Movia-se sem qualquer ruído, una com a floresta que em torno dela se erguia e na qual se embrenhava cada vez mais. Sob a luz da lua, coada pelas copas das árvores, era não mais que um vulto, um manto longo, arrastando-se sobre a folhagem que cobria a terra. Havia nela algo de grandioso e nobre como um andar altivo e forte capaz de prender o olhar de qualquer um. Debaixo dos seus pés nus nem os galhos que forravam o chão se quebravam... Sabia que, desse modo, a natureza lhe prestava a sua homenagem e se despedia. Em silêncio. Porque é assim que a terra faz o seu luto.
As palavras dele ecoavam-lhe na mente:
– Ver-te-ei arder na fogueira e hei-de estar lá...a aplaudir!
Sabia que ele tinha razão. Por muito menos, quantas mulheres tinham já sido queimadas. Sem nada saberem. Nada fazerem. E, para ela, que tudo sabia e tudo fazia, a fogueira era o destino mais certo.
No entanto, tudo poderia ser mais simples. Muito mais simples. Ele, poderoso e soberano, queria um herdeiro. E ela, bela e sábia, era naturalmente a escolhida para lho dar. Mas atrevera-se a recusar-lho, a ele, que nunca ouvia um “não”.
Aquela palavra, impronunciável, fora dita e o seu destino automaticamente traçado. Mas não se arrependia. Não. Nunca. Ela nunca se arrependia de nada.
Tinha ainda tempo para se despedir e isso bastava.
Abeirou-se do lago, no centro da floresta e despiu as longas vestes carmesim, não tão aveludadas como a pele que cobriam.
Era, toda ela, um hino. De cabelos cor de fogo, refulgentes e longos, uma cascata de labaredas desfiada ao longo da curva das costas e a deslizar nuns olhos de cor indefinida, líquidos da água daquele lago que contemplava. Olhos espelhados, capazes de tudo reflectir – e, por isso mesmo, de todos envergonhar. A pele era leitosa, da cor da lua num corpo de seios macios e curvas definidas, um hino à fecundidade, não tivesse ela querido transformar-se em terra árida e intocada.
Ali se aninhou, à beira-água, um feto no útero materno, de volta à terra que a havia gerado, àquela carne escura e pulsante que lhe dera a vida e a quem ela daria a sua.
Havia de sonhar com fogueiras... Com aquela imensa labareda que, sabia, duraria sete dias e sete noites, a crepitar incessantemente enegrecendo os céus e enlouquecendo os homens. Fogueira que ela haveria de contemplar de cima... uns bons metros acima, porque o espírito, esse, era uma ave e havia de guardar aquela floresta para sempre...
32 comentários:
Realmente estamos a mais neste blogue! LOL!!!
Lindo! - como tu e a tua alma.
Beijinhos, Francisca.
Salve, salve Frankie!
Esse texto realmente merece ser visto. Estremaos juntinhas na NA, não é?
Adorei sua prendinha!
beijos, meu brigadeirinho branco recheado com tamarindo.
Dolu tu!
A Frankie é a maior... a abraçar tigres! :)
Bem-vinda, menina das Ciências;
a malta gosta toda MUITO da nossa cientista desenhadora.
Dark kiss.
P. S. A narrativa é dos textos mais belos que li. É o mapa do teu coração...
À tarde provavelmente será a estréia da nossa bruxita!
Quero mais textos teus, hein, minha bonita!
Obrigada, Klatuu... Por tudo.
Mas não digas essas coisas muitas vezes; um dia acabo por acreditar.
Gosto muito de ti.
PS: Mauzinho, tu! ;)
Quanto a mim, não sei. Ainda tenho muitas dúvidas sobre se a menina das Ciências não estará, realmente, a mais.
Mas tu!!!...
Tudo o que por cá tens publicado é simplesmente delicioso!
PPS: "Quando for grande quero escrever como tu!" rsrsrs ;)
Acabei de ver; também fui "abençoar" sua estreia -coisa mais linda-.
Aquele poema mexe comigo...
Dolu tu, meu vulcãzinho!
PS: Quanto à prendinha, foi bem mixuruca mas fico feliz que você tenha gostado ;)
PPS: Nossa bruxinha?! Jura?! Daqui a pouco estamo-nos mudando todos "de armas e bagagens" para cá! Ainda vão pensar que é uma invasão ;)
Lord:
Só mesmo tu para a veres como tal...
Não sei quanto à você, Frankie...só sei que eu vou ter que comer muito espinafre pra escrever que nem ele.
Quero uma fábula!
Frankie, você também gosta de fábula?
Eu adoro, ainda mais se for uma ilustrada com a estética mangá.
