«Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. [...] Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos.»
Victor Hugo, em 1876, a propósito da abolição da pena de morte em Portugal (o primeiro país europeu a fazê-lo).
Um cidadão Brasileiro à beira da morte e outro abatido, alvejados por snipers dos GOE, após assalto a uma instituição bancária e tentiva de fuga escudados com dois reféns, parece ter a aprovação silenciosa das multidões patetas que se atarefam pelas manhãs do meu País, novo ideal de homem engordado pelo capitalismo, não há protestos, a vida continua (já foi na passada quinta-feira), os políticos acharam bem e os racistas do costume aproveitaram para orquestrar a difamação em surdina contra os imigrantes Brasileiros, no youtube, por e-mail, nos blogues e nos fóruns de sempre, mas também se ouve pelos cafés e transportes. A polícia agiu bem, o senhor Ministro agiu bem. Agiram?
O senhor Ministro da Administração Interna, Rui Pereira, que deu a ordem para disparar, é um criminoso, perante a Constituição Portuguesa, o Direito, a Ética, a Justiça e a Carta dos Direitos Humanos, cometeu, além disso, um crime de lesa civilização. Em Portugal não há pena de morte, em Portugal há um Estado de Direito e tribunais, em Portugal as polícias não têm ordem para matar e apenas o dever de usar a violência proporcional em caso de evidente risco, para si ou terceiros. Quem estava em risco neste caso? Os reféns? Entendo que não. Os sequestradores no decorrer do processo de negociação haviam libertado todos os reféns, excepto dois, ambos funcionários do banco. Queriam, manifestamente, evitar a captura. Por que razão essa fuga não foi permitida? Para onde fugiriam? Num país pequeno com uma das melhores polícias de investigação do mundo, um país em que só escapam à acção da Polícia Judiciária os crimes de colarinho branco! Matariam os reféns? Não acredito. Não o podemos saber ao certo, mas há peritos na avaliação psicológica criminal que, face à situação e ao cadastro dos marginais envolvidos, concordariam comigo. Não mataram nenhum refém, soltaram-nos, retiveram dois como garantia – esse não é o comportamento de dois assassinos enlouquecidos e reincidentes, esse é o comportamento de dois homens desesperados. Decerto soltariam os reféns ao fim de alguns quilómetros. Acho que teria valido a pena correr esse risco e era possível tê-lo minimizado com as negociações adequadas – é possível estabelecer acordos entre os homens. Temos a obrigação moral de acreditar que assim é, em nome da humanidade e da vida e da decência. As civilizações são tanto maiores quanto magnânimas são. Que crime hediondo haviam praticado estes dois homens? Assaltar a merda de um banco?
Mais, os GOE foram criados e treinados no contexto do combate ao terrorismo, são civis fardados, não são militares nem para-militares. Foi nisto que a polícia militar brasileira, os BOPE, veio treinar os nossos? É isto a lusofonia? É isto a Civilização Portuguesa? É este o Portugal que trago no coração? Vergonha, funda, funda vergonha.
Quem são estes homens? Porque decidiram cometer aquele delito? Quem é a sua família? Quem são as mães que os choram agora? Têm filhos? Esposas? Quem são os seus amigos? Quem são? Não interessa saber?? São animais selvagens que nunca receberam um nome? Não havia neles uma única réstea de bondade, de nobreza? Eram incapazes de amar? Nada disto interessa a nós, Portugueses e Portuguesas, cidadãos que sustentamos com o nosso trabalho e o nosso voto este regime e esta sociedade? Eu ordenei a morte de alguém? Vós ordenastes? Se sim, digam-me, que é para que possa, tão rápido quanto possível, passar a fronteira.
Klatuu Niktos
(E este video, em tudo nojento, não merece actuação policial?)
47 comentários:
Este País está a precisar de uma lavagem, e podemos começar pela formação das polícias e pela responsabilização política, e penal se necessária, dos dementes que nos desgovernam!
