Já não sou menina mas não perdi a capacidade de espanto.
Vou lendo o primeiro número da Nova Águia e espanto-me com a ideia – acima de tudo com a ideia – de alguém imaginar que tanto se possa extrair da palavra «pátria», assim mesmo em letra minúscula. Com a ideia de pedir que se fale em nome de letras que os tempos sopraram para lugares remotos, para fundos da memória onde a palavra navegou por mares de água turva. Talvez não mares ainda, mas rios de margens lamacentos onde apesar de tudo há seres viventes, anteriores a nós no ciclo da Terra, seres que nos passam ensinamentos, nos ajudam a lutar, também a conhecer, a transigir, a confiar, que nos matam outras sedes que podemos saciar adiante, nas águas batidas nas pedras, coadas na areia, transparentes e puras, já.
Gosto de ler ali Pátria, Mátria, Frátria, Portugal enfim escalpelizado até ao último cabelo pela lucidez de uns e outros e todos os que anseiam por um projecto que concretize alguma coisa dentro de nós, da nossa pátria comum que é tão grande, a nossa pátria língua portuguesa, a nossa pátria sonhada por tantos e tão grandes que nos precederam. E não faltam os que alertam para os perigos emergentes do movimento lusófono, como caravela arriscando-se há cinco séculos no mar imenso. Mas navegar é preciso.
Este caldo humano a que a revolução de Abril abriu portas é decididamente o adubo que vai alimentar a obra. Mãos a ela.
2 comentários:
Navegar é preciso, sem dúvida.
"Este caldo humano a que a revolução de Abril abriu portas é decididamente o adubo que vai alimentar a obra. Mãos a ela."
Subscrevo as tuas palavras.
Beijinho.
Todos lessem como tu lês, querida Amiga, todos lessem!
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