizer: esta Pátria é a tua casa.

Já o que diz o Paulo me parece merecer diferente atenção: e convido-vos (Paulo e Renato) a regressar à vossa conversa de "arche" e "arqueiros" de ontem (será ontem? não fui ver).

É que "impulso para" é ponto bem diferente. Nunca na tradição dos cristãos portugueses se sentiu, por exemplo, que a entrada de Nuno Álvares num mosteiro de "contemplação" como o Carmo fosse a negação da sua responsabilidade em Aljubarrota, primeira manifestação talvez do "patriotismo" puro e duro em Portugal.

A questão acaba por ser a de saber se a Águia tem que ser tão orgulhosa que se sinta livre do Ninho, e lhe seja igual que os abutres se tenham instalado lá. Ou se não há-de guardar o Ninho, e a montanha altiva que ele coroa.

Depois, poderão dizer que há as águias míopes, e as águias tontas, que confundem o ninho com o vasto céu. Poderão dizer que essas águias gastaram a palavra "voo" e a palavra "montanha"?

Toda a Pátria sente impulso para se superar. Todo o homem sente impulso para a união com o indistinto Fogo. Mas a Pátria não é o Oceano Universal, como o homem não é deus. E o voo de Ícaro é - felizmente - uma experiência solitária.

Abraços

Renato Epifânio disse...

Caro Casimiro

Às vezes tenho dificuldade em segui-lo...
Quanto ao que percebi:
1. Decerto, toda esta conversa não tem nada a ver com Bilhetes de Identidade. Nem com sangue, ou raça, ou algo do género... Como já escrevi algures, "ser português não é um estatuto, antes um estado de espírito".
2. Quanto ao resto, subscrevo estas suas palavras: "a Pátria não é o Oceano Universal, como o homem não é deus"
3. Quanto à tese de "todo o homem sente impulso para a união com o indistinto Fogo", já não a subscrevo tanto. Em mim, pelo menos, esse é um impulso fraco. Por virtude ou defeito (quem poderá dizê-lo?), a indistinção ontológica ou a anulação do eu nunca me atraiu...
Gostava que esclarecesse melhor a metáforas do "ninho", da "montanha", etc.

Abraço MIL

Paulo Borges disse...

Caro Renato e caro Casimiro, eu não recuso em absoluto a mediação da pátria, para quem ela seja necessária... O que digo é que, para que essa mediação o seja, tem de se superar a cada momento. Só há caminho na medida em que se avance, em que se vá além. A pátria não é uma coisa, uma entidade, um ninho. A pátria, e talvez sobretudo a portuguesa, é esse contínuo ir além de si. Mas isso faz-se em nós, nos indivíduos, na metamorfose da consciência e da visão. Como diz o Renato, no fundo é uma questão do "espírito". E o espírito não tem forma nem limites... Porventura não é divino nem humano, não é isto nem aquilo...

Abraços

Renato Epifânio disse...

O ponto é, a meu ver, este e daqui acho que não podemos sair:
1. Admitamos, para benefício do debate, que a Pátria é uma mera "ilusão" (ainda que benéfica), uma mera "mentira" (ainda que virtuosa).
2. Ainda assim, contudo, é a nossa Ilusão, a nossa Mentira...
3. A menos, claro está, que queiramos reescrever o Manifesto da NOVA ÁGUIA a ponto de uma pessoa como o Desidério Murcho o poder subscrever. Essa sim, seria, a meu ver, uma tentação fatal...