Os onze mil Atenienses em Maratona não acreditavam que fosse possível derrotar um exército de trinta mil Persas, Miltiades eleva a voz e ordena que se reforcem as alas e se enfraqueça o centro e grita a carga a passo rápido. Miltiades não é um príncipe de Esparta, é apenas um general Ateniense que ama Atenas, gosta de passear pelas ruas limpas e luminosas, de ouvir as discussões dos filósofos, de ver os canteiros a trabalhar nas oficinas, gosta da beleza e da liberdade das mulheres de Atenas e quer lá voltar.
O exército persa irrompe pelo centro fraco, mas os lados são rapidamente devorados pelas falanges de hoplitas, que se reúnem atrás do corpo principal dos Persas e o vão esmagando numa tenaz veloz. Aqui não é a bravura sem freio que comanda, é a razão de Atenas, é o poder do conceito, a luz de uma ideia de civilização imorredoura.
Os Persas são perseguidos até aos navios, combatem desesperadamente na praia, estão já vencidos, porque os Persas são apenas escravos que obedecem cegamente à tirania. Morrem pela lança e pela espada dos homens mais livres do mundo.
Hitler no bunker, bisonho como um rabi de aldeia. A Alemanha, que não realizou os seus patéticos delírios de glória, deve agora ser sacrificada. Hitler no bunker e Berlim em chamas; a resistência rua a rua, os fuzilamentos sumários, as violações e a fome, os rapazes que pedalam e cantam e se imolam contra os tanques. Hitler no bunker encena a pira dos heróis, mas é queimado com gasóleo como um trapo.
Hitler no bunker, um meia-leca cretino e psicótico, que sonhava com rapazitos louros de elmos com cornos.
Dizem que as crianças de Atenas quando viam Diógenes o Cínico agarravam-se-lhe à cintura, formavam uma fila atrás dele e corriam todos pelos campos, a rir e aos gritos. O fogo vermelho das papoilas rebentava-lhes de chapa em pleno rosto, como se passassem um fogo divino. Admiravam as cambalhotas de Diógenes sobre os montes de feno e pediam-lhe que repetisse, o filósofo, sempre mudo, fazia caretas e apontava o azul de um pássaro em voo, a prata de um peixe na margem, os lírios ao longe, depois punham-se todos a ladrar alto e riam.
Então, exaustos, deitavam-se entre os fenos, à beira do rio, a roer os trigos, a olhar o céu de Verão e a ouvir o coaxar das rãs.
A felicidade pode ser tão simples, quando se seguem os mestres certos.
Klatuu Niktos
43 comentários:
Não tendo percebido bem essa relação entre os três textos (ou talvez recusando-me a percebê-la), gostaria de dizer que ainda hoje não entendo essa tendência pseudo-ocidental de dizer que "os Persas são apenas escravos que obedecem cegamente à tirania".
Em especial se tivermos em conta as raízes zoroastrianas no cristianismo, ou a declaração persa que deu origem à declaração universal dos direitos humanos, ou à plena igualdade entre ambos os sexos pela primeira vez obtido na Pérsia, ou o facto de, simplesmente, terem sido os primeiros a domesticar animais de pasto, ou terem desenvolvido um sistema de escrita muito anterior ao europeu, ou para se ir à China Marco Polo teve que aprender persa...
Bem, era um mero povo que obedecia cegamente à tirania, e os quasi-ocidentais de hoje não...
É triste ler afirmações dessas (e não é só aqui, podem-se ler em livros e textos de comentadores de história que nem têm noção dos números que costumam citar)...
Aqui está o teu cunho muito pessoal.
"A felicidade pode ser tão simples, quando se seguem os mestres certos."
Pode, penso que sim. Mas penso também que essa é uma das tarefas mais difíceis neste mundo.
Como sabemos se são os certos?
Ainda lês os textos sagrados do Cristianismo...?
Conhece-se a árvore pelos seus frutos.
Cumprimentos, amiga Andorinha... ;)
Meu caro Sam, comentador, não deve dar-se à literatura a importância de uma obra sapiencial; estes três relatos não são nem obra política nem filosófica. O contextos dos mesmos é sincrónico, segue a lógica das épocas a que se reportam, principalmente o único que comenta, o primeiro e o que se reporta à época mais antiga.
A relação que não entende (ou não quer entender), não existe - sou eu que a estabeleço, pelo simples artifício literário de ligar os três relatos num conjunto.
Tudo o mais que diz é do meu conhecimento, sou estudioso da relação entre o zoroastrismo e o cristianismo, e até dos antecedentes do zoroastrismo e - perdoe-me que lho diga (e sei que se trata somente de um comentário) - em nada do que afirma me convenceu saber mais do que eu da temática.
