A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

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Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

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sexta-feira, 18 de julho de 2008

Carta de Londres

The English Gents, Féileacán, 2008


Londres, 10 de Junho de 2008.


Mãe,

assim que comecei a escrever esta carta, imaginei qual seria a tua reacção ao recebê-la e ao ler estas linhas. Nunca fui dado a trocas de correspondência, é verdade. Tu sabe-lo melhor que ninguém. Mas hoje estou pesado e sorumbático como esta cidade e deu-me saudades de ler (ou escrever) com este jeito tão nosso, cheio de acentos, de cês de cedilha e hífenes. Que poderia fazer melhor do que armar-me de papel e caneta e desabafar contigo, que sempre tiveste uma paciência infindável para me ouvir?...
A verdade é que estou com saudades de casa.
Ainda nem um ano passou desde que cheguei, eu sei. Como sei que fui eu quem quis seguir este caminho. E, a sair de casa, que lugar melhor que a grande, a enorme Metrópole, não é? Lembras-te da minha animação quando cá cheguei? Tudo era novo, bom, maravilhoso, muito melhor e mais organizado do que no nosso “jardim à beira mar plantado”!
Continuo a admirar o país, é certo. E agradeço-lhe todo o sucesso que por cá já consegui. Mas, pelo menos hoje, estou com uma imensa saudade de casa.
E quando digo “casa” não me estou a referir à nossa. Não é dos teus cuidados, das brincadeiras do pai, ou das histórias da avó que sinto esta falta imensa (sinto-a, claro, mas é mais que isso). Tenho saudades de uma “casa” maior, mais ampla, sem paredes nem janelas. Casa que se estende desde o verde e viçoso Minho, até às areias escaldantes do buliçoso Algarve. Saudades das manhãs frias e cinzentas do Porto e das tardes solarengas de Lisboa, em que o Tejo bebe o ouro do sol e o leva por toda a cidade; dos acampamentos e das caminhadas no Gerês ou de quando juntámos um grupo de amigos e decidimos procurar linces na Serra da Malcata (éramos, afinal, tão inocentes); das giestas que se perfilam pelas elevações agora atravessadas pelas auto-estradas do norte e das amendoeiras em flor, uns bons quilómetros abaixo; do Mediterrâneo tranquilo e convidativo e do Atlântico revolto e gélido; das romarias do verão e das janeiras no inverno; dos homens que se sentavam no café a discutir a bola, com tanto ou mais afã com que maldiziam a crise, e das mulheres cujos pregões enchiam (enchem ainda, não?) o Bolhão; dos poetas e dos ditos populares… Saudades, enfim, de Portugal.
Parece incrível dizer isto, não mãe?
Nunca fui dado a patriotismos, como nunca fechei os olhos a tudo o que vai mal no nosso país.
Mas agora, aqui, sinto-me estrangeiro e começo a entender ao que nos referimos quando falamos em “pátria” como quem fala em “mãe”.
Por estes dias descobri que não sou o único a sentir isto. Veio cá o Diogo (que está na Alemanha, lembras-te? formado em Física, com uma cabeça como até hoje não conheço igual!) com uma miúda, também portuguesa. Essa é Bioquímica e foi parar a terras germânicas, mais ou menos pelas mesmas razões pelas quais eu vim parar às de “Sua Majestade”. Como era fim-de-semana juntámo-nos uma data de portugueses, incluindo a Marisa, que está na Escócia (essa é Bióloga – outra que tal). Não sei se foi por isso, mas passamos o tempo todo a lembrar coisas da nossa terra, desde as mais belas às mais caricatas. Até de alguns figurões da nossa praça! A conversa acabou por recair no facto de todos termos deixado a terra que – afinal – tanto amamos, para procurar algo que se assemelhasse a um “futuro”. Então o Diogo, com o jeito desengonçado dele, clareou a voz, pigarreou e, naquele timbre que aperfeiçoou em Coimbra, nos tempos da faculdade e dos respectivos fados, soltou “A Trova do Vento que passa”. Desatámos a chorar como miúdos de colo! Uma cena degradante (ou hilariante para quem nos estivesse a ver no pub, naquela noite).
Enfim…
Tudo isto já se passou há uns dias mas continuo um bocado abalado. Desde então tenho vindo a pensar se não se esperaria de uma “mãe” que procurasse manter os filhos junto de si… Se não se esperaria, digo, que o país não assistisse impávido e sereno à saída de tanta gente com capacidade, formada nas áreas mais diversas e que podia (e queria) contribuir para o desenvolvimento da nação.
Sabes, mãe? No fundo ainda devo ser aquele miúdo inocente de outros tempos, porque, cá dentro do peito, ainda mantenho a esperança que, um dia, haja condições para que todos nós, filhos dispersos, possamos juntar-nos na nossa terra natal.
Acho que já disse o que queria…
Não me sinto mais leve, como tantas vezes apregoam umas amigas, após desfiar um rol de mágoas no papel (ou no blogue – isso por cá também está em voga), mas resta-me o consolo que talvez gostes de reler esta minha letra miudinha e meia gatafunhada.
Um beijo imenso para ti, para o pai e para a avó,

