A saudade é o que me permite melhor avaliar o passado, ou seja, não apenas como um conjunto de factos e cacos reconstruídos, mas como uma cesta e uma balança de emoções amadurecidas.
A saudade é o que me permite melhor enfrentar o futuro, ou seja, não como que impelido por um susto ou por uma cega apetência, mas bafejado por ventos há muito semeados.
A saudade é um dom, sempre presente, ou seja, uma navegação que tanto se pensa como se sente.
A saudade é uma bússola, astros, lábios.
Uma vela, uma lágrima, uma sela.
Um inumerável comércio. O permanente eixo de um secreto ciclo.
Uma amante rota num mapa por desenhar. A voz de uma antiga fonte.
Um grito. Um suspiro. Uma ferida lambida por companhia.
Um sorriso. Um abrigo. Um rio. E um novo recomeçar.
A saudade é o caroço da alegria.
É a tripulação da loucura.
O fruto de alguma vez ter saboreado.
É o errado que ousa voltar a errar.
É a saudade que desamarra o mar.
5 comentários:
Já lhe vestiram o uniforme, mas devo dizer que este texto é para ser lido em azul bébé e escutado em sol maior.
lindoooooooo aqui,amei,bjsssssss
Saúde-se!
a saudade é a fé de voltarmos a ser inteiros
O texto surgiu, para além de outras diversas razões e desrazões já sedimentadas que não irei mencionar, de uma recente leitura de alguns capítulos de "Ao Encontro de Espinosa", de António Damásio, sobretudo do subcapítulo "Neurobiologia e Comportamentos Éticos", do qual sublinhei uma passagem que irei agora publicar.
Enviar um comentário