Para que não me tome por alguém que fala no ar, convido-o à leitura de dois textos, que, sendo também literatura, lhe poderão fornecer elementos para acreditar que conheço, muito bem, tudo o que alega.
OS ENVIADOS.
O CIFRADOR.
Cumprimentos.
P. S. E estes dois são a adenda, que, quiçá, lhe permitirá perceber a relação que estabeleço e a que você se recusa:
«ALÁ, O MISERICORDIOSO».
O FAROL DE ALEXANDRIA.
Não o tomo por alguém que fala do ar, Klatuu, nem, em nenhum momento, tentei convencê-lo saber mais do que ou menos do que eu. Não me dou a tais disputas, pois acho-as absurdas.
Por isso, também lhe peço que não julgue as minhas palavras. Sei perfeitamente a diferença entre a erudição e a literatura. Mas erudição não é simplesmente resumir o zorastrianismo ao zurvanismo, ou o simples facto de saber que os reis magos (se é que eram no plural e não um ou quinhentos) eram ou não da ordem Maggiah!
A coisa não se resume a isso.
Uma obra de ficção, quando reportando-se a factos verídicos deve basear-se nesses factos. Numa de suas histórias relata algumas "aventuras" dos Magos. Ok! Isso é ficção: pegou nalguma ponta de realidade e tornou-a ficção. Quantos autores já não fizeram isso?
Mas, pegar em ponta de inverdade e fazê-la ficção é errado! Então que altere o nome dos personagens. Então que evite acusações equivocadas. Diga-me com toda a sinceridade, se escrevesse o mesmo sobre os povos de África não acha que estaria, neste momento, sendo acusado de racista? Não afirmo que o seja, atenção! Afirmo que a defesa de ser um texto fictício sobre uma antiguidade remota não é ilibatório.
Nada justifica chamar um grupo, seja ele qual for (se de um grupo real se trata), de "apenas escravos que obedecem cegamente à tirania"...
Penso que neste seu comentário está a divergir de si mesmo, uma vez que no primeiro apenas me interrogava acerca das raízes cristãs do zoroastrismo e da importância da civilização sumérica, berço civilizacional da humanidade.
A isso lhe respondi.
Agora me revela o latente político - mas aqui é você que supõe, de um modo não isento de preconceito, que falarei de algo que não digo.
O primeiro relato, que tanto parece incomodá-lo, é baseado em factos históricos e só desses fala. Mesmo o juízo político-moral do fim do relato tem fundamento histórico, os gregos de Atenas viviam numa democracia e os persas que os atacavam obedeciam a uma tirania. Nem outro motivo havia para atacar os gregos, que não os ditados pelo despotismo.
Quando aos outros relatos que lhe indiquei e que agora também comenta, verifico que optou por comentar os dois primeiros, mais ficcionais, evitando comentar o fanatismo do Islão fundamentalista que assassina mulheres por motivos mesquinhos e a hipocrisia sexual que impera no mundo muçulmano, essa sim aviltante dos direitos humanos e da igualdade. Enfim, as sua opções de crítica não deixam de ser reveladoras...
Mas mesmo os dois relatos mais ficcionais, que nenhuma crítica expressam à civilização pérsica, são baseados em factos históricos, ligados por hipóteses, numa lógica efabulativa própria da literatura fantástica. Nada têm de inverdade.
A verdade, meu caro, é que você é um pró-Iraniano (falo do regime tirânico e não da nação), e é você que está a ser parcial e a ver fantasias onde só há «moinhos».
Nada tenho contra o Islão, não sou racista e o Islão que foi nosso, o Al-Andaluz, é inspiração de muito que escrevo e, até, neste blogue já publiquei - e a antiga Suméria é a influência religiosa mais importante de tudo o que sou.
A reiteração do que pretende concluir acerca da minha pessoa:
«Nada justifica chamar um grupo, seja ele qual for (se de um grupo real se trata), de "apenas escravos que obedecem cegamente à tirania"...»
- não é apenas descabido (porque está a querer entender em sincronia o que está diacronicamente dito), mas é também injusto, porque o que pretende que eu tenha dito, nunca disse.
Cumprimentos.
P. S. Mas não finjamos ambos que somos ingénuos.
Nao, não leio, não sou cristã.
Como sabes, deixei de o ser há muito.
"Conhece-se a árvore pelos seus frutos."
Sim, concordo. Mas isso não responde totalmente às minhas dúvidas. Há diferentes árvores que dão, ou podem dar, bons frutos.
