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Alexandre Herculano
A morte de D. Pedro V, em que Herculano pusera todas as esperanças, agravou-lhe a visão pessimista quanto às possibilidades nacionais; como acontecia no campo económico com o livre-cambismo, um patriotismo bem marcado do tempo impedia Herculano de pensar em Portugal como integrado num conjunto onde fosse mais fácil encontrar dirigentes em número necessário; é o que vai corrigir Antero com o seu pensamento socialista e ibérico; mas faltava em Portugal, para que realmente o salvasse de uma ruína iminente, quem juntasse à larga visão de Quental e à inquebrantável energia de Herculano os dotes políticos que nenhum destes possuiu.
Não pensava, porém, em recuar, nem foi desistência nenhum dos seus actos; fez parte da vereação de Belém em 54, reclamou a constituição de Caixas Agrícolas para que se melhorasse a agricultura, e se fizessem escolas, e mesmo depois do conflito na Academia, que o impediu de continuar os Portugaliae Monumenta Historica, em que coligia os textos portugueses medievais, não deixou de se ocupar dos estudos históricos, procurando materiais para o V volume da História de Portugal, nem se desinteressou dos problemas públicos: em 66 defende o casamento civil, mostrando-o dentro das tradições nacionais e das leis eclesiásticas, em 71, quando o julgavam ocupado já de todo com os trabalhos agrícolas, protesta contra o encerramento do Casino, onde Antero e os companheiros realizavam as suas conferências; o seu interesse pela juventude permanecia o mesmo e nenhum desiludido, nenhum céptico radical acredita nas possibilidades dos jovens; Vale de Lobos não foi um refúgio, a tebaida de um proscrito do mundo, mas uma base melhor de combate, porque, não o impedindo de escrever, lhe dava mais fundo conhecimento do povo actual, lhe permitia ensiná-lo na actividade agrícola que sempre olhara como primordial, e o afastava do meio corrompido, inútil e enfraquecedor da capital; Herculano não acredita nem no escol da nação nem na populaça sempre pronta a seguir o político mais hábil em palavras e mais fértil em empregos: mas acredita no povo, na gente tenaz, sóbria, calma, generosa, optimista, cheia de inteligência prática e de bom senso, que formara outrora um país modelar e era capaz, se encontrasse bons chefes, de voltar ao nível de vida dos tempos antigos.
A morte de D. Pedro V, em que Herculano pusera todas as esperanças, agravou-lhe a visão pessimista quanto às possibilidades nacionais; como acontecia no campo económico com o livre-cambismo, um patriotismo bem marcado do tempo impedia Herculano de pensar em Portugal como integrado num conjunto onde fosse mais fácil encontrar dirigentes em número necessário; é o que vai corrigir Antero com o seu pensamento socialista e ibérico; mas faltava em Portugal, para que realmente o salvasse de uma ruína iminente, quem juntasse à larga visão de Quental e à inquebrantável energia de Herculano os dotes políticos que nenhum destes possuiu.
Não pensava, porém, em recuar, nem foi desistência nenhum dos seus actos; fez parte da vereação de Belém em 54, reclamou a constituição de Caixas Agrícolas para que se melhorasse a agricultura, e se fizessem escolas, e mesmo depois do conflito na Academia, que o impediu de continuar os Portugaliae Monumenta Historica, em que coligia os textos portugueses medievais, não deixou de se ocupar dos estudos históricos, procurando materiais para o V volume da História de Portugal, nem se desinteressou dos problemas públicos: em 66 defende o casamento civil, mostrando-o dentro das tradições nacionais e das leis eclesiásticas, em 71, quando o julgavam ocupado já de todo com os trabalhos agrícolas, protesta contra o encerramento do Casino, onde Antero e os companheiros realizavam as suas conferências; o seu interesse pela juventude permanecia o mesmo e nenhum desiludido, nenhum céptico radical acredita nas possibilidades dos jovens; Vale de Lobos não foi um refúgio, a tebaida de um proscrito do mundo, mas uma base melhor de combate, porque, não o impedindo de escrever, lhe dava mais fundo conhecimento do povo actual, lhe permitia ensiná-lo na actividade agrícola que sempre olhara como primordial, e o afastava do meio corrompido, inútil e enfraquecedor da capital; Herculano não acredita nem no escol da nação nem na populaça sempre pronta a seguir o político mais hábil em palavras e mais fértil em empregos: mas acredita no povo, na gente tenaz, sóbria, calma, generosa, optimista, cheia de inteligência prática e de bom senso, que formara outrora um país modelar e era capaz, se encontrasse bons chefes, de voltar ao nível de vida dos tempos antigos.
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