A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

DIÁRIO DE MOEMA,II

Pedro Tildes, Serra da Estrela, 2007


2006, 17 de Março.


Hoje encontrei o lugar ideal, um campo verde pincelado de vermelho. Tinha a certeza que o reconheceria assim que o visse, sempre esteve lá à minha espera.
Tirei uma foto. Um destes dias tenho que organizar o álbum da minha viagem.
Andei, até onde a estrada não me via, e finalmente mudei de nome. Recuso ser nomeada como aquela que já não existe. Reinventei-me, num abraço ao universo, e conquistei a minha identidade.
Moema é o meu nome.
Moema… Moema… Moema…
Gritei, aos quatro ventos para que não se esqueçam de mim, ao Sol para que me dê força, à terra para que me guie, à água para que me dê vida.
Moema é o meu nome, Moema.
Sei que ganhei uma nova alma e que as forças da natureza me apadrinharam.
No caminho de volta, aconteceu uma coisa estranha. Encontrei uma concha na berma da estrada. Estava ali tão deslocada e perdida como uma oliveira à beira-mar. Tive a certeza de que era um sinal. Desatei a tira de couro que trazia ao pescoço e pendurei-a. Este é o colar de Moema, nunca mais o vou tirar.

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Sentada no banco do condutor, Moema escrevinhava no diário, um pequeno caderno, de capa preta, protegido por um elástico. Era a segunda página que enchia com a sua letra redonda, tudo o resto, em branco, ainda. Não o folheava, queria-as imaculadas, como um futuro que ninguém conhece.
Por duas vezes levou a mão à concha, que lhe adivinhava o decote. Parecia ter encontrado um verdadeiro amuleto, oculto na forma de adereço. Foi o acaso que lho trouxe às mãos, os verdadeiros achados procuram-nos, quando deles precisamos. É preciso ter o coração aberto, os olhos são, quase sempre, cegos.
O sorriso, límpido, denunciava uma esfoliação da alma.
Demorou-se a admirar cada letra do seu novo nome, a inebriar-se com a pronúncia de um som, o desafio de uma musicalidade antiga.
Abriu o porta-luvas e retirou um livro que, de tanto uso, se abriu na página desejada. Recostou-se, compondo os cabelos em desalinho, e leu em voz alta:
«É como uma barca que te vai conduzir pela vida porque você sabe quem é.»
Sentia um verdadeiro fascínio pelos rituais indígenas, as culturas ancestrais, a certeza ingénua do lugar de cada indivíduo, a ligação à comunidade. Seriam, talvez, mais felizes, mais próximos da natureza e seguros dos valores por que se conduziam.
Perdida nas tradições dos Guarani, retomou o diário. Acrescentou uma última linha, siglas ilegíveis de uma só palavra. Justificou o último cadeado, com uma voz rouca e grave:
Tenho que ter um nome que só eu conheça. O que me revela e desnuda não pode ser pronunciado, ou ganharão o poder de me dominar.
Agora podia prosseguir viagem. Sem mapa nem bússola, fez-se à estrada à procura de lugar nenhum.

7 comentários:

Lord of Erewhon disse...

Tinha saudades da Moema - isto não é o mesmo, sem...

Luxo vitoriano, paganismo natural das roseiras e feitiço feminino no aroma que a brisa lhe rouba dos cabelos. Algumas mulheres compensam os simulacros de plástico...

Dark kiss.

Frankie disse...

A tua escrita prende, vicia...
Podia ficar a ler-te o dia inteiro...

Clarissa disse...

Lord, a tua presença é sempre uma inspiração. É bom voltar a percorrer caminhos, ouvir os sons esquecidos, procurar gestos perdidos...

Beijo doce na testa

Clarissa disse...

Frankie, bondade a tua :)
Gosto muito deste diário da Moema, é-me precioso, especial.

Beijocas

Jo disse...

De novo fiquei "presa" ao Diário da Moema... que bom que o partilhas connosco, obrigada!

um beijo*

Clarissa disse...

Beijocas Mariazinha :)

Lux Caldron disse...

Olha só quem eu fui encontrar por aqui enquanto ia descendo a página... A Moema...

Já tinha saudades de te ler.

Dark Kiss