Nesse dia e nessa noite vivi momentos de profunda estranheza. Nos blocos noticiários a acção policial era enaltecida, eu só via aquele homem ser abatido friamente, em directo, sob o aplauso de todos. A vida,ainda que de um criminoso, é um bem maior, retirá-la de uma forma tão fria, foi para mim chocante. Parece-me que esta situação denunciou muitas das nossas fragilidades em Portugal, nomeadamente a necessidade de publicitar, de mostrar, a «eficácia» das nossas forças policiais depois do caso Maddie; foi o dar voz ao surto mais ou menos silencioso de xenofobia que alastra entre a população, nomeadamente para com os brasileiros.
Foi um silêncio colectivo,esmagador, de alívio por aquela morte que me assustou e que me fez temer pela sociedadeem que vivo.
Um beijo
Um dia destes se não paras numa operação stop és abatido.
Estes gajos arranjam sempre desculpas para fazerem o que querem,
O acto é condenável mas a resposta também.
O povo adorou mas esquece que a qualquer momento a tragédia pode lhes bater à porta.
E então depois quem são os heróis?
Lamento muito pelo fato da polícia do país de vocês terem recebido o treinamento do BOPE. No Brasil este segmento da polícia é necessário, pois há um grande número de favelas e uma guerra civil declarada. Não creio que a realidade da sociedade portuguesa exija que sua polícia tenha esse tipo de treinamento que acaba por se tornar vicioso, e o reflexo dele ficou evidente através desse mau comando de operação, pois neste caso os transgressores não tinham para onde fugir. Crime é crime em qualquer parte do mundo. Sim, os assaltantes tinham de ser punidos, mas não pagar com a própria vida.
Isto é o resultado da merda que nos governa - e que espero que os Portugueses derrotem exemplarmenre nas próximas eleições legislativas! Não quero apenas a derrota do PS, quero vê-lo reduzido a um pequeno partido!
A sociedade tem o direito de se defender dos marginais, mas não de ser igual a eles!
Além de que isto foi uma vergonha para os GOE, que tanto nos têm honrado com a sua bravura e competência ao serviço das Nações Unidas em missões de paz!
Repara no segundo video: os GOE estão calmos. Claro, posicionam-se no terreno, fazem aquilo para que foram treinados... e se recebem comando para disparar, fazem-no. Tenho a certeza absoluta que tiveram a percepção de que aquilo era um passeio pelo campo... homens que já enfrentaram com sucesso alguns dos grupos terroristas mais perigosos do mundo!
Os GOE nem deveriam ter sido chamados... há outras forças policiais disponíveis que resolveriam perfeitamente a situação. Este governo é formado por mentecaptos, que não resolveram nenhum dos problemas mais prementes do País, só os agravaram... Com uma mão cumprimentam o corrupto do Lula da Silva e com a outra ordenam o abate de cidadãos Brasileiros, cúmplices com a xenofobia alastrante e numa demonstração de brutalidade do estado!
Quando no primeiro surto migratório brasileiro vieram dentistas e outros licenciados, só quem protestou foi o lobby da medicina, a coutada nojenta dos que mantêm uma população mais humilde desdentada a preços proibitivos! A população gostou: os dentistas brasileiros eram bons e levavam mais barato.
Quando começaram a vir as putas... o zé portuga bimbo, sexualmente frustrado e coçador de tomates em público - adorou!
Quando começaram a vir os mais humildes, aqueles Brasileiros que vieram para trabalhar e em busca de melhor vida - começou esta merda! Vieram alguns marginais? Sim, vieram. E cá não há?
E depois passam horas e horas ao dia a ver a trampa das telenovelas brasileiras, em que branco é rico e preto é motorista, criado e cozinheiro - em vez de estar a ler e a aprender o que é Portugal!!
Bia... a vida é preciosa, toda - e vocês não precisam, não senhor, desses marginais fardados daí!
