A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sábado, 16 de agosto de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


VOLTAIRE, DIÁLOGOS FILOSÓFICOS (I)

François Arouet, que usou depois o pseudónimo de Voltaire, nasceu em Paris em 1694; era filho de gente da classe média e foi educado num Colégio de Jesuítas, onde pôde travar relações com rapazes pertencentes às melhores famílias do reino; a vivacidade de espírito, a ambição de brilhar e a protecção de parentes levaram-no depressa aos melhores salões e fizeram­-lhe antever uma carreira plenamente de acordo com os seus desejos de vida aristocrática; os nobres, porém, entendiam-no de outro modo e nunca se es­queciam da proveniência de Voltaire; um escrito satírico demasiado ofensivo levou-o, em 1717, a fazer na prisão de estado da Bastilha um estágio de alguns meses; em 1725, o senhor de Rohan, que se considerou insultado por Voltaire, mandou espancá-lo e conseguiu, depois, que o prendessem e o fizessem exilar-se pata Inglaterra; neste país se conserva até o ano seguinte e, ao voltar, as autoridades inquietam-no continuamente; em 1734 estabe­leceu-se em Cirey, em casa de M.me de Châtelet, o que lhe deixa, pelo afas­tamento da vida de Paris, aprofundar as noções filosóficas e científicas que trouxera da Inglaterra, e, pela proximidade da fronteira, conservar sempre, entre ele e a polícia, uma certa margem de movimentos livres; a sua vocação para os negócios permite-lhe uma vida de luxo, ao mesmo tempo que espanta todos os visitantes pela sua actividade e resistência no trabalho; há depois uma reconciliação com a corte, mas depressa se vê obrigado a deixar a França e a acolher-se à protecção de Frederico II da Prússia; o entendi­mento, porém, não podia ser duradouro e, em 1763, Voltaire passa à Suíça, donde vai, sete anos depois para Ferney, em França, mas junto da fron­teira; é já nesta altura uma grande personagem europeia, com influência em todas as classes; em 1770 faz uma viagem a Paris, onde o recebem como a um deus, e aí morre a 31 de Maio.
Até cerca de 1730, Voltaire é um poeta como tantos outros do século XV111, embora algumas tragédias, como Zaira e Maomet, sejam em parte, de critica religiosa e social; o exílio em Inglaterra abriu-o a novos problemas e as Cartas Filosóficas já aparecem como um deslumbramento ante o mundo novo que se lhe revelara e como um programa da sua activi­dade futura; vêm, depois, o Século de Luiz XIV, já com o tema de que a his­tória é uma luta entre a inteligência e a superstição, Zadig, romance filosófico, e alguns dos Diálogos; a progressão acentua-se e é com o período da Suíça e de Ferney, já depois dos 6o anos, que se revela o Voltaire que maior influência exerceu no seu tempo e que a posteridade mais apreciou: o do Ensaio sobre os costumes, do Cândido, do Dicionário Filosófico, do Ingé­nuo, do Tratado da Tolerância, das dezenas de folhetos que se abatiam com toda a sua vivacidade, toda a sua ironia demolidora, toda a sua terrível pene­tração, sobre as instituições mais veneradas do regime; ao mesmo tempo surge o Voltaire que organiza a indústria de Ferney, se bate pela reabilitação de Calas, defende a memória do cavaleiro de la Barre; é o infatigável campeão da tolerância, da inteligência, da felicidade humana; servem-no a sua capacidade de apreensão do ridículo, o amor da justiça, a sensibilidade às aspirações profundas do seu século, a corajosa generosidade, o interesse pelo mundo material, o desejo de que o homem se reforme, o estilo límpido, simples, directo, em que, como num florete, tudo contribui para a agudeza e a rapidez do golpe.
Os três diálogos publicados neste caderno são bem representativos de Voltaire: neles aparecem, como fundo, o gosto pelas questões económicas, a luta anti-religiosa, ou melhor, anticlerical, a insistência sobre quanto a situação social pode influir no espírito dos homens; na composição são de notar a naturalidade das falas, o fino desenho das personagens, a sugestão do ambiente em que elas se movem, a habilidade em fazer ressaltar os factores essenciais; ao mesmo tempo que as qualidades vêm as limitações: a cla­reza de Voltaire traz muitas vezes consigo a superficialidade, o seu ímpeto de ataque tem como contrapartida o exagero e, às vezes, a injustiça, a sua compreensão de certos fenómenos como, por exemplo, o religioso, nem sempre é, como se desejava, profunda e digna; mas também é fora de dúvida que a nossa atitude de maior serenidade crítica nos é em grande parte possível graças ao combate decidido que Voltaire soube travar e vencer.

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