Este postal retrata uma cena tradicional, na qual as várias gerações femininas de uma família trabalhavam arduamente, de agulha na mão, para dar corpo a trabalhos de Bordado Madeira, famosos e únicos. 1
A teus pés, as teias de emaranhados desenhos. Recortes imprecisos impressos. A sangue, sim a sangue que fura o linho que tanto coses. Mulher que penduras na linha, o pão dos famintos. Um ponto uma flor vazia refeita. Um ponto numa mulher já feita. Na alvura do tecido tocada, as mãos lesadas pelo útero. Gasto que de sóis levantes se acabam. Viúvas que se cosem entre ambas no gemido carpido ao vazio. Viúvas de rosetas que se formam na vista turva. Viúvas da fome passada. Melodias bradadas na doença. Amarela. Virulenta. Amarela. Purulenta. E vieram eles, com a sua alvura. Eles, corsários de grinaldas enlameadas. E no engano do conto do ponto, levaram-nas. A vós, mulheres de mãos precisas. Escravas, escravas, da arte caseada pela pobreza.
Nota: No texto são mencionados alguns pontos de bordado Madeira, para além dos referidos: caseados, viúvas, e rosetas, existem também: as bordaduras em grinalda, filas de ilhós, garanitos, estrelas e cavacas. São estes pontos os que mais caracterizam este árduo trabalho.
1 in "Memórias do Funchal - O Bilhete-Postal Ilustrado até à Primeira Metade do Século XX" de José Manuel Merlim Mendes.
2 comentários:
Tu nunca conseguirias falar bem línguas de trapos... a voz não te puxa para isso. Tu és cá da gente, do Norte e do Sul, dos montes, das serras, dos rios, da Galiza, do Atlântico, do Mediterrâneo!
A Pátria é, agora, a viúva de todas as viúvas. Mas somos os seus filhos.
Hoje não pertenço a nada.
(estou demasiado bélica para sentir algo)
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