Pensa comigo: se tu é marginal e mata alguém, mas vive numa sociedade que não tem pena de morte, e sabe que os direitos humanos são respeitados, e é cercado pela polícia, tu pensa duas vezes, porque se matar mais vai agravar a sua pena - além de que sabe que a polícia não te vai matar.
Mas se é o contrário, se tu vive numa sociedade que ou tem pena de morte, ou tem essa pena de morte não oficial que está destruindo a paz social no teu País, junto com uma deficiente distribuição da riqueza... que tu faz? Sabe que vai morrer igual... então bota pra f... e mata mais 12 se puder!
Sabe Bia, penso que esses dois homens nem fizeram isso aqui, porque acreditaram que nós seríamos diferentes, que respeitaríamos mais seus direitos... Afinal é tudo igual, tudo a mesma merda!!
Primeiro, teu governo daí deixa vir para cá pobre e marginal (tudo pobre, né?)... e de seguida manda os BOPE para treinar nossa polícia e nos ensinar a matar eles!!!
Me entendeu bebé?
Com todo o respeito ao autor deste texto mas ter uma arma apontada à cabeça de alguém não é colocar essa pessoa em risco??
O problema é querer tirar interpretações políticas mais abrangentes de algo que é apenas do foro criminal e da defesa dos verdadeiros inocentes, os funcionários que não escolheram ser refens.
Só me apercebi do que se tinha passado no dia seguinte, e foi com uma enorme incredulidade que assisti no noticiário ao "resumo". Pensei que era filme, não queria acreditar que aqui, neste "jardim à beira mar plantado" (como os nossos governantes gostam de salientar que somos, de brandos costumes e tal) havia necessidade de usar tamanha violência. Afinal não é só no reino da Dinamarca que há algo de podre...
Triste, muito triste.
Entendi sim, o que não diminuiu minha preplexidade com relação ao ocorrido.Não aceito o fato do BOPE ter treinado a polícia do vosso país, pois não há gangues, nem favelas aí...quiçá uns grafiteiros. Portugal é mesmo um país seguro (entre os 10 mais seguros do mundo).Acho que faria mais sentido se os portugueses treinassem com policiais de países que tivessem um território e população quantitativamente equivalente.
A atuação da polícia reflete o seu governo, o que acaba espelhando no comportamento da sociedade que acaba por achar normal um episódio tão grave como este parecer coisa banal.
P. S. Estes «grandes marginais» estão armados de pistolas de calibre civil, 6,35mm (tenho quase a certeza) - essa merda nem penetra nos coletes anti-bala dos GOE... e a 30 metros já dificilmente mata seja quem for! Acho que até sem qualquer arma de fogo - não houvesse reféns - um GOE sozinho, equipado de colete anti-bala, escudo e capacete, teria fortes chances de desarmar ambos!
Bia... aqui também tem marginal, e alguns perigosos... Tem até nos marginais portugueses uma longa «tradição» de assalto a banco, herdada do passado político do fascismo, em que grupos de oposição ao Estado Novo se autofinanciavam por esse meio - mas nunca há mortos. É raríssimo, houve dois ou três casos (não exagero).
Os BOPE vieram - e os GOE foram aí - porque está o governo daqui reconvertendo uma polícia antiterrorista de grande mérito e competência em vulgares assassinos urbanos!
... A nossa experiência nessa matéria é suficiente, não precisamos de lições - tá se vendo a merda que vai dar!!
Klatuu, mas nem se compara com a indústria do crime que há por cá.
Ora, klatuu, o assalto foi directamente ao Santo dos Santos. O poder não o vê como roubo mas como lesa-majestade.
Grande post.
Abraço
Não Bia... por aqui ainda temos uma sociedade um pouco mais justa. Só tem uma maneira eficaz de combater o crime: combater a pobreza, distribuindo melhor a riqueza!