Cumprimentos, amigo Klatuu...:)
Os frutos, os frutos... as árvores é qualquer.
O grande problema da humanidade foi adivinhar o que o outro quer dizer ou não quer dizer. O seu texto é tão pleno de adivinhações que nem sei por onde começar...
Vamos ver se consigo...
Diz que no meu primeiro comentário o interroguei. Não sei quando o fiz. Apenas afirmei, de várias formas que é triste ler em livros de histórias, revistas especializadas e blogs textos fundamentados numa verdade relativa, em parte da história em mera suposição do que se acha (ou adivinha) que possa ter acontecido.
Depois nem me referi à civilização sumérica, mas apenas à persa. Não falei sequer de Babilónia, pois sei bem a diferença entre uma e outra... Apenas a Pérsia e a justiça nada tirana do seu povo e império (ao contrário do que os descendentes dos gregos ainda hoje preferem acreditar...).
Quanto ao preconceito de falar o que não diz... Se chamou de tiranos e cegos vai-me dizer que não o fez? Como é possível tamanha contradição enquanto me acusa de contraditório?
Mais um erro de raciocínio (e espero que me perdoe por dizer "erro de raciocínio") é as minhas opções à crítica. Se não comento algo não é por ser-lhe favorável ou não, senão por não ter nada a comentar. Mas se quer, comento que não vejo a relação entre as "adendas" (como as chama) e o zoroastrianismo... Islão é uma coisa, Zoroastrianismo é outra. É como confundir Sabeísmo com Hinduísmo: não há possível comparação!
Mais uma vez adivinhou o que não havia a adivinhar (ao contrário de mim que optei por não adivinhar, dizendo logo no início que não entendia a relação, pois se quisesse adivinhar poderia supor mil e uma coisas, não é?).
Diz mesmo que teci críticas sobre as duas primeiras obras... Nem teci nem deixei de o fazer. Apenas quis que soubesse que as havia lido e que perfeitamente havia entendido que se tratavam de obras de ficção. Aliás, até achei perfeitamente comum o que fez, não foi?
Sinceramente, não entendo! Ou se preferir continuar a chamar-me de falso ingénuo: chame-me!
Não me conhece, não faz a mínima ideia de quem sou, apesar de ter o meu blog aí exposto, o meu nome à disposição e um google com informações sobre mim. Se me conhecesse, jamais entraria em qualquer de tais discussões infundamentadas!
Além de tecer a sua opinião, como eu já disse, em semi-verdades ou inverdades até, de chamar-lhes coisas e depois de dizer que não chama... Além disso tudo, se tivesse feito uma pequena pesquisa, saberia que as suas palavras são ilógicas e absurdas.
Ilógicas porque mescla a minha defesa do zoroastrianismo e da Pérsia zoroastriana com o Irão da Revolução Islâmica.
Absurdas... Bem, eu? Eu ser "um pró-Iraniano (falo do regime tirânico e não da nação)"? Eu?
Por favor, não ofenda quem não conhece, nem muito menos ofenda quem não lhe quis ofender.
Senhor, espero que esteja a apreciar os frutos dos seus trabalhos, e respeitando uma das linhas deste post, faço-lhe um simples e humilde pedido: "Desejo apenas que te afastes do meu Sol". :)
Meu caro, pode ser triste, quiçá, mas a tristeza não é minha, apenas publiquei três relatos ficcionais, com os quais estou, óbvio, a transmitir uma parábola política.
Apenas à Pérsia... é limitar muito... e vem depois. o Zurvanismo é anterior.
Já agora, esclareça-me a diferença entre Babilónia e Pérsia, porque não entendi que pertinência lhe dá, para a referir com tanto ênfase.
Meu caro, chamei tirânico a um regime de 490 a.C., data da Batalha de Maratona - estamos em 2008 a.C.
A contradição é você que a inventa, ao mais uma vez querer deturpar o que, de facto, afirmei e fácil de confirmar relendo, são poucas linhas.
Meu caro, nunca falei que havia essa relação entre zoroastrismo e islamismo (e ainda bem que não), além de que as adendas não falam de zoroastrismo nenhum, você leu-as? Falam da estupidez religiosa e criminal de um certo Islão- quem foi buscar o zoroastrismo foi você no seu primeiro comentário.
Limite-se ao que criticou de início e não divirja, isso sim é mau raciocínio.
Isto é o que crítica desde início: «[...] porque os Persas são apenas escravos que obedecem cegamente à tirania. Morrem pela lança e pela espada dos homens mais livres do mundo.»
(O parágrafo das «adivinhas» é incomentável - nada diz. E assim continua até «não lhe quis ofender».)
