Joaquim de Flora (1135-1202) dividiu em três partes a História do Homem, decalcando-as das três pessoas divinas: Idade do Pai, Idade do Filho e Idade do Espírito Santo. Foi precisamente a convicção do abade cisterciense de que a última Idade ainda não tinha chegado que o tornou herético aos olhos da Igreja. Esta acreditava que após a vinda do tempo da "Lei", que se interpretava como sendo a Idade do Pai, a Idade do Filho, a época da presença de Cristo entre os Homens e a Era atual, o "tempo da Graça" regido pela Santa Igreja. Flora previa que o ano de 1260 fosse o ano do fim da Idade do Filho, começando a Idade do Espírito Santo imediatamente a seguir.
A inspiração do abade provinha diretamente do Antigo Testamento, nomeadamente de Isaías e na leitura que Daniel fez do sonho do rei Nabucodonossor, sobre a visão da estátua, composta por quatro metais diferentes, em níveis diferentes e representando cada um deles um diferente império mundial. A estátua seria destruída pela "pedra", entendida aqui com um... "Quinto Império", origem primeira do termo, aliás. Seria este o império que "nunca seria destruído e cuja soberania jamais passará para outro povo, pois submeterá e aniquilará todos os outros, e subsistirá eternamente" (Daniel, II, 44).
A leitura literal da profecia é anacrónica, pelo que a devemos colocar em contexto, naturalmente. Ou seja, se Daniel as encarava como sendo uma antecipação na vitória de Israel sobre os Estados vizinhos, e se depois Flora a interpretou como uma consagração da vitória do Cristianismo sobre os não-crentes. Depois dele, António Vieira buscaria aqui talvez inspiração para os seus impulsos milenaristas e, certamente - porque o claramente disse e escreveu várias vezes - também Agostinho da Silva encontraria em Flora o fundamento para o movimento religioso, social e até político que surgiu em Portugal no reinado de Dom Dinis, cruzando influências joaquimitas, com o legado trazido de Aragão pela rainha Isabel com um fundo local de fraternidade e humanidade que estava ainda muito vivo no interior português e que em última instância era até mais antigo em Portugal que o próprio Cristianismo.
A segunda parte, que começa com D. Dinis, é a História do mito do Quinto Império, enquanto a História dos Descobrimentos é, em boa medida, a história da Demanda do Preste João; nos tempos recentes, a História da nossa Restauração é a História do reavivar do mito sebástico e do mito do Quinto Império, como a prova a obra do Padre António Vieira na "História do Futuro".
Portugal confundir-se-ia assim com os propósitos que levaram Bernardo de Claraval a criar a Ordem do Templo. E assim, os destinos, caminhos e objetivos de Portugal e da Ordem do Templo confundir-se-iam. Portugal seria uma criação para a Ordem do Templo, um "reino templário", um conceito bem compatível com a defesa insistente feita em Portugal contra o mandato papal que exigia a extinção da Ordem. O projeto templário confundia-se com o projeto português e o grande motor da portugalidade que foi o processo dos Descobrimentos e da Expansão portuguesa. O mito do "Quinto Império" que hoje ainda sobrevive com tanta energia na cultura lusófona é uma persistência desse perdido projeto templário, que se tentou concretizar em Portugal e na sua Expansão e que ainda verá a luz do dia, é nossa convicção e crença firmes.
Fonte:
Lima de Freitas; "Porto do Graal"; Ésquilo
3 comentários:
Bem relembrado.
Mas o papa consegui o que queria:
aniquilou a Ordem, com a morte de Jacque de Moley. Clemente V e Felipe, o belo ou bela sabe-se lá
Só não esprava e nem imaginou quem fosse D. Dinis...
Essa contagem do tempo deve ser vista no tempo relacionado à igreja
Mas existem correlações com outros ciclos e manifestações, que por sua vez com as quatro idades de uma civilização totalizam os sete estados indispensáveis à evolução.
É uma honra Joquim de Flora, Luso! Quanto São Francisco, cuja santidade não apaga o estado, atingido por ele. (rsrs)
Felizmente D. Dinis teve uma Isabel,
a bela Isis...
Portugal na queda da Ordem templária passou incólume, imune e prosseguiu com tudo que a Ordem tinha em Portugal...
E eu penso que isto tem a ver com o espaço geográfico, considerando-se que a evolução ande...
Mas com estes Seres! No mínimo e aqui como Joquim de Flora pensava das 3 idades,
Ele, juntamente com Dinis e Isabel as representavam muito bem.
Portugal tem o direito por todas as coisas que envolveram o fim da Ordem, a ficar com o titulo de país templário, pelo que aconteceu à Ordem fora de Portugal.
Onde certamente estava o Graal, pois havia ali derramamento do Sangue Do Jacque, (o Grão Mestre) com Jota, como Joaquim, e é isto que atesta e afirma o que representa o testamento mítico de Afonso Henrique, quando no milagre de Ourique, esse grandioso Henrique lavrava a certidão de nascimento de Portugal.
Sob os auspícios da Lei e do Cristo, mas do Cristo de sempre revestido de Velho da Montanha ou até disfarçado de mendigo e que vive...
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