... No terceiro video (que foi feito por um PSP cretino qualquer, também tenho quase a certeza, apesar de não me chamar Cavaco Silva!) até se vê bem que alguns GOE estão até de costas para a mulher sequestrada que está à porta do banco com o marginal lhe encostando a pistola à cabeça!
Isso diz tudo, os GOE nunca se sentiram em risco, e nem queriam estar ali! Os GOE foram preparados para situações de terrorismo de alto risco - e não para executar dois desgraçados em desespero e mal armados!!
A merda da banca, Casimiro, o dinheiro mais importante que a vida... Deviam era assaltar um banco todos os dias - e fazê-lo com funda consciência política!!
O que mais me espanta é que não há notícia sobre o fato ocorrido em noticário algum aqui.
Outra coisa que me surpreende é a sociedade enaltecer a ação da polícia.:(
Tão abafando, Bia! Esse governo daí é outra merda, e da mesma família!
Qual sociedade??? Pra haver sociedade há que educar os povos... Tudo carneiro e jumento!
Sou obrigada a concordar contigo.
Eis um governo que tem como nervo exposto a corrupção como plataforma política. Investimento nos segmentos mais fundamentais como Educação, saúde e Segurança não há.
Nem vai haver, tudo fachada, nem vai sobrar dinheiro, teriam que roubar menos.
Grande post Klatuu.
Novas actualidades...
cá também tem...
Abraço.
linkei a um MSN Groups.
O meu comentário vai muito no sentido do já feito pelo Gnóstico.
Não sei se vou ser politicamente correcta ou incorrecta, nem isso me interessa.
Vou dar apenas a minha opinião que vai num sentido um pouco diferente das opiniões já aqui expressas.
Não me regozijei com a morte de um ser humano, independentemente do facto de ser um assaltante, Brasileiro ou de outra qualquer nacionalidade, mas também não condeno assim tão liminarmente a actuação da polícia.
Será difícil para todos nós que estamos de fora ter a percepção total do que se passou ou poderia ter passado. Penso que as pessoas não terão agido de ânimo leve e terão ponderado todas as circunstâncias envolventes.
A vida humana não tem preço, isso nem se discute, mas havia a vida de reféns em jogo.
Se algum de nós estivesse no lugar dos reféns não gostaríamos que a polícia fizesse tudo mas tudo para nos resgatar?
Se as negociações falharam e não havia outro recurso, lamento a vida humana que se perdeu, mas talvez assim se tenham evitado males maiores.
A minha opinião seria radicalmente diferente se eles se tivessem limitado a assaltar um banco. Aí, disparar a matar seria crime, sim. Mas o facto de haver vítimas inocentes no meio, para mim, muda tudo.
É sempre complicado discorrer sobre estes assuntos porque as coisas nunca são a preto e branco, nem de um lado estão os maus e de outro os bons; não tenho qualquer visão maniqueísta da sociedade.
Quanto à derrota do P.S. quero-a tanto como tu; não é isso que está em questão.
Gnóstico... não, não é! Só o é se quem a empunha tiver, de facto, a intenção de disparar.
Juridicamente seria rapto, porque o acto já priva a pessoa de vontade e liberdade, além de a sujeitar a danos psicológicos e físicos - mas o simples facto de ter a arma apontada à cabeça não significa risco de morte.
Claro, existem acidentes... mas também lhe pode entrar um avião pilotado por muçulmanos radicais pelo banco dentro.
P. S. Penso que o «não escolherem» já foi respondido. Eu entendo a sua posição - mas não se coloque enquanto público... coloque-se na óptica da polícia, que tem por obrigação salvar todas as vidas (não são um bando de justiceiros populares nem pelotão de execução) e na do Ministro da Administração Interna, que deve não só salvar vidas... mas a imagem do País! - e ser o intérprete, em qualquer decisão, do que Portugal é.
Portugal é aquilo que você viu na TV?
Acho que não.
