A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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domingo, 31 de janeiro de 2010

Da República: cem anos depois.



1. República significa, “tão-só”, coisa pública: res publica. É por isso, “tão-só”, que, passados cem anos sobre a alegada implantação da República, tenhamos que concluir que ainda não vivemos num regime realmente republicano.

2. Para que vivêssemos em República, ela teria que existir: enquanto res publica, enquanto “coisa pública”, enquanto “coisa comum”. Ora, isso é coisa que, de facto, não existe. A nossa sociedade está demasiado fracturada para se poder dizer que algo verdadeiramente a une, para podermos dizer que ela é uma Comunidade.

3. E o que une uma Comunidade enquanto tal? Desde logo, uma História, uma Cultura, uma Língua. Ora, se é certo que, mal ou bem, ainda que cada vez mais mal do que bem, todos nós falamos a mesma Língua, cada vez menos partilhamos a Cultura que subjaz a essa Língua, nem, muito menos, a História na qual ela, ao longo dos séculos, se foi constituindo.

4. Para que viéssemos a ser uma República, importaria pois, desde logo, reassumir isso – em última instância, essa Pátria comum. Por isso, de resto, gostava de dizer Sampaio Bruno, um dos nossos mais insignes (e, por isso, mais incompreendidos) republicanos, que “a Pátria é um princípio de solidariedade colectiva” e que “se a República se implantasse em Portugal (…), Portugal, porque reaparecesse um vínculo colectivo, voltaria a ser uma Pátria”. Como igualmente gostava de dizer Teófilo Braga, é “o sentimento de Pátria o elo da nossa coesão nacional”.

5. Nada, contudo, disso verdadeiramente existe. E por isso não há também coesão nacional, ou o que hoje em geral se designa por solidariedade social. Porque se perdeu esse sentimento da Pátria – mais imediatamente, da República, da “coisa pública”, da “coisa comum” – cada um, por regra, trata apenas da sua vida, roubando da “coisa pública” o mais que puder. Como em toda a regra, há sempre excepções. Felizmente, ainda muitas.

6. Face a tudo isto, torna-se ridículo discutir a questão da República enquanto antítese ou contraponto da Monarquia. Os nossos maiores Reis sempre foram os primeiros defensores da “coisa comum”, da “coisa pública”, ou seja, sempre foram os maiores defensores da República. De resto, na medida em que se assume, de facto, a República enquanto esse “vínculo colectivo”, o Poder será necessariamente mono-árquico. O Poder e o Regime.

7. Só, pois, tornando-se primeiro republicano o nosso regime poderá vir a tornar-se de novo monárquico. Coisa que, de resto, já não era, há muito, há cem anos atrás…


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