Filosofia pré-socrática
O facto de com o atomismo de Leucipo e Demócrito se fechar um círculo de pensamento que só uma revolução profunda poderia incluir numa concepção mais vasta, eliminando o que fosse apenas uma marca do tempo, fez que surgisse uma época cujas características gerais se repetiram depois em todos os momentos semelhantes; o terminar duma linha de doutrina, quando ainda se não produziram as circunstâncias políticas, sociais e económicas que podem formar o ambiente favorável ao surgir de uma nova concepção, leva sempre ao aparecimento de pensadores reaccionários que desprezam o que se adquiriu de fundamental e regressam a pontos de vista já ultrapassados, de outros que procuram apenas conciliar o que lhes aparece como divergente nos vários sistemas ou, aproveitando o que acham melhor, criam ecletismos de pouca viabilidade, e ainda de cépticos para os quais todo o esforço de pensamento é uma ilusão que só pode conduzir a resultados que nada têm de seguro; ao passo que das duas primeiras categorias nada vem de útil para o futuro, já o mesmo não acontece com o cepticismo, que obriga a rever o que se considera verdade adquirida, persiste, apesar dos aspectos exteriores, num esforço de investigação e desempenha papel ainda mais importante, quando pela apresentação em plena luz do que existe de negativo numa concepção, incita à construção de fundamentos sólidos sobre os quais se possa erguer uma nova doutrina, principiar um novo ciclo de pensamento. Os reaccionários e ecléticos gregos do século V, Hipon de Samos e Dógenes de Apolónia, apoiam-se nos trabalhos da escola de Míleto, como se o eleatismo não tivesse existido; voltou-se a perguntar qual é o único que deu o plural, quando já se demonstrara a existência actual do único e se procurara estabelecer qual a forma de pluralidade capaz de se conciliar com essa existência do único; mas, na realidade, era-lhes impossível ignorar Anaxágoras e Leucipo e a eles iam buscar algumas das suas doutrinas; o mais importante dos dois, Diógenes, chegou a exercer grande influência, embora no campo do ecletismo se lhe tivesse adiantado Arquelau de Atenas, talvez mestre de Sócrates. Mas a revolução filosófica levada a cabo por este último só foi possível sobre o trabalho dos sofistas, professores de sabedoria ou então de uma especialidade, que eram em grande número, percorriam toda a Grécia dando lições e tinham como ponto comum o de mostrarem um cepticismo completo quanto às probabilidades que tem a inteligência humana de descobrir a verdade absoluta; para Protágoras, o homem é a medida de todas as coisas, o que equivale a dizer que há um mundo para cada um de nós, que tudo é relativo, e que, portanto, todas as concepções são igualmente verdadeiras e igualmente falsas; para Górgias, também nada existe de seguro, e pode até demonstrar-se facilmente a impossibilidade de conhecer; não há verdade, nem em ciência, nem em moral, nem em política, não há direito absoluto, não há justiça ; cada um valerá o que for a força do seu intelecto ou do seu braço; mas todos os cépticos se referem continuamente a dois elementos que mal apareciam nos pensadores precedentes: um é a inteligência, a razão, o outro a preocupação moral; são estes exactamente os dois pontos em torno dos quais se vai desenvolver toda a actividade de Sócrates, o iniciador da nova fase da filosofia grega.
O facto de com o atomismo de Leucipo e Demócrito se fechar um círculo de pensamento que só uma revolução profunda poderia incluir numa concepção mais vasta, eliminando o que fosse apenas uma marca do tempo, fez que surgisse uma época cujas características gerais se repetiram depois em todos os momentos semelhantes; o terminar duma linha de doutrina, quando ainda se não produziram as circunstâncias políticas, sociais e económicas que podem formar o ambiente favorável ao surgir de uma nova concepção, leva sempre ao aparecimento de pensadores reaccionários que desprezam o que se adquiriu de fundamental e regressam a pontos de vista já ultrapassados, de outros que procuram apenas conciliar o que lhes aparece como divergente nos vários sistemas ou, aproveitando o que acham melhor, criam ecletismos de pouca viabilidade, e ainda de cépticos para os quais todo o esforço de pensamento é uma ilusão que só pode conduzir a resultados que nada têm de seguro; ao passo que das duas primeiras categorias nada vem de útil para o futuro, já o mesmo não acontece com o cepticismo, que obriga a rever o que se considera verdade adquirida, persiste, apesar dos aspectos exteriores, num esforço de investigação e desempenha papel ainda mais importante, quando pela apresentação em plena luz do que existe de negativo numa concepção, incita à construção de fundamentos sólidos sobre os quais se possa erguer uma nova doutrina, principiar um novo ciclo de pensamento. Os reaccionários e ecléticos gregos do século V, Hipon de Samos e Dógenes de Apolónia, apoiam-se nos trabalhos da escola de Míleto, como se o eleatismo não tivesse existido; voltou-se a perguntar qual é o único que deu o plural, quando já se demonstrara a existência actual do único e se procurara estabelecer qual a forma de pluralidade capaz de se conciliar com essa existência do único; mas, na realidade, era-lhes impossível ignorar Anaxágoras e Leucipo e a eles iam buscar algumas das suas doutrinas; o mais importante dos dois, Diógenes, chegou a exercer grande influência, embora no campo do ecletismo se lhe tivesse adiantado Arquelau de Atenas, talvez mestre de Sócrates. Mas a revolução filosófica levada a cabo por este último só foi possível sobre o trabalho dos sofistas, professores de sabedoria ou então de uma especialidade, que eram em grande número, percorriam toda a Grécia dando lições e tinham como ponto comum o de mostrarem um cepticismo completo quanto às probabilidades que tem a inteligência humana de descobrir a verdade absoluta; para Protágoras, o homem é a medida de todas as coisas, o que equivale a dizer que há um mundo para cada um de nós, que tudo é relativo, e que, portanto, todas as concepções são igualmente verdadeiras e igualmente falsas; para Górgias, também nada existe de seguro, e pode até demonstrar-se facilmente a impossibilidade de conhecer; não há verdade, nem em ciência, nem em moral, nem em política, não há direito absoluto, não há justiça ; cada um valerá o que for a força do seu intelecto ou do seu braço; mas todos os cépticos se referem continuamente a dois elementos que mal apareciam nos pensadores precedentes: um é a inteligência, a razão, o outro a preocupação moral; são estes exactamente os dois pontos em torno dos quais se vai desenvolver toda a actividade de Sócrates, o iniciador da nova fase da filosofia grega.
Sem comentários:
Enviar um comentário