A Águia, órgão do Movimento da Renascença Portuguesa, foi uma das mais importantes revistas do início do século XX em Portugal. No século XXI, a Nova Águia, órgão do MIL: Movimento Internacional Lusófono, tem sido cada vez mais reconhecida como "a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português". 
Sede Editorial: Zéfiro - Edições e Actividades Culturais, Apartado 21 (2711-953 Sintra). 
Sede Institucional: MIL - Movimento Internacional Lusófono, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa). 
Contactos: novaaguia@gmail.com ; 967044286. 

Donde vimos, para onde vamos...

Donde vimos, para onde vamos...
Ângelo Alves, in "A Corrente Idealistico-gnóstica do pensamento português contemporâneo".

Manuel Ferreira Patrício, in "A Vida como Projecto. Na senda de Ortega e Gasset".

Onde temos ido: Mapiáguio (locais de lançamentos da NOVA ÁGUIA)

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Cadernos de Agostinho da Silva (excertos)


LITERATURA PORTUGUESA (V)

A partir de 1865 dá-se uma reacção contra o ultra-romantismo de Castilho e dos seus discípulos, mas ao movimento não cabe a designação de realista que lhe tem sido dada; o fundo de toda a actividade poética ou de prosa, filosófica ou política, de crítica ou de ficção continua a ser a exaltação lírica dos românticos. Antero de Quental (1842-1891) aparece como chefe da escola, mas tem a independência suficiente para se des­prender muito depressa de tudo o que o poderia limi­tar. O seu espírito, muito mais largo do que o de qualquer dos seus companheiros, não se submete a fórmulas e Antero explora com intensidade emotiva e com firmeza crítica os recantos mais sombrios, mais mal definidos do espírito humano e interroga a vida com uma amplitude que nenhum outro igualou; há nele ao mesmo tempo a angústia do grande artista e a serenidade do filósofo, o amor da contemplação e a embriaguez do agir, a aspiração de que a existência se aniquile e a aspiração de que a existência se afirme como bem. Nos Sonetos, em algumas Odes Modernas, nos opúsculos filosóficos e políticos, Antero, com todas as suas contradições, nunca deixa de prosseguir na busca ansiosa e sincera da verdade, na tentativa de resolver o que é porventura insolúvel; e tem sido este esforço, este sacrifício de uma felicidade a urna inquie­tação, que, mais do que qualquer das suas sugestões teóricas ou práticas, tem exercido influência nos me­lhores de várias gerações.
Dos seus contemporâneos, o que mais perto chega de Antero, embora ainda a grande distância, é Oliveira Martins (1845-1894), que também nunca resolveu as suas numerosas contradições, mas se mantém sempre num tom de superioridade, que vinha sobretudo da falta de consciência do que lhe faltava; dotado de uma extraordinária capacidade de trabalho e de qualidades vigorosas de um grande artista descritivo, Oliveira Martins acumulou os seus livros (História da Civili­zação Ibérica, História de Portugal, Portugal Contem­porâneo, História da República Romana, Vida de Nun'Alvares), mas não teve a imaginação intelectual suficiente, nem a humildade ante a vida, nem as facul­dades de análise e de síntese necessárias para lhes dar uma base ideológica segura.
Eça de Queirós (1845-1900), que tanto apreciou Oliveira Martins e tinha por Antero a veneração que se revela no seu artigo para o In Memoriam (Um gé­nio que era um santo, in Notas Contemporâneas), não possuía nem uma vasta inteligência, nem uma forte personalidade artística ; sendo um lírico, deixou-se des­viar pelas leituras de Zola e de Flaubert, tentou-se com o romance de costumes que de nenhum modo lhe con­vinha e só raras vezes se pôde libertar do que não era Ele próprio (Prosas bárbaras, parte da Ilustre Casa de Ramires, O Mandarim, a Cidade e as Serras, Vidas dos Santos); por outro lado, nos romances de costumes e de crítica social (O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, A Relíquia, Os Maias), Eça não passou de uma camada muito superficial da sociedade portu­guesa ; o essencial escapa-lhe; hábil em surpreender o ridículo, era impotente perante o mais profundo e trágico; e um falso conceito da elegância prejudicou uma grande parte da sua obra, mesmo no domínio do estilo, em que se revelou tão cuidadoso, tão fino, tão delicado artista. De resto, o melhor Eça encontra-se talvez nos livros de ensaios — Notas contemporâneas, Cartas de Inglaterra, Cartas Familiares.
