A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


LAMARCK

Nasceu Lamarck em 1744 e destinaram-no os pais à vida eclesiástica; o rapaz, no entanto, mostrava mais inclinação pelas armas e, logo que pôde, juntou-se ao exército francês que estava cercando a cidade de Bergen-op­-Zoone; a operação correu mal para os atacantes e, na retirada a que foram obrigados, mostrou Lamarck qualidades de coragem que lhe obtiveram a patente de oficial; terminada a guerra, veio de guarnição para o sul de França e aí sofreu um acidente que o inutilizou para a vida militar; estabeleceu-se em Paris, onde vivia da pequena pensão que lhe dava o rei e do que recebia como empregado dum banqueiro; aproveitava todas as horas vagas para estudos de botânica e entrou em relações com De Jussieu que au­xiliou nos seus trabalhos; em 1778 publicou uma Flore Française e Buffon tomou-o como preceptor do filho; pouco depois, e já remunerado como botânico, percorreu a Holanda, a Alemanha e a Hungria; ao voltar, continuou os seus estudos, mas, em 1793, o Museu de História Natural, que Buffon fundara, encarregou-o de reger a cadeira de zoologia dos invertebra­dos; era um domínio completamente novo, Lamarck nem sequer tinha para o amparar os trabalhos de outros zoólogos; estava tudo por fazer, mas a direcção do Museu não se enganara sobre as qualidades do homem; lan­çou-se resolutamente à tarefa, classificou os exemplares que existiam no Museu e, em 1801, publicou o Système des animaux sans vertèbres, com uma ordenação de animais, que, de um modo geral, ainda hoje se conserva; oito anos depois aparecia a Philosophie zoologique, donde se extraiu o pre­sente caderno; daí em diante a vida de Lamarck tornou-se bastante difícil: uma doença de olhos que se agravou progressivamente levou-o à cegueira, ao mesmo tempo que as faculdades intelectuais baixavam também; quase todos o abandonaram e em Dezembro de 1829 morre Lamarck obscuro e pobre. E, no entanto, tinha sido ele quem, pela primeira vez, de uma forma clara, coerente, pusera a ideia de que as espécies vegetais e animais não são hoje o que foram em tempos recuados, de que se deu uma transformação, uma evolução das formas, tornando-se, por conseguinte, insustentável a hipó­tese de uma criação com todas as características actuais; a afirmação foi acolhida com desdém ou com indignação e mesmo um homem como Cuvier tratou Lamarck de fantasista, de fabricante de hipóteses sem o mínimo fun­damento no real; certo é que o tom geral do espírito de Lamarck oferecia alguma base para a acusação: era uma inteligência mais sintética do que analítica, mais enamorada das teorias gerais do que da miúda observação dos factos; por outro lado, não era um dogmático nem procurava formar escola, o que, se nos pode dar ideia de toda a superioridade do seu espírito, não é, contudo, muito próprio para conquistar rapidamente o aplauso dos homens e tão acentuado foi o impulso inicial neste sentido que ainda hoje não pode­mos falar de uma escola lamarckista dentro da biologia; há uma tendência lamarckista, uma arquitectura lamarckista de espírito, uma atitude lamar­ckista. Para Lamarck, a vida apareceu na terra por geração espontânea e a pouco e pouco se foi complicando pelo próprio exercício da vida que deu aos seres os órgãos essenciais da respiração, digestão, circulação; o ser vivo, no entanto, existe num certo ambiente, num meio: em face desse meio o animal reage, adapta-se, por adaptação activa, de certo modo, o que leva à criação e modificação dos órgãos secundários, dentes, olhos, patas, barbata­nas, etc.; nos modernos biólogos lamarckistas há certa propensão para insistir sobre a força modeladora do meio; são aqui infiéis ao pensamento do mestre: em Lamarck, o essencial não é o meio, é a força de adaptação, de utilização do meio que existe dentro do ser vivo; o órgão, o órgão secundário, note-se bem, cria-se ou desaparece pelo uso ou pelo desuso; os ca­racteres adquiridos por um ser vivo transmitem-se aos descendentes e assim aparecem as sucessivas modificações de uma espécie. A publicação dos tra­balhos de Darwin relegou a segundo plano a ideia de Lamarck e quis-se ver até uma oposição entre os dois grandes evolucionistas; não parece que exista: Darwin não trata propriamente da origem das transformações, mas da sua sobrevivência: o darwinismo é, de maneira geral, um caso do lamarckismo; de resto, a luta que se trava entre neo-lamarckistas e neo-darwi­nistas é sobretudo a propósito da hereditariedade dos caracteres adquiridos; para que o lamarckismo se possa aceitar, é necessário que se prove que os caracteres adquiridos passam ao descendente, o que até hoje se não conseguiu de forma convincente; pouco se sabe também ainda do processo fisiológico pelo qual, conforme o uso, o órgão se desenvolve ou atrofia. Tem-se igual­mente oposto ao lamarckismo a teoria das variações bruscas de De Vries: não parece, contudo, que sejam incompatíveis; pode ser que as variações bruscas não sejam mais do que o resultado visível para nós de uma transfor­mação lenta; não seria talvez tarefa impossível para um Einstein da biologia a reunião num corpo único de doutrina das ideias de Lamarck, de Darwin, de De Vries e da genética de Morgan. Em qualquer caso, Lamarck ficará sempre como o mais amplo de todos os transformistas e como aquele em que melhor poderia assentar uma doutrina pedagógica e política que insistisse sobre a influência do ambiente da educação, nas questões huma­nas, não esquecendo, como essência, as forças interiores do indivíduo; ao mesmo tempo, pela possibilidade que oferece de uma explicação mecanista da vida, o lamarckismo aparece-nos como um dos elementos essenciais para uma vitória do espírito crítico, ordenador, racional sobre as concepções bioló­gicas que só têm por apoio o sentimento, ou a excessiva credulidade, ou, no fundo, a desistência do pensar.

2 comentários:

Ana Margarida Esteves disse...

Renato, quando sai a tua famosa colectanea dos textos dos Mestre Agostinho que estas a fazer como projecto de Pos-Doutouramento:-)?

Abs,

A

Renato Epifânio disse...

Ainda vai demorar tempo...

Ab MIL