P. S. Eu não defendo marginais, defendo valores de civilização e uma ideia de Portugal.
... Repare: os dois últimos reféns estiveram durante imenso tempo com armas apontadas à cabeça e ao pescoço - e estão vivos...
Num dos videos é visível que a cativa (gerente do banco, ao que se diz nos media) fala com o sequestrador... ele parece ouvi-la e ela não está assustada. Repare que, excepto o acto de apontar as pistolas e de segurar pelo pescoço, os sequestradores não exercem outra violência e não estão de cabeça perdida. As vítimas têm essa percepção, por isso estão tão calmas... há diálogo em que o sequestrador reserva silêncio para ouvir... etc, etc, etc!
Quem avaliou aquela situação, quem ordenou disparar, etc, etc, toda a linha de comando... foi incompetente!
Obrigado, Carlos.
Abraço!
P. S. Obrigado a todos.
ERRATA: onde se lê: «Acho que até sem qualquer arma de fogo - não houvesse reféns - um GOE sozinho, equipado de colete anti-bala, escudo e capacete, teria fortes chances de desarmar ambos!»
leia-se: «Acho que até sem qualquer arma de fogo - não houvesse reféns - um CI (corpo de intervenção) sozinho, equipado de colete anti-bala, escudo e capacete, teria fortes chances de desarmar ambos!»
NOTA PARA OS LUSÓFONOS NÃO PORTUGUESES.
Nos videos e fotos surgem diversas forças policiais:
P. S. P. Polícia de Segurança Pública (de farda regular).
P. J. Polícia Judiciária (à civil; negociadores; provavelmente também alguns agentes e graduados da Secção de Justiça da PSP e da Brigada Anti-crime).
C. I. Corpo de Intervenção (fardados, escudo, capacete, bastão).
G. O. E. Grupo de Operações Especiais (fardados, de negro, rosto oculto por tapa-montanhas também negro; numa das fotos se vê um em cima de um telhado).
Todos estes corpos são polícias. A polícia para-militar portuguesa é a G. N. R. (Guarda Nacional Republicana); esta força só em situações muito excepcionais tem permissão para actuar em grandes zonas urbanas.
Klatuu, posso discordar com muito do que tu dizes e pensas e ainda mais com a forma com que por vezes comunicas com outros participantes neste blogue, mas tenho de te dar os parabens por este post. Muito bem feito e profundamente sentido.
Alem disso, concordo plenamente contigo. E uma vergonha para nos estarmos a regredir a semelhante baixaria.
E por estas e por outras que a minha vontade de voltar ao "Velho Mundo" e cada vez menor. As trevas estao a fechar-se sobre a Europa, Portugal inclusive.
Com que entao, pelo que indica o ultimo video, a malta em Portugal tambem curte o "Tropa de Elite", um dos filmes mais distorcidos, nojentos, sadicos e fascistas da historia ...
VERGONHA!!!!!
Sabes, Ana, a verdade é que eu perdi toda a vontade de argumentar contigo seja o que for. Não tens tola, só tens emoções e preconceitos.
«Sentir? Sinta quem lê!»
Fernando Pessoa (em contexto político, e não de «mera literatura»)
Caro Klatuu,
Com que partido ou regime é que acha que a situação seria resolvida de outra forma? Ou melhor, que partido ou regime é que iria eliminar a necessidade de roubar um banco, e levar ao que levou?
Quanto ao que aconteceu, só podemos especular. Neste caso, que podia ser de vida ou de morte, os Portugueses, ficaram estupfactos, porque a primeira coisa a fazer é imaginar se fosse um de nós, e deconhecendo as conversas e reacções dos sequestradores, não podemos ter uma opinião formada. Mas na generalidade concordo consigo, uma acção daquele típo só mesmo se algum dos sequestradores tivesse dito "vou disparar agora!!!", o que penso não ter acontecido. Mas, não tenho a certeza, e ele tivesse dito qualquer coisa deste tipo eu diria, "venha de lá ajuda para acabar com isto já".
