«Não estamos na idade das letras, decididamente, estamos na idade do dinheiro, da malandrice, dos falsos heróis e tudo o mais correlativo. Não há ALMA; ponha o L antes do A; fica LAMA; é o que há.»
Excerto de carta de Wenceslau de Moraes ao seu amigo Alfredo Dias Branco, datada de 23 de Fevereiro de 1919
Excerto de carta de Wenceslau de Moraes ao seu amigo Alfredo Dias Branco, datada de 23 de Fevereiro de 1919
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Ao alvor, pelos riachos, quando voltares, o musgo
Tão puro dos seixos te celebrará e o espelho
Brumoso do quarto agitará os seus navios –
Aos continentes as especiarias do prazer e do sonho
Retornarão. No Egipto, os homens erguem pirâmides.
No Japão, transportam os pássaros o sémen vegetal,
Cartas de amor das cerejeiras. A noite, a luz.
O mel, a flor. Não se tocarão nunca e amam-se.
A tinta, a pena, não sentirão nunca e amam-te.
Andei pela casa à procura do teu pólen nos móveis.
Quando voltares, não esqueças os recados, o coração
Floral, os brincos e os anéis, os lábios e os livros.
Klatuu Niktos
Ao alvor, pelos riachos, quando voltares, o musgo
Tão puro dos seixos te celebrará e o espelho
Brumoso do quarto agitará os seus navios –
Aos continentes as especiarias do prazer e do sonho
Retornarão. No Egipto, os homens erguem pirâmides.
No Japão, transportam os pássaros o sémen vegetal,
Cartas de amor das cerejeiras. A noite, a luz.
O mel, a flor. Não se tocarão nunca e amam-se.
A tinta, a pena, não sentirão nunca e amam-te.
Andei pela casa à procura do teu pólen nos móveis.
Quando voltares, não esqueças os recados, o coração
Floral, os brincos e os anéis, os lábios e os livros.
Klatuu Niktos
30 comentários:
Vamos mas é curtir a guedelha do Wenceslau, que o bar dos fundos encerrou... Este também era gótico e nada fez por este País - cavou para o Japão e amou a O-Yoné! :)
poema sereno como um chá bebido sob uma bela cerejeira em flor.
De 1919 para agora, pelos vistos, "L" e "A" ainda não retornaram às posições originais...
beijo*
O mundo, os cheiros que lhe roubamos e embrulhamos em pano cru, pretendendo-os nossos para descobrir caixinhas impossíveis.
Depois fica a dignidade, ou a pura delicadeza com que as partículas estelares que vemos a pairar no ar beijam os objectos onde se deitam a dormir.
Gostei imenso deste escrito, as palavras dançam como mimos com asas.
Beijinhos**
Calem-se! - vocês são góticas, nada fizeram por este País e têm que ser deportadas para o Japão! :)
Pois, eu cá sempre soube que os góticos amavam demais, enfim, quem tem vagar faz colheres, ou corações nas janelas dos coches.
Mas já que estas criaturas têm uma vida semelhante à dos morcegos, são óptimas como cobaias para a compreensão da dieta dos mesmos.
O Homem é de facto um ser extraordinário, tem uma capacidade infindável de atribuir utilidade à mais ínfima insignificância da sua criação. :)
Já nem sei se posso entrar...
Isto está reservado a góticos que nada fizeram por este país?:)
1919 tão perto de 2008!
Gostei do teu escrito, muito.
Beijinho.
Cala-te! - tu és pior que gótica... és uma gótica reencarnada em morcega e disfarçada de andorinha! Vais deportada para as grutas de Mira de Aire! :)
Agora é que falaste bem, Sally The Kid... o gótico transformou-se no fetiche fantasmático erotico-tétrico das frustrações sexuais (e outras) dos vegetais da classe média!
Tenham medo, tenham muito medo! :)
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Eu não sou gótico e cortei uma mão ao Ruela! :)
o gótico transformou-se no fetiche fantasmático erotico-tétrico das frustrações sexuais (e outras) dos vegetais da classe média
de tal forma, que quem não se encaixa nas suas medidas certinhas é rotulado de gótico (sendo-o ou não)...
(já sei: calo-me-que-sou-gó-e-nada-fiz-por-este-país...)
:))))) Loooooooooooooool
Tu és um doidão mesmo.
DOLU TU!:)
O teu mano cortou uma mão ao Ruela?:) Looooooooooooool
P.S. Vou para o caixão, não consigo rir-me mais por hoje...:)
JAJAJAJAJAJAJAJAJA!
Bah! - conversa de góticos! O que é que vocês já fizeram por este País??? :)
Vá!... Agora vamos cantar uma canção de embalar para a tia Andorinha, acerca de um passarinho do mato...
Preparados?
Edgar Allan Poe's
THE RAVEN
[First published in 1845]
Once upon a midnight dreary, while I pondered weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
`'Tis some visitor,' I muttered, `tapping at my chamber door -
Only this, and nothing more.'
Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow; - vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow - sorrow for the lost Lenore -
For the rare and radiant maiden whom the angels named Lenore -
Nameless here for evermore.
