A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)
MÉRIMÉE
Prosper Mérimée nasceu a 27 de Setembro de 1803; era fraco e doente e os cuidados de que a família o cercou contribuíram para lhe dar uma grande sensibilidade, mais apurada ainda pela educação literária e artística que foi sobretudo a sua; havia nos parentes mais próximos um grande gosto pela leitura e pela arte, que foi até o tema de alguns trabalhos do pai; os preferidos eram os escritores e artistas do século XVIII que se não tinham deixado arrastar pela corrente de «sensibilidade», posta em voga por Jean Jacques Rousseau e se tinham exprimido discretamente, sem grandes efusões, num estilo seco, límpido, nítido. Feitos os estudos de liceu, ingressou Mérimée na Universidade onde frequentou Direito, sem demasiado gosto pelo que aprendia, mas pondo no comprimento dos seus deveres um método e uma aplicação que o levaram com facilidade ao fim do curso; o ponto mais delicado era o do contacto com os outros que, em pleno entusiasmo romântico, eram a um tempo os anjos exilados que se lamentavam de ter vindo à terra incompreensiva e os fogosos batalhadores que a derrota de Waterloo deixara sem ocupação; Mérimée, que tinha como ninguém o sentido da medida e a verdadeira sensibilidade, não se deixava arrastar para as manifestações ruidosas e desde inicio procurava ser na vida uma pessoa que se domina e detesta expor aos outros, por qualquer forma, o que lhe vai na alma. O encontro com Stendhal dá princípio a uma sólida amizade entre os dois escritores: juntam-se, no meio dos tumultos românticos, dois temperamentos semelhantes, calmos exteriormente, reticentes na expressão, embora do lado de Stendhal houvesse uma força de vida e uma penetração de inteligência que talvez não existissem em Mérimée; apesar de tudo, e porque Mérimée tinha também uma personalidade que se não dobrava facilmente, não se pode falar duma grande influência de Stendhal no amigo. O trabalho literário de Mérimée começou em 1825 com a publicação do Teatro de Clara Gazul, peças fortemente românticas, em que é evidente a intenção caricatural e que atribuiu a uma artista espanhola; em 1827 seguiu-se a Guzla, compilação de falsos cantos ilíricos, que teve grande êxito porque se estava na época em que todos procuravam avidamente a literatura dos povos a que chamavam «primitivos» e porque Mérimée pusera real talento na sua mistificação; dois anos depois, a Chronique de Charles IX, dentro do gosto dos romances históricos, afastava-se da principal corrente literária pelo realismo das evocações e pela serenidade crítica que o escritor conservava diante do seu tema. Por 1830, houve na vida de Mérimée uma grave crise sentimental: ele era, intimamente, um apaixonado, um homem de ilusões e de sonhos, e o contacto com as realidades feriu-o duramente; as mulheres, que foram uma das suas grandes preocupações, senão a maior, sempre se lhe revelaram bem diferentes do que as supusera e o desengano lançou-o ainda mais na carreira da secura exterior, fê-lo trabalhar ainda mais por atingir um plano de ironia, de cepticismo, de desprendimento, onde sempre se mantinha perante o estranho; Mérimée é para todos um homem que em nada crê, que por coisa alguma se entusiasma, que olha a restante humanidade, fora um grupo escolhido, como um lamentável ou desprezível bando, com o qual serão inúteis todas as tentativas de cultura; o seu cepticismo não é de origem intelectual, o que lhe poderia dar ternura e piedade, mas de origem sentimental, o que o torna agressivo e seco; no entanto, para quem sabe adivinhá-lo, ele é o homem em que o sonho se recusa a morrer, aquele que daria a sua vida para que triunfasse uma grande e nobre causa. Depois de uma viagem a Espanha, onde conheceu a futura imperatriz dos franceses, Eugénia de Montijo, exerce alguns cargos políticos e é em seguida nomeado para a inspecção dos monumentos, em que a sua maravilhosa agilidade de espírito, a sua capacidade de leitura e de acção, o seu gosto da arfe realizam um trabalho admirável; em 1840 publica a Carmen, talvez a sua melhor obra, pelo fundo apaixonado e vibrante e pela forma seca, desprendida, de afectação erudita, de que soube revesti-la; em 1845 vem a Colomba, um pouco prejudicada pelos pormenores etnológicos; escreveu também várias novelas curtas — Venus d'Ille, Tamango, As almas do Purgatório, A tomada do reduto, O Vaso Etrusco e Mateo Falcone, que é, pela simplicidade da anedota, pelo concentrado da acção, pela violência das paixões, pela absoluta ausência de retórica, um dos melhores contos de todas as literaturas. Feito académico em 1844 e nomeado, em 1853, para o Senado, onde se não mostrou muito diligente nas adulações a Napoleão III, ocupou-se durante quase todo o tempo de obras de erudição; a guerra franco-prussiana de 1870 e a queda do Império abateram-no por completo e veio a morrer em 23 de Setembro, em Cannes, duas horas depois de ter escrito à sua amiga Jenny Dacquin uma daquelas cartas afectuosas, ternas, cheias de bondade e de delicadeza que nos revelam um Mérimée bem diferente do Mérimée erudito, senador e «dandy».
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3 comentários:
"a um tempo os anjos exilados que se lamentavam de ter vindo à terra incompreensiva e os fogosos batalhadores"...
brilhante definição dos românticos (dos góticos, diríamos hoje)
Esta é uma página que vale por um tratado de psicologia...
Também gostaria de pôr aqui a novela "Mateo Falcone", mas, mesmo sendo uma "novela curta", é demasiado grande (para um blogue). E o final poderia chocar demasiada gente...
Copistas.
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