Por mera curiosidade, porque é que a sua imagem é a de um carrasco? Cumprimentos
Ps: Peço desculpa por também estar semi-embuçado, mas opiniar em blogs ainda me causam algum desconforto
Caro/a m.matos,
sem ter a intenção de responder pelo klatuu, queria chamar a atenção para um ponto extremamente importante da sua intervenção.
Note por favor que o princípio básico da Justiça - que é o da existência de um Juiz - é precisamente o de evitar a reacção que cada um de nós teria "naquele lugar e naquele momento" aonde aconteceu o litigio, a injúria, ou o crime. Em grande medida, por isso é que a Justiça é representada pela imagem de uma deusa armada, mas de olhos vendados (o que significa que não é cega, ela mesma).
Compreensivelmente, isto levanta delicadissimas questões quando se trata da actuação "na hora" do poder policial do Estado: não esperamos de um polícia que aja com o desprendimento de um Juiz, mas também não esperamos que se confunda com o "vingador solitário". E isto é fácil de dizer, mas coloca sobre cada policia (e sobre cada juiz que venha eventualmente a julgar cada policia!) um pesadissimo encargo: haverá precipitações, haverá "erros", haverá momentos de medo ou de raiva, e daí resultarão inevitavelmente inocentes (e culpados...) mortos ou feridos.
Por isso a questão das chefias/comandos (e a da direcção política, ostensiva ou "secreta", que sobre essas chefias se exerça - no caso, o Ministério da Administração Interna) é crucial e não se limita ao fornecimento de "meios eficazes" como tantas vezes as pessoas reclamam: é crucial na também dificilima tarefa de conseguir da hierarquia de comando - e dos homens que um dia estarão, como esteve este de que agora falamos, com um "criminoso" na linha de mira - o espirito certo, o estado de espirito certo. Muitos filmes americanos nos mostraram já como não é fácil ser um "negociador".
Essencial é que se entenda que a actuação da polícia - mesmo em casos limite, como terá sido este - não pode ser confundida o tipo de acção a que chamamos "guerra": nesta, a Justiça pura e simplesmente se neutraliza ou desfaz (salvo em questões periféricas como o tratamento dos prisioneiros, dos médicos, dos embaixadores). Às tropas especiais compete, apenas, ganhar o combate: não se lhes pode pedir outras considerações, por mais que isso nos impressione a nós contemporâneos habituados à paz.
É essa percepção, esse distanciamento, e essa responsabilidade, que não é exigivel aos reféns, eles mesmos, ou às suas familias; que não sabemos ainda se esteve presente nos responsaveis policiais; e que claramente esteve de todo ausente na multidão dos aplaudidores, guiada pela quase sempre inqualificável "mass-media".
PS. Estamos num país em que, como um conhecido fado nos ensina, até o Rei se apresenta embuçado; espero que neste blog se sinta, embuçado ou a descoberto - se tal coisa existe - cordialmente acolhido.
Partido ou regime?? É uma questão básica de salvaguarda dos direitos do cidadão, é uma questão do Direito, da Justiça e dos Direitos Humanos, a que qualquer Partido, em democracia, está obrigado a cumprir. Desde quando é que nos parece legítimo abater seres humanos sem a intervenção de um Magistrado? E, uma vez que não há pena de morte neste País, e a mesma é sempre condenável, abater um ser humano daquela maneira nunca pode ser opção numa sociedade civilizada, e como tal não o pode em Portugal. Nunca. Só havia uma solução: deixá-los escapar, por exemplo, em troca dos reféns. Penso que esse acordo teria sido possível com o afastamento dsa forças policiais para um perímetro mais distante, fora da visão dos sequestradores. O crime cometido não justificava mais, apenas assaltaram um banco. Neste País abusa-se de crianças, viola-se mulheres a torto e a direito e fica-se com termo de residência!
O meu avatar é um carrasco por uma questão de franqueza, gosto da honestidade.
