Quando observamos a grande desordem a que nos lançam
ficções como As meninas ou os
extraordinários relatos “Tigrela” ou “A caçada”,
aquilo que dissimulam e distorcem, a luz parcial que ilumina um elemento e
oculta outro, percebemos como a escritora pretendeu apresentar o ser humano de
modo negativo, mas nunca através da crítica explícita, senão da dúvida e da
interrogação. A impiedade e a angústia do ser humano, em muitos dos contos de
Lygia Fagundes Telles, é um enigma que vai escapando ao olhar, porque a autora
pretende que assim seja.
Por esse talento, consistente em compreender e
apreender os defeitos dos outros de um modo invulgar, a obra de Lygia Fagundes
Telles é considerada um lúcido e cruel retrato da burguesia, mas também um
impressionante legado marcado pelo desejo de indagação, pessoal e coletiva, da umana cosa bocacciana, próprio dos
‘livros de sempre’.
PERCEBER OS
DEFEITOS DOS OUTROS SERÁ UM TALENTO? A SINGULARIDADE E A ATEMPORALIDADE DA
ESCRITA DE LYGIA FAGUNDES TELLES
Alva Martínez Teixeiro