Escurecera. Eram horas de fechar a casa e o cativo não chegara ainda.
Os vizinhos queriam ajudar, mas não era tempo de ajudar.
Todos queriam saber, mas não era tempo de saber.
Faltava desde a manhã e caíra a noite. Voo de coruja, olhos de raposo, faca de lua, rajadas de fuzil. A porta continuava aberta e os chios da rapinha vibravam na cozinha. O barulho das galinhas dobrava o lume. Os berros dos que caiam partiam o tempo.
Meu rei dos bolos do pote, tanto medo à noite. Que fede, mamã, que fede!. Tanto medo à manhã. Não quero ir à escola, havia um homem deitado, pintado com sangue de galinha. Andam bichos soltos. Fico, cuido eu do galinheiro. É o raposo mamã, anda a fazer barulho e mata galinhas, mata também homens, mamainha. Não quero ir com as vacas, ai avó, sabe? O raposo leva agora vacas, medrou o raposo e pode com elas, anda dia e noite o raposo, é grande avó, e teve filhos, são-lhe muitos. Mamainha, diga ao avó que não, diga mamainha, diga. Manda o patrão meu filho. Cala, leva seis bolos do pote que o avó não sabe quantos há, leva meu filho. Leva a vara e volta cedo para a casa. Vai, que nós não temos medo. aprendemos, meu rei. Vamos aprendendo, não sim? Ao pé do Picoto nunca se passou nada.
O barulho disparou o medo. Rebentou o tempo.
Entravam pela casa adiante.
- Meu rei, que fazias? Fecha. Ai, meu santo, que mo devolves com bem.
- Entra cativo, e as vacas? Perdeu-se a Roxa, não é?
Perdera-se.
Mas a Marela entrara. O sangue do lombo não era de galinha. Mãozinhas pintadas com fuzil. Os bolos do pote que ruminava tinham sabor a milho e cheiravam a raposo azul.
Iolanda R. Aldrei
http://daterraverde.blogspot.com/
Os vizinhos queriam ajudar, mas não era tempo de ajudar.
Todos queriam saber, mas não era tempo de saber.
Faltava desde a manhã e caíra a noite. Voo de coruja, olhos de raposo, faca de lua, rajadas de fuzil. A porta continuava aberta e os chios da rapinha vibravam na cozinha. O barulho das galinhas dobrava o lume. Os berros dos que caiam partiam o tempo.
Meu rei dos bolos do pote, tanto medo à noite. Que fede, mamã, que fede!. Tanto medo à manhã. Não quero ir à escola, havia um homem deitado, pintado com sangue de galinha. Andam bichos soltos. Fico, cuido eu do galinheiro. É o raposo mamã, anda a fazer barulho e mata galinhas, mata também homens, mamainha. Não quero ir com as vacas, ai avó, sabe? O raposo leva agora vacas, medrou o raposo e pode com elas, anda dia e noite o raposo, é grande avó, e teve filhos, são-lhe muitos. Mamainha, diga ao avó que não, diga mamainha, diga. Manda o patrão meu filho. Cala, leva seis bolos do pote que o avó não sabe quantos há, leva meu filho. Leva a vara e volta cedo para a casa. Vai, que nós não temos medo. aprendemos, meu rei. Vamos aprendendo, não sim? Ao pé do Picoto nunca se passou nada.
O barulho disparou o medo. Rebentou o tempo.
Entravam pela casa adiante.
- Meu rei, que fazias? Fecha. Ai, meu santo, que mo devolves com bem.
- Entra cativo, e as vacas? Perdeu-se a Roxa, não é?
Perdera-se.
Mas a Marela entrara. O sangue do lombo não era de galinha. Mãozinhas pintadas com fuzil. Os bolos do pote que ruminava tinham sabor a milho e cheiravam a raposo azul.
Iolanda R. Aldrei
http://daterraverde.blogspot.com/
4 comentários:
O maravilhoso celta que ainda ressoa pelos campos da Galiza… Sonho, sangue, uma escuridão com olhos e mistérios no fundo dos bosques, azuis ao crepúsculo, como a morte, como o esmalte…
D'além e d'aquém Minho: meiga Galiza.
Lindo.
Lindimais!
Beijos.
lindíssimo!!!!
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