«a luz do sol vale mais do que os pensamentos
[do que os sons - Alberto Caeiro]
Esse, será o núcleo do testemunho do sensacionismo e daquele que se apresenta como o Descobridor da Natureza, o Argonauta das sensações verdadeiras. Porque será o seu imediatismo, o que concederá ao homem, como poeta, a abolição da distância interposta entre ele e o real, como verdadeira terra-de-ninguém, ou terra queimada, possibilitando-lhe de novo construir com ele a perfeita união cognitiva e vivencial, que foi a de antes da queda na história.
E como saber experimental, em si trazendo toda a marca da tradição portuguesa, como saber de salvação:
(...)
Amar é pensar.
Assim, todo o acto de conhecer, pagão ou paradisíaco e celeste, se transmutará em amor. E ainda aqui, esta evolução, perfeita por Pessoa, se integrará o mais profundamente na tradição portuguesa, a mais específica e remota, a que entre todas as faculdades do homem, concede lugar central e proeminente, à do sentimento como amor, e vendo-a como faculdade cognitiva por excelência: o coração sendo o órgão do conhecimento e como o vero centro do homem.
Somente assim agora, será de novo possível, a inserção do homem na totalidade da sua pessoa, numa concepção de saber: nessa totalidade indivisa de novo conquistada. E não mais unicamente como medida de todas as coisas: modelo de toda a realidade: antropomorfizada. Tal como ela foi no humanismo clássico desta corrente ocidental. Mas, numa outra perspectiva, num mundo à medida do divino, ela será aí o espelho necessário da sua reflexão, o instrumento privilegiado da sua revelação, da subida à luz daquilo que nele existia de não-manifestado, latente no seu seio - como nova epifania.
A partir de então, nesse saber finalmente «orientalizado» [para a Origem], o conhecimento interessará de novo o homem, pois que na sua totalidade de seu ser indiviso, ele será de novo, não unicamente teórico, mas conhecimento de salvação.
Porque nele o Ser, aquele a que o homem tem de fazer face, assumir na sua existência, «substância das coisas eternas», será também o Deus do amor, do qual o conhecimento o levará à beatitude. A alma humana será de novo caracterizada pelo seu poder de conhecimento. (...)
Então nessa forma nova, ou renovada, de conhecimento, sujeito e objecto serão indescerníveis - numa final intuição para além do conhecimento racional, que divide, distancia os dois.
O acto de conhecimento e de criação é um acto de amor. Fechando assim um círculo único - o da eternidade.
Numa transmutação última, onde tudo é consumido por esse fogo purificador, o «amor Dei intellectualis» [de Espinosa].
Sentir como quem olha
Pensar como quem anda»
Dalila Pereira da Costa, A Nova Atlântida
Ninguém sabe o que é saber, somente saber: como ninguém sabe o que é viver, somente viver.
Mas quando se sabe que se Ama (se sabe Amar), que mais importa saber?
Quando se Ama o que se sabe, É-se o que se sabe:
e ninguém precisa de saber ser, pois Ser é já Saber...
Ahh... como Amar é Saber!
Pode-se saber que se Ama, mas não saber que se sabe (fora do Amor). Pois o Amor é que é o saber que pode ser sabido, é que pode ser Amado, isto é, encarnado, vivido. É o Amor que vive além de Si, que se recria a Si próprio, que está acima de tudo, e de(o) nada: só o Amor se pode conhecer a Si mesmo.
A Vera Filosofia não é tão-só amor ao saber, é o Amor-Saber.
A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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sexta-feira, 17 de abril de 2009
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