Carlos.



P. S. Hoje, a melhor coisa de Londres é o meu rafeiro. Está cada vez mais teimoso, mal comportado, um bocado indolente e preguiçoso, mas é um brincalhão e tem um coração de ouro. Estou a olhá-lo e a pensar que nasceu no lugar errado. Este é tipicamente português
.

8 comentários:

Frankie disse...

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.



Manuel Alegre

Klatuu o embuçado disse...

Por mim és candidata ao ceptro do Rómulo de Carvalho/António Gedeão... ;)

Este texto está excelente - e dá que pensar (muito) - andamos há pelo menos duas décadas a formar licenciados... para os oferecer à borla ao estrangeiro!!

Night Angel disse...

Bem, li o texto 3x, e axo k continuaria a le-lo uma e outra x. Esta Fabulastico, pura e simplesmente divinal. :") estou a xorar como um bebe de saudades de portugal e nem sai daki. Este texto traz tanto, mas tanto do k vai na alma, as saudades k se sentem fora da patria. E ainda + kuando puseste este fado, k é um dos meus preferidos, k mostra as saudades dakele lugar distante a k chamamos casa. O meu comentario esta desajeitado eu sei, talvez pk xoro. Esta realmente como kerias, e como devia ser apresentado, uma forma comum e ao mm tempo original de apresentar um assunto tao comum hoje em dia e k kuase ninguem fala, mas k nos coraçoes dakeles k estao la longe podem ser sentidos. E tudo isto originado mtas xs com um pouco do k falas de amigos k se separaram e foram trabalhar para fora pk a "mae" nao lhes deu o k eles precisavam tiveram de se refugiar sobre as "saias" das "maes" de outros e k a custa disso estao longe de tudo o k é + valioso. Lindo, soberbo. PERFEITO. parabens. A-D-O-R-E-I

Bjinho Enorme

(vou ler de novo)

Anónimo disse...

Lá nos dizia Fernando Pessoa: organizem-se! (Marx também dizia aos operários, alguns ouviram-no, nessas terras do Norte, fizeram bem, ganham mais!)
Mas eu só quero pedir que continue a escrever.. e agradecer o prazer da leitura.

Ana Margarida Esteves disse...

"“A Trova do Vento que passa”. Desatámos a chorar como miúdos de colo!"

Sei muito bem do que falas.

"Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz NÃO!"

andorinha disse...

Pintas uma realidade bem cruel nos tempos que correm. A debandada de tanta gente com valor por não encontrar aqui condições para desenvolverem o seu trabalho com sucesso.
Tenho alguns amigos que abalaram porque a "mãe" foi "madrasta".
Não os critico, se tivesse a idade deles há muito tinha feito o mesmo, confesso.

Espero que possam voltar um dia, sinceramente, seria sinal de que a "mãe" já teria melhores condições para os acolher.

Mas não "podias" ter postado a "Trova do vento que passa".
Não te perdoo:)
Puseste-me à beira das lágrimas, sabias?
Não consigo ler estes versos ou ouvir a canção na voz do Adriano sem que seja invadida por uma profunda tristeza e nostalgia.
Há versos que me marcam, mas estes deixam-me a alma em sangue.


"Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não."


Continua a ser esta a minha esperança.

Beijo grande*, piquinita:)

Ana Beatriz Frusca disse...

A realidade é cruel!
Texto excelente!
Beijos.

jawaa disse...

Uma bela epístola, tão verdadeira!
Que país é este que assim se deixa sangrar - sangue arterial - e mantém no hemiciclo o venoso, auferindo benesses, nada dando a quem os elegeu, comprando reformas antecipadas com incompetência e corrupção?!
E o povo, o povo que trabalhe e que continue inculto com centros de novas pseudo-oportunidades, com a escola que temos!