Pena que eu não tenha visto bons animes na Intenete...
Adoro, Bia!
Fazemos assim: se ele escrever a fábula para você eu prometo que ilustro, tá bom?! ;)
Beijooooooooo*
PS: Eu, por mim, acho que nem comendo muito espinafre ;)
O Lord ainda tá no caixão, mas mandou este recado:
«Escrevo, mas só se for uma BD de bravos Lusitanos com cara de japonês...»
E eu acrescento que deveria ser saga e não fábula - e ser publicada aqui em folhetim.
P. S. Até me lembro de um palhaço que queria BD!
Que seja saga então, porque não adianta discutir com esse par de teimosos.
Um exemplo de condescendência do Lord: apesar de anos e anos de reclamações das letrinhas azuis no fundo preto em seu blogue, elas continuam lá. E qual A vossa resposta? vocês tem que me ler a luz de velas. JAJAJAJA! ISSO É QUE É SER CONDESCENDENTE!
vou ali caçar fábulas. Volto já já!
JAJAJAJAJAJAJA!!!
Beijinho.
Já to tinha dito, Frankie: lindo.
Beijo grande.
PS: não deu tempo ontem, mas foi hoje... já está, uns posts acima ;)
Mais uma vez este belo texto, k tal como tu, é lindissimo. :)
BJINHO GANDEEEE
Piquinita, estou mais uma vez orgulhosa de ti, muito.
Digo o mesmo que o carrasco - Lindo! - como tu e tua alma.
E se eu conheço a tua alma...
Beijo grande, piquinita:)
Uma grande estreia com este texto muito belo... :)
E apesar de não se enquadrar muito no género publicado no blog, a beleza das palavras e dos sonhos tem sempre um espaço para si... para fazer sonhar outros, para mostrar os anseios de uns poucos. Né?
Por isso força nisso, que eu estou sempre aqui para te apoiar minha alminha.
E não estou só... :p
Um beijinho imenso cheio de carinho e ternura
e klatuu tem cuidado que ainda gastas os elogios todos na frankie :p
E deverei ser parco neles?
Abraço.
Já vi, Mariazinha. Está delicioso.
Beijinho*
Obrigada, Night Angel :)
Andorinha:
Isso é o que se chama -literalmente- "uma mãe babada" ;)
Gosto muito, muito de ti*
...E apesar de não se enquadrar muito no género publicado no blog...
Txxxxxxxi, Jeust, que boca foleira! Maneira subtil de dizer "Ah e tal estás aqui a mais!
Brincadeirinha ;)
Obrigada por vires "abençoar" a minha estreia por cá.
Beijinho, doce*
AHAHAHAH
Klatuu, fofo, não ligues que o menino está com ciuminho! rsrsrs
Frankie,
esse com certeza foi o melhor texto seu que li até agora.
Estou aguardando os próximos.
Beijos.
Obrigada, Lúcia!
Agora é que eu estou vendo a quem a Bia sai tão docinha ;)
Beijos*
@klaatu
Parco não, reduzido lol
Na brincadeira :)
Eu não sou muito de expressar ciúmes... Estava a brincar com eles...
Desculpa se te pus desconfortável de alguma maneira.
Eu sou assim... gosto de brincar. :p
abraços maluco
@frankie
tu é que depreendeste isso... viste nas minhas palavras o reflexo do teu coração. :p
Mas não tens razão para pensar isso...
Pelo que vi, neste blog há uma miríade de assuntos e estilos tratados e abordados...
Por isso o teu jeito pessoal, sensível e emotivo só vem abrilhantar este espaço sinceramente...
E como autora e apreciadora do teu mundo interior não tens de temer as criticas dos outros.
Há quem vai gostar e há quem não vai gostar...
Nem Jesus que era Jesus agradou a todos né? :p
Beijinho grande minha alminha...
E por acaso não conhecia este espaço... e parece interessante, mas para blog é um bocadinho pesado no browser. Demora a carregar... :\
Fora isso é um espaço muitoooo interessante ^^
e sabes que contas sempre com o meu apoio e carinho frankie... :)
e não sou o único a prestá-lo...
Por isso força nesses textos e na expressão desse mundo, dessas realidades que te vão na alma.
Beijinho grande e terno...
Bichinho:
Eu sei, eu sei... Estava a brincar!
Já devias saber que tens de dar um desconto a tudo o que te digo: 60% são meras bocas foleiras.
Mas eu sei de todo o teu carinho e apoio em tudo o que faço.
E garanto-te: são impagáveis e são-me indispensáveis :)
Beijinho, Jeust*
outo pa ti fankie...
beijinho doxe e fofo
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