And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me - filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating
`'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door -
Some late visitor entreating entrance at my chamber door; -
This it is, and nothing more,'
Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
`Sir,' said I, `or Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you' - here I opened wide the door; -
Darkness there, and nothing more.
Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dream before
But the silence was unbroken, and the darkness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, `Lenore!'
This I whispered, and an echo murmured back the word, `Lenore!'
Merely this and nothing more.
Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping somewhat louder than before.
`Surely,' said I, `surely that is something at my window lattice;
Let me see then, what thereat is, and this mystery explore -
Let my heart be still a moment and this mystery explore; -
'Tis the wind and nothing more!'
Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven of the saintly days of yore.
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door -
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door -
Perched, and sat, and nothing more.
Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore,
`Though thy crest be shorn and shaven, thou,' I said, `art sure no craven.
Ghastly grim and ancient raven wandering from the nightly shore -
Tell me what thy lordly name is on the Night's Plutonian shore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'
Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
Though its answer little meaning - little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blessed with seeing bird above his chamber door -
Bird or beast above the sculptured bust above his chamber door,
With such name as `Nevermore.'
But the raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only,
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered - not a feather then he fluttered -
Till I scarcely more than muttered `Other friends have flown before -
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before.'
Then the bird said, `Nevermore.'
Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
`Doubtless,' said I, `what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master whom unmerciful disaster
Followed fast and followed faster till his songs one burden bore -
Till the dirges of his hope that melancholy burden bore
Of "Never-nevermore."'
But the raven still beguiling all my sad soul into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird and bust and door;
Then, upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore -
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking `Nevermore.'
This I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamp-light gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamp-light gloating o'er,
She shall press, ah, nevermore!
Then, methought, the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
`Wretch,' I cried, `thy God hath lent thee - by these angels he has sent thee
Respite - respite and nepenthe from thy memories of Lenore!
Quaff, oh quaff this kind nepenthe, and forget this lost Lenore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'
`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil! -
Whether tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted -
On this home by horror haunted - tell me truly, I implore -
Is there - is there balm in Gilead? - tell me - tell me, I implore!'
Quoth the raven, `Nevermore.'
`Prophet!' said I, `thing of evil! - prophet still, if bird or devil!
By that Heaven that bends above us - by that God we both adore -
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels named Lenore -
Clasp a rare and radiant maiden, whom the angels named Lenore?'
Quoth the raven, `Nevermore.'
`Be that word our sign of parting, bird or fiend!' I shrieked upstarting -
`Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken! - quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!'
Quoth the raven, `Nevermore.'
And the raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamp-light o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted - nevermore!
P. S. Vão dormir, cambada! - isto já fechou.
OMFG!!!
O que para aqui vai...
Eu que vinha tão satisfeita comentar este poema que me lembrou de chás, de flores de cerejeira e de meninos japoneses deparo-me com esta caixa de comentários e puffffffff! Foi-se a minha inspiração!
*caput*
AHAHAHAHAHAH! Vocês MATAM-ME!
PS: Klatuu, que bom reencontrar o corvo e vê-lo "sobrevoar" estas paragens...
Obrigada*
eu já tou morto de tanta gótica a ser deportado para o japão
se for com este belo poema a acompanhar-me, não me importava de ser deportado também.
afinal, o que é que nós já fizémos pelo nosso país?
um abraço
jorge
O Horror! O Horror!
Tantos góticos que não fazem nada pelo país...de onde veio este pessoal!?
;)
o cota da foto é mesmo gótico.
Klatuu,
Vamos lá a ver se nos entendemos:)
Gostei muito da canção de embalar, mas isso não te dá o direito de me chamares "Tia Andorinha".
Isso é privilégio da Bia, unica e exclusivamente.
Estamos entendidos?
:)))))
De onde veio este pessoal?!!!
Então... eles não fazem nada, andam por aí e resolvem vir chatear-nos a nós, cidadãos responsáveis...
Temos que ser tolerantes...
:)))
A Tia é só minha, chiça!
O poema é belo.
Vocês são todos góticos e nada fazem por este País - além disso, o bar aberto é só das 00:00h à 01:00h! :)
vou mas é juntar-me aos Mão Morta ;)))
ui, cheguei na hora certa, então...
ó Ruela, lembras-te de uma lengalenga de há uns 30-35 anos atrás que soava assim:
"mão morta, mão morta, vai bater áquela porta..."
Tanta conversa de mãos cortadas e mãos mortas e lembrei-me disto. Afinal, são património imaterial, as lengalengas ;p
Beijos**
claro que são ;)
bjs.
Bar aberto, são 00:30...
haha
partiste a loiça toda;)
Garçom s'il vous plaît...
P. S. Honestamente, acho que o Wenceslau de Moraes e o Camilo Pessanha adorariam uma Graveyard Session - mas havia que estar de olho neles, para não desbaratinarem... :)
... E o Fernando Pessoa, o Mário de Sá-Carneiro, o Almada Negreiros, o Ângelo de Lima, claro - na volta andam por lá todos, em heteronímia espectral...
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