Com Eça de Queirós trabalhou algum tempo nas Farpas Ramalho Ortigão (1835-1915), que depois as continuou sozinho; com uma erudição muito superfi­cial, mas muito proclamada, com um estilo vigoroso, sonoro, Ramalho Ortigão fustigou durante alguns anos a sociedade portuguesa, sem que, no entanto, a tivesse compreendido bem; como Eça, também dela viu principalmente o que era menos importante. O mesmo defeito se poderá apontar nos Gatos de Fia­lho de Almeida (1857-1915), mas há noutras obras deste escritor (Contos, O País das Uvas) uma pene­tração psicológica que não tiveram nem Eça, nem Ramalho, embora qualquer dêles seja muito mais equili­brado e sólido do que Fialho de Almeida.
Guerra Junqueiro (1850-1923), de um magnífico poder verbal, poeta de batalhas (A Velhice do Padre Eterno, A morte de D. João, A Pátria) ou de um li­rismo que hesita entre o quadro bucólico (Os simples) a filosofia (Orações) é bastante inferior no que se re­fere ao pensamento e aos dons poéticos de construção de sentido musical. Gomes Leal (1849-1921), quando se não deixa tentar pelo desequilíbrio, é muito melhor poeta do que Junqueiro (Claridades do Sul, História de Jesus). A qualquer dêles vence, com a sua obra res­trita, Cesário Verde (1885-1886), cujos poemas, impregnados de melancolia e de luz, de profunda nostalgia de aspirações de força e de heroismo, de apaixonadas vibrações de amor e de ódio, deram, pela novidade do assunto e do ritmo, o grande impulso para a renova­ção da poesia.
A partir de 1890, e sobretudo pela influência de eruditos como Teófilo Braga (1863-1924), autor de es­tudos numerosos de história literária, embora seja ine­gável a importância de Garrett para o movimento, desenha-se uma literatura de reacção às tendências internacionalistas e críticas da geração de Antero. An­tónio Nobre (1867-1900), lança no Só os modelos poé­ticos, com a sua sensibilidade doentia, o seu apartado regionalismo, mas também com a compreensão de muito do que tinham desprezado os escritores da geração an­tecedente e a tentativa de ritmos novos, de formas de expressão que melhor se adaptavam ao hesitante pen­samento do autor. Silva Gaio (1860-1934) tenta uma doutrinação, com o seu neo-lusitanismo, mas apesar de todas as qualidades reveladas nas Canções do Mon­dego, nos Torturados não havia nele o fundo real de um grande poeta ou de um grande pensador. Depois, o nacionalismo cinde-se e dá por um lado o saudo­sismo da Águia, órgão do movimento A Renascença Portuguesa, por outro lado, o Integralismo de Antó­nio Sardinha (1887-1925).
Fora de todas estas escolas, porventura mais apa­rentadas à política do que à literatura, aparecem poe­tas como João Penha (1839-1919), notável pela perfei­ção da forma, e como Gonçalves Crespo (1846-1883), cujos Nocturnos e Miniaturas encerram poesias que, se são fracas pelos temas, são de grande valor formal; dramaturgos como D. João da Câmara (1852-1908) re­gionalista e sentimental (Os Velhos) ou como Marcelino de Mesquita (1856-1919), autor de dramas históricos (O Regente, Pedro o Cru); finalmente, e com muito mais valor, prosadores como Raul Brandão (1876-1930) e Teixeira Gomes (1862-1942); o primeiro, em Os Po­bres, Húmus, O Gebo e a Sombra, Os Pescadores, sen­tiu como nenhum outro prosador o trágico da vida, a presença angustiante da morte; exprimiu-se a grandes pinceladas, com uma forte emoção lírica, mas não hesitou, quando se tornava necessário, em recorrer a quadros feitos, a fórmulas em que já se fixara; Tei­xeira Gomes, no Agosto Azul, no Inventário de Junho, em Gente Singular, nas Cartas sem moral nenhuma, em Maria Adelaide, revelou todo o seu temperamento de artista, todo o sensualismo da sua natureza, mas ao mesmo tempo o seguro gosto crítico, a inteligência disposta à reflexão e à ironia.
Modernamente, a literatura portuguesa não parece com tendência a fixar-se em correntes nítidas, embora pudessem concorrer para essa fixação circunstâncias várias, na sua maior parte alheias à literatura; cada artista procura acima de tudo exprimir-se, sem grande atenção a qualquer espécie de fórmulas que apenas poderiam limitá-lo.

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