Sócrates
Como não podia deixar de ser, a actividade de Sócrates junto dos jovens e toda a sua maneira de pensar criaram oposições que, no primeiro momento favorável, o haviam de bater; estavam contra ele os religiosos que não entendiam a ciência de deus e se contentavam com um culto de superstições e de fórmulas, sem que a piedade em nada influenciasse a sua maneira de viver; estavam contra ele os ricos que o viam desprezar os bens materiais e aconselhar os homens a que voltassem para os bens do espírito as suas forças de alma; odiavam-no os democratas da assembleia, porque frequentemente se referia à falta de inteligência e de saber dos políticos e à irracionalidade do povo que o levava a adoptar com entusiasmo as propostas mais absurdas; os aristocratas, por não o consideravam seguro e tiveram boa prova de que o não era na resistência que opôs ao governo dos trinta tiranos; cada um dos que seguiam no caminho, presos pelos seus dogmas ou pelos seus interesses, não conseguiam compreender aquele homem que buscava soluções universais e se não deixava limitar pelas visões de momento, pelas modas, nem enfileirava docilmente num dos rebanhos formados, nem sequer se mostrava disposto ao cómodo silêncio que não levanta embaraços a ninguém. Os ódios foram-se acumulando, sem que Sócrates fizesse nada para os aplacar; continuava na sua missão de esclarecer os espíritos e não era o medo que o poderia desviar da empresa que tomara; nesse ponto, não tinha domínio sobre si, não poderia deixar de ser o que era.
Sem comentários:
Enviar um comentário