Segundo a artista, a arte vai de encontro ao que se é, ou seja, revela a
própria existência; porém, quando afirma na fase mais madura do seu processo
artístico que faz “desenhos de modelo” e “desenhos de imaginação” a artista alude inequivocamente à dimensão criadora
da imitação que ultrapassa a mera cópia, o que parece repor a verdadeira dimensão
criadora da obra de arte tal como Aristóteles a postulou. Na verdade, para o
estagirita a mimese não reproduz o visível, mas imita o processo que produz o
visível, e o invisível, ou seja, o processo de criação da própria natureza, no
transcurso do não-ser para o ser. Nesse sentido, o “desenho de imaginação” será
aquele que mais legitimamente caracteriza a obra desenhada de Paula Rego,
confirmando nesta a dimensão ontológica que supera a dimensão estésica da arte
na sua configuração estética moderna.
A VIDA REVELADA PELO DESENHO: PAULA REGO (1935-2022)
José Carlos Pereira
(excerto)