Andava a evitar falar sobre este incidente, transformado em tragédia.
Começo por "ajustar" um comentário que aqui li; O filme "Tropa de Elite" não é fascista. Ele retrata o fascismo embutido em uma polícia carioca (brasileira, no geral) mal preparada. Podem até ter bons atiradores, mas mal pagos, mal aparelhados, mal acompanhados psicológicamente e mal direcionados. Confunde-se o que o filme retrata, embora com algumas distorções e exageros cinamatográficos (poucos), mas com uma boa fotografia do que encontramos nesta polícia mal estruturada, herdada já por este governo Lula, embora não tenha conseguido este governo inverter muito a situação.
Começo por aqui,porque acho muito importante alertar a confusão entre conceitos.
Claro que matar como solução em um conflito como este, já é sinal de incompetência da administração do problema.
Que os reféns poderiam estar loucos e ansiosos que aquilo acabasse logo, é evidente que sim, mesmo que fosse como foi. Mas para isso é que é preciso de gente com sangue frio para administrar situações como estas, mesmo sabendo que tem na equipe exímios atiradores, sem entrar a querer em colocar em prática algum treinamento especial importado de tiro ao alvo.
As imagens que aqui vi, que vi na TV brasileira, que vi em outros lugares da internet, dá-me a impressão que não se tenha chegado a ápices de stress. Mas é muito perigoso fazer uma análise destas por curtas imagens a que tive acesso.
Mas tenho também as minhas dúvidas se os gritos de exigências dos criminosos tivessem outro sotaque, se a decisão tivesse sido tão rápida no sentido de se ter decidido pela "pena de morte".
Por último, a Biazinha que me desculpe, os conceitos de humanidade não mudam por haver mais ou menos favelas. No caso das favelas, estas se combatem, como alguém aqui já disse, com maior distribuição educacional e de renda. Lembrar que nas favelas existe uma pequena minoria de marginais, que muito bem usam a falta de infraestrutura e a presença do estado nas mesmas para se esconderem e de lá pilotarem o crime no asfalto.
Muito mias haveria a dizer, mas acho até que já falei demais.
Com todo respeito às outras opiniões aqui registradas,
Zé Paulo
Questões para pensar...
Morrem atualmente mais brasileiros per capita vítimas da violência do que morreram portugueses na guerra colonial (mais do triplo).
Porque surgiram os BOPE no Brasil?
Por muito menos já fez muito mais a polícia brasileira. Nem é preciso pedir autorização a ministro nenhum. Em uma semana a polícia brasileira atirou 2 vezes sobre inocentes julgando que eram ladrões, não estando estes ameaçando diretamente nada, nem supostamente. Tudo bem qe se abriu inqérito , mas diz alguam coisa...
Na televisão brasileira mostrou um ladrão fugindo e um polícia de helicóptero atirando sobre ele. Mais tarde esse mesmo polícia foi morto em outra operação. Foi considerando um herói.
Qualquer país como os EUA, Rússia, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Israel, Brasil teriam feito o mesmo. Aliás penso que neste caso Portugal só seguiu as pegadas daquilo que viram fazer e vem nos manuais internacionais que se deve fazer.
Portugal foi o primeiro país Europeu a abolir a pena de morte civil. A pena de morte militar não teve um tratamento assim tão simples...
Aquela operação não pode ser considerada uma execução. Seria execução se após libertação dos reféns fossem executados.
Considerações sobre que fariam os ladrões com os reféns é acomodatícia. Já houve suficientes casos no passado para mostrar que tudo é possível... Depende muito das circunstâncias...
Com nada disso quero afirmar que a atuação da polícia foi a correta. Só acho que devemos pensar com estes dados... Para mim a questão não é fácil...
Sou bancário. Neste dia apenas um pensamento me mertelava o cérebro: "podias ser tu".