Cumprimentos.
Continue a ler-nos.
Este braço de ferro deixou as minhas sinapses a latejar (e não foi pouco).
O que eu queria saber mesmo é: Onde é que posso aprender Farsi em Portugal?
lá lá lá
Continuai o interessante "braço de ferro"...:)
Olha, até eu estou aparvalhado! LOL!! Passámos de ser atacados por mentecaptos políticos para os religiosos?
Enfim. Desde que não me apareça o espectro do Zandinga.
P. S. Falo dos anónimos, como é óbvio.
Oh mon chére,
tu até podias escrever críticas gastronômicas que serias sempre atacado (deve ser do teu karma).
É caso para dizer " May the force be with you"
Tu agora és quem? O Obi-One-Kanobi? :)
Eu sou o sabre de luz, pensei que soubesses isso.
Pff!! Obi One Kenobi...deves achar que tenho barba...tu tb...:P
A ver se dessa nos esclarecemos, uma vez por todas. Eu não o ataquei, pois se for para ver ataques e contra-ataques temos os comentários insultuosos que dizem a uma pessoa que não pode colocar os pés no Irão e cujos familiares e amigos são lá presos que defende o actual regime...
Em resposta à sua afirmação:
"Meu caro, chamei tirânico a um regime de 490 a.C., data da Batalha de Maratona - estamos em 2008 a.C.".
É a isso que eu chamo um erro! Não era um regime tirânico. A história dá-lhe (e isso foi o que tentei desde o início dizer) parte do que aconteceu. Era uma ficção? A isso entendi! Não adivinhe que eu não entendo! Somente discordo do teor pseudo-histórico de uma estória que é baseada numa história contada por uns e que ignora quase que por completo o outro lado dos eventos.
Chamar tirânico aos persas é o que critiquei desde o início. Espero que finalmente me tenha entendido!
E este poderá ser o meu último comentário aqui. Voltarei apenas para informar à Mortisa, caso eu venha a saber de algum local ou amigo que ensine a falar e escrever persa.
O título do post deixaria adivinhar o que se passa aqui nos comentários? Realmente há ecos que se assemelham à dor de dentes, e outros, piores, à de cotovelo.
O texto está ao nível que nos habituou, e nem preciso de dizer qual é.
Gostei muito.
Abraços! Viva Portugal!
EU, SER IMPERFEITO
A SEIVA
O primeiro parágrafo não entendi, como tal não comento.
Quanto ao mais, o meu caro não sai de um círculo. A questão sempre foi simples: você acha que não foi um regime tirânico - mas eu sei que sim.
E falo de história. Não de ficções.
P. S. Pergunte, mas acredito que a Mortisa estava a ser irónica.
Cara mortisa, pode aprender persa na FLUL no curso livre de Cultura Persa leccionado pela Dra. Sephider Radfar, adida da Embaixada da República Islâmica do Irão.
Salam.
Anónimo: já não chega aturar zés ninguém como tu por todo o lado, faltava o teu oxigénio e sabedoria de caca a limpar aqui as poluições. Que parolice criticar só por criticar. Nem responderei mais. Lava-te e cresce.
PS - Dirijo-me ao 2º anónimo e não ao 1º.
Olha, agora é que conseguiste confundir-me, mesmo.
É qualquer árvore?????!!!!
Nem sempre a mais frondosa será a melhor, não?
Há aqui qualquer coisa que não está a bater certo:), mas converso contigo noutro cantinho.
Não quero maçar os outros intervenientes com as minhas interrogações.
Caro kriptus: quem escreveu "Já não chega aturar o embuçado, faltava aqui esse imperfeito a poluir o espaço." não é com certeza o anónimo anterior. Espero eu!
PS - Caso seja, então estimo as melhoras...
Caro sam,
obrigado, mas o Flávio Gonçalves já respondeu à minha pergunta.
:)
Às minhas responderam todos...
Errata: onde se lê «estamos em 2008 a.C.» leia-se «estamos em 2008 d.C.»
Mesmo quando me transformam os fundamentos da casa num urinol gosto que a perfeição seja o chão da beleza.
A única coisa que eu ainda decido... é apagar esta caixa de comentários.
Oh, assim vais apagar os vestígios do teu vedetismo.
Quero um autógrafo na mama...LOL
Olha, noutra altura teria rebentado à gargalhada... mas apenas sorri. És uma mulher inteligente.
Todas as pessoas que convidei são pessoas de valor, tenham 14 anos ou 65! E isso revela-se pela qualidade do que aqui têm publicado e pela sua altura moral!
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