Dei uma volta pelos meus arquivos e encontrei um artigo que Orlando de Castro publicou em O OBSERVADOR, em 24 de Janeiro deste ano, que talvez valha a pena recordar, quanto mais não seja como exercício para cada um de nós poder fazer o balanço do que foi feito durante estes 8 meses.
Passo a transcrever com a devida vénia:
"Com esta CPLP só a Lusofonia perde.Continuo a pedir a ajuda dos cidadãos lusófonos para que, caso estejam para aí virados, me dizerem se viram por esse mundo fora alguma coisa que dê pelo nome de Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP). Poderá ser, imagino, um elefante branco ou, quiçá, uma enorme montanha de onde foi parido um ratinho. Dizem-me, contudo, que estatutariamente é algo de grandioso. Será? Talvez. Pena é que os estatutos não façam, só por si, obra.A CPLP assume-se «como um novo projecto político cujo fundamento é a Língua Portuguesa, vínculo histórico e património comum dos oito, que constituem um espaço geograficamente descontínuo mas identificado pelo idioma comum». Teoria não lhes falta. O problema está em passar da teoria à prática.E se o Instituto Internacional de Língua Portuguesa está, há anos, adormecido (apesar de bem teorizado) no papel, valerá a pena pensar noutros projectos?Não seria preferível dar um murro na mesa para ver se os oito países responsáveis pela CPLP acordam? Ou, então, fechar para obras? Se todos sabem que, desde que nasceu, a CPLP está em falência técnica, porque raio a querem manter artificialmente viva? Mais do que criar organismos, institutos e similares; mais do que sugerir novos projectos (viáveis, mas condenados a uma longa noite de sono nos areópagos políticos dos oito), impõe-se pôr a funcionar a própria CPLP ou, então, reconhecer que confundiram a obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras.Mais do que uma enciclopédia culinária, pelo menos seis do oito membros desta comunidade precisam de comer alguma coisa, nem que seja em pratos de plástico, nem que seja peixe seco e pirão.Enquanto não se perceber isso, não há saída.Enquanto não se perceber isso, continuarão os golpes de Estado. Primeiro foi São Tomé e Príncipe, depois a Guiné-Bissau.Mas há mais. Embora a CPLP também aqui esteja a dormir, as razões profundas que levam aos golpes de Estado continuam latentes também, por exemplo, em Angola. Ou seja, poucos têm milhões e milhões têm pouco (ou nada).Sejamos sérios.Os projectos não podem ser imputados à CPLP enquanto entidade com oito membros. A CPLP não pode reivindicar para si o somatório dos projectos individuais, ou bilaterais, levados a cabo por um ou mais dos seus signatários.Recorde-se que, segundo a sua constituição, a CPLP tem como objectivos gerais «a concertação política e a cooperação nos domínios social, cultural e económico, por forma a conjugar iniciativas para a promoção do desenvolvimento dos seus povos, a afirmação e divulgação crescentes da língua portuguesa e o reforço dapresença do oito a nível internacional».Pelo andar da carruagem (boas ideias que ficam no papel), corremos o risco de ver a Lusofonia substituída pela francofonia ou por outra qualquer fonia.É que eles, ao contrário de nós, não projectam fazer : fazem."
Estará o artigo desactualizado? Deixo a resposta à consideração de cada um !...
Arnaldo Norton
Publicado no Blogue "Rosa-dos-Ventos" «santosnorton.blogspot.com»
2 comentários:
Apenas para dizer que o Orlando Castro também faz parte do MIL...
Meu caro Renato Epifânio, então acertei em cheio !...Espero que ele não fique zangado comigo por eu ter feito eco do artigo dele.
Até seria interessante saber a sua opinião. Tanto mais que, me parece, este ano não foi muito mau para a CPLP.
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