Quando a operação policial terminou, as lágrimas correram-me pelos olhos e durante dias pensei que aquela situação podia ser comigo.
Certamente, se a opção da polícia não fosse a que foi tomada (e em minha opinião, muito bem tomada, já que os sequestradores se recusaram a negociar) e os reféns tivessem por algum acaso tivessem sido mortos ou feridos, toda a gente iria acusar a polícia de ser ineficaz, que deveria ter feito isto ou aquilo...
Pensem só se fossem vocês algum daqueles reféns! Quem está de fora, opina muito mas acerta pouco.
Depois, na 2ª feira, o cúmulo dos cúmulos, um brasileiro coloca uma coroa de flores, à porta do dito balcão, dizendo que o compatriota foi morto por ser brasileiiro.
Havia de estar eu dentro desse balcão nesse dia que havia de ser o bom e o bonito. Corria-o a ele e às flores à biqueirada.
Não sou racista, nem xenófobo, mas isto é demais. Ainda por cima, com os jornalistas a darem cobro a isto. Disto deveriam vocês falar...
"Assaltar a merda de um banco"? E as pessoas que lá trabalham, não direito à sua liberdade como os outros? Devem ser ameaçadas de morte?
Porra, que aqui os coitadinhos são os que atentam contra a vida das pessoas...
Só podem estar a gozar comigo, só podem mesmo
Lá nisso estou de acordo: as pessoas que trabalham na merda dos bancos também têm direito à sua liberdade como os outros.
«Ah pois é»... sim, fica tranquilo, não és racista nem xenófobo, és apenas cretino.
Outra coisa. Quando te apetecer choramingar, procura o colo da tua mãe...
Não sei exatamente porque o Paulo Pereira começou o seu comentário com isto:
"Porque surgiram os BOPE no Brasil?
Por muito menos já fez muito mais a polícia brasileira. Nem é preciso pedir autorização a ministro nenhum. Em uma semana a polícia brasileira atirou 2 vezes sobre inocentes julgando que eram ladrões, não estando estes ameaçando diretamente nada, nem supostamente. Tudo bem qe se abriu inqérito , mas diz alguam coisa...
Na televisão brasileira mostrou um ladrão fugindo e um polícia de helicóptero atirando sobre ele. Mais tarde esse mesmo polícia foi morto em outra operação. Foi considerando um herói."(...)
Paulo,
Voce acredita que a população brasileira está apludindo a postura incompetente da policia brasileira quando esta anda a matar inocentes, inclusive crianças?
Sobre o atirador do helcópetero, que depois foi alvejado por um marginal; Este policial foi considerado herói por quem? Pela parte da população brasileira que acha que se pode sair atirando no meio da população, mesmo que atrás de um marginal, desde que seja no meio de uma favela e nunca em um bairro mais "nobre"?
Me pareceu que voce coloca este dois infelizes exemplos como para amenizar, ou até mesmo para justificar, a morte possivelmente desnecessária de um assaltante de banco brasileiro em Portugal. Ou seja, se na terra "dele" fazem isso, porque não se fazer com ele também em Portugal? Será que é isso que devo interpretar do seu comentário?
Como diria a minha Mãe, de Vila Real, avó dos meus filhos brasileiros, "isto é o fim dos tempos!"
Zé Paulo
Pertinente postagem, Klatuu! Só agora tive tempo de colocar a leitura em dia aqui no blogue (e no meu!)e te felicito pelo texto!
Beijinhos @>--
Não tens de quê, Adriana.
Beijinho.
Exacto, amigo Zé Paulo... há quem pense pouco.
Ninguém aqui defende marginais... mas há valores de civilização muito importantes que se arruinam com dois tiros.
Os países que fizeram a opção infeliz, há duas décadas, de aumentar a violência policial, em vez de resolver os problemas e injustiças sociais que os geram... são hoje quase estados policiais, onde alvejar o vulgar cidadão é comum, etc! (o resto a gente sabe, lemos o «1984»).
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